118
Dias. Pintando Um Cárcere Com As Cores Da Liberdade.
Mais um excelente filme
nas telonas. E, mais uma vez, baseado numa história real. “118 Dias” tem o
grande mérito de enfocar o processo eleitoral no... Irã. Um jornalista nascido
no Irã, mas radicado no Canadá, Maziar Bahari (interpretado pelo sempre ótimo
Gael Garcia Bernal), da “Newsweek”, foi enviado para Teerã com o objetivo de
cobrir a eleição para presidente em 2009, onde o candidato de oposição tinha
chances reais de vitória. Mas a situação venceu o pleito. Enfurecida, a população
começou uma série de manifestações de rua reprimidas violentamente pelas forças
de segurança, onde pessoas foram mortas a tiros. Nosso Maziar filmou tudo. Mas o
regime opressor do Irã tem câmaras instaladas pelas ruas e flagrou Maziar
filmando. Isso foi o pretexto para levar o jornalista para a prisão, que não entendia
o motivo do encarceramento. Os policiais da prisão o haviam acusado de
espionagem, pois ele havia gravado uma participação num programa humorístico
americano onde é entrevistado por um suposto espião da CIA. Assim, os policiais
o obrigaram a gravar uma confissão se declarando espião e estando arrependido
de todos os seus “erros”. Boa parte do filme se passa dentro da prisão no
período de 118 dias de encarceramento de Maziar, com os interrogatórios e torturas
praticados pelo policial Javadi (numa ótima interpretação de Kim Bodnia). Uma guerra
de nervos para ninguém botar defeito.
A película é muito boa
por vários motivos. Os diálogos entre o policial que interroga e tortura e o
preso que é interrogado e torturado são primorosos. O chefe de Javadi já havia
o alertado para o caso de que o jornalista não deveria ser tratado com
excessiva violência, pois ele é uma pessoa inteligente e a técnica de persuasão
deve ser feita na argumentação e pressão psicológica. Maziar já tinha perdido o
pai e sua irmã, comunistas de carteirinha, com a última sendo uma espécie de
mentora intelectual do jornalista, que havia lhe apresentado muitos filmes de
arte e músicas em sua infância. Durante a reclusão, vemos diálogos muito
interessantes entre Maziar e seu pai, assim como sua irmã, onde as lembranças e
os modos de ser dos entes queridos o ajudaram a enfrentar todas aquelas
arbitrariedades. O filme também mostra como Maziar conseguiu transformar o
tormento da prisão numa chance de liberdade, sobretudo quando ele sabe que há uma
pressão da comunidade internacional para libertá-lo, algo que aconteceu
posteriormente. O mais lamentável é que seus amigos próximos e que estavam
engajados na campanha do candidato de oposição continuam presos e hoje Maziar
busca formas de libertar essas pessoas sem voz na mídia.
Assim, “118 Dias” é
mais uma história baseada em fatos reais que se encaixa no cinema de reflexão e
de denúncia. As imagens da tela ficam mais legitimadas com fotos reais dos pais
e irmã de Maziar. Mais um filme fundamental, que mostra como a luta pela
democracia ainda é algo que deve ser visto com muita atenção, ainda mais num
país do porte do Irã, que depois da radicalização promovida pela Revolução
Islâmica (talvez não sem motivos para isso, mas ainda sim uma radicalização),
viveu períodos de abertura moderada, mas que novamente se fechou em virtude da
estrutura do Estado Teocrático. O processo eleitoral turbulento é a prova de
que o país ainda precisa amadurecer, absorvendo a democracia, mas não se
esquecendo de suas tradições. Apesar de um autoritarismo, demonizar a Revolução
Islâmica parece uma explicação simples demais para tão complexo contexto.
Reflexões à parte, “118 Dias” é um filme em que a presença dos cinéfilos e dos
amantes de bons filmes é obrigatória.
Cartaz do filme
Maziar. Reencontrando-se com a mãe antes de começar seu trabalho em Teerã.
Maziar. Locomovendo-se de forma precária para fazer seu trabalho.
Maziar. Mostrando a verdade da violência policial no Irã.
Já na prisão, sendo constantemente vendado e interrogado por Javadi.
Muita pressão psicológica...
... e, às vezes, a coisa ficava meio violenta...
A irmã de Maziar foi interpretada pela estonteante Golsditeh Farahani.
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