domingo, 31 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - As Cinco Graças.

As Cinco Graças. Ainda A Mulher No Islamismo.
E a polêmica questão de gênero no Islamismo parece não ter fim. A película reflexiva vem agora da Turquia, e, em co-produção com a França, Alemanha e Catar. “Cinco Graças”, da diretora Deniz Gamze Ergüven, é mais um filme que vai estar na festa do Oscar (indicado para melhor filme estrangeiro), e também foi indicado para melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro. É um filme realmente provocativo, provocação essa representada na figura de cinco adolescentes lindas e adoráveis. Cinco irmãs que vão à escola e à praia com colegas meninos, brincando sem qualquer maldade. Mas a vizinhança está de olho e fala tudo para a avó, que cria as meninas juntamente com seu filho, que é tio delas (o pai e a mãe das meninas morreram). A primeira punição que as meninas recebem é deixar de ir à escola e começar a ser preparadas para casar. Mas elas sempre conseguiam dar uma escapadinha, o que sempre era motivo para colocar um muro ou grande a mais na casa, até que ela se transformasse numa verdadeira prisão. Logo, viriam os casamentos arranjados, aceitos por algumas garotas, rechaçados por outras. O mais angustiante era ver a irmã caçula, Lale (interpretada por Günes Nezihe Sensoy) olhar as irmãs, uma a uma, terem o mesmo destino, que era o de casar com homens que nem conheciam, e a constatação de que logo chegaria a hora dela passar pela mesma situação escabrosa.
A película mostrava coisas que seriam consideradas extremamente absurdas aqui em terras ocidentais, mas que, estranhamente, ainda podemos ver por aí, como o fato de os responsáveis levarem as filhas para o médico, com o objetivo de verificar se elas ainda estavam virgens. É provável também que ainda haja a prática de casamentos arranjados nos rincões mais isolados do país (se ainda há escravidão...). Logo notamos que todas essas situações eram exibidas com o intuito de denunciar tais práticas e torná-las as mais insólitas possíveis aos nossos olhos. A forma como as meninas se comportavam, bem de acordo com a cultura ocidental (parecia que a gente via a “Malhação” na Turquia), onde as adolescentes eram brincalhonas e ensaiavam os primeiros passos nos namoricos, ia totalmente de encontro â cultura teocrática e conservadora. As próprias meninas tinham lindos e longos cabelos que, por si só, já eram um desafio às burkas. Muitas vezes, elas apareciam dentro do ambiente caseiro de lingerie, algo extremamente desafiador. Quando a repressão veio e as moças foram obrigadas a vestir roupas mais tradicionais de cores neutras (cinza ou marrom), elas diziam que as roupas tinham cores de merda. Assim, a opressão imposta pelo conservadorismo religioso não ficava sem resposta nesse filme, e ela vinha num tom altamente desafiador, até porque elas vinham de um grupo de adolescentes. Um detalhe interessante do filme é que, apesar de ser um drama até certo ponto pesado, também tivemos momentos de comédia, sobretudo em virtude das peripécias das meninas, o que deu um pouco mais de leveza à coisa. Só é lamentável que esses momentos mais engraçadinhos e levinhos tenham acontecido em poucos momentos mais ao início da película, até porque depois a barra da situação pesou bastante e o filme tomou grandes ares de tristeza. Ainda assim, o filme foi um fértil terreno para o inusitado, o que aumentou a impressão de filme adolescente, quando a história nem sempre anda de mãos dadas com a realidade e o plausível em determinadas situações.

Dessa forma, a película “Cinco Graças”, apesar de altamente implausível para a realidade que ela retratava, ainda assim é digna de atenção em virtude do clima de enfrentamento às instituições teocráticas pela maior fonte de rebeldia que existe, que é a adolescência. É um filme que convida à reflexão e que diverte e comove. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do filme

Cinco irmãs muito unidas

Muito à vontade em casa

Um tio extremamente opressor

Vestidos de cor de merda

Sendo preparadas para casar...

