sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - Boi Neon

Boi Neon. O Estilista da Vaquejada.
Um curioso filme brasileiro nas telas. “Boi Neon”, escrito e dirigido por Gabriel Mascaro, mais uma vez tem como cenário o Nordeste Brasileiro. Só que, desta vez, temos arroubos de corte e costura. É um filme que mistura duas coisas tão díspares quanto uma vaquejada e a arte de produzir roupas.
Vemos aqui a história de Iremar (interpretado por Juliano Cazarré) e Galega (interpretada por Maeve Jinkings). Eles têm uns boizinhos e viajam pelo agreste fazendo shows de vaquejada. Eles precisam passar pela dura rotina de cuidar dos bois e de continuar a viajar por aí de caminhão, com os boizinhos e tudo.  Mas Iremar tem um estranho hábito: pega restos de manequins em lixões, desenha roupas em corpos de mulheres nuas em revistas (para o desespero dos peões), tira medidas da Galega com fitas métricas. O motivo? Iremar quer ser estilista! Isso mesmo o que você ouviu! E aí, o nosso protagonista faz roupas para a Galega, que faz números sensuais com uma estranha máscara de égua na cabeça. O grande sonho de Iremar, um verdadeiro autodidata, era trabalhar no Pólo de Confecções do Agreste e largar aquela vida cercado por bois e muita bosta.
Que história “sui generis”, não? O filme tem a curiosidade de mostrar como é a rotina de cuidar dos boizinhos, com cenas até certo ponto angustiantes, onde os bichinhos pareciam sofrer (um bezerro, por exemplo, era marcado com ferro quente, e bosta de vaca era colocada em cima da queimadura para que ela não infeccionasse). Confesso que não fiquei para os créditos finais para ver aquela famosa frase: “nenhum animal foi maltratado na produção deste filme”. Mas os bois pareciam não gostar muito de certas coisas que se faziam com eles. A própria vaquejada era em si um espetáculo deprimente, pois dois homens montados a cavalo cercavam um boi correndo e um deles puxava o rabo do pobre bicho, levando-o ao chão. Você pode até falar que isso é da cultura local, etc., mas que o bicho que tomava o tombo não estava nem um pouquinho contente, ah isso não estava não.
Houve algumas cenas de sexo bem tórridas, como se elas fossem um alívio para dura rotina dos personagens. Numa delas, a moça estava grávida, com um enorme barrigão. Confesso que foi o primeiro filme em que eu vi essa situação e é mais uma curiosidade peculiar que aparece nessa película.
Os atores estiveram bem, sobretudo Juliano Cazarré, que conseguia igualmente ser um “cabra” duro do sertão mas também mostrar momentos de delicadeza e humanidade, ao abraçar a filha de Galega, Cacá, que não conhecia o seu pai e carecia de uma figura paterna. Aliás, essa menina (a atriz Alyne Santana) foi uma grata surpresa no filme, tendo um papel de destaque e atuando muito bem, sobretudo quando ela implicava com os peões. Maeve Jenkings também desempenhou bem o seu papel, tendo que dividir as responsabilidades de líder da trupe, de dançarina e de mãe, numa tripla jornada de trabalho. Ah, e ainda tinham os bois, que ela tratava junto com os outros peões. Um ator que estava ali escondidinho, fazendo um papel secundário, foi Vinícius de Oliveira, que ficou famoso como o menininho Josué do filme “Central do Brasil”, de Walter Salles. Ele interpretava o papel de Júnior, um dos peões.
Ah, sim, e por que o título, “Boi Neon”? É porque, durante as apresentações noturnas de vaquejada, os boizinhos eram cobertos por um pó fluorescente, para que seus tombos ficassem, digamos, mais cinematográficos e pirotécnicos. Foi muito “legal” ver um boi fluorescente verde levando um tombo dos vaqueiros.
Uma parte interessante foi o desfecho, daqueles que eu já falei aqui que aconteceu em outros filmes, ou seja, um desfecho com uma tremenda cara de anticlímax, aqueles desfechos em que a gente se pergunta: “Ué, já acabou?”. Parece que a intenção aqui foi realçar que a rotina permaneceria tocada e interminável.

Assim, “Boi Neon” é mais uma curiosa e interessante película brasileira, que une dois temas que são muito distintos um do outro (vaquejadas e corte e costura), além de possuir uma boa interpretação de atores e de exibir uma dura rotina de um grupo de pessoas que viaja pelo Nordeste vivendo de entretenimento. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do filme

Iremar tinha um sonho

Ele queria ser estilista

Cacá, que acompanhava a trupe

Uma menininha carente de pai...

Uma mulher à frente da trupe...

Boizinhos e sonhos...

Lembram do Vinícius de Oliveira?

Festival de Veneza, 2015. Ao centro, o diretor Gabriel Mascaro.


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