Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!
Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Resenha de Filme - A Banda Prometida (The Promised Band)

Festival do Rio 2016. A Banda Prometida. O Que Importa Menos é a Música.
O Festival do Rio exibiu mais um bom documentário, sacramentando de vez a sua tradição em nos presentear com boas películas do gênero. “A Banda Prometida” é uma produção um tanto inusitada. Um filme feito por mulheres, com um muro intransponível no meio, que é novamente a questão árabe-israelense. É muito interessante perceber como esse tema é uma fonte inesgotável não somente para documentários, mas também para filmes de enredo.
Nesta película, temos uma produtora americana de tv que decide realizar algo curioso: formar uma banda musical com mulheres israelenses e palestinas, como uma espécie de símbolo para a paz. Ela teve essa ideia depois de conhecer um alpinista palestino que escalou o Everest com o objetivo de divulgar a paz. Só que juntar essas mulheres não será uma coisa tão fácil, já que existem algumas áreas nos territórios ocupados onde a presença israelense é proibida, assim como há a proibição, por parte de Israel, da presença palestina em território israelense. Tais questões espinhosas acabam colocando a carreira musical do grupo em segundo plano. Aliás, do grupo de mulheres que queria formar a banda, somente uma tinha alguma formação musical e percebemos que a banda é apenas um pretexto para aproximar israelenses e palestinas, divulgando tudo isso num filme e mostrar que a paz ainda é possível naquela região tão belicosa.
É realmente um documentário muito bem realizado, mesmo que tenha havido tantas condições adversas. As restrições que as vigilâncias de fronteira dos dois países impuseram foram muitas e acabaram impedindo a participação de outras pessoas no filme. O tal alpinista palestino, por exemplo, foi impedido de se encontrar com a banda feminina (ele faria parte dela) por ter sido barrado na fronteira. O medo era algo constante também, provocado por uma desconfiança inicial, além da grande diversidade cultural como, por exemplo, o caso da moça árabe que vivia em Israel, ou o caso do rabino ortodoxo americano que tinha excelente formação musical, mas que não podia ouvir mulheres cantando, pois a sua visão da religião não o permitia, o que acabou provocando um desfalque sério no grupo. Contdo, tivemos exemplos muito positivos, como o caso da ex-militar israelense que se comoveu com a questão palestina e a palestina que largou a Cisjordânia e o marido para começar vida nova em Israel. Pode-se dizer que a interação entre essas mulheres provocou mudanças profundas na vida de algumas delas, o que foi algo muito legal de se ver, assim como foi também muito instigante perceber como as mulheres superaram medos e preconceitos, tornando-se amigas muito sinceras.
O documentário ainda teve a grande virtude de explicar, através de mapas, gráficos e muitas imagens, toda a complexa geopolítica local, mostrando, por exemplo, que a Cisjordânia não é uma área de dominação exclusivamente palestina, mas que há uma parte sob controle israelense, outra sobre controle israelense-palestino e uma última parte (a menor, diga-se de passagem) sob controle exclusivamente palestino. Era lá que vivia a palestina, numa área completamente proibida para os israelenses.

Assim, “A Banda Prometida” é mais um daqueles documentários que fala da realidade do conflito árabe-israelense e que tem o mérito de abordar o universo feminino nesse contexto. Fica aqui novamente a torcida de que esse filme tenha lançamento comercial por aqui. E não deixe de ver o trailer depois das fotos.

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Cartaz do Filme

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Uma produtora de tv (a loura)

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Uma palestina.

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Uma israelense

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Nas manifestações pela causa palestina...

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Dando um rolé por aí...

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Amigas...

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Gravando uma música...

