Planeta
Dos Macacos, O Confronto. Pode Ir, Que Não Tem Mico.
O grande problema de um
remake é a margem que ele dá a
comparações com a versão primeira e original. Muitas vezes as pessoas criticam
uma história contada novamente no cinema, por não se aproximar da mesma quando
foi exibida pela primeira vez. Nós já vamos com uma ideia pré-concebida do
filme, já tivemos aquela experiência e nos decepcionamos quando não temos
nossas expectativas correspondidas. Daí o fato de fazer um bom remake ser um ato muito difícil, que
deve ser digno de aplausos quando se concretiza. E é isso que vemos no
excelente filme “Planeta dos Macacos, o Confronto”, continuação do não menos
excelente “Planeta dos Macacos, a Origem”. A história se pauta na decadência da
espécie humana após contrair uma doença criada em laboratório que originalmente
visava curar o Mal de Alzheimer e que, testada em macacos, os tornavam
inteligentes e agressivos, enquanto se mostrava mortal aos seres humanos. A
espécie humana estava praticamente dizimada, com poucos sobreviventes
resistentes à “gripe símia”. Por outro lado, os macacos dominavam as florestas,
cujo líder, César, era o mais inteligente de todos. O convívio entre humanos e
macacos será algo extremamente difícil, pois os novos primatas dominadores da
Terra eram cheios de ressentimentos quanto à faceta mais obscura do homem, que
os confinava a jaulas e os submetia a experiências médicas, digamos, desumanas.
Um estado de tensão, agressividade e beligerância permeará todo o filme.
Não mais me estenderei
pela narrativa da trama para não cair na perniciosa armadilha dos spoilers. O que pode se dizer mais aqui
é sobre a principal mensagem do filme. Ele é um grito de alerta contra a
arrogância humana e sua sede de possibilismo infinito onde, ao brincar de Deus,
o homem leva outras espécies animais ao sofrimento. É assim com cobaias de
laboratório, manipulações genéticas que levam a raças animais cheias de
imperfeições (vemos isso muito nos cachorros) que, inclusive, levam depois ao
sacrifício das mesmas (lembram dos pit
bulls?), maus tratos de toda a espécie que são de uma covardia extrema,
pois o homem, dotado de raciocínio, pode provocar males imensos num animal
irracional, que não consegue se defender de agressões premeditadas. O filme é
mais um caso de mito de Frankenstein, onde a criatura volta-se com toda a força
contra seu criador, já que os macacos têm a sua inteligência desenvolvida ao
serem usados como cobaias para uma experiência humana que se revelou mal
sucedida tanto para os humanos, que passaram a sofrer com a agressividade dos
macacos, quanto para os próprios macacos, cujo desenvolvimento da inteligência
só aumentou sua agressividade e rancor, embora houvesse exceções que
confirmavam a regra, como o próprio César, Maurice e Olhos Azuis.
Outro tema bem
trabalhado no filme é a questão do preconceito e da intolerância, que
funcionavam numa via de mão dupla, ou seja, havia humanos preconceituosos com
os macacos e vice-versa. Se alguns humanos entendiam que a doença que dizimou
sua espécie fora criada em laboratório, outros entendiam que o fim de nossa
raça era culpa dos macacos, hospedeiros da doença e imunes a ela, ficando com a
fama de a disseminarem pelo mundo. Já dentre os macacos, o passado de César
próximo aos humanos despertava o ódio de Koba, que só tinha conhecido a
violência dos homens e queria varrê-los da face da Terra.
Com tantos temas
polêmicos abordados, não é de se estranhar que o fio narrativo da história seja
tenso e de animosidades muito instáveis. A beleza da trama reside justamente na
forma em que esses momentos de tensão e intolerância se alternam com momentos
de cooperação e entendimento, onde aí a palavra “humano” é carregada de
significados positivos, embora eu prefira lembrar o slogan do antigo humorístico televisivo “Planeta dos Homens” : “O
macaco tá certo!”. Brincadeiras à parte, o filme é muito bom, prende a nossa atenção
do início ao fim e, mesmo sendo um filme de ação e cheio de efeitos razoáveis
de computação gráfica (ela ainda não é perfeita em imitar com fidelidade
movimentos animais como os do macaco que pisa e pula de galho em galho), há
alguns momentos em que a história chega até a emocionar, como num bom drama.
Mas o principal aqui é o convite à reflexão que o filme nos faz, ao mostrar a
grande responsabilidade que o dom do raciocínio humano tem sobre o futuro do
planeta e das espécies animais e vegetais. Grandes poderes trazem grandes
responsabilidades (ops, eu já ouvi isso antes em outro lugar!). Não deixem de
assistir um blockbuster com conteúdo,
que é o caso deste ótimo remake.
Cartaz do filme
César. Dividido entre o
carinho pelos humanos e a necessidade da preservação de sua espécie.
Koba. Violência
gratuita.
Maurice. Grande
serenidade.
Humanos na floresta.
Tensão e agressividade.
Humanos e macacos
trabalhando juntos.
Gary Oldman. Dreyfus, o
líder dos humanos.
Momento mais terno do
filme. Ainda haverá esperança?
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