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Blog Mantido por Carlos Eduardo Lohse Rezende. Aqui serão feitas algumas reflexões e tentativas de se escrever alguma coisa que preste ou faça sentido. Me perdoem se eu não conseguir...
Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
sábado, 19 de novembro de 2016
Resenha de Filme - 13 Minutos
Treze
Minutos. Por um Triz.
Um excelente filme
alemão em nossas telonas. “Treze Minutos” é mais uma das intermináveis
películas que abordam a questão da Segunda Guerra Mundial e do Nazismo. Desta
vez, vai se falar de um atentado. Um atentado real, ocorrido em 1939, ano de
início da guerra. E não é um atentado qualquer. É um atentado contra a vida do
próprio Adolf Hitler, planejado por apenas um homem. E um atentado que quase
obteve sucesso.
Vemos aqui a história
de Georg Elser (interpretado por Christian Friedel), um músico que tem uma vida
pacata e mulherenga. Mas tudo isso terminaria com a progressiva ascensão dos
nazistas ao poder, com uma escalada de ódio e violência. E aí, todo o mundo
prosaico, idílico e tranquilo de Georg cai por água abaixo. Ele tem amigos
comunistas que o incitam a ir para a luta armada, mas Georg acha que a
violência não resolve nada. Até que ele vê um de seus amigos ser preso e ir
para um campo de concentração. Ainda, ele fica extremamente preocupado com a
situação da Alemanha no contexto internacional, ao perceber a “blitzkrieg”
(guerra relâmpago) de Hitler e as declarações de guerra contra seu país, o que
destruiria a Alemanha. Assim, ele resolveu cortar ele mesmo o mal pela raiz e
tramou um plano para assassinar Hitler com um atentado, onde explosivos seriam
usados. Mas...
O filme é altamente
instigante e prende a atenção do espectador do primeiro ao último segundo. Uma
película alemã falando de um tema altamente espinhoso para os alemães, onde o
tendenciosismo pode ser algo problemático. Se o nazismo é apresentado de uma
forma branda, pode-se acusar os produtores de complacência. Se o nazismo, por
sua vez, é apresentado de forma extremamente violenta, pode-se acusar os
produtores de sentimento de culpa e de se carregar muito nas tintas por isso.
Mas podemos dizer que essa é uma história em duas camadas. A primeira se remete
ao atentado em si, à prisão de Georg e a longa sessão de interrogatórios e
torturas que ele sofre por parte dos nazistas, que não acreditam em sua versão
de que ele orquestrou todo o atentado sozinho. E a segunda camada é um “flash
back” onde Georg se lembra de sua vida pregressa, lá no ano de 1932, quando
tudo era calmo e tranquilo, até que os nazistas começaram a se fazer cada vez
mais presentes em sua pequena cidadezinha. Se num primeiro momento, a impressão
que se dá é a de que os interrogatórios e torturas são a coisa mais pesada da
película, essa ideia se desvanece por completo quando vemos a segunda camada do
filme, onde é muito mais assustador ver como o nazismo chega aos poucos, sem
despertar alertas mais profundos, e paulatinamente vai envenenando corações e
mentes de pessoas de bem, mostrando o verdadeiro perigo dessas ideologias
autoritárias. E o pior de tudo: como essa chegada progressiva destrói vidas
privadas, como pudemos ver no relacionamento de Georg e Elsa (interpretada por
Katharina Schüttler), uma mulher casada que não aguenta mais as inconveniências
e agressões do marido beberrão. A ligação do marido com os nazistas e a de
Georg com os comunistas somente torna esse conflito ainda mais explosivo e
perigoso.
Assim, “Treze Minutos”
é mais um daqueles filmes sobre temas já exaustivamente discutidos, refletidos
e apresentados no cinema, que são o nazismo e a Segunda Guerra Mundial, mas que
nunca esgotam o interesse. E, desta vez, tivemos vários motivos para ficarmos
interessados. Em primeiro lugar, um filme sobre o nazismo feito por alemães, um
tema sempre delicado para ser falado pelo próprio povo que o cometeu. Em
segundo lugar, é mais uma história real que chega às telonas, sobre uma pessoa
comum que pratica sozinha um atentado contra um ditador ainda ao início da
guerra, quando o führer ainda era visto como uma figura divina pela maioria da
população. E, em terceiro lugar, e talvez o mais importante, mostra como essas
ideologias autoritárias são perigosas e envenenam progressivamente as cabeças
das pessoas de bem. Um filme para se ver, ter e guardar.
