O
Último Concerto. Implosões De Quartetos E De Vidas.
Música erudita. O cinema
já abordou várias vezes esse tema. Quem não se lembra de “Amadeus” lá na já longínqua
década de 1980, que falava sobre a vida de Mozart e tanto sucesso fez, ganhando
vários Oscars? Desta vez, “O Último Concerto” vai enfocar as relações de um quarteto
de cordas de Nova York. E que relações! Por trás de uma música harmoniosa e de realização
difícil composta por Beethoven, a vida do quarteto se entrelaça de uma forma
extremamente caótica, tanto no contexto profissional quanto no contexto
pessoal. O mais velho deles, Peter (interpretado pelo sempre eficaz Christopher
Walken), não consegue mais acompanhar o andamento do grupo com o seu
violoncelo. Ao se consultar com a sua médica, o violoncelista descobre que está
com Mal de Parkinson e sua carreira está com os dias contados. A partir daí,
todo o quarteto implode. A responsável pela viola, Juliette (interpretada por
Catherine Keener) não quer continuar no quarteto se Peter sair, dadas as fortes
ligações afetivas alicerçadas no passado, que têm relação com outro quarteto
desfeito. O segundo violino, Robert (interpretado por Philip Seymour Hoffman) insiste
em ser o primeiro, mas o primeiro violino, Daniel (interpretado por Mark
Ivanir), não quer largar o osso e, ainda por cima, não abre mão de sua postura
conservadora quanto ao estilo da performance do quarteto, ao passo que Robert
deseja uma interpretação mais desafiadora e criativa. Para apimentar as coisas,
Robert e Juliette são casados e têm uma filha, Alexandra (interpretada por
Imogen Poots), que é aluna de Peter e Daniel. Assim, as vidas de todos no
quarteto estão muito interligadas e qualquer movimento nessas relações provoca
violentas crises que afetam a sobrevivência do grupo musical, considerado a
coisa mais importante para todas essas pessoas.
É um filme de
sentimentos fortes. Um drama de se tirar o chapéu e aplaudir de pé. E um
roteiro muito bem escrito, pois todos os relacionamentos humanos no microcosmos
do quarteto estão encadeados e amarrados. O mais interessante é que esse
encadeamento se revela aos poucos ao longo da trama, o que faz nossa atenção ficar
focada na história do início ao fim. Walken como o violoncelista, mais velho,
sereno e racional, com grandes dores sob controle (a perda da esposa e a sua doença),
está simplesmente soberbo. Ele é o “pai” que chama a atenção nos momentos de
crise e o ombro amigo nos momentos de desespero. Hoffman (ainda lamento demais
sua morte) também está estupendo como um violonista que tem mais ambições e
anseios por criatividade, algo que o primeiro violinista não quer. Mas o maior
tema desse filme é como as relações pessoais afetam a vida profissional. A trama
é a melhor manifestação da máxima de que não se deve misturar vida privada com
trabalho. Doía muito ver o sofrimento pessoal dos personagens alimentar um
sofrimento maior que era o medo do fim do quarteto. Manter o grupo coeso
obrigava as pessoas a manter os relacionamentos profissionais e,
inevitavelmente, os pessoais, criando “loops” de crises. Uma bola de neve que não
parava de aumentar. E a única solução para aplacar toda essa agonia estava nas próprias
pessoas, que deveriam assumir uma postura mais solidária e compreensiva com relação
a todos.
Dessa forma, “O Último
Concerto” é um filme altamente recomendável. Ótimo elenco, ótimo roteiro, ótima
música, uma história para lá de envolvente. E uma lição de vida. Lição de como
devemos ser tolerantes uns com os outros, de como devemos ser mais
compreensivos quando alguém que amamos pisa na bola, pois, ao fim das contas,
temos apenas a nós mesmos. Um filme que dá tudo isso ao espectador tem que ser
visto como muito bom. Só é de se lamentar que ele não tenha o espaço que
merece, seja nas salas, seja na divulgação. Não percam “O Último Concerto”.
Cartaz do filme.
Um quarteto de cordas em ebulição.
Rotina de muitos ensaios.
E momentos de tensão.
Crises conjugais.
Uma filha envolvida na trama.
Um "pai" que ampara.
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