domingo, 15 de maio de 2016

Resenha de Filme - A Linguagem do Coração

A Linguagem Do Coração. O Tato Como Comunicação.
Um filme muito terno apareceu em nossas telonas. “A Linguagem do Coração”, escrito e dirigido por Jean-Pierre Améris, com a presença de Philippe Blasband no roteiro, nos fala de comunicação, mas de uma comunicação diferente: a que usa o tato, sendo, por isso mesmo, muito mais carinhosa, muito mais afetuosa. É um exemplo de como a persistência e o amor ao próximo pode levantar barreiras intransponíveis e salvar vidas de trevas totais.
Essa é a história de Marie Heurtin (interpretada por Ariana Rivoire), uma menina que nasceu cega, surda e muda, na França do século XIX, praticamente sem contato com o mundo, a não ser pelo tato, onde reconhecia apenas o pai e a mãe. Estando nessa situação, era praticamente impossível que ela aprendesse alguma coisa e não conseguia compreender as coisas mais elementares como pegar um garfo para comer, calçar um sapato ou pentear um cabelo. Ela nada sabia da existência dessas coisas mais simples, a não ser pelo fato de que sentia algo quando as tocava. E, quando era obrigada a fazer alguma coisa, parecia que estava sendo violada. É só você imaginar que vive no escuro e no silêncio, sem qualquer comunicação com o mundo exterior. De repente, você é agarrado por algo desconhecido, sem saber o motivo daquilo. É ou não é aterrorizante? Você não se debateria e tentaria fugir se estivesse numa situação dessas?
Pois é. Nossa Marie vivia com os pais, mas mal deixava que eles dessem a ela uma vida normal por causa da situação de comunicação precária com o mundo exterior em que se encontrava. Assim, o pai de Marie a levou para um convento onde eram acolhidos surdos-mudos para ver se haveria uma chance de sua filha ser tratada lá. Mas a Madre Superiora disse que não havia condições para isso, praticamente deixando claro que não tinha qualquer forma de tratamento para a menina. Existia até uma crença de que, por causa de sua situação e pouca noção do mundo que a cercava, a menina não teria bem desenvolvido sua inteligência, sendo uma espécie de caso perdido. Mas uma das irmãs do convento, Marguerite (interpretada por Isabelle Carré, do ótimo filme “Românticos Anônimos”), se comove com a situação de Marie e procura ajudá-la. Só que Marguerite está praticamente desenganada com uma tuberculose e terá que correr contra o tempo para dar uma vida digna a Marie.
Esse filme, inspirado numa história real, mostra como a força de vontade ajuda a remover montanhas. Marguerite teve que criar toda uma linguagem própria baseada no tato e em parte na linguagem de sinais para se comunicar com Marie. Mas, para que isso pudesse acontecer, o processo foi muito demorado, pois era fundamental que houvesse confiança e afeto entre Marie e Marguerite. E esse foi o processo mais difícil, pois Marguerite era uma estranha que levou Marie para um lugar estranho, ou seja, o convento. A confiança entre as duas não se daria por movimentos bruscos ou agressivos, mas, pelo contrário, por movimentos muito leves e carinhosos. Aliás, o contato corporal afetuoso era a tônica dessa linguagem, o que é algo muito marcante numa sociedade que repudia veementemente o contato corporal como a sociedade europeia. Mesmo com toda a dificuldade de comunicação, ela se fez de forma bem mais rápida quando o primeiro signo foi transmitido: o movimento de cortar com uma faca. Após Marie entender esse primeiro código, foi como se ela se desabrochasse para o mundo exterior, um mundo que até então ela só conhecia por sensações do tipo o clarão do Sol ou o frio de uma superfície de vidro de uma janela.

Dessa forma, “A Linguagem do Coração” é mais um filmaço que passou por nossas telonas e é uma mostra de que nenhum caso é perdido se tivermos perseverança. Um filme fundamental. Um filme de afeto e de comunicação. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme.

Marie e Marguerite. Uma linda amizade.

Sua única sensação era o tato

No início, a comunicação foi muito difícil

Lutas corporais no almoço...

Mas quando o primeiro signo foi transmitido...

... tudo ficou mais fácil.

A verdadeira Marie Heurtin (de vestido escuro).




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