Cartaz do Filme
Georg Elser, um músico que tem sua vida transformada pelo nazismo
Elsa, a amante
Amigos comunistas
Planejando um atentado
Dias duros na prisão
Violentas torturas
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
Resenha de Filme - Amnésia
Amnesia.
Alemanha De Anteontem, Ontem E Hoje.
Um baita filme em
nossas telonas. “Amnesia”, de Barbet Schroeder, pode ser classificada como uma daquelas películas que
nos acerta no estômago com muita força. Sim, esse é mais um filme daqueles que
aborda a temática da Segunda Guerra Mundial e do nazismo, mas agora sob o
prisma alemão. E, em síntese, podemos dizer que a história é um conflito vivo
de gerações que passaram pelo trauma de ver seu país gerando um regime
extremamente autoritário e assassino.
No que consiste a
trama? Vemos aqui a história de Martha (interpretada por Marthe Keller), uma
senhora de meia idade que vive numa casa isolada na ilha de Ibiza. Estamos no
ano de 1990, um pouco depois da queda do Muro de Berlim. Martha é uma mulher de
hábitos, digamos, pouco convencionais. Vive numa casa sem luz elétrica, e
recusa qualquer coisa que se remeta ao seu país de origem, a Alemanha, indo
desde falar o idioma pátrio até andar em fuscas ou beber vinhos alemães. Obviamente,
ela sente vergonha e revolta das atrocidades cometidas pelos nazistas, sendo
esse o motivo de sua aversão a tudo que seja de origem alemã. Mas, um belo dia,
bate à sua porta o seu novo vizinho, o jovem alemão Jo (interpretado por Max Riemelt),
um rapaz que tem como sonho ser DJ de Amnesia, a principal danceteria de Ibiza,
numa época em que esse emprego era uma verdadeira novidade. Logo, logo, os dois
desenvolverão uma amizade próxima e com muitas afinidades. Mas Jo ficará
altamente incomodado com essa repulsa de Martha a toda e qualquer referência
alemã, pois ele acredita que sua amiga não pode viver nutrindo esse ódio o
tempo todo e que a Alemanha mudou depois do nazismo. Jo, que é de uma geração
mais nova, e não vivenciou os horrores da guerra, prefere que seu país olhe
adiante e se reconstrua. Martha acredita que isso é varrer o passado para
debaixo do tapete. A coisa fica ainda mais interessante quando Jo recebe a
visita de sua mãe, Elfriede (interpretada por Corinna Kirchhoff), e de seu avô
Bruno (interpretado pelo polivalente Bruno Ganz). Aí, podemos ver três gerações
de alemães interagindo: a que vivenciou a guerra e seus horrores, a que
vivenciou a reconstrução do pós guerra e a geração mais atual, que não
vivenciou tais mazelas. E esse é o momento mais marcante e forte do filme, que
os “spoilers” não me permitem entrar em mais detalhes.
É muito interessante
notar como essas três gerações estão interligadas e uma afeta a outra,
mostrando que o fardo do nazismo é muito pesado para um país carregar. Isso
somente reforça a importância de regimes e governos mais democráticos em
detrimento dos regimes autoritários, que de tão nocivos, provocam traumas até
em tempos de paz e liberdade. Em relação à interpretação dos atores, elas foram
razoáveis, mas extremamente contidas, com muito pouca emoção. Os poucos minutos
da presença de Bruno Ganz salvaram um pouco a coisa, onde ele transbordou muita
simpatia, emoção e, principalmente, despertou comoção em suas memórias sobre o
passado. Mas a grande mensagem é a de que, apesar de todas as mazelas que o
nazismo provocou, a cultura alemã não é de se jogar fora e nos produziu muitas
pérolas, do status de um Goethe, Schiller, Beethoven ou Bach. E o diálogo entre
as três gerações de alemães ajuda a resgatar esse sentimento de valorização do
povo alemão.
