Onde
Está a Grande Beleza?
Superficialidade.
Futilidade. Decadência burguesa, diriam os marxistas mais antigos e inflamados.
Todos esses adjetivos podem nos ajudar a explicar a história de “A Grande
Beleza”, filme italiano de Paolo Sorrentino. Vemos aqui a saga do escritor Jep
Gambardella (interpretado por Toni Servillo), um escritor de um só livro que se
tornou um grande best-seller. Mas
isso foi há vários anos e, desde então, Jep é uma figurinha fácil na alta
sociedade romana, participando de festas badaladas e noitadas. Quando chega aos
65 anos, Jep percebe que perdeu muito tempo de sua vida nesses eventos com a
alta burguesia da cidade de Roma e busca recuperar seu tempo perdido.
Entretanto, Jep percebe que nada mais possui uma beleza, uma vivacidade, não há
mais como buscar uma arte, uma essência. E vemos um desfile de Jep pela noite
de Roma, praticamente “juntando os cacos” de sua existência. Mas, por mais que
ele busque recuperar alguma coisa que possa dar um significado para a sua vida,
Jep se vê num labirinto insolúvel mergulhado num mar de mediocridade. Quem
busca fazer algo mais significativo fracassa, como o amigo de Jep, que ainda
tenta alavancar alguma manifestação artística no teatro, mas não é bem sucedido
e retorna para sua cidade natal, pois constata o “estado terminal de Roma”.
Ainda, Jep inicia uma relação afetuosa com a filha de um antigo amigo seu,
Ramona (interpretada por Sabrina Ferilli), uma cinquentona que é stripper. Esse relacionamento, só no
campo platônico, acaba sendo interrompido pela morte de Ramona, no naufrágio do
Costa Concórdia. Podemos perceber o tom altamente pessimista do filme no que se
refere a uma crise de criatividade na área artística. Mas nem tudo era somente
decadência e mediocridade. Jep também se deparava com antigas obras de arte
graças a um amigo seu que tinha as chaves das casas de vários membros da elite
romana, por ser uma espécie de empregado de confiança deles. Também merece
destaque o caso de uma exposição fotográfica que um pai fez das fotos de seu
filho desde a sua infância até a idade adulta, onde o crescimento do menino
está todo registrado. E não podemos nos esquecer da miraculosa aparição da
grande atriz francesa Fanny Ardant numa das perambulações noturnas de Jep. A
simplicidade também é valorizada como dotada de grande beleza, principalmente
quando Jep encontra o marido de uma antiga namorada sua, que havia acabado de
morrer. Ao ler o diário da antiga esposa, esse marido descobre que Jep fora o
grande amor de sua vida, pois escreveu páginas e páginas sobre ele em seu
diário, enquanto que ela havia escrito apenas algumas linhas sobre seu marido
com quem havia vivido muitos anos. Mas esse viúvo dá a volta por cima e se casa
com outra mulher, levando uma vida simples com ela, algo que é muito elogiado
por Jep. Há ainda uma crítica velada a Igreja Católica onde a vida pomposa de
um cardeal é contraposta a vida de uma irmã de caridade na África, que fez voto
de pobreza e que diz a Jep que só come raízes, pois é importante ter raízes na
vida. Ao fim, Jep chega a conclusão de que, embaixo de toda a mediocridade e
blá-blá-blá da sociedade decadente que ele testemunha está a verdadeira essência,
estão as raízes, a verdadeira beleza. O filme termina com um passeio da câmara
pelo rio Tibre, passando por várias pontes, meio que sem rumo. Apesar de um
grande pessimismo que o filme espelha, podemos dizer que a “Grande Beleza”
ainda está escondida por aí, ainda podemos achá-la, embora ela esteja
mergulhada num grande mar de mediocridade... Só um pequeno detalhe: as
semelhanças entre esse filme e “La Dolce Vita”, de Fellini são muito grandes,
pois também havia uma crítica muito forte a vida ociosa da alta burguesia no
filme de Fellini.
Cartaz do Filme
Jep numa dancinha
Momentos de Ócio da vida de Jep...
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