terça-feira, 31 de maio de 2016

Resenha de Filme - Maravilhoso Boccaccio

Maravilhoso Boccaccio. Decameron Fofinho.
Uma produção italiana muito curiosa está em nossas telonas. “Maravilhoso Boccaccio”, dirigido pelos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, os mesmos de “César Deve Morrer”, é um daqueles filmes em que a imaginação alça voos muito altos. É um filme repleto de estética, beleza, conteúdo. É uma livre adaptação da obra renascentista “Decameron”, de Boccaccio.
O filme começa num clima altamente sombrio: a Florença de 1348, durante a mortandade sem fim da Peste Negra. Pilhas de corpos sendo conduzidas por carroças a valas coletivas. Pessoas se deixando enterrar vivas com os entes queridos mortos. Pessoas se afastando de parentes doentes para evitar a contaminação. Ou seja, um caos total num clima de muita desesperança. É nesse contexto que um grupo de jovens decide fugir da cidade e se reunir numa casa no campo para tentar sobreviver a toda aquela situação. Lá, eles se permitirão o amor, desde que sem sexo, para não suscitar invejas ou ciúmes. E passarão o tempo da única forma que poderão passar sem enlouquecer: eles contarão histórias uns aos outros, exercitando a imaginação. Assim, o filme é uma compilação de várias historietas de amor, traição, vingança, humor. Uma moça moribunda pela peste que é rechaçada pelo marido e salva por uma paixão não correspondida; um abobalhado que é enganado por uma vila; uma moça prometida a um nobre que tem uma relação de amor profundo com o pai, em leves insinuações de incesto; um convento de freiras bem safadinhas; a dolorosa história do nobre falido e seu falcão. Todas essas histórias têm um quê de admirável, de envolvente e que não nos deixa indiferentes. São histórias que despertaram suspiros da plateia do Estação Botafogo 2 e não tem como você ter uma história preferida, já que todas são igualmente interessantes e prendem nossa atenção todo o tempo.
Do ponto de vista estético, o filme dá um banho. A escolha do elenco primou pela beleza dos personagens. Várias carinhas bonitas e jovens tiveram seus atributos físicos amplificados pela deslumbrante fotografia do filme, que também valorizou as paisagens campestres. Essa materialidade visual somente deu um quê mais renascentista à película, onde a beleza humana e a paisagem ao estilo clássico eram fortemente realçadas.
Outro detalhe digno de nota: é um filme altamente fofo, cheio de delicadeza do início ao fim. Contribuiu para isso o clima altamente idílico proporcionado pela interpretação equilibrada e contida dos atores, os longos penteados das moças, o figurino bem cuidado, a paisagem campestre de uma beleza infinita. Ou seja, era uma coisa linda de se ver, não se limitando somente à estética, já que as pequenas histórias eram carregadas de conteúdo, assim como a história em si dos próprios protagonistas.

Dessa forma, “Maravilhoso Boccaccio” pode ser qualificado como uma verdadeira obra de arte, um primor de delicadeza. Essa livre interpretação de “Decameron” conta com uma estética admirável, assim como com um conteúdo rico na imaginação de suas histórias. É um filme que merece muito ser visto e guardado nas nossas memórias afetivas com muito carinho, em virtude das circunstâncias de suas histórias. Um filme de beleza de closes e de pupilas iluminadas ao Sol. Não deixem de assistir. E é o tipo de filme que devemos guardar em DVD. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme

 
Era uma época de muitas mortes...

Um grupo de jovens se isola e conta histórias...

A moça vítima da peste, desprezada pelo marido...

Um abobalhado enganado por uma vila...

Amor de pai e filha. Leve insinuação de incesto

Uma freira bem safadinha

A triste história do nobre empobrecido e de seu falcão

Estética que valoriza a beleza humana...

