Barravento.
Surge Glauber.
Começou na TV Brasil (nossa
antiga TVE) um ciclo de filmes do Glauber Rocha. Serão cerca de cinco filmes,
todos os sábados às 22h30min. E o primeiro a ser exibido foi justamente “Barravento”,
produzido em 1962, estrelado por Antônio Pitanga. O filme conta a história de
uma comunidade de pescadores negros no litoral baiano, que vivia da pesca. Eles
eram explorados pelos comerciantes da região, que detinham a posse das redes de
pesca. A vida da comunidade era de muita miséria e fome, em virtude dessa exploração,
não sendo em nada diferente da vida sofrida do interior do seco sertão. Todos os membros da comunidade eram adeptos do
candomblé e eles adoravam Iemanjá, a deusa orixá do mar. Um homem da
comunidade, Firmino, interpretado por Pitanga, foi viver na cidade e tinha
estudo. Ele volta à Barravento para incitar as pessoas a lutar contra a exploração
a que eram submetidas. Entretanto, as práticas religiosas as deixavam num
estado letárgico, para o desespero de Firmino, que tenta de tudo, chegando até
a destruir as redes de pesca. O líder dos pescadores é Mestre (interpretado por
Lídio Silva), protegido de Iemanjá, contra quem Firmino investe toda a sua
raiva. Mas Mestre já está idoso e um novo protegido de Iemanjá é eleito, Aruã
(interpretado por Aldo Teixeira), que não deve se relacionar com mulher
nenhuma, já que a orixá é muito ciumenta e vaidosa. Deve ser ressaltado aqui
que os protegidos de Iemanjá têm a fama de proteger a comunidade e garantir boa
pesca, mas eles não devem em hipótese nenhuma desobedecer a orixá para não perder
o encanto. A escolha em cima do jovem Aruã o coloca em conflito, pois ele é
apaixonado pela branca e bela Naína (interpretada por Lucy de Carvalho). Firmino,
obviamente, quer desmascarar o encanto de Aruã e pede a sua amante, a viúva Cota
(interpretada pela não menos bela Luíza Maranhão) que seduza Aruã. Impedidos de
trabalhar pela falta de redes, os pescadores precisam se lançar ao mar com
jangadas para pescar, algo muito pouco produtivo e extremamente perigoso, tanto
que provoca a morte de um deles. Como Aruã sucumbiu a sensualidade de Cota nua
no mar, a comunidade não mais acreditava em seus encantos. Houve ainda uma luta
de capoeira entre Firmino e Aruã. Mas Aruã e Naína terminam juntos, tentando a
vida na cidade.
Algumas coisas devem
ser ditas aqui sobre esse filme. Em primeiro lugar, é o filme de Glauber mais
convencional, onde vemos uma história bem contada e um elenco escolhido dentro
dos melhores padrões do star system,
ou seja, com protagonistas de rostos e corpos bonitos (os protagonistas Aruã,
Cota e Naína são as provas disso). Ainda não há aquela porra-louquice típica
dos próximos filmes de Glauber (“Barravento” é um de seus primeiros filmes). Outro
detalhe é a carga simbólica da expressão “Barravento” que, além de ser o nome
do lugar, também significa um momento de violência, quando as coisas da terra e
do mar se transformam, quando no amor, na vida e no meio social, ocorrem
mudanças súbitas. Ainda devemos nos lembrar que nesse filme as características do
Cinema Novo se fazem presentes, sobretudo o uso da temática social. Fala-se dos
negros excluídos da sociedade, da miséria, fome e exploração a qual são submetidos.
Fala-se, também da cultura negra e sua religião de origem africana, de forma
nua, crua e direta, algo que provavelmente ainda não havia sido feito de forma
muito profunda. No momento em que as questões sociais são abordadas, os
figurantes não seguem os padrões do star system,
sendo gente comum do povo, nos rituais e infinitas batucadas que permeiam toda
a história Esse era um dos motivos pelos quais tais filmes chamarem tanto a atenção
na época. Deve-se ainda ressaltar que a leitura do filme é altamente marxista,
onde a religião era acusada de manter as pessoas alienadas frente à exploração capitalista.
Firmino vem como um revolucionário que quer lutar contra isso, pois ele entrou
em contato com as ideologias socialistas ao migrar para o meio urbano, e volta
à comunidade como um porta-voz dessas ideologias, lutando contra as tradições da
religião africana. A luta de capoeira entre Firmino e Aruã é a materialização imagética
desse embate tradição X modernidade. Por fim, as ideias revolucionárias vencem
as crendices da tradição, quando Aruã passa a ser visto pela própria comunidade
como um homem comum e ele pode se unir a Naína para tentar uma vida nova.
Definitivamente, esse é
um dos melhores filmes de Glauber, pois consegue passar uma mensagem nova e
revolucionária para a época de forma bem clara e convencional, totalmente fora
dos hermetismos que sua experimentação excessiva acabou provocando em filmes
posteriores.
Vida difícil e sofrida
dos pescadores.
Aruã e Naína:
relacionamento inviabilizado pela comunidade.
Candomblé presente no
filme.
Firmino e a
deslumbrante Cota.
Desespero de Firmino
frente à letargia do povo embriagado pela religião.
Pescadores na jangada.
Missão perigosa.
Desmistificação
religiosa traz esperança para Aruã e Naína.
Olha ele aí!!!!
muito boa as relações que voce fez!
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