Os casamentos arranjados desfizeram a união,

Apresentando o filme com a diretora Deniz Gamze Ergüven (a mais alta, de vestido preto) 

sábado, 30 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - Invasores

Invasores. Tudo Por Um Piano.
Um comovente filme brasileiro em nossas telas. “Invasores” nos mostra uma história que acontece com milhares, talvez milhões de brasileiros à nossa volta, que é a falta de uma oportunidade para vencer na vida. Quantas vezes não vemos pessoas de camadas mais baixas altamente esforçadas que nem sempre conseguem seus objetivos por falta de oportunidade? Esse é um problema bem sério e real. É disso que trata essa história.
Vemos aqui a trajetória da adolescente Claudia (interpretada por Emanuela Fontes), uma menina que vive num bairro pobre da cidade de São Paulo, que quer prestar exames para o ENEM e fazer a faculdade de música na USP. O grande problema de Claudia é que ela toca piano e não tem o instrumento à disposição para estudar. Com a ajuda do namorado, que tem uma vidinha meio torta, já que pratica pequenos furtos, ela vai conseguir estudar piano para o vestibular, de uma forma inusitada: o namoradinho arromba, durante à noite, lugares onde tenham pianos. Mas a situação fica complicada, pois o garoto anda com uma galerazinha que faz grafite na cobertura de grandes prédios para desafiar o poder da burguesia, e não gosta da ajuda que ele dá à Claudia.
O diretor do filme, Marcelo Toledo, consegue fazer uma senhora mesclagem entre drama social e música erudita, dando um excelente resultado. Ao som de Satie, Beethoven e Johann Sebastian Bach, nossa intrépida Claudia tocava nos lugares mais improváveis para alcançar seus objetivos. E ainda tinha que enfrentar preconceitos dos amigos e da própria mãe, que achavam que ela era metida à patricinha e que queria estudar em lugar de rico, quando havia necessidades mais urgentes como um emprego que ajudasse no orçamento da casa, mas era trabalho braçal pago com salário mínimo, e todos os colegas iriam, ao fim das contas, estudar numa universidade particular perto de casa. Isso se chegassem lá. Quantas vezes a gente não ouve essa história nas camadas mais baixas da população? É realmente uma enorme tragédia social essa falta de oportunidades aos mais jovens das classes C a E. E essa película espelha muito bem essa situação. É algo a se refletir, pois ela derruba o mito do “self made man” que diz que é só se esforçar que se chega ao seu objetivo. Às vezes, por mais esforçado que seja, ainda falta ao jovem uma oportunidade, uma ajudinha extra que vai levá-lo a alcançar a sua meta na vida.
O filme também prima por boas imagens panorâmicas da cidade de São Paulo, sobretudo quando enfocava os adolescentes que faziam grafite no alto dos prédios. Todo aquele mar de concreto foi colocado numa linda plasticidade.
A película também optou por um desfecho não convencional, justamente para não ser óbvio e falso, e para se aproximar mais de uma situação mais próxima da realidade.  Essa foi uma boa estratégia do diretor, que nos deixava ansiosos por saber o desfecho com o andar da trama.

Dessa forma, a película “Invasores” é um interessante filme que vai abordar questões sociais profundas, ao som de uma boa música erudita. O diretor Marcelo Toledo conseguiu fazer um filme leve, de bom ritmo, não óbvio e que nos faz ter uma enorme empatia com os personagens. É um bom programa para os bons filmes deste início de ano. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do filme

Claudia tem o sonho de ser pianista

Mas a moça mora na periferia e não tem condições de estudar

Amigos de Claudia picham coberturas de prédios...

O namorado vai ajudar a mocinha

Mãe quer que Claudia tenha um empreguinho de salário mínimo

Claudia conseguirá???

