Festival
do Rio 2016. Austerlitz. Tour Macabro.
E o Festival do Rio
2016 botou o seu bloco na rua. Mesmo que eu não possa acompanhar mais o
Festival como fazia há alguns anos atrás, ainda assim dá para ver algumas
coisinhas e escrever umas linhas. Um dos filmes que me chamou a atenção, dentro
do cardápio de 250 películas foi “Austerlitz”, realizado por Sergei Loznitsa
nesse ano de 2016. Esse documentário de 94 minutos nos traz uma questão
altamente inquietante. Ele mostra a visita de turistas ao campo de concentração
de Austerlitz. O diretor fez uma opção um tanto inusitada, lançando mão de
longuíssimos planos onde víamos, em vários locais do campo, grupos
intermináveis de turistas, numa verdadeira enxurrada humana, com personagens e
tipos dos mais variados. Todo mundo caminhando numa expressão descontraída e
alegre, em contraste com os terríveis fantasmas do passado que pairavam no
malogrado local. E aí é que vem a grande questão do filme: o que é mais
apavorante? Escutar a narração dos guias turísticos de todos os horrores e
atrocidades cometidas no interior daquele nefasto campo, onde 41 mil pessoas
perderam a vida das mais variadas formas, ou a indiferença da massa de turistas
a todo aquele horror, fazendo o tour como se estivesse na Disneylândia, com
direito a “selfies” com fornos crematórios? Nesse ponto, o diretor não buscou
ler qualquer imagem, não procurou dar diretamente qualquer opinião sobre as
tomadas e sequências que captava. Ele simplesmente as colocou lá, e deixou que
o espectador tirasse suas próprias conclusões do que via. E, realmente, fica muito
difícil de dizer o que é mais aterrorizante dentre as duas opções apresentadas.
Entretanto, o filme cumpre novamente a função social de denúncia do cinema e
apresenta as cenas reais de um lugar onde ocorreu um verdadeiro genocídio,
cujas explanações dos guias turísticos são o único momento em que as imagens
são narradas. Por mais batido e exaustivo que seja o tema, a questão do
holocausto deve ser jamais esquecida e sempre relembrada, ainda mais em tempos
de ascensão de intolerância e de ódio que temos vivido em nosso país, onde
ideias puramente fascistas ganham cada vez mais força e se tornam uma
verdadeira ameaça à democracia, já tão combalida ultimamente.
O filme, por seu
aspecto excessivamente descritivo, não agradou muito ao público da sala e várias
pessoas saíram durante a exibição, fatigadas daquele fluxo enorme e
interminável de pessoas, sem uma narração sequer e com esporádicos momentos em
que os guias tinham voz na película. Mas ainda assim, “Austerlitz” é um filme
digno de nota, pois mostra a indiferença de quem não passou pelos horrores do
holocausto de uma forma bem contundente. Um filme realmente feito para
refletir.
Um campo de concentração e muitos visitantes...
Fluxos humanos em locais de genocídios
Locais onde se depositavam corpos...
Fornos crematórios. Vamos tirar uma selfie???
O diretor Sergei Loznitsa
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