sábado, 31 de outubro de 2015

Resenha de Filme - O Clube

O Clube. O Lado Negro Da Igreja Católica.
Um filme chileno extremamente agressivo aos nossos sentidos. E, por isso mesmo, muito bom, embora ele deixe um gosto amargo no estômago. Essa é a impressão de “O Clube”, de Pablo Larrain, um filme consagrado pelo Urso de Prata no prêmio do Júri do Festival de Berlim desse ano. A película trata de forma extremamente contundente um tema altamente espinhoso: os casos de homossexualismo e pedofilia na Igreja Católica. E de como a maldade humana não tem limites. É um filme que te indigna e te enoja, e você sai da sala arrasado e profundamente decepcionado com a humanidade e seu mar de hipocrisias.
Vemos aqui a história de quatro padres que vivem juntos com uma irmã numa casa no meio de uma cidadezinha litorânea do Chile, que é altamente soturna e melancólica. Dentre as poucas diversões do local está a aposta em corridas de cachorros. Os padres e a irmã vivem juntos nessa casa isolada, pois eles estão impedidos de exercer o sacerdócio, já que “pisaram na bola” e devem permanecer um longo (talvez perpétuo) período de penitência e arrependimento em virtude de seus pecados. Pode-se dizer que a Igreja Católica “condenou à prisão” esses padres. Dentre os atos condenados pela Igreja que os padres cometeram estão a pedofilia, o homossexualismo, a violação da confidencialidade da confissão e a doação de filhos de uma família para outra, frutos de gravidez indesejada. Um belo dia, um quinto padre excessivamente atormentado chega à essa singela comunidade, mas acaba se suicidando com um tiro na cabeça depois de um homem que fora vítima dos casos de pedofilia na Igreja ficar provocando os padres em frente à casa contando em voz alta os casos de sexo oral e anal ao qual foi submetido por um padre quando jovem. Devido ao desfecho violento do novo hóspede, a Igreja enviou um psicólogo que vai tratar o grupo de uma forma excessivamente tradicional e muito, muito dura, criando sérias situações de conflito. E não podemos nos esquecer do homem que continuava tocando no passado turbulento de todos aqueles padres. Toda essa situação altamente caótica meio que provocou uma piração geral em todos, que buscaram uma solução violenta, esdrúxula e desprezível para o problema, com a “devida” aprovação da Igreja Católica na figura do psicólogo. Você sai da sala revoltado com o que viu, é um filme que realmente mexe com você. O mais lamentável é que, na sua ânsia de manter a integridade dos paradigmas, a Igreja Católica impiedosamente destrói vidas e noções básicas de caráter. E, como dizia o comunista João Saldanha, vida que segue, como se nada de mais sério tivesse acontecido. É uma película altamente agressiva e, por isso mesmo, muito boa, pois ela bota a sua cabeça para funcionar e questionar. O sentimento mais latente ao fim da exibição é o de raiva.
Só é de se lamentar a péssima qualidade da cópia (ou será que ela foi produzida assim mesmo?), muito escura e pouco nítida, o que só aumentava o sentimento de angústia ao longo da projeção.

Assim, se “O Clube” tem a propriedade de ser altamente odioso e agressivo ao público, por outro lado essas características são, ao mesmo tempo, as grandes virtudes do filme, já que elas nos sacodem por dentro, nos deixam profundamente indignados perante as injustiças provocadas no interior da Igreja Católica, sobretudo nos casos de pedofilia. Um filme fundamental. Um filme que te faz chorar de raiva. Um filme que te deixa profundamente indignado. Um filme de denúncia, cumprindo a função social do cinema.

Cartaz do filme

Um grupo exótico

Passado atormentado por casos de abuso sexual

Cachorros, a única diversão.

Um psicólogo altamente opressor. Poder da Igreja Católica


O diretor Pablo Larrain

Em Berlim

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Resenha de Filme - Sicário, Terra de Ninguém.