The Promised Band (2016) trailer

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Resenha de Filme - De Palma

Festival do Rio 2016. De Palma. A Trajetória de Um Incompreendido.
Pois é, o Festival do Rio 2016 acabou, mas ainda há a rebarba da “Última Chance”. Esse ano, um dos cinemas onde pudemos ter um gostinho extra do Festival após o seu término foi o Roxy, de Copacabana. E lá tivemos a oportunidade de se assistir o excelente documentário “De Palma”, sobre o conhecido diretor de cinema norte-americano. Esse filme, dirigido por Noel Baumbach (de “Francis Ha”) e Jake Paltrow tem uma estrutura muito simples. Vemos o próprio Brian De Palma narrando toda a sua trajetória desde a infância, passando por sua família, pelas primeiras experiências cinematográficas, chegando até ao estrelato de diretor consagrado, mas muito contestado e, por que não, um pouco maldito. O documentário é uma joia para os amantes do cinema em geral, pois Brian De Palma é de uma geração de cineastas que engloba Coppola, Spielberg, Lucas, Scorsese e por aí vai. Ainda, o início da carreira cinematográfica do diretor coincide com o início da carreira cinematográfica de Robert de Niro. É exibido no filme trechos dos primeiros filmes em que eles trabalham juntos, tornando-se uma grande curiosidade dessa película. Mas há muito mais. Ele fala de detalhes da produção e curiosidades de filmes como “Carrie, a Estranha”, “Scarface”, “Vestida para Matar”, “Dublê de Corpo”, “Os Intocáveis”, “O Pagamento Final”, “Pecados de Guerra”, “Missão Impossível”, etc., sendo essa a parte mais deliciosa do filme. É falado também da repulsa, por parte do público e da crítica, a seus filmes, que tinham às vezes um conteúdo muito violento e chocavam muito. Reclamava-se muito de cenas onde mulheres eram vítimas de uma violência extrema ou então de conteúdos altamente eróticos, coisas que sacudiam na cadeira os tradicionais WASPs americanos. Sua veia iconoclasta e desafiadora não tinha limites e De Palma chegou a fazer teste com uma atriz pornô para um filme que falava de uma prostituta, o que deixava indignados os executivos dos grandes estúdios. Foi ainda lembrado no documentário que Brian De Palma fez parte de uma geração de diretores que experimentou um breve momento de autonomia e liberdade com relação aos grandes estúdios, o que acabou levando à produção de grandes filmes. Só que logo os estúdios retomaram o controle da situação e impuseram sua vontade novamente, para a decepção do diretor, que muito reclama da interferência dos grandes estúdios em seus filmes, em virtude de seu viés altamente polêmico.
Outro ponto interessante dessa película é que De Palma, ao falar sobre seus filmes, falava também das influências de outros diretores e outros gêneros cinematográficos, como Hitchcock ou a Nouvelle Vague, sobretudo Godard. E aí a montagem do documentário é primorosa, pois imagens de seus filmes são comparadas com imagens de suas influências, como no caso de “Os Intocáveis”, onde a sequência do tiroteio na escadaria da estação de trem é comparada com a sequência da escadaria de Odessa de “Encouraçado Potemkim”, de Sergei Eisenstein, influência direta e confessa do diretor em suas próprias palavras.

Assim, o documentário “De Palma” só confirma o que já foi dito aqui: que o Festival do Rio deste ano conseguiu manter a sua tradição de trazer ao público excelentes documentários sobre os mais variados temas. E a coisa torna-se mais atraente ainda quando o documentário fala justamente do grande amor de provavelmente boa parte do público do Festival, que é o cinema. Um programa imperdível. Torçamos para que esse documentário seja lançado comercialmente por aqui.

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Cartaz do Filme

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O homem explica tudo...

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Belas fotos de arquivo, como essa com Spielberg...

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Uma turma da pesada...

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Dirigindo Al Pacino em "Scarface"

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Violências extremas...

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Dirigindo Robert De Niro em "Os Intocáveis".

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Carrie, de dar medo!!!!

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Um grande diretor...