Assim, “Amnesia” é um
daqueles filmes que não pode se perder, pois ele nos lança à reflexão da
interação de gerações que tiveram o fardo no nazismo sobre elas e de como os
indivíduos reagem e trocam experiências a respeito de tão complexa temática. Um
filme para ver, ter e guardar. Programa imperdível.
Cartaz do Filme
Martha e Jo. Uma amizade de gerações
Martha renega seu passado alemão
Bruno Ganz arrebentou!!!
Max Riemelt e Marthe Keller com o diretor Barbet Schroeder numa coletiva de imprensa
Inaugurando um Site
Olá a todos. Quero passar aqui rapidinho para dizer que estou inaugurando um novo site, o Batata Espacial. Será um outro espaço para tratar de temas culturais em geral, com uma ênfase maior em cultura nerd, mas também com espaço para literatura, crítica literária e cinematográfica, música, quadrinhos e notícias de cultura em geral. Já o Yoshiwara´s World vai continuar com a mesma pegada cinematográfica de sempre. Se você quer participar do Batata Espacial como colaborador, entre em contato com o e-mail lohseuruguai@gmail.com . Estarei esperando. Por hora, convido vocês a visitarem o site. Ele ainda está em construção, mas já funcionando. Acessem www.batataespacial.com.br . Aguardo vocês lá! Um abraço!!!
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
Resenha de Filme - A Banda Prometida (The Promised Band)
Festival
do Rio 2016. A Banda Prometida. O Que Importa Menos é a Música.
O Festival do Rio
exibiu mais um bom documentário, sacramentando de vez a sua tradição em nos
presentear com boas películas do gênero. “A Banda Prometida” é uma produção um
tanto inusitada. Um filme feito por mulheres, com um muro intransponível no
meio, que é novamente a questão árabe-israelense. É muito interessante perceber
como esse tema é uma fonte inesgotável não somente para documentários, mas
também para filmes de enredo.
Nesta película, temos
uma produtora americana de tv que decide realizar algo curioso: formar uma
banda musical com mulheres israelenses e palestinas, como uma espécie de
símbolo para a paz. Ela teve essa ideia depois de conhecer um alpinista
palestino que escalou o Everest com o objetivo de divulgar a paz. Só que juntar
essas mulheres não será uma coisa tão fácil, já que existem algumas áreas nos
territórios ocupados onde a presença israelense é proibida, assim como há a
proibição, por parte de Israel, da presença palestina em território israelense.
Tais questões espinhosas acabam colocando a carreira musical do grupo em
segundo plano. Aliás, do grupo de mulheres que queria formar a banda, somente
uma tinha alguma formação musical e percebemos que a banda é apenas um pretexto
para aproximar israelenses e palestinas, divulgando tudo isso num filme e
mostrar que a paz ainda é possível naquela região tão belicosa.
É realmente um
documentário muito bem realizado, mesmo que tenha havido tantas condições
adversas. As restrições que as vigilâncias de fronteira dos dois países
impuseram foram muitas e acabaram impedindo a participação de outras pessoas no
filme. O tal alpinista palestino, por exemplo, foi impedido de se encontrar com
a banda feminina (ele faria parte dela) por ter sido barrado na fronteira. O
medo era algo constante também, provocado por uma desconfiança inicial, além da
grande diversidade cultural como, por exemplo, o caso da moça árabe que vivia
em Israel, ou o caso do rabino ortodoxo americano que tinha excelente formação
musical, mas que não podia ouvir mulheres cantando, pois a sua visão da
religião não o permitia, o que acabou provocando um desfalque sério no grupo.
Contdo, tivemos exemplos muito positivos, como o caso da ex-militar israelense
que se comoveu com a questão palestina e a palestina que largou a Cisjordânia e
o marido para começar vida nova em Israel. Pode-se dizer que a interação entre
essas mulheres provocou mudanças profundas na vida de algumas delas, o que foi
algo muito legal de se ver, assim como foi também muito instigante perceber
como as mulheres superaram medos e preconceitos, tornando-se amigas muito
sinceras.
