Duas
Irmãs, Uma Paixão. Dividindo Um Poeta Da Literatura Universal.
Um bom filme alemão na
área. “Duas Irmãs, Uma Paixão” conta a história de um triângulo amoroso, onde
um dos vértices é ninguém mais, ninguém menos que Friedrich Schiller
(interpretado por Florian Stetter), um dos grandes escritores da literatura
alemã e mundial. Veremos aqui como o poeta e escritor, um zé ninguém em termos
de cabedal aristocrático, mas já valorizado por suas letras, irá conquistar
duas irmãs, Caroline (interpretada por Hannah Herzsprung) e Charlotte
(interpretada por Henriette Confurius), sendo que os três aceitam a condição de
se amarem mutuamente, numa espécie de amizade colorida da “aufklärung”
(Iluminismo). Caroline era casada, pois seu pai morreu cedo e a família ficou
sem dinheiro. Por uma questão de conveniência, ou seja, para salvar a saúde
financeira da mãe e da irmã, Caroline aceitou tal sacrifício. Já Charlotte
sofria por não conseguir um verdadeiro amor, assim como nosso Schiller,
romântico e galinha como ele só. As irmãs se amavam profundamente e fizeram um
pacto em dividir Schiller entre elas, e o escritor obviamente não se opôs. Mas,
apesar de ele ser considerado um gênio de sua época, chegando a se encontrar
com o próprio Goethe para uma conversa (devidamente observada à distância por
membros da aristocracia), nosso escritor não tinha nem profissão nem grana,
sendo visto com reservas pela elite aristocrática quando o assunto era
casamento. Assim, o triângulo amoroso do filme teve que passar por todos os
crivos impostos pela sociedade de Antigo Regime. O mais curioso é que tal
história, que tem um suposto fundo de verdade graças a um pequeno fragmento na
correspondência de Schiller escrito para Caroline, se passa ao fim do século
XVIII, quando a mais importante das revoluções liberais, a francesa, aniquilava
a aristocracia feudal e tingia de sangue a Europa, para desgosto de nosso
escritor, que havia conseguido uma vaga de professor de História na
Universidade e cuja aula inaugural falava de um otimismo com relação ao futuro,
inspirado por uma sociedade letrada amante da arte e da sabedoria. O desgosto
de Schiller se baseou justamente no fato de que as execuções na guilhotina
inspiravam o mesmo terror que as torturas dos interrogatórios impostos pela
Santa Inquisição Espanhola.
O filme é regado a
muitas correspondências, viagens, pequenas intrigas, jogos de esconde-esconde
para encobrir adultérios. Mas é notório perceber que, com o tempo, a divisão de
Schiller feita pelas irmãs desgasta a relação das duas. Novas famílias foram
criadas, muito mais pobres pelo contexto histórico da época revolucionária, e
com crises internas entre as irmãs e a mãe que, acometida de uma doença grave,
não queria morrer com as filhas em guerra. Lamentavelmente, nosso escritor e
poeta tinha uma doença respiratória grave e faleceu com apenas 45 anos. Apesar
de tudo, sua vida amorosa parece ter sido muito rica e provavelmente tais
querelas amorosas podem ter acontecido em maior ou menor intensidade. O filme
foi um exercício de imaginação nesse sentido e deve ter tido uma pesquisa
admirável.
A trama também mostra
uma Alemanha mais romântica, aristocrática e fofa, pouco rude. Temos uma certa
visão estereotipada dos alemães como um povo ríspido e rude, que só abrem um
sorriso de orelha a orelha quando vencem a gente por 7 a 1. Mas a Alemanha do
filme era mais suave, com personagens mais sensíveis, dentro de um espírito
nascente e otimista de “aufklärung”, envolta numa visão mais romântica.
Obviamente, há um momento mais ríspido ou outro como o tapa na cara que
Caroline dá em seu companheiro ou no soco na mesa que a mãe dá quando exige que
as filhas irmãs não briguem depois de sua morte. Mas dá para passar. Um filme
com alemães mergulhados em florzinhas e delicadezas o tempo todo realmente me
parece impossível. Visão estereotipada? Talvez...
De qualquer forma,
“Duas Irmãs, Uma Paixão” é uma boa experiência cinematográfica. Um filme que
caprichou na fotografia, no figurino e nas locações, sendo provavelmente bem
caro por causa disso. Um filme feito com capricho e cuidado, que enche os olhos
pela beleza de suas imagens. Uma história talvez um pouco longa e cansativa.
Mas ainda assim, a película vale a pena.
Cartaz do filme no Brasil
Cartaz internacional, muito mais bonito... um Schiller nu, aquecido pelas irmãs...
Friedrich Schiller, um dos maiores escritores da literatura universal...
Triângulo amoroso peculiar...
Charlotte e Caroline. Na juventude, tudo são flores...
Irmãs muito unidas
Schiller em sua aula inaugural de História...
... e as mocinhas disfarçadas assistindo.
Marido de Caroline. Casamento por conveniência
Uma mãe temerosa com o futuro das filhas...
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