De Palma | Official Trailer HD | A24

domingo, 16 de outubro de 2016

Resenha de Filme - Inferno

Inferno. Fazendo Uma Limpezinha.
Tom Hanks está de volta mais uma vez. Como é bom ver um grande talento do cinema trabalhando bastante e deixando sua carreira cada vez mais prolífica. Só que, desta vez, ele faz um personagem que já interpretou outras duas vezes: o conhecido Dr. Robert Langdon, personagem de Dan Brown, dos não menos conhecidos livros “O Código da Vinci” e “Anjos e Demônios”. Essas duas histórias foram adaptadas para o cinema e, obviamente, o terceiro livro da série, “Inferno”, também foi parar nas telonas, requisitando mais uma vez os serviços de Hanks. E o homem veio bem acompanhado no elenco: Felicity Jones, Omar Sy, Irrfan Khan e Sidse Babett Knudsen. Isso sem falar da direção de, simplesmente, Ron Howard, que já nos brindou com filmaços como “Uma Mente Brilhante”, “Rush”, “Apollo 13” e os próprios “Código da Vinci” e “Anjos e Demônios”.
Neste filme, Robert Langdon terá que desvendar uma conspiração orquestrada por um milionário tresloucado, Bertrand Zobrist (interpretado por Ben Foster), que defendia a ideia de que a humanidade estaria extinta em poucas décadas em virtude da superpopulação mundial. Qual seria, então, a solução? Lançar um vírus letal que dizimasse boa parte da humanidade, matando os pecadores, ao bom estilo do inferno de Dante Alighieri, aquele de deu a noção de Inferno que  cultura ocidental tem hoje. Mas nosso milionário piradinho se suicida no início do filme depois de sofrer uma perseguição. E Langdon está no hospital com um traumatismo craniano e sem memória. Ele é atendido pela médica Sienna Brooks (interpretada por Felicity Jones), que o salva de ser morto por uma policial. Sem saber o que está acontecendo, Langdon foge com a médica e precisa, ao mesmo tempo, saber o que aconteceu com ele e evitar que um vírus acabe com a metade da humanidade. Ufa, que dia cheio!
 O grande barato desses filmes inspirados nas boas histórias de Dan Brown é que podemos presenciar, na medida certa, vários elementos que prendem muito a nossa atenção. Em primeiríssimo lugar, temos aqui um blockbuster de ação. Só que esse não é um filme de ação comum, pois Langdon é perseguido por um monte de pessoas, mas ele simplesmente não se lembra de quem são os mocinhos e os bandidos. E, com toda a sua destreza em decifrar enigmas, ele vai descobrindo quem é quem ao longo da película, junto com o público. É bem interessante notar como esses filmes em que o personagem protagonista não tem conhecimento de uma situação pregressa e descobre isso aos poucos faz com que a ligação entre o personagem e o público fique mais íntima. Compartilhamos com o protagonista as descobertas, surpresas e decepções, o que torna o filme mais delicioso, e abraçamos assim o personagem muito mais facilmente. A forma como são montados os enigmas e a busca pelas soluções é algo muito instigante nesse filme, ainda mais porque o pano de fundo é de uma nobreza extrema: a cultura europeia renascentista. É muito estimulante você desvendar, junto com o protagonista, enigmas que tenham como elementos Leonardo da Vinci ou Dante Alighieri. E algumas informações de cultura geral vêm como brinde, como a origem do termo “quarentena”, por exemplo. Isso sem falar nas lindas locações usadas no filme, como Veneza, Istambul, Budapeste e Florença.

Assim, “Inferno” é mais um filmaço em que Tom Hanks participa, baseado numa história de um grande escritor, que é Dan Brown, e dirigido por um grande diretor, que é Ron Howard. Esse é garantido e vale muito a pena que você saia de casa para pegar um cineminha à tarde. Programa imperdível! E não deixe de ver o trailer após as fotos.

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Cartaz do Filme

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Robert Langdon está de volta!!!

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Um suicídio...

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Quem são os mocinhos ou os bandidos?

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Dante Alighieri, um personagem ilustre.

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A verdadeira máscara mortuária de Dante. 

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Ron Howard e Omar Sy

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Ron Howard, Tom Hanks e Felicity Jones.

Inferno (2016) - Trailer Legendado

sábado, 15 de outubro de 2016

Resenha de Filme - Austerlitz

Festival do Rio 2016. Austerlitz. Tour Macabro.
E o Festival do Rio 2016 botou o seu bloco na rua. Mesmo que eu não possa acompanhar mais o Festival como fazia há alguns anos atrás, ainda assim dá para ver algumas coisinhas e escrever umas linhas. Um dos filmes que me chamou a atenção, dentro do cardápio de 250 películas foi “Austerlitz”, realizado por Sergei Loznitsa nesse ano de 2016. Esse documentário de 94 minutos nos traz uma questão altamente inquietante. Ele mostra a visita de turistas ao campo de concentração de Austerlitz. O diretor fez uma opção um tanto inusitada, lançando mão de longuíssimos planos onde víamos, em vários locais do campo, grupos intermináveis de turistas, numa verdadeira enxurrada humana, com personagens e tipos dos mais variados. Todo mundo caminhando numa expressão descontraída e alegre, em contraste com os terríveis fantasmas do passado que pairavam no malogrado local. E aí é que vem a grande questão do filme: o que é mais apavorante? Escutar a narração dos guias turísticos de todos os horrores e atrocidades cometidas no interior daquele nefasto campo, onde 41 mil pessoas perderam a vida das mais variadas formas, ou a indiferença da massa de turistas a todo aquele horror, fazendo o tour como se estivesse na Disneylândia, com direito a “selfies” com fornos crematórios? Nesse ponto, o diretor não buscou ler qualquer imagem, não procurou dar diretamente qualquer opinião sobre as tomadas e sequências que captava. Ele simplesmente as colocou lá, e deixou que o espectador tirasse suas próprias conclusões do que via. E, realmente, fica muito difícil de dizer o que é mais aterrorizante dentre as duas opções apresentadas. Entretanto, o filme cumpre novamente a função social de denúncia do cinema e apresenta as cenas reais de um lugar onde ocorreu um verdadeiro genocídio, cujas explanações dos guias turísticos são o único momento em que as imagens são narradas. Por mais batido e exaustivo que seja o tema, a questão do holocausto deve ser jamais esquecida e sempre relembrada, ainda mais em tempos de ascensão de intolerância e de ódio que temos vivido em nosso país, onde ideias puramente fascistas ganham cada vez mais força e se tornam uma verdadeira ameaça à democracia, já tão combalida ultimamente.