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Resenha de Filme - Os Outros

Os Outros. Sem Crise De Identidade.
Um curioso documentário brasileiro em nossas telonas. “Os Outros”, dirigido por Sandra Werneck, traz para nós o mundo dos cantores “covers”, ou seja, profissionais que têm como ofício e, principalmente, estilo de vida, caracterizar (e, por que não, incorporar) artistas que são seus ídolos. Para isso, foram escolhidos três profissionais: Carlos Evanney, que é o “cover” oficial de Roberto Carlos, Pepê Moraes, “cover” oficial de Cazuza, e Edson Júnior (ou Scarleth Sangalo), “cover” oficial de Ivete Sangalo.
Cada um desses protagonistas têm em comum a vontade de tornar a sua figura a mais próxima possível do artista que idolatram. Evanney tem uma preocupação toda especial com seu penteado para ficar bem próximo de seu grande ídolo, Roberto Carlos. Há toda uma atenção com a indumentária, destacando sempre a cor azul, como gosta o Rei. Mas Evanney não fica somente nisso. Ele também se porta e fala como se fosse o próprio Roberto Carlos, levando sua paixão pelo famoso cantor como um verdadeiro estilo de vida. Foram feitas imagens de seu passeio de barco, onde várias senhoras participam e dizem que curtem muito o passeio, pois não têm a oportunidade de estar perto do real Roberto Carlos, mas podem ficar muito próximas de Evanney. Um momento emocionante foi a presença de Evanney e alguns fãs na Urca, em frente à casa de Roberto Carlos, que acenou para a pequena multidão, o que levou Evanney às lágrimas. Sua dedicação e carinho com os aficionados por Roberto Carlos é tão grande que, mesmo se recuperando de um enfarte, ele recebeu com rosas as pessoas que faziam seu passeio de barco, tendo antes todo o cuidado de cortar todos os espinhos das rosas para não machucar a mão de ninguém.
Pepê Moraes, com seu puminha amarelo, faz as vezes de Cazuza, sendo um amante profundo do Rock’n Roll e um cara de espírito livre, super zen. Filho de militar, perdeu o pai aos doze anos e ainda tentou seguir a carreira militar, mas não era a dele. Casado com uma moça mais nova e com uma criança pequena, nem tudo são flores na vida de Pepê, que falou com uma certa melancolia de fases de aperto financeiro. Mas nunca deixou a peteca cair, sendo uma grande figura. Esse foi o único “cover” do filme que apareceu perto de seu ídolo, em virtude de Cazuza já ser falecido.
Já Scarleth Sangalo é um transformista que usa todos os recursos que tem e não tem para ficar o mais semelhante possível à sua diva. E o grande barato aqui é que Ivete Sangalo o recebe no seu trio elétrico e lhe dá a maior força, sendo esse um grande momento para o fã, que obviamente tem que enfrentar todo um preconceito, como sua própria mãe falou com um certo desgosto, mas o faz com muita coragem e não esmorece ao ter a visão de seu ídolo como modo de vida.

São três personagens que a gente simpatiza logo de cara, pois eles nos mostram uma paixão muito sincera pelos artistas que adoram. As lágrimas perante o cantor amado, as palavras sinceras do ídolo para com o seu fã, e a sensação de que o espírito de seu cantor favorito está no palco com você são momentos mágicos que só um fã devotado consegue compreender. E essa paixão é o que move a vida, a profissão e o estilo dessas figuras reais admiráveis. Tudo isso torna esse pequeno documentário de cerca de 70 minutos uma pequena joia de nosso cinema que deve ser prestigiada por todos nós. Não deixe de ver! E não deixe de ver o trailer após as fotos.


Cartaz do Filme

 
Vamos entrar no mundo dos "covers"?

Carlos Evanney. Muita preocupação com o penteado para ficar igualzinho ao Rei

Scarleth Sangalo. Intimidade com seu ídolo.

Pepê Moraes. Muito Rock'n Roll na veia.

O documentário contou com uma participação super especial de Erasmo Carlos (esse não é "cover").

A diretora Sandra Werneck e essa galera admirável!


