Amar,
Beber e Cantar. Teatro Filmado?
O filme francês “Amar,
Beber e Cantar” é inspirado numa peça de teatro que tem uma peça de teatro como
pano de fundo, além de cenários de teatro. Antes que o filme seja visto como um
mero teatro filmado, vamos citar a direção de Alan Resnais (de “Hiroshima, meu
Amor”) para a pitada de cinema necessária aqui. Houve realmente uma intenção
explícita de dar um quê de teatro ao filme, como se estivéssemos presenciando
palcos montados bem diante dos nossos olhos ao invés de sets de filmagem. Mas elementos cinematográficos são eficientemente
introduzidos ao longo da história. As mudanças de cenários são acompanhadas por
tomadas externas de estradas, onde vemos automóveis se deslocando, e cada
cenário é precedido de uma pintura do mesmo, o que dá um tom original à
exibição do filme. A história também prende nossa atenção, pois é uma comédia
envolvendo três casais que têm em comum a amizade com um homem chamado George,
que não aparece em momento nenhum do filme, e que está supostamente com os dias
contados em virtude de um câncer. Dois desses casais são amigos pessoais de
George, muito sofrendo por isso enquanto ensaiam para uma peça do grupo de
teatro amador do qual fazem parte. O terceiro casal tem a ex-esposa de George.
Sabendo do estado do amigo, os três casais vão se empenhar em cuidar dele em
seus últimos dias. Mas, aos poucos, vamos presenciando as crises conjugais e a
intromissão cada vez maior de George em suas vidas que, apesar de não aparecer
no filme em nenhum minuto sequer, vai revelando sua personalidade através dos
atos das pessoas que interagem com ele. Tudo isso sendo contado de uma forma
bem engraçada e progressivamente cativante.
O que mais chama a
atenção aqui é a disposição dos cenários, montados teatralmente de forma lúdica
e multicolorida. O jeito extremamente artificial da imitação dos ambientes, que
geralmente são quintais e jardins das casas, é algo muito curioso. Vemos paredes
pintadas com estrelas e luas simulando o céu noturno, técnicas de iluminação artificiais
que aguçam nossos sentidos, lembrando até alguns antigos cenários
expressionistas como os de “Caligari”, embora regados a muita cor. Algumas
falas dos personagens também são destacadas, com a imagem do ator sobre um
fundo artificial, como se os protagonistas fossem personagens de uma história
em quadrinhos virtual. Tais efeitos de imagens é que nos lembram que estamos
vendo uma estética de cinema ao invés de teatro filmado, embora o filme pareça
uma grande peça adaptada, como realmente o é.
Brincando com esse
binômio cinema – teatro, o filme “Amar, Beber e Cantar” torna-se uma
interessante curiosidade, não recaindo apenas na mesmice de uma comédia de
costumes conjugais, onde piadas envolvendo adultério ditam os rumos da
história. O filme vale pela história engraçadinha que entretém, mas vale
principalmente pelo impacto visual da imitação dos cenários de teatro de forma
lúdica, as imagens de estradas com automóveis e as pinturas das casas dos
protagonistas, essas muito bem concebidas, e que dão um charme especial a esta
película. Vale a pena dar uma chegadinha ao cinema.
Cartaz do filme. Qual é
a do George?
Um casal
Outro casal.
E o terceiro casal
Ex-esposa de George,
que quer voltar a cuidar dele na doença.
Mulheres à beira de um
ataque de nervos
Cenários teatrais.
Pinturas lúdicas são
grande atração.
Paisagem de estradas. Road Movie????
Resnais em ação!
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