O documentário ainda
teve a grande virtude de explicar, através de mapas, gráficos e muitas imagens,
toda a complexa geopolítica local, mostrando, por exemplo, que a Cisjordânia
não é uma área de dominação exclusivamente palestina, mas que há uma parte sob
controle israelense, outra sobre controle israelense-palestino e uma última
parte (a menor, diga-se de passagem) sob controle exclusivamente palestino. Era
lá que vivia a palestina, numa área completamente proibida para os israelenses.
Assim, “A Banda
Prometida” é mais um daqueles documentários que fala da realidade do conflito
árabe-israelense e que tem o mérito de abordar o universo feminino nesse
contexto. Fica aqui novamente a torcida de que esse filme tenha lançamento
comercial por aqui. E não deixe de ver o trailer depois das fotos.
Cartaz do Filme
Uma produtora de tv (a loura)
Uma palestina.
Uma israelense
Nas manifestações pela causa palestina...
Dando um rolé por aí...
Amigas...
Gravando uma música...
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Resenha de Filme - De Palma
Festival
do Rio 2016. De Palma. A Trajetória de Um Incompreendido.
Pois é, o Festival do
Rio 2016 acabou, mas ainda há a rebarba da “Última Chance”. Esse ano, um dos
cinemas onde pudemos ter um gostinho extra do Festival após o seu término foi o
Roxy, de Copacabana. E lá tivemos a oportunidade de se assistir o excelente
documentário “De Palma”, sobre o conhecido diretor de cinema norte-americano. Esse
filme, dirigido por Noel Baumbach (de “Francis Ha”) e Jake Paltrow tem uma
estrutura muito simples. Vemos o próprio Brian De Palma narrando toda a sua trajetória
desde a infância, passando por sua família, pelas primeiras experiências cinematográficas,
chegando até ao estrelato de diretor consagrado, mas muito contestado e, por
que não, um pouco maldito. O documentário é uma joia para os amantes do cinema
em geral, pois Brian De Palma é de uma geração de cineastas que engloba
Coppola, Spielberg, Lucas, Scorsese e por aí vai. Ainda, o início da carreira
cinematográfica do diretor coincide com o início da carreira cinematográfica de
Robert de Niro. É exibido no filme trechos dos primeiros filmes em que eles
trabalham juntos, tornando-se uma grande curiosidade dessa película. Mas há muito
mais. Ele fala de detalhes da produção e curiosidades de filmes como “Carrie, a
Estranha”, “Scarface”, “Vestida para Matar”, “Dublê de Corpo”, “Os Intocáveis”,
“O Pagamento Final”, “Pecados de Guerra”, “Missão Impossível”, etc., sendo essa
a parte mais deliciosa do filme. É falado também da repulsa, por parte do
público e da crítica, a seus filmes, que tinham às vezes um conteúdo muito
violento e chocavam muito. Reclamava-se muito de cenas onde mulheres eram
vítimas de uma violência extrema ou então de conteúdos altamente eróticos,
coisas que sacudiam na cadeira os tradicionais WASPs americanos. Sua veia
iconoclasta e desafiadora não tinha limites e De Palma chegou a fazer teste com
uma atriz pornô para um filme que falava de uma prostituta, o que deixava
indignados os executivos dos grandes estúdios. Foi ainda lembrado no
documentário que Brian De Palma fez parte de uma geração de diretores que experimentou
um breve momento de autonomia e liberdade com relação aos grandes estúdios, o
que acabou levando à produção de grandes filmes. Só que logo os estúdios
retomaram o controle da situação e impuseram sua vontade novamente, para a decepção
do diretor, que muito reclama da interferência dos grandes estúdios em seus
filmes, em virtude de seu viés altamente polêmico.