Sicário, Terra De Ninguém. Um Soco Violento No Estômago.
Um excelente filme tem passado quase que despercebido por nossas telas. “Sicário, Terra de Ninguém”, de Denis Villeneuve, é um filme que não nos deixa indiferentes. A tônica é de uma violência extrema que choca e arrepia. E isso regado a atuações memoráveis de Josh Brolin e, principalmente, Benicio del Toro, que deu um show! Vamos agora discorrer algumas linhas desse instigante filme.
A história se passa praticamente na região de fronteira entre os Estados Unidos e o México. Lá, a agente do FBI Kate Marcer (interpretada por Emily Blunt) realiza batidas para desbaratar cativeiros de sequestros erguidos por narcotraficantes mexicanos. O problema é que, nesse estágio as forças policiais chegaram tarde demais e resta a eles apenas recolher os corpos, quando não são vitimados por explosões que brotam de traiçoeiras ciladas. Mercer será então chamada para participar como observadora de um grupo que realizará ações, digamos, um pouco mais “efetivas” contra os narcotraficantes. Esse grupo é liderado por Matt Graver (interpretado por Josh Brolin), um homem aparentemente simpático e de sandálias e que conta também com Alejandro (interpretado por Benicio del Toro), um misterioso homem que tem mãos trêmulas e acorda subitamente em virtude de pesadelos. Esses dois homens irão intrigar totalmente Marcer, já que eles farão uma incursão ilegal ao México e lá realizarão atividades completamente fora da lei como executar traficantes em vias expressas cheias de civis, sem falar das torturas nos interrogatórios. Marcer, uma idealista agente do FBI, fica horrorizada com as práticas ilegais e violentíssimas desses dois homens contratados pelo governo americano, que querem atacar os traficantes em suas bases sem dó nem piedade. E aí nossa protagonista vai comer o pão que o diabo amassou.
Como podemos perceber, é um filme em que os vilões graúdos estão todos lá do outro lado da fronteira, ou seja, do lado mexicano, embora um ou outro americano esteja envolvido. Mas toda uma carga de preconceito foi atirada com todo o seu ímpeto contra os mexicanos, ainda mais depois de todas as notícias sobre as bárbaras ações de quadrilhas de traficantes mexicanos nos telejornais. Mas, ainda assim, a crueza dos protagonistas assusta, numa mostra de que a violência extrema só pode ser detida com violência extrema.
Quanto à interpretação dos atores, Emily Blunt ficou mais com cara de coitadinha do que qualquer coisa, ou seja, passou uma imagem de excessiva fragilidade. Tudo bem que tal fragilidade estava condizente com o idealismo da personagem, mas a coisa ficou meio que exagerada. A personagem devia ser um pouco mais durona, até pelo cargo de agente do FBI que ocupava. Já Josh Brolin estava fantástico como o líder do grupo antitráfico, mais cínico do que qualquer coisa. Ele era o cara que, com seu sorrisinho sarcástico, torturava psicologicamente as suas vítimas antes da tortura mais tradicional, aquela que dobra e corta a carne e quebra os ossos. Tal tarefa ficava com o personagem de Benicio del Toro, implacável com suas vítimas. O homem era o cão chupando manga, prendendo, arrebentando e passando fogo impiedosamente em quem estivesse pela sua frente. Seu tom de voz calmo, ameaçador e excessivamente sério botava pavor em qualquer um. E sua mira era perfeita, matando três de uma vez só.

Por essas e por outras, “Sicário” é um filme altamente recomendável que deve ser visto por aqueles que têm estômago forte. Um filme em que os atores dão a tônica.

Cartaz do filme

Marcer, uma agente do FBI extremamente sensível

Graver, um homem cínico e violento 

Alejandro, o cão chupando manga

Torturas. Prática usual.

Operações ilegais na via

Operações militares.

Sofrimentos extremos

Denis Villeneuve, o diretor.

Promovendo o filme

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Resenha de Filme - O Sétimo Selo