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - Boi Neon

Boi Neon. O Estilista da Vaquejada.
Um curioso filme brasileiro nas telas. “Boi Neon”, escrito e dirigido por Gabriel Mascaro, mais uma vez tem como cenário o Nordeste Brasileiro. Só que, desta vez, temos arroubos de corte e costura. É um filme que mistura duas coisas tão díspares quanto uma vaquejada e a arte de produzir roupas.
Vemos aqui a história de Iremar (interpretado por Juliano Cazarré) e Galega (interpretada por Maeve Jinkings). Eles têm uns boizinhos e viajam pelo agreste fazendo shows de vaquejada. Eles precisam passar pela dura rotina de cuidar dos bois e de continuar a viajar por aí de caminhão, com os boizinhos e tudo.  Mas Iremar tem um estranho hábito: pega restos de manequins em lixões, desenha roupas em corpos de mulheres nuas em revistas (para o desespero dos peões), tira medidas da Galega com fitas métricas. O motivo? Iremar quer ser estilista! Isso mesmo o que você ouviu! E aí, o nosso protagonista faz roupas para a Galega, que faz números sensuais com uma estranha máscara de égua na cabeça. O grande sonho de Iremar, um verdadeiro autodidata, era trabalhar no Pólo de Confecções do Agreste e largar aquela vida cercado por bois e muita bosta.
Que história “sui generis”, não? O filme tem a curiosidade de mostrar como é a rotina de cuidar dos boizinhos, com cenas até certo ponto angustiantes, onde os bichinhos pareciam sofrer (um bezerro, por exemplo, era marcado com ferro quente, e bosta de vaca era colocada em cima da queimadura para que ela não infeccionasse). Confesso que não fiquei para os créditos finais para ver aquela famosa frase: “nenhum animal foi maltratado na produção deste filme”. Mas os bois pareciam não gostar muito de certas coisas que se faziam com eles. A própria vaquejada era em si um espetáculo deprimente, pois dois homens montados a cavalo cercavam um boi correndo e um deles puxava o rabo do pobre bicho, levando-o ao chão. Você pode até falar que isso é da cultura local, etc., mas que o bicho que tomava o tombo não estava nem um pouquinho contente, ah isso não estava não.
Houve algumas cenas de sexo bem tórridas, como se elas fossem um alívio para dura rotina dos personagens. Numa delas, a moça estava grávida, com um enorme barrigão. Confesso que foi o primeiro filme em que eu vi essa situação e é mais uma curiosidade peculiar que aparece nessa película.
Os atores estiveram bem, sobretudo Juliano Cazarré, que conseguia igualmente ser um “cabra” duro do sertão mas também mostrar momentos de delicadeza e humanidade, ao abraçar a filha de Galega, Cacá, que não conhecia o seu pai e carecia de uma figura paterna. Aliás, essa menina (a atriz Alyne Santana) foi uma grata surpresa no filme, tendo um papel de destaque e atuando muito bem, sobretudo quando ela implicava com os peões. Maeve Jenkings também desempenhou bem o seu papel, tendo que dividir as responsabilidades de líder da trupe, de dançarina e de mãe, numa tripla jornada de trabalho. Ah, e ainda tinham os bois, que ela tratava junto com os outros peões. Um ator que estava ali escondidinho, fazendo um papel secundário, foi Vinícius de Oliveira, que ficou famoso como o menininho Josué do filme “Central do Brasil”, de Walter Salles. Ele interpretava o papel de Júnior, um dos peões.
Ah, sim, e por que o título, “Boi Neon”? É porque, durante as apresentações noturnas de vaquejada, os boizinhos eram cobertos por um pó fluorescente, para que seus tombos ficassem, digamos, mais cinematográficos e pirotécnicos. Foi muito “legal” ver um boi fluorescente verde levando um tombo dos vaqueiros.
Uma parte interessante foi o desfecho, daqueles que eu já falei aqui que aconteceu em outros filmes, ou seja, um desfecho com uma tremenda cara de anticlímax, aqueles desfechos em que a gente se pergunta: “Ué, já acabou?”. Parece que a intenção aqui foi realçar que a rotina permaneceria tocada e interminável.