Outro ponto
interessante dessa película é que De Palma, ao falar sobre seus filmes, falava
também das influências de outros diretores e outros gêneros cinematográficos,
como Hitchcock ou a Nouvelle Vague, sobretudo Godard. E aí a montagem do
documentário é primorosa, pois imagens de seus filmes são comparadas com
imagens de suas influências, como no caso de “Os Intocáveis”, onde a sequência do
tiroteio na escadaria da estação de trem é comparada com a sequência da
escadaria de Odessa de “Encouraçado Potemkim”, de Sergei Eisenstein, influência
direta e confessa do diretor em suas próprias palavras.
Assim, o documentário “De
Palma” só confirma o que já foi dito aqui: que o Festival do Rio deste ano
conseguiu manter a sua tradição de trazer ao público excelentes documentários
sobre os mais variados temas. E a coisa torna-se mais atraente ainda quando o
documentário fala justamente do grande amor de provavelmente boa parte do público
do Festival, que é o cinema. Um programa imperdível. Torçamos para que esse
documentário seja lançado comercialmente por aqui.
Cartaz do Filme
O homem explica tudo...
Belas fotos de arquivo, como essa com Spielberg...
Uma turma da pesada...
Dirigindo Al Pacino em "Scarface"
Violências extremas...
Dirigindo Robert De Niro em "Os Intocáveis".
Carrie, de dar medo!!!!
Um grande diretor...
domingo, 16 de outubro de 2016
Resenha de Filme - Inferno
Inferno.
Fazendo Uma Limpezinha.
Tom Hanks está de volta
mais uma vez. Como é bom ver um grande talento do cinema trabalhando bastante e
deixando sua carreira cada vez mais prolífica. Só que, desta vez, ele faz um
personagem que já interpretou outras duas vezes: o conhecido Dr. Robert
Langdon, personagem de Dan Brown, dos não menos conhecidos livros “O Código da
Vinci” e “Anjos e Demônios”. Essas duas histórias foram adaptadas para o cinema
e, obviamente, o terceiro livro da série, “Inferno”, também foi parar nas
telonas, requisitando mais uma vez os serviços de Hanks. E o homem veio bem
acompanhado no elenco: Felicity Jones, Omar Sy, Irrfan Khan e Sidse Babett
Knudsen. Isso sem falar da direção de, simplesmente, Ron Howard, que já nos
brindou com filmaços como “Uma Mente Brilhante”, “Rush”, “Apollo 13” e os próprios
“Código da Vinci” e “Anjos e Demônios”.
Neste filme, Robert
Langdon terá que desvendar uma conspiração orquestrada por um milionário
tresloucado, Bertrand Zobrist (interpretado por Ben Foster), que defendia a
ideia de que a humanidade estaria extinta em poucas décadas em virtude da superpopulação
mundial. Qual seria, então, a solução? Lançar um vírus letal que dizimasse boa
parte da humanidade, matando os pecadores, ao bom estilo do inferno de Dante Alighieri,
aquele de deu a noção de Inferno que
cultura ocidental tem hoje. Mas nosso milionário piradinho se suicida no
início do filme depois de sofrer uma perseguição. E Langdon está no hospital
com um traumatismo craniano e sem memória. Ele é atendido pela médica Sienna
Brooks (interpretada por Felicity Jones), que o salva de ser morto por uma
policial. Sem saber o que está acontecendo, Langdon foge com a médica e
precisa, ao mesmo tempo, saber o que aconteceu com ele e evitar que um vírus
acabe com a metade da humanidade. Ufa, que dia cheio!
O grande barato desses filmes inspirados nas
boas histórias de Dan Brown é que podemos presenciar, na medida certa, vários
elementos que prendem muito a nossa atenção. Em primeiríssimo lugar, temos aqui
um blockbuster de ação. Só que esse não é um filme de ação comum, pois Langdon
é perseguido por um monte de pessoas, mas ele simplesmente não se lembra de quem
são os mocinhos e os bandidos. E, com toda a sua destreza em decifrar enigmas,
ele vai descobrindo quem é quem ao longo da película, junto com o público. É bem
interessante notar como esses filmes em que o personagem protagonista não tem
conhecimento de uma situação pregressa e descobre isso aos poucos faz com que a
ligação entre o personagem e o público fique mais íntima. Compartilhamos com o
protagonista as descobertas, surpresas e decepções, o que torna o filme mais
delicioso, e abraçamos assim o personagem muito mais facilmente. A forma como são
montados os enigmas e a busca pelas soluções é algo muito instigante nesse
filme, ainda mais porque o pano de fundo é de uma nobreza extrema: a cultura europeia
renascentista. É muito estimulante você desvendar, junto com o protagonista,
enigmas que tenham como elementos Leonardo da Vinci ou Dante Alighieri. E algumas
informações de cultura geral vêm como brinde, como a origem do termo “quarentena”,
por exemplo. Isso sem falar nas lindas locações usadas no filme, como Veneza,
Istambul, Budapeste e Florença.