domingo, 29 de maio de 2016

Resenha de Filme - Jogo do Dinheiro

Jogo do Dinheiro. Desafiando O Sistema.
A atriz Jodie Foster, marcada por bons filmes como “Silêncio dos Inocentes” ou “Contato”, estreia na direção. E podemos dizer que foi ela debutou maravilhosamente. “Jogo do Dinheiro” (“Money Monster”) é um daqueles filmes que gosta de desafiar o sistema. Um filme que critica a sociedade capitalista realizado no seio dos Estados Unidos. Um filme que nos faz pensar, sendo sempre esse tipo de película a melhor.
Vemos aqui a história de Lee Gates (interpretado por George Clooney), um apresentador de tv que tem um programa que dá dicas aos americanos médios de como investir no mercado financeiro. Extrovertido e convencido, Gates faz um programa altamente pirotécnico, com direito a dançarinas e piadas de gosto duvidoso, o que o faz ser malvisto pela diretora do programa, Patty Fenn (interpretada por Julia Roberts). Um belo dia, durante o programa que era apresentado ao vivo, um cara com duas caixas entrou no palco. Tratava-se de Kyle Budwell (interpretado por Jack O’Connell), que havia perdido todo o seu dinheiro depois de investir numa dica dada por Gates em seu show televisivo. Kyle tinha um colete-bomba numa das caixas e rende Gates ao vivo, proibindo a equipe de tv de cortar o sinal e colocando o colete em Gates. Começa aí um sequestro ao vivo em que Gates vai ter que usar de toda a sua persuasão para convencer Kyle a não largar o botão do mecanismo que pode detonar a bomba e levar tudo pelos ares.
O que tem de legal nessa película? A situação de Kyle, que perdeu todas as suas economias (“apenas” 60 mil dólares) era só a ponta do iceberg, já que as perdas de todos os pequenos investidores somadas foi de 800 milhões de dólares. O problema é que essa perda não pareceu um descompasso momentâneo do mercado financeiro ou um lance de azar, mas sim uma fraude que foi provocada pelo dono da empresa cujas pessoas compraram as ações. Impossível não se lembrar do filme que concorreu ao Oscar esse ano, “A Grande Aposta”, onde especuladores irresponsáveis acabaram provocando uma crise econômica mundial sem precedentes. Esse filme segue uma linha um pouco parecida, mas agora com o detalhe de que há um sequestrador que foi vítima do sistema e do qual passamos a ter grande empatia, assim como os personagens de Clooney e Roberts tiveram para com ele. E, se Kyle era o personagem para o qual torcíamos, o vilão será o dono da empresa que deu o desfalque, que materializou todos aqueles especuladores de “A Grande Aposta”. Naquele filme, inspirado numa história real, a coisa foi menos pirotécnica. Já aqui em “Jogo do Dinheiro”, os tiros dados por Kyle ou o “passeio” dado pelos protagonistas na rua, cercados por muitos policiais, deu mais graça à coisa.
Quanto aos artistas, eles estiveram muito bem. Clooney fez com eficiência para seu personagem Gates um misto de cafajeste e amargurado. Roberts deu firmeza à sua personagem Fenn, submetida a uma tensão constante, tendo que ter a cabeça fria para orientar Gates pelo ponto eletrônico. Já o jovem O’Connell teve uma atuação segura no desespero e insegurança de Kyle, não ficando muito longe dos talentos de Roberts e Clooney. Pode-se dizer aqui que esse trio funcionou muito bem, o que era vital para esse filme, cujo enredo girava em torno do relacionamento entre esses três personagens.
O único problema da película foi o desfecho, que talvez tenha sido óbvio demais. Entretanto, isso não diminui em nada a qualidade do filme e do trabalho inaugural de Jodie Foster na direção, pois os atores estavam impecáveis com atuações convincentes.

Dessa forma, “Jogo do Dinheiro” é mais uma boa película que está por aí porque ela conta com um bom elenco, lança mão de um tema desafiador que ataca o sistema capitalista e tem o detalhe todo especial da estreia de Jodie Foster na direção. Vale a pena dar uma conferida. E não deixe de assistir ao trailer depois das fotos.

Cartaz do Filme

Um apresentador e uma diretora em conflito

Um sequestro ao vivo...

Procurando resolver uma situação escabrosa...

Um "passeio" inusitado pela rua

Jodie Foster na direção

A diretora Jodie Foster entre George Clooney e Julia Roberts.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Resenha de Filme - X Men, Apocalipse