Assim, “Boi Neon” é mais uma curiosa e interessante película brasileira, que une dois temas que são muito distintos um do outro (vaquejadas e corte e costura), além de possuir uma boa interpretação de atores e de exibir uma dura rotina de um grupo de pessoas que viaja pelo Nordeste vivendo de entretenimento. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do filme

Iremar tinha um sonho

Ele queria ser estilista

Cacá, que acompanhava a trupe

Uma menininha carente de pai...

Uma mulher à frente da trupe...

Boizinhos e sonhos...

Lembram do Vinícius de Oliveira?

Festival de Veneza, 2015. Ao centro, o diretor Gabriel Mascaro.


quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - Carol

Carol. Homossexualismo, Família E Preconceito.
Mais um filme que concorre ao Oscar. “Carol” concorre a seis estatuetas (melhor atriz, melhor atriz coadjuvante, roteiro adaptado, trilha sonora, figurino e fotografia) e é mais um filme que aborda um tema polêmico, o homossexualismo. Por isso mesmo, “Carol” é uma película totalmente pautada nas atuações dos atores, sobretudo Cate Blanchett e Rooney Mara, que interpretam as protagonistas.
Essa história, adaptada de um romance de Patricia Highsmith, “Prince of Salt”, se passa na Nova York da década de 50. Therese Belivet (interpretada por Rooney Mara) é uma moça na casa dos 20 anos que trabalha numa loja de departamentos. É época de natal e, um belo dia, adentra a loja Carol Aird (interpretada por Cate Blanchett) para comprar um presente de natal para a filhinha. As duas mulheres interagem e já houve uma química inicial. Quando Carol vai embora, ela deixou seu par de luvas em cima do balcão. Foi a deixa para que Therese arrumasse uma forma de devolver as luvas e para que Carol a convidasse para jantar. O casamento de Carol estava desmoronando, pois ela já tinha tido um relacionamento homossexual com uma amiga de infância. E, desta vez, o alvo seria Therese, que se deixou levar. O marido de Carol, Harge Aird (interpretado por Kyle Chandler), decidiu entrar na justiça para ter a guarda definitiva da filha, alegando que Carol não se comportava de forma moral. Tal situação obviamente vai abalar o relacionamento entre Carol e Therese, e o desfecho dessa história não será feito de forma simples.
O filme tem grandes virtudes, sobretudo as atuações de Cate Blanchett, que, não à toa, recebeu a indicação ao Oscar de melhor atriz, e de Rooney Mara, que recebeu a indicação para o Oscar de melhor atriz coadjuvante. As duas atrizes fizeram um tema tão polêmico quanto o homossexualismo ser tratado com uma delicadeza extrema. Blanchett fazia uma madame de quatro costados, enquanto que Mara fazia uma jovem que ainda se descobria e se comportava de forma muito tímida, desabrochando-se ao longo da exibição da película. O grande tema reflexivo do filme foi a tal cláusula de moralidade que existia no acordo de divórcio, que determinava a guarda da filha apenas para o pai. Como a personagem Carol bem atestou, seu comportamento era considerado amoral, mas não era amoral tirar uma filha de sua mãe. É mais uma história que vai mostrar todo o preconceito que existia (e, em determinados lugares ainda existe) contra o homossexualismo, a ponto de as leis não garantirem os direitos dos homossexuais, por considerarem ainda essa prática como uma doença. E pensar que, em certos países, ainda tem gente que pensa dessa forma. Ainda bem que isso acontece bem longe daqui...
A reconstituição de época e o figurino também merecem destaque. As atrizes estavam charmosas e deslumbrantes em roupas muito elegantes. O uso de automóveis da década de 50 só realçava todo espírito daquela época. Com certeza, essas características ajudaram em muito todo o clima de suavidade presente no filme e a indicação para figurino também se faz muito justa.

