domingo, 31 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - As Cinco Graças.

As Cinco Graças. Ainda A Mulher No Islamismo.
E a polêmica questão de gênero no Islamismo parece não ter fim. A película reflexiva vem agora da Turquia, e, em co-produção com a França, Alemanha e Catar. “Cinco Graças”, da diretora Deniz Gamze Ergüven, é mais um filme que vai estar na festa do Oscar (indicado para melhor filme estrangeiro), e também foi indicado para melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro. É um filme realmente provocativo, provocação essa representada na figura de cinco adolescentes lindas e adoráveis. Cinco irmãs que vão à escola e à praia com colegas meninos, brincando sem qualquer maldade. Mas a vizinhança está de olho e fala tudo para a avó, que cria as meninas juntamente com seu filho, que é tio delas (o pai e a mãe das meninas morreram). A primeira punição que as meninas recebem é deixar de ir à escola e começar a ser preparadas para casar. Mas elas sempre conseguiam dar uma escapadinha, o que sempre era motivo para colocar um muro ou grande a mais na casa, até que ela se transformasse numa verdadeira prisão. Logo, viriam os casamentos arranjados, aceitos por algumas garotas, rechaçados por outras. O mais angustiante era ver a irmã caçula, Lale (interpretada por Günes Nezihe Sensoy) olhar as irmãs, uma a uma, terem o mesmo destino, que era o de casar com homens que nem conheciam, e a constatação de que logo chegaria a hora dela passar pela mesma situação escabrosa.
A película mostrava coisas que seriam consideradas extremamente absurdas aqui em terras ocidentais, mas que, estranhamente, ainda podemos ver por aí, como o fato de os responsáveis levarem as filhas para o médico, com o objetivo de verificar se elas ainda estavam virgens. É provável também que ainda haja a prática de casamentos arranjados nos rincões mais isolados do país (se ainda há escravidão...). Logo notamos que todas essas situações eram exibidas com o intuito de denunciar tais práticas e torná-las as mais insólitas possíveis aos nossos olhos. A forma como as meninas se comportavam, bem de acordo com a cultura ocidental (parecia que a gente via a “Malhação” na Turquia), onde as adolescentes eram brincalhonas e ensaiavam os primeiros passos nos namoricos, ia totalmente de encontro â cultura teocrática e conservadora. As próprias meninas tinham lindos e longos cabelos que, por si só, já eram um desafio às burkas. Muitas vezes, elas apareciam dentro do ambiente caseiro de lingerie, algo extremamente desafiador. Quando a repressão veio e as moças foram obrigadas a vestir roupas mais tradicionais de cores neutras (cinza ou marrom), elas diziam que as roupas tinham cores de merda. Assim, a opressão imposta pelo conservadorismo religioso não ficava sem resposta nesse filme, e ela vinha num tom altamente desafiador, até porque elas vinham de um grupo de adolescentes. Um detalhe interessante do filme é que, apesar de ser um drama até certo ponto pesado, também tivemos momentos de comédia, sobretudo em virtude das peripécias das meninas, o que deu um pouco mais de leveza à coisa. Só é lamentável que esses momentos mais engraçadinhos e levinhos tenham acontecido em poucos momentos mais ao início da película, até porque depois a barra da situação pesou bastante e o filme tomou grandes ares de tristeza. Ainda assim, o filme foi um fértil terreno para o inusitado, o que aumentou a impressão de filme adolescente, quando a história nem sempre anda de mãos dadas com a realidade e o plausível em determinadas situações.

Dessa forma, a película “Cinco Graças”, apesar de altamente implausível para a realidade que ela retratava, ainda assim é digna de atenção em virtude do clima de enfrentamento às instituições teocráticas pela maior fonte de rebeldia que existe, que é a adolescência. É um filme que convida à reflexão e que diverte e comove. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do filme

Cinco irmãs muito unidas

Muito à vontade em casa

Um tio extremamente opressor

Vestidos de cor de merda

Sendo preparadas para casar...

Os casamentos arranjados desfizeram a união,

Apresentando o filme com a diretora Deniz Gamze Ergüven (a mais alta, de vestido preto) 

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