Amnesia.
Alemanha De Anteontem, Ontem E Hoje.
Um baita filme em
nossas telonas. “Amnesia”, de Barbet Schroeder, pode ser classificada como uma daquelas películas que
nos acerta no estômago com muita força. Sim, esse é mais um filme daqueles que
aborda a temática da Segunda Guerra Mundial e do nazismo, mas agora sob o
prisma alemão. E, em síntese, podemos dizer que a história é um conflito vivo
de gerações que passaram pelo trauma de ver seu país gerando um regime
extremamente autoritário e assassino.
No que consiste a
trama? Vemos aqui a história de Martha (interpretada por Marthe Keller), uma
senhora de meia idade que vive numa casa isolada na ilha de Ibiza. Estamos no
ano de 1990, um pouco depois da queda do Muro de Berlim. Martha é uma mulher de
hábitos, digamos, pouco convencionais. Vive numa casa sem luz elétrica, e
recusa qualquer coisa que se remeta ao seu país de origem, a Alemanha, indo
desde falar o idioma pátrio até andar em fuscas ou beber vinhos alemães. Obviamente,
ela sente vergonha e revolta das atrocidades cometidas pelos nazistas, sendo
esse o motivo de sua aversão a tudo que seja de origem alemã. Mas, um belo dia,
bate à sua porta o seu novo vizinho, o jovem alemão Jo (interpretado por Max Riemelt),
um rapaz que tem como sonho ser DJ de Amnesia, a principal danceteria de Ibiza,
numa época em que esse emprego era uma verdadeira novidade. Logo, logo, os dois
desenvolverão uma amizade próxima e com muitas afinidades. Mas Jo ficará
altamente incomodado com essa repulsa de Martha a toda e qualquer referência
alemã, pois ele acredita que sua amiga não pode viver nutrindo esse ódio o
tempo todo e que a Alemanha mudou depois do nazismo. Jo, que é de uma geração
mais nova, e não vivenciou os horrores da guerra, prefere que seu país olhe
adiante e se reconstrua. Martha acredita que isso é varrer o passado para
debaixo do tapete. A coisa fica ainda mais interessante quando Jo recebe a
visita de sua mãe, Elfriede (interpretada por Corinna Kirchhoff), e de seu avô
Bruno (interpretado pelo polivalente Bruno Ganz). Aí, podemos ver três gerações
de alemães interagindo: a que vivenciou a guerra e seus horrores, a que
vivenciou a reconstrução do pós guerra e a geração mais atual, que não
vivenciou tais mazelas. E esse é o momento mais marcante e forte do filme, que
os “spoilers” não me permitem entrar em mais detalhes.
É muito interessante
notar como essas três gerações estão interligadas e uma afeta a outra,
mostrando que o fardo do nazismo é muito pesado para um país carregar. Isso
somente reforça a importância de regimes e governos mais democráticos em
detrimento dos regimes autoritários, que de tão nocivos, provocam traumas até
em tempos de paz e liberdade. Em relação à interpretação dos atores, elas foram
razoáveis, mas extremamente contidas, com muito pouca emoção. Os poucos minutos
da presença de Bruno Ganz salvaram um pouco a coisa, onde ele transbordou muita
simpatia, emoção e, principalmente, despertou comoção em suas memórias sobre o
passado. Mas a grande mensagem é a de que, apesar de todas as mazelas que o
nazismo provocou, a cultura alemã não é de se jogar fora e nos produziu muitas
pérolas, do status de um Goethe, Schiller, Beethoven ou Bach. E o diálogo entre
as três gerações de alemães ajuda a resgatar esse sentimento de valorização do
povo alemão.
Assim, “Amnesia” é um
daqueles filmes que não pode se perder, pois ele nos lança à reflexão da
interação de gerações que tiveram o fardo no nazismo sobre elas e de como os
indivíduos reagem e trocam experiências a respeito de tão complexa temática. Um
filme para ver, ter e guardar. Programa imperdível.
Cartaz do Filme
Martha e Jo. Uma amizade de gerações
Martha renega seu passado alemão
Bruno Ganz arrebentou!!!
Max Riemelt e Marthe Keller com o diretor Barbet Schroeder numa coletiva de imprensa
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