Dessa forma, “Carol” é mais outra produção digna de receber as indicações ao Oscar que recebeu. As atuações das atrizes principais, o clima de delicadeza e suavidade, a boa reconstituição de época e figurino, a discussão e reflexão sobre um tema altamente polêmico. Todos esses fatores contribuíram para que essa película entre na boa lista de filmes que devem ser vistos esse início de ano. E não se esqueça de ver o trailer depois das fotos.

Cartaz do Filme

Carol, uma madame de quatro costados.

Therese, uma jovem que trabalha numa loja de departamentos.

Um encontro na loja de departamentos

Problemas no relacionamento. 

Ótima reconstituição de época

Carrinhos antigos irados!!!

O filme prima pela delicadeza

Divulgando o filme com o diretor Todd Haynes

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - A Grande Aposta

A Grande Aposta. Economês Para Principiantes.
Mais um filme que concorre ao Oscar. “A Grande Aposta” tem cinco indicações (melhor filme, ator coadjuvante, direção, edição e roteiro adaptado) e tem tudo para ser  o filme mais polêmico de toda a cerimônia de entrega, pois ele vai tratar justamente dos motivos que levaram à crise econômica mundial de 2008, que ferraram com muita gente por aí e ainda continua a provocar sérios estragos, inclusive em nosso país. Para quem se lembra da história, a crise explodiu a partir de uma onda de especulação no mercado imobiliário americano, o que gerou uma falência de bancos e, consequentemente, um efeito dominó que atingiu proporções mundiais e catastróficas.
O filme vai contar a história de três grupos de investidores no mercado financeiro dos Estados Unidos que perceberam que a crise iria acontecer. O mecanismo foi mais ou menos o seguinte. Quem compra casas nos Estados Unidos paga hipotecas. As pessoas sempre saldavam suas dívidas, o que tornava o mercado de imóveis forte e seguro. Mas nem todo mundo tinha dinheiro para bancar o pagamento de uma casa. E havia muitas casas para vender. Assim, o mercado imobiliário passou a aceitar qualquer pessoa para comprar uma casa, ou seja, que não apresentasse qualquer garantia de que iria pagar suas dívidas. Esse foi o primeiro dominó a cair, que foi derrubando os outros. Para ganhar dinheiro em cima da desgraça dos outros, esses investidores decidiram apostar contra a economia americana, ou seja, procuraram os bancos e fizeram um tipo de investimento que lhes renderia muito dinheiro quando o mercado imobiliário quebrasse. Mas, enquanto esse mercado de imóveis não quebrava, eram os investidores que teriam que dar dinheiro aos bancos, sendo, por isso, um investimento de alto risco. Se desse certo, rolaria muita grana e todo o resto se arrebentava. Mas, se desse errado, aí todos quebrariam a cara.
Dando uns pequenos “spoilers”, é um filme escrito num baita de um economês, em linguagem difícil, e que precisa de muita atenção do espectador. Mas, quem ficar ligadão no filme vai se divertir muito. Se você não consegue entender o economês todo do filme, não tem problema! O filme faz uma pausa para você e explica a situação com um exemplo do dia-a-dia, o que torna a película muito divertida. O mais interessante é que o filme é baseado numa história real e quando acontece uma situação mais esdrúxula, um dos personagens para a ação e diz como a situação aconteceu na vida real, se o filme é fiel ou não ao realmente ocorrido, etc., sendo uma grande brincadeira com aqueles que acham que o cinema tem compromisso com a realidade, quando absolutamente não tem. A materialidade visual da película também é interessantíssima, pois usa todo um caleidoscópio de imagens referentes às épocas narradas no transcorrer da história, o que dava uma sensação de muita mobilidade, altamente angustiante, como se a sucessão rápida de imagens expressasse a velocidade de acontecimentos que prenunciavam o caos.
O elenco é de se tirar o chapéu. Além de Christian Bale, candidato ao Oscar de melhor ator coadjuvante, tivemos Steve Carell, Brad Pitt, Ryan Gosling, e até uma rápida, mas sempre especial aparição de Marisa Tomei. Apesar de Bale estar bem, acho que novamente Carell fez uma baita duma atuação como o investidor estressado que odeia a especulação financeira dos bancos e teria bem mais chance de ganhar a estatueta. Enfim...