O filme, por seu aspecto excessivamente descritivo, não agradou muito ao público da sala e várias pessoas saíram durante a exibição, fatigadas daquele fluxo enorme e interminável de pessoas, sem uma narração sequer e com esporádicos momentos em que os guias tinham voz na película. Mas ainda assim, “Austerlitz” é um filme digno de nota, pois mostra a indiferença de quem não passou pelos horrores do holocausto de uma forma bem contundente. Um filme realmente feito para refletir.

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Um campo de concentração e muitos visitantes...

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Fluxos humanos em locais de genocídios

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Locais onde se depositavam corpos...

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Fornos crematórios. Vamos tirar uma selfie???

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O diretor Sergei Loznitsa 

AUSTERLITZ Trailer | Festival 2016

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Resenha de Filme - Comboio de Sal e Açúcar

Festival do Rio 2016. Comboio de Sal e Açúcar. Guerra e Condição Humana.
Dentro do Festival do Rio 2016, um interessante filme é “Comboio de Sal e Açúcar”, dirigido por Licínio Azevedo. Essa é uma película com um certo quê hollywoodiano, mas que retrata um tema que é tipicamente de Terceiro Mundo: a guerra civil em Moçambique. Um trem (o tal comboio) é guardado pelas forças militares do governo socialista, transportando carga e passageiros que não pagam um tostão sequer pela viagem, sendo esse o único jeito que eles têm de se locomover a grandes distâncias. A guerra civil tornou raros os carregamentos de sal, mas principalmente os carregamentos de açúcar, fazendo-o um produto muito raro e caro. Os carregamentos de sal e açúcar que o comboio leva o convertem numa verdadeira mina de ouro ambulante, cobiçada pelos guerrilheiros anticomunistas liderados por Xipoco, que trata seus inimigos de forma sanguinária, com direito a decapitações e tudo. Assim, o trem era, em vários momentos, alvejado pelos guerrilheiros, com os militares acastelados nas composições revidando o fogo inimigo e o povo que viajava ficando no meio do fogo cruzado. Como se nada mais bastasse em termos de desgraça, os militares ainda tripudiavam dos civis do trem, com direito a estupros e abusos de toda a parte.
Quando eu digo que o filme tem um quê hollywoodiano, é porque a película foi muito bem feita. Temos uma ótima fotografia, onde as montanhas altamente escarpadas de Moçambique muito impressionam por sua altura, majestade e formas poligonais altamente exóticas. O figurino bem acabado dos militares, dos maquinistas do trem e das roupas multicoloridas das mulheres era outro fator que chamava muito a atenção. Os atores também estiveram muito bem, com interpretações sóbrias, contidas e convincentes.
Mas a grande virtude da película é a de expressar os horrores da guerra. Fica lançada uma grande questão: os civis indefesos têm mais medo de quem? Do inimigo que empreende emboscadas violentas ao comboio a todo momento ou dos próprios militares que os protegem, que se acham no direito de estuprar civis a seu bel prazer e no momento que quiserem? Essa é uma situação que realmente podemos chamar de sinuca de bico ou de ficar entre a cruz e a caldeirinha. A situação de guerra desvirtua completamente o Estado imposto e o sistema de leis, onde as liberdades e proteções ao indivíduo caem totalmente por terra. E, aí, somente os mais fortes sobrevivem e muitas covardias acontecem. Esses foram elementos que a película conseguiu captar com muita maestria e que mostram o quanto o nível do ser humano pode abaixar. Tudo isso com uma interpretação sóbria e contida dos atores, não deixando a coisa piegas ou apelativa.