X Men Apocalipse. Lágrimas Intrusas Numa Ação Moderada.
Mais um filme do Universo Marvel, agora sob a batuta da Fox, estreou em nossas telonas. “X Men, Apocalipse”, elevou o nível das aventuras dos mutantes para o patamar do ótimo “X Men, Primeira Classe”, depois de um “X Men, Dias De Um Futuro Esquecido” um tanto combalido, onde Patrick Stewart, que havia interpretado um Charles Xavier que foi feito picadinho por Jean Grey, retorna sem maiores explicações. Desta vez, não tivemos fatos mal explicados como esse e o fio narrativo mostrou boa coerência. Ainda, foi uma história que prendeu a atenção do início ao fim, muito bem escrita, com pouquíssimos problemas. Só devo avisar que, para podermos analisar o enredo da película, serão necessários alguns “spoilers”.
No que consiste a trama? Em 3100 a.C., no antigo Egito, Em Sabah Nur, uma espécie de líder, provavelmente um faraó, fez uma cerimônia para passar sua alma para um corpo mais jovem, que era de um mutante (interpretado por Oscar Isaac, o Poe Dameron de “Guerra nas Estrelas”). Mas um grupo de opositores resistiu a isso e soterrou o líder no novo corpo, ficando nessa situação por milhares de anos. Chegando à nossa era, o líder é ressuscitado por um grupo de religiosos e ele pretende fazer uma espécie de “upgrade” no mundo, pois constatou que os fracos assumiram o poder e o corromperam. Para isso, Apocalipse (ele tem esse nome, pois sempre recrutava quatro mutantes como seguidores) irá contar com a ajuda de Anjo, Tempestade, Magneto e Psylocke, seus novos quatro cavaleiros. Caberá aos comandados de Charles Xavier lutar contra esse mutante altamente maligno e perigoso para salvar o mundo da destruição certa.
Esse filme tem detalhes muito interessantes. Em primeiro lugar, é um filme de super-heróis com uma quantidade menor de cenas de ação, abaixo da média para o que vemos em um “Os Vingadores” da vida, por exemplo. Isso é ruim? Não! Pelo contrário! Mesmo que isso tenha acontecido, a trama é altamente envolvente e não nos deixa desgrudar o olho um segundo da telona. O grande barato aqui é a história em si e não as cenas de ação ou CGI, que ficaram a cargo do lendário John Dykstra, o mesmo que lá em 1977 ficou responsável pelos efeitos especiais de “Guerra nas Estrelas”. O início da película ficou marcado por pequenas histórias separadas de mutantes (o núcleo da escola de Xavier, o núcleo de Ciclope e Jean Grey, o núcleo da Mística com o Noturno, o núcleo do surgimento de Apocalipse e o núcleo de Magneto vivendo uma vida pacata na Polônia com mulher e filha). Todas estas histórias inicialmente independentes tinham o seu charme especial e depois foram muito bem amarradas. Dada a boa estrutura do roteiro nessas primeiras partes do filme, nem sentimos falta das cenas de ação que foram muito poucas aqui.
Em segundo lugar, o vilão foi bem concebido. Apocalipse contou com uma ótima interpretação de Oscar Isaac, que percebeu a natureza complexa do personagem e lhe deu um comportamento de consciência de sua onipotência, mas também de muito paternalismo. A forma como Apocalipse arregimentava seus cavaleiros era altamente sedutora. Ele dirigia-se a seus alvos como “filhos” que deviam se libertar da escravidão de suas fraquezas e, ao mesmo tempo, ajudava-os a amplificar seus poderes, dando ao comandado um gostinho de onipotência. Até Charles Xavier sentiu esse gostinho de poder, embora logo depois ele tenha lutado severamente contra isso. Tais características faziam com que Apocalipse despertasse sentimentos de amor, ódio e idolatria nos demais personagens, o que deve tornar a interpretação desse personagem algo difícil e não trivial, e Isaac parece ter tirado de letra toda a adversidade que um papel desse nível pode impor. Pontaço para ele que deve estar querendo fugir do estigma do “ator de um personagem só”, agora que ele se meteu a fazer “Guerra nas Estrelas”, uma franquia craque em marcar atores no que se refere a essa questão de um único papel. Harrison Ford escapou desse fardo. Esperemos que Isaac também obtenha sucesso.