O Sétimo Selo. Questionamentos Sobre Vida, Morte E Fé.
O Instituto Moreira Salles reapresentou essa semana “O Sétimo Selo” (realizado em 1957), um clássico do consagrado diretor Ingmar Bergman. Como fazia muito tempo que eu vi esse filme, dei uma chegadinha lá para dar uma conferida. E não me arrependi. Depois de ter lido a autobiografia do grande diretor no início do ano passado, rever “O Sétimo Selo” é uma experiência que tem muito mais sentido. Só para mencionar algumas coisas ditas por Bergman em sua autobiografia, seu pai era uma espécie de líder religioso, um pastor de sua comunidade, e Bergman tinha uma turbulenta relação com ele e, por tabela, com sua mãe. “O Sétimo Selo” é um bom espelho desse conflito provocado pela fé.
Temos aqui a história de Antonius Block (interpretado pelo ainda jovem e sempre  lendário Max von Sydow), um cavaleiro medieval que retorna das cruzadas para seu país natal, juntamente com seu escudeiro Jöns (interpretado por Gunnar Björnstrand). No intervalo de sua viagem, Block se vê face a face com a morte (interpretada magistralmente por Bengt Ekerot), que vem buscar o cavaleiro. Block, exímio jogador de xadrez, desafia então a morte para uma partidinha para poder ganhar mais tempo. Nesse ínterim, Block e Jöns continuam sua viagem e fazem todo o tipo de questionamento sobre a vida, a morte e, principalmente, a fé em Deus. Ao fim, a morte vem inevitável e leva ambos juntamente com vários personagens que surgem ao longo da película, e o fim da existência terrena é visto mais como um alívio para as várias questões existenciais sobre a fé do que qualquer outra coisa. Prova disso é que a morte conduz suas vítimas para o outro mundo enquanto elas dançam alegremente.
O filme tem um tom de questionamento e, acima de tudo, de crítica a fé religiosa. A figura mais ácida é a do escudeiro Jöns, personagem forte e, acima de tudo, muito sarcástico, sendo o mais divertido de todos, justamente por ter uma visão excessivamente crítica das coisas e fazer comentários altamente irônicos e ferinos. Sydow e seu Antonius Block também tem um especial destaque, em sua confiança e petulância em desafiar a morte, mas ao mesmo tempo por ser o personagem que mais questiona os atos de fé em Deus. Ele é religioso e busca a salvação, mas ao mesmo tempo se angustia com o profundo silêncio de Deus em seus momentos de maior desespero. Já Ekerot é perfeito como a morte, de olhar penetrante e humor fino, também cheio de sarcasmo, e a propriedade daquele que nada lhe escapa. Devemos nos lembrar que a morte era mais aterrorizante que o usual nessa película, pois a Europa passava pelo terrível período das epidemias da “Peste Negra” naqueles dias de fim da Idade Média, constituindo-se em mais um elemento de questionamento da fé perante o mutismo divino frente a tal situação de desespero coletivo. Era muito curioso notar que havia pequenos momentos de alegria restritos a uma pequena companhia mambembe de teatro, onde podíamos ver uma jovem e deslumbrante Bibi Anderson atuando, mas uma de suas apresentações é severamente interrompida por uma procissão religiosa pedindo o fim da praga e exaltando o sofrimento de Cristo e autoflagelações, com um sacerdote condenando severamente a alegria da trupe. Essa é a maior prova da crítica veemente de Bergman à religiosidade excessiva e sem sentido. Por isso mesmo, a morte é vista como libertadora das angústias existenciais provocadas pela religião.

Assim, “O Sétimo Selo” é um clássico do Cinema Universal (e de Ingmar Bergman) que merece sempre ser revisto, seja pela lindíssima fotografia em preto e branco, seja pela excelente atuação dos atores, seja pelo clima de questionamento e reflexão crítica de temas de grande importância para muitos como a religião. Vale a pena sempre dar uma conferida nos ícones da História do Cinema Mundial como esse filme.

Cartaz do filme


Um cavaleiro que sofrerá um grande desafio...


Uma memorável partida de xadrez.


Se confessando para a morte sem saber


Uma jovial Bibi Anderson ao fundo, Alegria da trupe condenada pela austeridade da religião.

Procissão que exalta o sofrimento


A morte como libertação para as questões existenciais


Bergman, o cara!!!


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Resenha de Filme - Ponte dos Espiões

