sexta-feira, 27 de maio de 2016

Resenha de Filme - X Men, Apocalipse

X Men Apocalipse. Lágrimas Intrusas Numa Ação Moderada.
Mais um filme do Universo Marvel, agora sob a batuta da Fox, estreou em nossas telonas. “X Men, Apocalipse”, elevou o nível das aventuras dos mutantes para o patamar do ótimo “X Men, Primeira Classe”, depois de um “X Men, Dias De Um Futuro Esquecido” um tanto combalido, onde Patrick Stewart, que havia interpretado um Charles Xavier que foi feito picadinho por Jean Grey, retorna sem maiores explicações. Desta vez, não tivemos fatos mal explicados como esse e o fio narrativo mostrou boa coerência. Ainda, foi uma história que prendeu a atenção do início ao fim, muito bem escrita, com pouquíssimos problemas. Só devo avisar que, para podermos analisar o enredo da película, serão necessários alguns “spoilers”.
No que consiste a trama? Em 3100 a.C., no antigo Egito, Em Sabah Nur, uma espécie de líder, provavelmente um faraó, fez uma cerimônia para passar sua alma para um corpo mais jovem, que era de um mutante (interpretado por Oscar Isaac, o Poe Dameron de “Guerra nas Estrelas”). Mas um grupo de opositores resistiu a isso e soterrou o líder no novo corpo, ficando nessa situação por milhares de anos. Chegando à nossa era, o líder é ressuscitado por um grupo de religiosos e ele pretende fazer uma espécie de “upgrade” no mundo, pois constatou que os fracos assumiram o poder e o corromperam. Para isso, Apocalipse (ele tem esse nome, pois sempre recrutava quatro mutantes como seguidores) irá contar com a ajuda de Anjo, Tempestade, Magneto e Psylocke, seus novos quatro cavaleiros. Caberá aos comandados de Charles Xavier lutar contra esse mutante altamente maligno e perigoso para salvar o mundo da destruição certa.
Esse filme tem detalhes muito interessantes. Em primeiro lugar, é um filme de super-heróis com uma quantidade menor de cenas de ação, abaixo da média para o que vemos em um “Os Vingadores” da vida, por exemplo. Isso é ruim? Não! Pelo contrário! Mesmo que isso tenha acontecido, a trama é altamente envolvente e não nos deixa desgrudar o olho um segundo da telona. O grande barato aqui é a história em si e não as cenas de ação ou CGI, que ficaram a cargo do lendário John Dykstra, o mesmo que lá em 1977 ficou responsável pelos efeitos especiais de “Guerra nas Estrelas”. O início da película ficou marcado por pequenas histórias separadas de mutantes (o núcleo da escola de Xavier, o núcleo de Ciclope e Jean Grey, o núcleo da Mística com o Noturno, o núcleo do surgimento de Apocalipse e o núcleo de Magneto vivendo uma vida pacata na Polônia com mulher e filha). Todas estas histórias inicialmente independentes tinham o seu charme especial e depois foram muito bem amarradas. Dada a boa estrutura do roteiro nessas primeiras partes do filme, nem sentimos falta das cenas de ação que foram muito poucas aqui.
Em segundo lugar, o vilão foi bem concebido. Apocalipse contou com uma ótima interpretação de Oscar Isaac, que percebeu a natureza complexa do personagem e lhe deu um comportamento de consciência de sua onipotência, mas também de muito paternalismo. A forma como Apocalipse arregimentava seus cavaleiros era altamente sedutora. Ele dirigia-se a seus alvos como “filhos” que deviam se libertar da escravidão de suas fraquezas e, ao mesmo tempo, ajudava-os a amplificar seus poderes, dando ao comandado um gostinho de onipotência. Até Charles Xavier sentiu esse gostinho de poder, embora logo depois ele tenha lutado severamente contra isso. Tais características faziam com que Apocalipse despertasse sentimentos de amor, ódio e idolatria nos demais personagens, o que deve tornar a interpretação desse personagem algo difícil e não trivial, e Isaac parece ter tirado de letra toda a adversidade que um papel desse nível pode impor. Pontaço para ele que deve estar querendo fugir do estigma do “ator de um personagem só”, agora que ele se meteu a fazer “Guerra nas Estrelas”, uma franquia craque em marcar atores no que se refere a essa questão de um único papel. Harrison Ford escapou desse fardo. Esperemos que Isaac também obtenha sucesso.