Mas o grande detalhe do filme foi algo muito singelo: a lágrima. Poucas vezes no cinema, a lágrima foi um detalhe tão notado e importante como nesse filme. E estamos falando de uma história da Marvel de super-heróis, onde as cenas de ação e os CGIs   deviam ser as grandes atrações. Mas por qual caminho a lágrima mais se manifestou? Principalmente através do personagem Magneto, interpretado pelo atorzaço que é Michael Fassbender. Na minha modesta opinião, esse é o personagem mais interessante do Universo de X Men. Vítima da perseguição dos nazistas (perdeu seus pais em Auschwitz, para perceber a barra pesada da situação), nosso amigo Erick ainda passou pelas agruras da perseguição dos humanos aos mutantes, levando-o a um estado de ódio contra a humanidade. Mas seu amigo Xavier sempre tenta dissuadi-lo desse ódio, deixando Magneto num baita conflito existencial. Essa sua natureza dúbia torna-o muito interessante, um verdadeiro Anakin Skywalker magnético! E esse filme deu uma atenção especial para esse personagem. Erick seguiu as recomendações de Xavier e tentou se enturmar com os demais humanos, trabalhando numa siderúrgica na Polônia. Mas, ao salvar um amigo na fábrica usando seus poderes mutantes, levantou desconfianças de que era o mutante que, em 1973, provocou a morte de um monte de pessoas, o que levou seus amigos a persegui-lo, e isso teve como consequência a morte de sua esposa e sua filha. A dor que Fassbender imprimiu a seu personagem foi muito sincera e lá as lágrimas tiveram papel fundamental. O grito que ele dava aos céus explicitando toda sua indignação contra Deus por tudo de ruim que acontecia em sua vida foi algo igualmente doloroso, assim como a singela lágrima que descia do rosto de Xavier quando ele se comunicava com Erick e lamentava a morte da esposa e filha do amigo. Esses foram momentos simples, mas que fizeram toda a diferença nesse filme, colocando-o num patamar muito elevado. Nesse momento, o blockbuster convencional ultrapassou os limites do comercial e avançou pelo campo emocional do cinema de arte. Confesso que lágrimas também rolaram de meus olhos e a dupla morte da esposa e filha de Erick despertaram expressões de surpresa, perplexidade e o silêncio de uma dor que o público compartilhou com o personagem. E não podemos nos esquecer de que estamos falando de um filme de super-heróis. Esse é um momento mágico que só o cinema pode proporcionar.
Agora, o filme teve um pequeno problema no roteiro, quando Apocalipse conseguiu o domínio de todas as ogivas nucleares da Terra e simplesmente as descartou. Não teria sido melhor usá-las ali mesmo para provocar a tal aniquilação que ele tanto queria com o objetivo de se estabelecer seu novo começo? Sei não, essa parte ficou um tanto incoerente e poderia ter sido mais bem aproveitada, tornando o filme ainda mais interessante do que já foi. Mas devo ressaltar que esse pequeno problema não tira a grandeza do que foi esta película e ainda assim ela vale muito a pena.
Assim, “X Men, Apocalipse” é um programa obrigatório para todo amante da Marvel e seus quadrinhos. Mas também é obrigatório para todo amante do cinema, pois, apesar de ser um bom blockbuster, o filme tem outros elementos interessantes, como a boa construção do vilão e o uso de algo tão simples como a lágrima para dar grande carga emocional às sequências, criando um clima intimista entre público e personagem que só nos faz mergulhar mais ainda na história. Não deixem de ver! E também não deixem de ver o trailer após as fotos.


