Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

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domingo, 31 de agosto de 2014

Resenha de Filme - O Homem das Multidões

O Homem Das Multidões. Solidão Larga, Fotograma Estreito.
O filme brasileiro “O Homem das Multidões” aborda um tema bem atual e assustador: a cada vez maior superficialidade e distanciamento das relações humanas. Tendo Belo Horizonte e seu sistema de metrô como pano de fundo, o filme tem imagens de formigueiros humanos que contrastam violentamente com as dores da solidão e um comportamento passivo por parte dos personagens perante esse sofrimento.
Vemos aqui a história de Juvenal (interpretado por Paulo André), um maquinista de trem que vive em um silêncio quase total, num comportamento fechado e introspectivo. Seu relacionamento com os colegas se resume a monossílabos e expressões curtíssimas. A vida de Juvenal é uma rotina onde nada de novo acontece. Trabalho no trem, almoço em silêncio com os colegas, ficar sentado na praça vendo o mar de pessoas passando, exercícios físicos na varandinha de seu apartamento maltrapilho, lavar o chão de casa, sexo com a prostituta, escutar corridas de cavalo no rádio. Juvenal só se tornava mais comunicativo quando estava em sua casa à noite, falando consigo mesmo poucas palavras e ideias de forma repetitiva. Tudo indicava que a vida do maquinista continuaria assim indefinidamente, num marasmo total, não fosse a sua colega, Margô (interpretada por Sílvia Lourenço), que fiscaliza o tráfego dos trens do metrô, sendo bem mais comunicativa que nosso amigo, mas que leva uma vida igualmente solitária. Apesar de tudo, Margô vai se casar com um homem que ela conheceu na internet, depois de uns três ou quatro encontros. A moça irá convidar todos seus colegas para o casamento e convidará Juvenal para ser o seu padrinho de casamento, pois, apesar de conhecer muitas pessoas pela internet, não tem qualquer amigo próximo, e o maquinista seria seu amigo mais “íntimo”, com quem tem pseudoconversas, geralmente nos almoços. Num primeiro momento, Juvenal não aceitará o convite inicialmente e ficará remoendo isso à noite. Entretanto, ele irá aceitar o convite no futuro e usará o terno comprado por Margô. Eles têm uma vida a dois meio barro, meio tijolo, onde a moça frequenta a casa do maquinista, cujo principal programa é beber água do filtro em silêncio profundo. Vem o casamento e Juvenal fica completamente deslocado, cujo único momento de sociabilidade se resume a uns leves bebericos com o pai de Margô (interpretado pelo estudioso de cinema brasileiro Jean Claude Bernardet). O maquinista chegará ao seu apartamento e, alguns instantes depois, Margô chegará com uma caixa de copos (o único copo de Juvenal havia sido quebrado numa das visitas de Margô). Eles beberão novamente água e a noiva deprimida acenderá um cigarro e fumará, exalando muita fumaça e apagando o cigarro no copo com água. Essa quebra de rotina com o cigarro aceso é uma mostra de que o casamento de Margô foi por água abaixo. O filme termina com o tímido casal se entreolhando com uma expressão do tipo: “Pois é, o que se há de fazer?”.
Há um elemento muito inquietante no filme. Os fotogramas são estreitíssimos! A telona vira uma espécie de janelinha para o mundo de solidão de nossos personagens. Talvez aquela estreiteza toda no enquadramento seja uma representação das limitações que os personagens sofriam com suas vidas solitárias. A “falta de espaço” existente nos fotogramas é altamente angustiante e opressora, não nos deixando indiferentes em hipótese alguma, pois a intervenção é direta na imagem em si.
Outro elemento digno de nota é o uso da internet como gerador de relações superficiais. Embora alguns relacionamentos na grande rede tenham dado certo, essa já não tão nova ferramenta tecnológica ainda tem a pecha de gerar relacionamentos pouco profundos. As pessoas são tão efêmeras na rede quanto o turbilhão de informações que nela passa todos os dias. Assim, uma ferramenta que poderia aproximar seres humanos só proporciona ao fim das contas, sentimentos muito pouco táteis e enormemente fugazes, aumentando ainda mais a sensação de impotência e solidão.

Um filme de pouquíssimas palavras que nos faz pensar como lidamos com os outros e com nós mesmos. Essa é a melhor definição para “O Homem das Multidões”. Saímos da sala com um sentimento de desalento. Mas nos dias atuais, é vital que tal reflexão seja feita. Daí a importância dessa película brasileira, tão pouco divulgada.

Cartaz do Filme


Juvenal. Solidão total em seu apartamentinho medíocre.


Margô, outra figura solitária


 
Só na multidão



Um casal sem rumo


Sem diálogos


Desalento em fotogramas estreitos.

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