Relatos
Selvagens. Até Onde Vai O Seu Surto?
Uma excelente produção
Argentina-Espanha paira em nossas telas. “Relatos Selvagens” é, acima de tudo,
um exercício de reflexão. Ele pergunta ao espectador até onde a insanidade
humana pode ir quando se está num momento de fúria. O filme faz isso relatando seis
situações em contextos bem distintos, o que ajuda a aumentar a nossa reflexão.
Em algumas dessas situações há um humor negro para lá de ácido. Em outras
situações, a história é mais pesada mesmo. Vamos desde um psicopata que
sequestra um avião cheio de seus desafetos, passando por uma tentativa de
envenenamento na beira de uma estrada, um duelo épico (e hilário) entre um
“coxinha” rico (essa expressão está muito em moda ultimamente) e um pobretão
num cenário de road movie, um
profissional da demolição com explosões, que surta ao perceber que é surrupiado
pelo sistema quando tem o seu carro guinchado por estacionamento proibido, um
pai rico que tenta salvar a pele de seu filho que, bêbado, atropelou e matou
uma mulher grávida e, finalmente, uma festa de casamento em que a noiva
descobre que foi traída pelo noivo. Como podemos ver, são temas nada leves onde
personagens de cada história têm um dia de fúria. Pela riqueza das situações,
cabe ao espectador achar ou não se as explosões de raiva são justificadas. Vale
destacar aqui a presença de Ricardo Darín como o especialista em bombas e
demolições da quarta história, e da ótima interpretação da noiva da última
história, realizada pela atriz Erica Rivas.
O mais assustador no
filme é que nos identificamos com muitas das situações lá presentes. Já
tivemos, em alguma parte de nossas vidas, vontade de matar, de sair explodindo
tudo, de pegar alguém de porrada, etc., numa prova de que esses desejos
secretos (às vezes não tão secretos assim) que nos fazem sentir envergonhados
em momentos de racionalidade, são mais comuns que nos parecem, a ponto de
existirem filmes sobre eles (a referência direta é “Um Dia de Fúria”, com o
Michael Douglas) e até personagens de histórias em quadrinhos, como o nosso tão
conhecido Incrível Hulk. Quem não se identificou com ele um dia? Assim, nossas
explosões de fúria são vistas mais como um problema de cunho social, pois o
mundo contemporâneo nos coloca em pesadas situações de stress que simplesmente
nos fazem surtar. “Relatos Selvagens” e “Um Dia de Fúria” nos mostram isso
claramente. A constatação de que os estados mais obscuros da alma são
consequência de um problema social é algo que soa assustador e nos abre um
convite para uma nova reflexão: será que anos de evolução humana não foram
capazes de nos separar definitivamente de nossos estados mais animalescos e
agressivos? Pelo que vemos atualmente, não. E aí não prezamos nossos neurônios
privilegiados e nos rebaixamos aos animais irracionais.
Ufa! Tantas reflexões
num filme que aborda de uma forma ácida a agressividade humana! Definitivamente,
“Relatos Selvagens” cumpre com maestria a função principal do cinema de
qualidade, que é a de fazer o indivíduo pensar. Película com “P” maiúsculo e
programa obrigatório para qualquer apreciador da sétima arte. Não deixem de
ver.
Cartaz do Filme
Um voo que terminará mal...
Envenenar um canalha ou não?
Ódios destilados na estrada...
Um sistema surrupiador e estressante...
Um pai rico e pressionado por acordos para salvar a pele do filho...
Uma festa de casamento de final imprevisível...
Pedro Almodóvar é um dos produtores...
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