Cartaz do Filme


Um vilão bem construído


Mística em conflito...


Erick, mais uma vez a tragédia abalou sua vida...


Xavier, seduzido por seu poder amplificado...


Mutantes jovens


Um resgate hipersônico...

terça-feira, 17 de maio de 2016

Resenha de Filme - A Assassina.

A Assassina. Mas Ela Não Queria Matar Ninguém!!!
O candidato de Taiwan ao Oscar deste ano (ele não ficou entre os cinco finalistas) e o vencedor do prêmio de melhor diretor em Cannes (Hsiao-Hsien Hou) aportou em nossos cinemas. “A Assassina” parecia que tinha tudo para ser um filme de ação muito zen, bem ao estilo dos filmes orientais. Mas, infelizmente, foi um filme muito mais zen do que qualquer outra coisa. E aí, a coisa ficou meio maçante. De qualquer forma, a fotografia foi insuperável e o roteiro se pautou num interessante “background” histórico.
Vemos aqui a história de Yinniang (interpretada por Shu Qi), uma assassina profissional que vive na China do século VIII e é treinada por uma monja que a manda matar figuras políticas que deem problemas ao Império e a dinastia Tiang. Uma de suas vítimas era um homem que, na hora de ser morto por ela, carregava no colo uma criança, o que fez com que a matadora desistisse de liquidá-lo. Para forçar a assassina a se confrontar com sua fraqueza, sua mestra monja lhe ofereceu a mais difícil das missões: matar o seu primo Tian Ji'an, o líder local da cidade de Weibo, que se opunha ao Império e a quem a moça estava prometida em casamento no passado. Fica então o dilema: Yinniang cometerá o assassinato? Ou ela novamente não terá coragem de matar um homem com o qual tem ligações afetivas profundas?
Esse é o tipo de filme que merece muita atenção do espectador, pois fala-se em vários personagens, cujos nomes têm uma sonoridade muito semelhante e que confundem a nossa cabeça completamente. Ainda, a gente se confunde muito com todos os grupos políticos envolvidos no filme, pois o exuberante e maravilhoso figurino mais torna homogênea a nossa visão dos grupos do que os diferencia. Realmente, a gente se confunde muito. Sabemos que há o Império que busca colocar cidades dissidentes ao seu controle. Sabemos que Yinniang era originalmente de uma dessas cidades e é sequestrada pelo príncipe do Império, sendo levada para lá. Sabemos das cidades dissidentes e que o primo de Yinniang é o líder de uma delas. O problema é que há alguns subgrupos que muito se confundem nas cenas de luta. E a gente não sabe muito quem ataca quem. Pior ainda, há poucas cenas de ação numa película que, aparentemente, se propunha ser de ação, o que deixa a coisa muito arrastada e chata. Para contrabalançar isso, a fotografia é lindíssima, com belíssimas paisagens, fora o já mencionado figurino.

De qualquer forma, “A Assassina” merece uma conferida, se você tem paciência para uma película de cadência lenta, pois há muitas pequenas histórias que são contadas para dar recheio à trama principal. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme.

Yinniiang teve que passar por várias provas

A principal delas era matar seu primo Tian Ji'an.

domingo, 15 de maio de 2016

Resenha de Filme - A Linguagem do Coração

A Linguagem Do Coração. O Tato Como Comunicação.
Um filme muito terno apareceu em nossas telonas. “A Linguagem do Coração”, escrito e dirigido por Jean-Pierre Améris, com a presença de Philippe Blasband no roteiro, nos fala de comunicação, mas de uma comunicação diferente: a que usa o tato, sendo, por isso mesmo, muito mais carinhosa, muito mais afetuosa. É um exemplo de como a persistência e o amor ao próximo pode levantar barreiras intransponíveis e salvar vidas de trevas totais.
Essa é a história de Marie Heurtin (interpretada por Ariana Rivoire), uma menina que nasceu cega, surda e muda, na França do século XIX, praticamente sem contato com o mundo, a não ser pelo tato, onde reconhecia apenas o pai e a mãe. Estando nessa situação, era praticamente impossível que ela aprendesse alguma coisa e não conseguia compreender as coisas mais elementares como pegar um garfo para comer, calçar um sapato ou pentear um cabelo. Ela nada sabia da existência dessas coisas mais simples, a não ser pelo fato de que sentia algo quando as tocava. E, quando era obrigada a fazer alguma coisa, parecia que estava sendo violada. É só você imaginar que vive no escuro e no silêncio, sem qualquer comunicação com o mundo exterior. De repente, você é agarrado por algo desconhecido, sem saber o motivo daquilo. É ou não é aterrorizante? Você não se debateria e tentaria fugir se estivesse numa situação dessas?
Pois é. Nossa Marie vivia com os pais, mas mal deixava que eles dessem a ela uma vida normal por causa da situação de comunicação precária com o mundo exterior em que se encontrava. Assim, o pai de Marie a levou para um convento onde eram acolhidos surdos-mudos para ver se haveria uma chance de sua filha ser tratada lá. Mas a Madre Superiora disse que não havia condições para isso, praticamente deixando claro que não tinha qualquer forma de tratamento para a menina. Existia até uma crença de que, por causa de sua situação e pouca noção do mundo que a cercava, a menina não teria bem desenvolvido sua inteligência, sendo uma espécie de caso perdido. Mas uma das irmãs do convento, Marguerite (interpretada por Isabelle Carré, do ótimo filme “Românticos Anônimos”), se comove com a situação de Marie e procura ajudá-la. Só que Marguerite está praticamente desenganada com uma tuberculose e terá que correr contra o tempo para dar uma vida digna a Marie.
Esse filme, inspirado numa história real, mostra como a força de vontade ajuda a remover montanhas. Marguerite teve que criar toda uma linguagem própria baseada no tato e em parte na linguagem de sinais para se comunicar com Marie. Mas, para que isso pudesse acontecer, o processo foi muito demorado, pois era fundamental que houvesse confiança e afeto entre Marie e Marguerite. E esse foi o processo mais difícil, pois Marguerite era uma estranha que levou Marie para um lugar estranho, ou seja, o convento. A confiança entre as duas não se daria por movimentos bruscos ou agressivos, mas, pelo contrário, por movimentos muito leves e carinhosos. Aliás, o contato corporal afetuoso era a tônica dessa linguagem, o que é algo muito marcante numa sociedade que repudia veementemente o contato corporal como a sociedade europeia. Mesmo com toda a dificuldade de comunicação, ela se fez de forma bem mais rápida quando o primeiro signo foi transmitido: o movimento de cortar com uma faca. Após Marie entender esse primeiro código, foi como se ela se desabrochasse para o mundo exterior, um mundo que até então ela só conhecia por sensações do tipo o clarão do Sol ou o frio de uma superfície de vidro de uma janela.