Mas o grande detalhe do filme foi algo muito singelo: a lágrima. Poucas vezes no cinema, a lágrima foi um detalhe tão notado e importante como nesse filme. E estamos falando de uma história da Marvel de super-heróis, onde as cenas de ação e os CGIs   deviam ser as grandes atrações. Mas por qual caminho a lágrima mais se manifestou? Principalmente através do personagem Magneto, interpretado pelo atorzaço que é Michael Fassbender. Na minha modesta opinião, esse é o personagem mais interessante do Universo de X Men. Vítima da perseguição dos nazistas (perdeu seus pais em Auschwitz, para perceber a barra pesada da situação), nosso amigo Erick ainda passou pelas agruras da perseguição dos humanos aos mutantes, levando-o a um estado de ódio contra a humanidade. Mas seu amigo Xavier sempre tenta dissuadi-lo desse ódio, deixando Magneto num baita conflito existencial. Essa sua natureza dúbia torna-o muito interessante, um verdadeiro Anakin Skywalker magnético! E esse filme deu uma atenção especial para esse personagem. Erick seguiu as recomendações de Xavier e tentou se enturmar com os demais humanos, trabalhando numa siderúrgica na Polônia. Mas, ao salvar um amigo na fábrica usando seus poderes mutantes, levantou desconfianças de que era o mutante que, em 1973, provocou a morte de um monte de pessoas, o que levou seus amigos a persegui-lo, e isso teve como consequência a morte de sua esposa e sua filha. A dor que Fassbender imprimiu a seu personagem foi muito sincera e lá as lágrimas tiveram papel fundamental. O grito que ele dava aos céus explicitando toda sua indignação contra Deus por tudo de ruim que acontecia em sua vida foi algo igualmente doloroso, assim como a singela lágrima que descia do rosto de Xavier quando ele se comunicava com Erick e lamentava a morte da esposa e filha do amigo. Esses foram momentos simples, mas que fizeram toda a diferença nesse filme, colocando-o num patamar muito elevado. Nesse momento, o blockbuster convencional ultrapassou os limites do comercial e avançou pelo campo emocional do cinema de arte. Confesso que lágrimas também rolaram de meus olhos e a dupla morte da esposa e filha de Erick despertaram expressões de surpresa, perplexidade e o silêncio de uma dor que o público compartilhou com o personagem. E não podemos nos esquecer de que estamos falando de um filme de super-heróis. Esse é um momento mágico que só o cinema pode proporcionar.
Agora, o filme teve um pequeno problema no roteiro, quando Apocalipse conseguiu o domínio de todas as ogivas nucleares da Terra e simplesmente as descartou. Não teria sido melhor usá-las ali mesmo para provocar a tal aniquilação que ele tanto queria com o objetivo de se estabelecer seu novo começo? Sei não, essa parte ficou um tanto incoerente e poderia ter sido mais bem aproveitada, tornando o filme ainda mais interessante do que já foi. Mas devo ressaltar que esse pequeno problema não tira a grandeza do que foi esta película e ainda assim ela vale muito a pena.
Assim, “X Men, Apocalipse” é um programa obrigatório para todo amante da Marvel e seus quadrinhos. Mas também é obrigatório para todo amante do cinema, pois, apesar de ser um bom blockbuster, o filme tem outros elementos interessantes, como a boa construção do vilão e o uso de algo tão simples como a lágrima para dar grande carga emocional às sequências, criando um clima intimista entre público e personagem que só nos faz mergulhar mais ainda na história. Não deixem de ver! E também não deixem de ver o trailer após as fotos.


Cartaz do Filme


Um vilão bem construído


Mística em conflito...


Erick, mais uma vez a tragédia abalou sua vida...


Xavier, seduzido por seu poder amplificado...


Mutantes jovens


Um resgate hipersônico...

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