Dessa forma, “A Grande Aposta” é um filme que, se considerarmos a qualidade e a proposta de denúncia, merece ganhar algumas estatuetas. Não ganhou Globos de Ouro. Pode ser um indício para o Oscar. Mas Oscar também não é lá muito arte, e sim “business”. De qualquer jeito, sempre fica aquela torcidazinha de todo ano que nos faz ficar à frente da tv até quase três da manhã de segunda, tendo que trabalhar logo cedo. Todo cinéfilo que se preza faz isso. E esse filme, juntamente com “Spotlight”, tem minha torcida. E, enquanto a festa não chega, curta o trailer depois das fotos.

Cartaz do Filme

Um investidor que gosta de heavy metal

Um investidor estressado

Um investidor que cultiva sementes

Um investidor que cheira dinheiro

Investidores manés...

Não entendeu a crise? Selena Gomez explica para você!!!

Lançando o filme...

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - Mr. Holmes

Mr. Holmes. Os Mitos Também Falham.
Mais um excelente filme paira em nossas telas. “Mr. Holmes” é estrelado por ninguém mais, ninguém menos que “sir” Ian Mckellen, e faz um interessante exercício de imaginação: como seria a vida do memorável personagem da literatura universal, o inspetor Sherlock Holmes, quando ele estivesse aposentado e com a idade de 93 anos? Essa ideia está num romance escrito por Mitch Cullin e foi dirigida pelo eficiente diretor Bill Condon, que ganhou um Oscar de roteiro adaptado por “Deuses e Monstros”, também estreado por Mckellen, onde ele fazia o papel do diretor homossexual James Whale, o diretor do filme “Frankenstein”, de 1931, em seus tempos de velhice.
Qual é o desenrolar de “Mr. Holmes”? Vemos aqui o protagonista em sua casa de campo em Sussex no ano de 1947 criando abelhas sob os cuidados de sua governanta, Mrs. Munro (interpretada por Laura Linney) e seu pequeno filho Roger (interpretado por Milo Parker). Mr. Holmes tem uma vida pacata, recebe visitas de seu médico, que insiste que ele viva num lugar menos afastado para o caso de alguma emergência, e a coisa não iria muito além disso, não fosse pela torrente de “flashbacks” que a película traz e que vai tornar o presente do velho Holmes mais interessante. Seu fiel escudeiro, Watson, já havia se afastado e falecido. Mas era ele quem havia escrito os livros sobre Sherlock e construído todo um mito sobre o inspetor, algo que Holmes abominava. Assim, o inspetor aposentado decide escrever ele mesmo a história do último caso que investigou e que provocou-lhe um grande trauma, levando-o a se retirar da profissão. Só que há um problema: ele não se lembra mais do que aconteceu. Pois é, parece que o inspetor está com os sintomas do mal de Alzheimer. E aí ele terá que fazer um grande esforço para recuperar sua privilegiada memória e desvendar seu próprio passado. Tudo isso com a ajuda e apoio de Roger, o menininho que adora histórias de mistério e se apaixona também pelas abelhas de Mr. Holmes, tornando-se uma espécie de neto postiço e aprendiz do velho inspetor.
Nem é preciso dizer o motivo principal de irmos assistir a esse filme. Além de ser o típico filme em que você vai para ver um ator de que você gosta (Mckellen, obviamente, roubou toda a cena), é também uma película que enfoca um personagem muito conhecido da literatura universal de uma forma pouco vezes vista, ou seja, já no ocaso de sua vida. E quando um ator tão conhecido e amado interpreta um personagem igualmente conhecido e amado, é como se você juntasse a fome com a vontade de comer. O que Mckellen fez de tão especial aqui? Ele precisou interpretar o mesmo personagem de duas formas diferentes, ou seja, o Mr. Holmes com 93 anos, já bem velho e debilitado, e o Mr. Holmes um pouco mais jovem, em virtude dos “flashbacks” presentes na história. E ele o fez com muita eficiência e maestria, sendo somente essa dupla atuação de um mesmo personagem já valer o ingresso. Mas houve mais. Foi muito prazeroso ver o relacionamento entre o velho Holmes e o menino Roger. Houve uma química imediata desde o início e a coisa fluiu maravilhosamente. O velho inspetor acolheu o garoto de forma paternal e o transformou numa espécie de aprendiz, sob os olhos preocupados da mãe.
Outro detalhe que muito chamou a atenção é uma espécie de desmistificação do herói que foi Sherlock Holmes. O filme pretendeu humanizar o personagem, e isso significa que ele era também suscetível a falhas, como qualquer pessoa normal. Ao invés do mito indestrutível e sempre jovial criado por Watson, Mr. Holmes envelhece, erra, pode até ter um ou outro desvio de caráter ou sentimento escuso, e tem medos. Um Sherlock mais parecido com as pessoas comuns. Um Sherlock que não tem medo de se arrepender de algumas atitudes que tomou. E aí, novamente Ian Mckellen provou ser a escolha certa para o papel. Aliás, vamos combinar, ele é a escolha certa para qualquer papel, até o da Dona Pedra do Bidu.