Assim, “Inferno” é mais
um filmaço em que Tom Hanks participa, baseado numa história de um grande
escritor, que é Dan Brown, e dirigido por um grande diretor, que é Ron Howard. Esse
é garantido e vale muito a pena que você saia de casa para pegar um cineminha à
tarde. Programa imperdível! E não deixe de ver o trailer após as fotos.
Cartaz do Filme
Robert Langdon está de volta!!!
Um suicídio...
Quem são os mocinhos ou os bandidos?
Dante Alighieri, um personagem ilustre.
A verdadeira máscara mortuária de Dante.
Ron Howard e Omar Sy
Ron Howard, Tom Hanks e Felicity Jones.
sábado, 15 de outubro de 2016
Resenha de Filme - Austerlitz
Festival
do Rio 2016. Austerlitz. Tour Macabro.
E o Festival do Rio
2016 botou o seu bloco na rua. Mesmo que eu não possa acompanhar mais o
Festival como fazia há alguns anos atrás, ainda assim dá para ver algumas
coisinhas e escrever umas linhas. Um dos filmes que me chamou a atenção, dentro
do cardápio de 250 películas foi “Austerlitz”, realizado por Sergei Loznitsa
nesse ano de 2016. Esse documentário de 94 minutos nos traz uma questão
altamente inquietante. Ele mostra a visita de turistas ao campo de concentração
de Austerlitz. O diretor fez uma opção um tanto inusitada, lançando mão de
longuíssimos planos onde víamos, em vários locais do campo, grupos
intermináveis de turistas, numa verdadeira enxurrada humana, com personagens e
tipos dos mais variados. Todo mundo caminhando numa expressão descontraída e
alegre, em contraste com os terríveis fantasmas do passado que pairavam no
malogrado local. E aí é que vem a grande questão do filme: o que é mais
apavorante? Escutar a narração dos guias turísticos de todos os horrores e
atrocidades cometidas no interior daquele nefasto campo, onde 41 mil pessoas
perderam a vida das mais variadas formas, ou a indiferença da massa de turistas
a todo aquele horror, fazendo o tour como se estivesse na Disneylândia, com
direito a “selfies” com fornos crematórios? Nesse ponto, o diretor não buscou
ler qualquer imagem, não procurou dar diretamente qualquer opinião sobre as
tomadas e sequências que captava. Ele simplesmente as colocou lá, e deixou que
o espectador tirasse suas próprias conclusões do que via. E, realmente, fica muito
difícil de dizer o que é mais aterrorizante dentre as duas opções apresentadas.
Entretanto, o filme cumpre novamente a função social de denúncia do cinema e
apresenta as cenas reais de um lugar onde ocorreu um verdadeiro genocídio,
cujas explanações dos guias turísticos são o único momento em que as imagens
são narradas. Por mais batido e exaustivo que seja o tema, a questão do
holocausto deve ser jamais esquecida e sempre relembrada, ainda mais em tempos
de ascensão de intolerância e de ódio que temos vivido em nosso país, onde
ideias puramente fascistas ganham cada vez mais força e se tornam uma
verdadeira ameaça à democracia, já tão combalida ultimamente.
O filme, por seu
aspecto excessivamente descritivo, não agradou muito ao público da sala e várias
pessoas saíram durante a exibição, fatigadas daquele fluxo enorme e
interminável de pessoas, sem uma narração sequer e com esporádicos momentos em
que os guias tinham voz na película. Mas ainda assim, “Austerlitz” é um filme
digno de nota, pois mostra a indiferença de quem não passou pelos horrores do
holocausto de uma forma bem contundente. Um filme realmente feito para
refletir.