Dessa forma, “Comboio de Sal e Açúcar” se tornou uma grata surpresa vinda de Moçambique diretamente para o Festival do Rio desse ano. Um filme muito bem acabado, com uma história cativante, bons atores, boa fotografia, e uma mensagem que mexe com nosso íntimo e nos faz pensar na responsabilidade que um ser humano tem para com o seu próximo nas situações mais desfavoráveis. Realmente um excelente filme.


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Cartaz do Filme

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Um comandante muito casca grossa

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Um militar com boa educação e formação

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Muitos civis indefesos...

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Um militar estuprador...

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Disputando uma mulher

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Uma decapitação...

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...e combates sanguinários...

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O diretor Licínio de Azevedo

Comboio de Sal e Açucar (2016) Trailer

domingo, 9 de outubro de 2016

Resenha de Filme - A Passageira

A Passageira. Reabrindo Feridas.
Uma notável co-produção Peru, Argentina e Espanha sacode nossas telonas. “A Passageira”, filme escrito e dirigido por Salvador del Solar, consegue ser uma excelente película de ação e, ao mesmo tempo, ser um daqueles filmes latino-americanos que revolve com maestria o passado negro das ditaduras do continente. Tudo isso coroado com as belas atuações dos atores Damián Alcazár e a bela Magali Solier.
O filme mostra a história de Magallanes (interpretado por Alcazár), um taxista de Lima que é também motorista particular de um Coronel que sofre de Alzheimer (interpretado por Federico Luppi). Um belo dia, uma moça entra em seu táxi. É Celina (interpretada por Solier), que durante a ditadura militar peruana, era menor de idade e foi presa por Magallanes que, cumprindo ordens, a entregou para o Coronel que agora é senil. Mas na época, o Coronel a manteve em cárcere privado em seu quarto particular por um ano, usando e abusando da menina. Ao reconhecer Celina, Magallanes, que era apaixonado por ela, segue a moça e descobre que ela está em dificuldades financeiras. Surge então a ideia de Magallanes chantagear o Coronel para arrumar dinheiro para Celina e, assim, se redimir um pouco de seu passado de maldades de um soldado que seguia as ordens do regime autoritário. Mas os planos para a chantagem não sairão como o previsto, e situações espinhosas surgirão ao longo da trama.
Os dois atores protagonistas aqui chamam muito a atenção. Alcazár deu um show de interpretação. Sua obstinação em buscar se retratar por seu passado cheio de defeitos realmente convencia. Ele conseguia ser ponderado, safo e violento nas horas certas. Já Solier, apesar de parecer pouco no filme, roubou a cena todas as vezes em que apareceu. Sua beleza indígena era bem marcante e ela foi a responsável pelo momento de maior plasticidade de toda a película, a linda sequência onde Celina, desesperada, sobe morro acima no escuro da noite iluminado pelas luzes de Lima lá embaixo. Somente essa cena já vale o ingresso, onde a atriz expressa um paroxismo de dor e de sofrimento de um passado desesperador e humilhante que vem à tona. É uma pena que os “spoilers” me evitem de falar mais sobre essa personagem e essa atriz. Mas só vou falar rapidamente de mais uma coisa: será de Celina o clímax do filme, onde ela vai destilar todo o seu sofrimento e indignação de uma forma muito peculiar, que cria uma ponte entre os anos de autoritarismo da ditadura militar com o terrível passado colonial da América Espanhola. Esse, sem qualquer sombra de dúvida, é o momento alto do filme. Mas não quero estragar a surpresa.
“A Passageira” é um filme que, além de denunciar dos crimes da ditadura militar, mostra como a impunidade reina e algumas estruturas bem sólidas de autoritarismo sobreviveram aos efeitos do tempo, estando aí em tempos atuais de democracia. Magallanes ainda convive com pessoas que são o suprassumo da truculência e violência de tempos pregressos, indo dos capangas do filho do coronel, passando pelo major da delegacia de polícia, indo até a um amigo próximo que era saudoso dos tempos de repressão. O medo e a insegurança ainda subsistem, principalmente quando Magallanes põe a mão no vespeiro e tenta fazer a chantagem com gente graúda. Mas toda essa trama tensa consegue ser sintetizada num bom filme de ação moderada e muito bem escrito. A nossa atenção fica presa a tela o tempo todo e nem sentimos o tempo passar. E a história é muito bem amarrada, com um bom desfecho e a lição de que o dinheiro não consegue apagar os traumas do passado que devem sempre ser denunciados, ainda mais em tempos presentes de mentalidade altamente autoritária.