Assim, Mr. Holmes é mais um filme que você precisa anotar na sua lista de boas opções cinematográficas desse início de ano, pois mostra Ian Mckellen, um excelente ator, fazendo um personagem ícone da literatura universal e, ainda por cima, de forma desmistificada e humanizada, chegando, para isso, a interpretá-lo de duas formas diferentes, o que comprova o já comprovado, que é o fato de que Mckellen é um dos  maiores atores de sua geração. Mais um programa imperdível. E não deixe de ver o trailer depois das fotos.

Cartaz do filme.

Sherlock Holmes vive a sua aposentadoria

Mckellen também interpretou Holmes um pouco mais jovem, em virtude dos "flashbacks". Grande ator!!!


Com Roger, um relacionamento afetuoso

Ensinando a Roger a apicultura

Recordando um antigo caso

Mesmo em idade avançada, não perdeu o faro de investigação...

Em Berlim

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, O Filme.

Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, O Filme. Volta Aos Tempos de Pré-Adolescência.
E finalmente saiu o tão esperadoSnoopy & Charlie Brown: Peanuts, O Filme”. Fui correndo ao cinema ver e qual não foi a minha surpresa ao descobrir que só havia um lugar para a sessão que eu havia escolhido no São Luiz. Isso mesmo, a sessão lotou. Tudo bem, era a estreia, época de férias, mas mesmo assim, me causou espanto que uma animação tão antiga, mesmo que recauchutada com a computação gráfica, fizesse tanto sucesso entre as crianças de hoje. Descontando as maciças campanhas de “marketing”, ainda assim eu acho que muitos pais devem ter levado seus filhos para curtir o desenho de novo, ensinando as novas gerações a gostarem de Snoopy, o que é muito bom, já que esse é um dos melhores desenhos animados de todos os tempos, na minha modestíssima opinião.
Tudo o que a gente adora está lá. A trilha sonora carregada num jazzinho meio “sixty” com o piano iradinho, as crises existenciais de Charlie Brown, sua paixão (e medo) pela garotinha ruiva, os conselhos psiquiátricos da Lucy (e o medo dos germes das lambidas do Snoopy), Lino e seu cobertor azul, Schroeder e sua paixão por Beethoven (ele toca a vinheta de abertura da Fox!), Paty Pimentinha e seu amor enrustido por Charlie, Chiqueirinho literalmente levantando poeira, Woodstock em seus voozinhos tresloucados, a professora (ou qualquer adulto) com aquela voz de trombone desafinado. E, principalmente, o grande astro, Snoopy, o cachorro mais versátil da História. Ele queria ir para a escola e tentava de todas as maneiras entrar lá, só que sempre era expulso. Até que encontrou uma máquina de escrever no lixo e começou a escrever as suas aventuras do ás voador contra o Barão Vermelho na Primeira Guerra Mundial. E agora, ele terá que salvar sua namoradinha Fifi.