Dessa forma, “A Linguagem do Coração” é mais um filmaço que passou por nossas telonas e é uma mostra de que nenhum caso é perdido se tivermos perseverança. Um filme fundamental. Um filme de afeto e de comunicação. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme.

Marie e Marguerite. Uma linda amizade.

Sua única sensação era o tato

No início, a comunicação foi muito difícil

Lutas corporais no almoço...

Mas quando o primeiro signo foi transmitido...

... tudo ficou mais fácil.

A verdadeira Marie Heurtin (de vestido escuro).




sábado, 14 de maio de 2016

Resenha de Filme - Queen, A Night At The Odeon. Hammersmith 1975.

Queen, A Night At The Odeon. Hammersmith 1975.

A rede Cinemark nos presenteou com um grande concerto musical exibido nas telonas. “Queen, A Night At The Odeon. Hammersmith 1975” é uma pequena joia perdida lá no passado que tinha que ser resgatada para todos aqueles que amam o rock e, sobretudo, o conjunto Queen. Esse foi um show feito pelo grupo no teatro Odeon para a BBC na noite de Natal de 1975, um ano muito especial para o grupo, que tinha gravado o memorável álbum “A Night At The Opera”, que deu um revolucionada no Rock e foi uma espécie de “virada” para o grupo, que inclusive garantiu sua própria continuidade e sobrevivência. Foi o primeiro show ao vivo para a TV feito pelo grupo e contou com músicas de seus primeiros álbuns, uma verdadeira raridade, com direito a um “medley” que começou e terminou com uma tal de “Bohemian Rhapsody”. É somente um showzinho de cerca de uma hora, mas já podíamos ver vários elementos do Queen nascendo ali, como os lindos solos de piano de Freddie Mercury ou o excepcional solo de guitarra de Brian May da música “Brighton Rock”. Mas pudemos presenciar outras músicas do grupo, como “Keep Yourself Alive”, “39”, “In the Lap of the Gods”, “Seven Seas of Rhye”, “Killer Queen” e muito mais. O show é precedido de um documentário de cerca de trinta minutos e realizado em 2015, onde todos os integrantes da banda falam de seus primeiros anos de carreira, todas as dificuldades envolvidas, o cano dos empresários, etc. Essa grande pérola só foi exibida duas vezes, com a sala do Cinemark do Botafogo Praia Shopping bem cheia, com uma plateia que contava com velhos roqueiros, mas também com adolescentes. Perdeu e está triste com isso? Sem problema! Você pode ver o show na íntegra na postagem abaixo. Não deixe de curtir essa oportunidade!!!

Capa do DVD do show

Freddie Mercury e seu piano

Brian May e seus solos de guitarra

John Deacon, O Baixista!!!

Roger Taylor nos dias atuais. O maior baterista da História!!!