Dessa forma, “A Passageira” é um filme essencial, pois ele consegue entreter e fazer refletir ao mesmo tempo. Um bom filme de ação um tanto moderada, com um certo quê hollywoodiano, mas também com a temática cara a nós da América Latina, que é a repressão da ditadura militar. E isso com a presença de dois atores altamente competentes e cativantes. Vale muito a pena dar uma conferida nessa película.

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Cartaz do Filme no Peru

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Cartaz do Filme no Brasil

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Magallanes busca ajustar contas com seu passado

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Celina, um passado traumático

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Um reencontro, cheio de desencontros...

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Um coronel senil

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As mágoas virão à tona...





A PASSAGEIRA TRAILER - ESFERA legendas em português

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Resenha de Filme - O Lar das Crianças Peculiares.

O Lar Das Crianças Peculiares. Uma Fantasia Surreal.
Pegue um bom diretor (Tim Burton), um bom elenco (Terence Stramp, Samuel L. Jackson, Judi Dench, Eva Green) e uma surreal história de fantasia. Pronto. Você tem a receita para um bom filme. “O Lar das Crianças Peculiares” é peculiar até no título. Essa história baseada no romance de Ransom Riggs lida com crianças com superpoderes e fendas temporais onde o tempo se repete. Ou seja, é uma doideira só, mas que, por incrível que possa parecer, dá certo e vende o seu peixe muito bem.
A história fala de um rapaz de nome Jack (interpretado por Asa Butterfield), que tem um avô, Abe (interpretado por Terence Stramp), que sofre de demência. Um dia, depois de voltar do emprego no supermercado, ele encontra a casa do avô revirada e o encontra moribundo e sem os olhos. O avô lhe passa algumas informações nas quais ele deve encontrar uma mulher de nome Peregrine (interpretada por Eva Green), que lhe contará a causa estranha da morte dele. Jack consegue convencer o pai a ir ao País de Gales depois de receber uma carta de Peregrine. Uma vez no país europeu, Jack descobre que o orfanato que o avô vivia quando era jovem estava em ruínas depois de um bombardeio nazista na Segunda Guerra Mundial. Mas, ao penetrar mais profundamente no orfanato, Jack descobre que Peregrine vive por lá com várias crianças e adolescentes dotados de poderes especiais. Na verdade, Jack atravessou uma fenda temporal e encontrou o orfanato inteiro. Peregrine tem o poder de controlar o tempo e, para proteger as crianças, faz com que elas vivam sempre o mesmo dia no ano de 1943 que antecedeu ao bombardeio. Assim, elas nunca envelhecem, mas também ficam presas naquela fenda temporal.
Dá para perceber que o enredo da história é bem interessante. Vemos aqui uma espécie de mistura de conto de fadas com uma ficção cientifica um tanto primária, mas que não deixa de ser simpática. É claro que há vilões na história, muito arrepiantes por sinal, mas não vou entrar em maiores detalhes por causa dos “spoilers”. Aliás, essa mistura de uma certa dose de terror com um quê lúdico é outra curiosidade do filme. Podemos ter menininhas lindas fazendo as coisas mais escabrosas, por exemplo. Elas podem incendiar as coisas, ter bocarras horrendas na nuca ou uma força descomunal que move coisas muito pesadas. Ou então, dar vida a objetos inanimados para depois se deleitar vendo-os destruindo uns aos outros em batalhas homéricas. Se os literalmente mocinhos e mocinhas já provocam situações indigestas, imaginem o que não fazem os vilões da história, na busca pela vida eterna.
Dessa forma, “O Lar das Crianças Peculiares” é mais uma daquelas películas que foi feita para ser um blockbuster, mas precisa contar com a aceitação do grande público, mais acostumado com continuações de franquias do que com novas ideias para histórias se manifestando nas telonas. Pela forma cativante como a história é contada, pelos paradoxos entre o muito fofinho e o muito horrendo, pelo grande elenco envolvido, pela originalidade e surrealismo do tema, esse filme tem tudo para ter uma continuação e potencial para gerar uma nova franquia. Vale a pena dar uma chegadinha ao cinema e se divertir. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

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Cartaz do Filme

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Jack irá se meter num mundo estranho...

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O que é isso???

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Uma mulher ave...

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Judy Dench. Rápida participação

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Samuel L. Jackson. O vilão

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Tim Burton dirigindo uma cena.