Magia
Ao Luar. Você Prefere Racionalismo Triste Ou Ilusão Feliz?
Woody Allen está de
volta. “Magia Ao Luar” é uma comédia romântica despretensiosa, mas isso não significa
que ela não tenha nada a dizer. Até porque Woody Allen sempre tem algo a dizer.
O grande barato aqui é a forma como as coisas são ditas. Ilusionismo e
ocultismo são as escadas para se abordar questões mais profundas.
A história fala de um
grande ilusionista, Stanley (interpretado por Colin Firth), que incorpora um
personagem oriental nos seus números de magia, famosos em muitos países. Nosso protagonista
é extremamente racional, arrogante, prepotente e cheio de si, beirando o
insuportável. Um de seus poucos amigos, Gypsy (interpretado por Kenneth
Edelson) lhe informa que uma moça de nome Sophie (interpretada por Emma Stone)
afirma ser uma médium e ter visões. Stanley, que tem uma fixação por desvendar
charlatanismos, já que ele próprio é um artista das ilusões, quer conhecer essa
moça e vai ao encontro dela com seu amigo. Chegando lá, ele agride a menina
sistematicamente, mas, ao mesmo tempo, se interessa por ela, pois Sophie destrincha
toda a sua vida pregressa sem nunca tê-lo conhecido. O coração duro do mágico
amolece aos poucos e ele começa a colocar todo o seu racionalismo em dúvida,
sendo feliz com Sophie num mundo místico e, por que não, até certo ponto
lúdico.
Fujamos dos spoilers. O
que chama a atenção no filme? Em primeiro lugar, a ambientação de época. É impressionante
como um bom figurino, boas locações e uns poucos carros antigos originais podem
nos levar sem dificuldade para meados da década de 1920, acompanhados de uma
boa trilha sonora da época e música erudita de bom gosto, como Stravinsky. A história
simples e despretensiosa tem um bom acabamento e faz uma eficiente viagem no
tempo usando recursos também muito simples, mas aplicados de forma extremamente
competente.
Colin Firth estava
estupendo fazendo o papel de um mágico arrogante, mas cheio de fraquezas e inseguranças
internas que seu orgulho infinito teimava em esconder, entretanto de forma
ineficiente. Emma Stone mostra ser a queridinha da vez de Woody Allen, onde sua
competência exibida na nova sequência de “Homem Aranha” é inquestionável. Esse par
amoroso, como não pode deixar de ser nesse tipo de filme, conduz a história e
nos deixa com a alma leve, mas um tanto tensa com seus complicados “affairs”.
Entretanto, a grande mensagem
do filme está na dicotomia racionalismo X ocultismo, que se associa a outra
dicotomia, tristeza X alegria. O que é melhor? Viver num mundo real, sem ilusões,
mas cheio de desesperança, tristeza e amargura, ou se deixar iludir por
mentiras, mas ser feliz? Woody Allen se apega a essa segunda possibilidade. Muito
curioso isso, pois a época abordada (meados dos anos 1920) mostrava uma crise
dos paradigmas racionais. A sociedade capitalista racional tinha levado à
tragédia da Primeira Guerra Mundial e à crise do racionalismo. Movimentos artísticos
como o expressionismo alemão, o surrealismo e o dadaísmo colocavam em crítica a
sociedade racional vigente, embora houvesse uma volta da mesma na arte em
movimentos da segunda metade da década de 1920 como a Nova Objetividade na
Alemanha. Allen abraça a felicidade tirada da ilusão e do irracional. Ele flerta
coma vida guiada por impulsos emocionais, onde você toma decisões em busca da
felicidade para a sua vida, sem pensar muito nas consequências. Obviamente que
isso não ocorrerá sem dramas nem conflitos internos, como podemos presenciar no
personagem Stanley, mas a decisão final é pelo irracional. O amor é irracional.
Não há como ser simultaneamente feliz e racional nessa história. Só seremos
felizes se agirmos por impulsos.
Uau! E toda essa discussão
numa comédia romântica despretensiosa. Como já foi dito, só podia ser Woody
Allen mesmo, que sempre tem algo a dizer!
Cartaz do Filme
A adorável Emma Stone, agora com Woody Allen.
Colin Firth, em magistral interpretação.
Sessões mediúnicas.
Impossível resistir aos encantos da moça.
O mestre na direção.
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