Um campo de concentração e muitos visitantes...
Fluxos humanos em locais de genocídios
Locais onde se depositavam corpos...
Fornos crematórios. Vamos tirar uma selfie???
O diretor Sergei Loznitsa
quarta-feira, 12 de outubro de 2016
Resenha de Filme - Comboio de Sal e Açúcar
Festival
do Rio 2016. Comboio de Sal e Açúcar. Guerra e Condição Humana.
Dentro do Festival do
Rio 2016, um interessante filme é “Comboio de Sal e Açúcar”, dirigido por
Licínio Azevedo. Essa é uma película com um certo quê hollywoodiano, mas que
retrata um tema que é tipicamente de Terceiro Mundo: a guerra civil em
Moçambique. Um trem (o tal comboio) é guardado pelas forças militares do
governo socialista, transportando carga e passageiros que não pagam um tostão
sequer pela viagem, sendo esse o único jeito que eles têm de se locomover a
grandes distâncias. A guerra civil tornou raros os carregamentos de sal, mas
principalmente os carregamentos de açúcar, fazendo-o um produto muito raro e
caro. Os carregamentos de sal e açúcar que o comboio leva o convertem numa
verdadeira mina de ouro ambulante, cobiçada pelos guerrilheiros anticomunistas
liderados por Xipoco, que trata seus inimigos de forma sanguinária, com direito
a decapitações e tudo. Assim, o trem era, em vários momentos, alvejado pelos
guerrilheiros, com os militares acastelados nas composições revidando o fogo
inimigo e o povo que viajava ficando no meio do fogo cruzado. Como se nada mais
bastasse em termos de desgraça, os militares ainda tripudiavam dos civis do
trem, com direito a estupros e abusos de toda a parte.
Quando eu digo que o
filme tem um quê hollywoodiano, é porque a película foi muito bem feita. Temos
uma ótima fotografia, onde as montanhas altamente escarpadas de Moçambique
muito impressionam por sua altura, majestade e formas poligonais altamente
exóticas. O figurino bem acabado dos militares, dos maquinistas do trem e das
roupas multicoloridas das mulheres era outro fator que chamava muito a atenção.
Os atores também estiveram muito bem, com interpretações sóbrias, contidas e
convincentes.
Mas a grande virtude da
película é a de expressar os horrores da guerra. Fica lançada uma grande
questão: os civis indefesos têm mais medo de quem? Do inimigo que empreende
emboscadas violentas ao comboio a todo momento ou dos próprios militares que os
protegem, que se acham no direito de estuprar civis a seu bel prazer e no
momento que quiserem? Essa é uma situação que realmente podemos chamar de
sinuca de bico ou de ficar entre a cruz e a caldeirinha. A situação de guerra
desvirtua completamente o Estado imposto e o sistema de leis, onde as
liberdades e proteções ao indivíduo caem totalmente por terra. E, aí, somente
os mais fortes sobrevivem e muitas covardias acontecem. Esses foram elementos
que a película conseguiu captar com muita maestria e que mostram o quanto o
nível do ser humano pode abaixar. Tudo isso com uma interpretação sóbria e
contida dos atores, não deixando a coisa piegas ou apelativa.
Dessa forma, “Comboio
de Sal e Açúcar” se tornou uma grata surpresa vinda de Moçambique diretamente
para o Festival do Rio desse ano. Um filme muito bem acabado, com uma história
cativante, bons atores, boa fotografia, e uma mensagem que mexe com nosso íntimo
e nos faz pensar na responsabilidade que um ser humano tem para com o seu
próximo nas situações mais desfavoráveis. Realmente um excelente filme.
Cartaz do Filme
Um comandante muito casca grossa
Um militar com boa educação e formação
Muitos civis indefesos...
Um militar estuprador...
Disputando uma mulher
Uma decapitação...
...e combates sanguinários...
O diretor Licínio de Azevedo
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