2001,
Uma Odisseia no Espaço – Ficção Científica como Arte.
Falar de uma obra de
arte sempre é algo difícil. Ainda mais quando se trata de “2001, uma Odisseia
no Espaço”, de Kubrick. Lembro-me quando esse filme passou na TV pela primeira
vez. Eu era moleque e não entendia aquela sucessão de imagens e sons tão
estranhos. Esperava algo no estilo “Guerra nas Estrelas” Quebrei a cara.
Mas o filme me
despertou muita inquietação. A primeira vez que escutei alguma explicação sobre
ele foi de um professor de ciências que dizia que o filme buscava mostrar que,
por mais que a gente avance e busque inovar, sempre retornamos ao ponto de
partida. Sei lá, num primeiro momento, não me convenci muito.
Busquei então o livro
e, só aí, pude entender do que se tratava a história, embora o filme a contasse
com algumas modificações. Definitivamente, nem sempre uma imagem vale mais que
mil palavras. Mas, mesmo assim, Kubrick mostrou a força das imagens nesse
filme. Um filme quase sem diálogos. Um filme praticamente mudo, criando arte
através da simbiose entre imagem e música, algo que o mestre tanto valorizava.
O coro de vozes altamente angustiantes nas cenas do monólito extraterrestre,
seja diante dos homens pré-históricos, seja diante da nave Discovery nas cercanias de Júpiter expressam o medo e o receio
humanos diante do sobrenatural (minha mãe costumava dizer que parecia que havia
um monte de almas penadas gritando no filme). O acoplamento da nave espacial à
gigantesca estação rotatória que simula a força de gravidade ao som de Danúbio Azul transforma a física em
arte, como se as forças que regem o movimento das máquinas criadas pelo homem
fossem uma grande dança exaltando o triunfo possibilista da engenhosidade
humana. A imagem da Discovery a
caminho de Júpiter sob uma música muito melancólica, expressão pura da solidão
no espaço profundo, na minha modesta opinião o momento mais lindo e poético do
filme. A viagem de Dave em velocidades altíssimas dentro de um caleidoscópio
coloridíssimo com um fundo musical altamente desesperador, desespero esse
expresso nas imagens congeladas e aterrorizadas da face de Dave, num
contraponto à alta velocidade a qual ele está submetido. Dizem que esse momento
do filme é o que mais se aproxima no cinema a uma viagem que um viciado em LSD
faz. Ou seja, Kubrick, com o poder de suas imagens, nos deixa “doidões” sem a
gente precisar se drogar. Só esses momentos já fazem de 2001 uma obra prima em termos cinematográficos. Mas há ainda mais. Esse
trabalho foi, com certeza, um dos melhores filmes de ficção científica da
história do cinema, se não foi o melhor. Uma civilização alienígena que salva o
homem da extinção lá na pré-história, sugerindo telepaticamente que o osso seja
usado como arma para o homem ter o que comer. O osso travestido em nave
espacial, consequência do primeiro avanço tecnológico que foi usar o osso como
porrete, o que salvou o homem. A presença de um monólito na Lua, que emitiria
um sinal assim que o homem lá chegasse, avisando a civilização alienígena dos
progressos tecnológicos da humanidade. A viagem a Júpiter para investigar o
outro monólito gigante. A presença de HAL 9000, um computador que tem
consciência de si mesmo e que tem emoções (o medo de HAL ao ser desligado por
Dave e suas súplicas doem na gente a qualquer tempo, é um sentimento forte e
atemporal). O contato com o monólito e a velocidade warp de Dave, que termina numa pequena sala, um ambiente produzido
pelos alienígenas para que Dave se torne mais confortável. A velocidade de seu
metabolismo aumentada para seu rápido envelhecimento e morte, para fundir seu
corpo com a espécie alienígena. O desfecho do bebê, fruto da mistura entre as
duas espécies, vendo o planeta Terra, ao som de Assim Falou Zaratrusta, de Richard Strauss. Tudo isso passado em
imagem viva diante de nossos olhos, praticamente sem diálogos, toda a linguagem
cinematográfica presente dentro da materialidade das imagens, com a música
reforçando e ratificando os significados.
Lembro-me aqui de meu
professor. Por mais que a gente busque avançar, sempre retornamos ao ponto de
partida. Com o renascimento de Dave, podemos dizer que meu mestre tinha lá uma
certa razão. Entretanto, renascemos, reciclamos, sempre para buscar um novo
futuro. Voltar ao ponto de partida, voltar às origens (como o toque que o Dr.
Floyd faz com a mão no monólito da Lua, o mesmo toque que o homem pré-histórico
faz no monólito no passado distante) pode até ser algo bom, precisamos de
nossas referências e raízes. Mas a raiz é a base para crescermos e buscarmos
sempre um futuro melhor para todos nós. 2001
também tem essa mensagem implícita. Definitivamente, esse filme é um patrimônio
da humanidade!
Cartaz
da Obra Prima
Descoberta
instigada pelo monólito, que traz a sobrevivência.
O
monólito alienígena.
Osso
e nave: frutos da tecnologia
Estação
Espacial: Rotação Traz Simulação de
Gravidade.
A
Solitária Discovery no Espaço.
HAL
9000: um computador com sentimentos.
A visão aterrorizada de Dave durante seu warp.
Dave,
em seu leito de morte, perante o monólito alienígena.
Dave mesclado com a espécie alienígena.
Delicadeza e perplexidade.
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