Um jovem grupo em ascensão...




segunda-feira, 2 de maio de 2016

Resenha de Filme - Guerra nas Estrelas, Episódio VII (Parte 7)

Quais seriam as perspectivas para o Episódio VIII, segundo o que falamos até aqui? Em primeiro lugar, não repetir os erros do Episódio VII, dentre eles, exagerar nas alusões a filmes clássicos da saga. Também espero que alguns personagens novos sejam mais bem trabalhados, purgando ou minimizando os seus defeitos, como Kylo Ren, seus pitis e conflitos entre o lado claro e sombrio da força, Rey e seu ódio, e Finn e sua carga cômica excessiva. Poe Dameron precisa ter mais destaque, apareceu muito pouco nesse filme. Estou ansioso para ver o treinamento que Luke dará a Rey e de como será a batalha da moça para purgar sua raiva. Isso é o que eu mais espero da próxima película.
A suposta relação homoafetiva entre Dameron e Finn que tem corrido nas redes sociais me parece uma forçada de barra. Se Oscar Isaac fez aquela carinha “provocante” para Finn, me pareceu uma reação mais involuntária. Eu acho que a sociedade americana ainda não está preparada para tamanha aceitação de diferenças em algo tão icônico quanto “Guerra nas Estrelas”. Mas como é o Abrams...
E num duelo futuro entre Rey e Ren? Quem levará a pior? Lembremos que Ren tomou uma escovada feia de Rey nesse filme. Será a vez de Ren dar a escovada no próximo? Rey vai perder uma mão como na piada que rolou nas redes sociais? Só vai faltar o Abrams fazer do Episódio VIII seu Episódio V como já fez o Episódio VII ser o seu Episódio IV. Espero, sinceramente, que isso não aconteça.
Outra coisa para que torço muito é a volta de Lando Calrissian. Esse silêncio sobre ele, tanto por parte do filme quanto por parte das redes sociais muito me inquietou. O homem é figurinha carimbada no Universo Expandido. Por que não aqui? Ele não quis? Birra da Disney? Simplesmente relegado ao esquecimento? Vai aparecer somente nos próximos filmes? #queremoslando!!!!
Saber direitinho quem é esse tal de Snoke é outra boa perspectiva para o Episódio VIII ou até o Episódio IX. Acho que uma ressurreição de Palpatine cairia como uma luva.
Uma coisinha mais secundária, mas que ficaria muito legal seria ver um relacionamento entre R2D2 e BB8. Seria um barato vê-los trabalhando em equipe para salvar o dia dos humanos trapalhões que se enrolam e se veem num beco sem saída. Vida longa e próspera aos astromecs!!!
E, finalmente, que Abrams deixe de ser um iconoclasta de franquias e pare de destruir planetas ou matar personagens consagrados. Leia, Luke e Solo são atemporais, estão num panteão de ídolos e não podem simplesmente morrer por aí. E o Abrams ainda tem a cara de pau de dizer que é fã de “Guerra nas Estrelas”! Imagina se não fosse... já teria exterminado todo o elenco da trilogia clássica. Repito: não que o diretor tenha feito um mau trabalho, o filme foi muito bom. Só que esses pequenos probleminhas incomodam. Pelo menos parece que no próximo ele não dirigirá e assumirá a produção. Mas, ainda assim, ficam muitas expectativas.

Pois é. Episódio VII passado a limpo. Alguns probleminhas? Sim, ninguém é perfeito, afinal de contas. Mas, ainda assim, foi um grande filme que creio, correspondeu às expectativas de muita gente. O resultado disso está nas bilheterias que bombaram no fim do ano passado e início dese ano. Minha grande felicidade é que, com todas as leituras do Universo Expandido que eu fiz ano passado (e algumas não são tão novas assim) e esse filme, dá para sentir que a saga de “Guerra nas Estrelas” está em desenvolvimento e amadurecimento, o que é algo muito bom. De uma fantasia espacial mais infantil, temos hoje uma história mais encorpada, com múltiplas possibilidades que, se bem usadas, só vão aprimorar mais ainda essa aventura épica que cativou milhões de corações por todo o mundo e é um ícone da cultura ocidental. Esperemos ansiosamente pelos próximos filmes da nova trilogia. 

Mais presença de Poe Dameron no Episódio VIII.

Finn e Dameron. Homossexualismo pouco provável.

Um Kylo Ren com menos piti...

R2D2 e BB8, que eles interajam bastante!!!

Nos vemos no Episódio VIII.