Apesar da computação gráfica, ainda assim o espírito do desenho original permaneceu, muito provavelmente pelo fato de que o roteiro foi escrito por membros da família Schulz, Bryan e Craig. Não devemos nos esquecer que Snoopy nasceu das tirinhas cômicas de Charles Schulz, cujo personagem Charlie Brown é seu alter ego (Charles Schulz era realmente muito tímido e apaixonado por uma garotinha ruiva quando era pequeno na escola). E, ainda, Bill Melendez, que produzia e dirigia os desenhos animados antigos, faz as vozes de Snoopy e Woodstock, ou melhor, as suas vozes gravadas, pois Melendez já é falecido. Eu assisti uma cópia dublada e percebi que ela foi influenciada pela dublagem que era usada no SBT. Dessa forma, a Márcia, por exemplo, não falava “senhora” para a Paty Pimentinha, e sim “meu”. Assim, era como se a gente visse um dos desenhos que passavam no SBT lá na longínqua década de 80, quando toda a família via reunida e morria de rir. Nunca me esqueço do especial de Natal que vimos na televisão, onde Charlie Brown arrumou uma árvore de natal toda tronxinha, desprezada por todos no início, mas que depois foi toda bem decorada, mostrando que o espírito de natal é algo que está acima das aparências e do espírito comercial. E, na encenação do auto de natal, Snoopy teria que fazer todos os bichos da manjedoura. E aí, Lucy perguntava para ele: “você sabe interpretar um boi?” e ele respondia: “muuuu”. “E um carneiro?”, “béééé´”. “E um pinguim?”, e aí ele saía andando igual a um pinguim. Ou o dia em que ele estava muito atacado e chutava o Lino por trás. Ou quando ele corria e arrancava o cobertor do Lino. Era demais! E tudo isso está nesse desenho novo. Confesso que as lágrimas brotaram dos olhos um pouco. Saudades de um tempo e de pessoas que não voltam mais...

Então, se você tem mais de quarenta e tem filhos (ou não), não deixe de aproveitar essa oportunidade de ver um filme infantil no cinema. Te garanto que você não vai se arrepender. A prova disso é que um pai e sua filhinha sentaram do meu lado e a menina havia lhe perguntado se ele gostava de ir ao cinema, ao que ele respondeu mais ou menos assim: “Gosto, filha. Mas hoje é o desenho do Snoopy, né?”. Só que, durante a exibição da película, ele ria junto com a sua filha. Devia estar gostando, não,? Então, relaxe e aproveite. E não deixe de ver o trailer depois das fotos, além do desenho de Natal que eu mencionei.

Cartaz do Filme.

A velha turminha está de volta!

Muito fofo!!!

Conselhos psiquiátricos

Salvando a mocinha

A eterna paixão de Charlie Brown, a garotinha ruiva

De novo???

Soltando uma pipa

Escrevendo suas histórias

Cabeça nas nuvens.

Numa investigação...

Imagem imortalizada