Ponte Dos Espiões. Mais Um Spielberg Histórico.
Sreven Spielberg está de volta em mais um de seus filmes históricos (sempre lembrando que o espectador é advertido que a história é inspirada em fatos reais). Ah, e com mais uma vez Tom Hanks encarando o personagem protagonista. “Ponte dos Espiões” vai agora nos remeter aos anos mais turbulentos da Guerra Fria, ou seja, lá para o fim da década de 1950 e início da década de 1960, justamente na época da construção do Muro de Berlim, da Invasão da Baía dos Porcos e da Crise dos Mísseis em Cuba. Nessa época, a espionagem estava a pleno vapor em ambos os lados, e o espião Rudolf Abel (interpretado por Mark Rylance) foi descoberto e preso. Obviamente, ele precisaria de um julgamento justo e a espinhosa tarefa de defesa de um espião soviético, ou seja, uma causa praticamente perdida, caiu no colo de James Donovan (interpretado por Tom Hanks), um advogado de firmas de seguro. A ideia é dar apenas um julgamento considerado justo para o agente soviético, já que as cartas eram previamente marcadas. Mas a coisa era bem mais complicada do que parecia, pois Donovan tornou-se persona non grata em todo o país e, apesar disso, ele se empenhou em atenuar o máximo possível os efeitos impactantes da justiça americana sobre seu cliente que, por ser não americano, era considerado sem direitos nos Estados Unidos. Contudo, toda a situação sofreria uma grande reviravolta quando um militar americano seria capturado pelos soviéticos e também acusado de espionagem.
Quais são as virtudes dessa película? Bom, em primeiro lugar, Spielberg se mostrou um bom diretor de filmes históricos, a começar pelo já longínquo “Amistad”. Mesmo que suas películas não reproduzam com fidelidade os fatos históricos, até porque o cinema não tem qualquer compromisso com a realidade, ainda assim é bom ver um diretor consagrado com filmes de aventura e fantasia se lançar por temas mais sérios, o que mostra o quanto sua versatilidade é prolífica. Em segundo lugar, sempre é bom ver Tom Hanks de volta e podemos apreciar seu grande talento de atuação, ainda que com as marcas da idade severamente impressas em seu rosto. O filme realmente gira em torno do personagem principal e Hanks é o centro das atenções. É o tipo do filme que você vai ao cinema para ver o ator e a mão do diretor. Em terceiro lugar, a visão critica do anticomunismo macarthista da época, que estava profundamente enraizado na cultura americana, onde Donovan encontra uma severa resistência na sua tarefa de defender um espião soviético, sendo olhado com reprovação desde sua esposa em casa até os transeuntes do metrô, passando até pela hostilidade de um policial. Esse é um bom relato de como as coisas eram difíceis na época da “caça às bruxas”, num país que sempre se intitulou berço da democracia e da liberdade. Obviamente, os estereótipos da Guerra Fria estavam lá, mas foi bom ver Spielberg relativizar tais estereótipos mostrando também uma truculência americana e, mais do que isso, deixando claro que ambos os lados tratavam com um certo preconceito e desprezo os espiões capturados.

Dessa forma, “Ponte dos Espiões” é um filme que vale muito a pena ser visto e prestigiado pelo grande público, que encheu a sala de exibição. É só pena que os horários sejam um tanto quanto esdrúxulos (ou muito cedo ou muito tarde), dando a nós novamente a impressão da carência de salas de cinema em nossa cidade. O público cinéfilo do Rio de Janeiro merecia um pouco mais de respeito, pois é dele que as salas sobrevivem. Assim, escolha o melhor horário e veja mais esse bom filme da parceria  Spielberg/Hanks.

 
Cartaz do filme

Esse cartaz ficou melhor

Um advogado que entrou numa fria.

Defendendo seu cliente

Levando o caso à Suprema Corte

Película com muita chuva e neve...

Memorável cena de "making of"

Uma dupla que dá caldo...

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Resenha de Filme - Perdido Em Marte

Perdido Em Marte. Vai Plantar Batatas!
E temos em nossas telonas mais um esperado “blockbuster”. “Perdido em Marte”, o novo filme de Ridley Scott (vejam só!!!), inspirado em livro de Andy Weir conta uma história no mínimo, inusitada. Temos aqui uma missão humana em Marte recolhendo amostras do planeta vermelho. Tudo aparenta estar muito bem e nossos amigos astronautas parecem que estão numa colônia de férias. Nem parecia que eles passaram muitos meses confinados viajando. Nada de “stress” psicológico! Tudo bem, é um filme, diriam os defensores da liberdade poética. Mas aí vem uma baita tempestade de areia e um dos membros da tripulação, Mark Watney (interpretado por Matt Damon) sofre o impacto de um objeto instalado por eles,  desaparecendo nas brumas dos fortes ventos. Como a tormenta ameaça virar o foguete, a comandante da missão, Melissa Lewis (interpretada pela bela e cada vez mais presente Jessica Chastain) decide abortar a missão, não sem antes procurar muito Watney, sem sucesso. Assim, a tripulação decola com a nave e deixa nosso protagonista para trás, com comida, água e ar para poucos dias, se considerarmos que não existem linhas de foguetes regulares para Marte que façam a viagem em pouco tempo. Assim, nosso bravo Watney vai ter que se virar para sobreviver até que uma equipe de resgate apareça para salvá-lo. Mas como será o contato de Watney com a Terra? E como será esse resgate? Chega de “spoilers” por aqui.
O leitor pode me perguntar: o filme é bom? Até que sim. Mas extremamente implausível. Eu sei que o cinema é uma arte, que não tem qualquer compromisso com a realidade, etc., mas às vezes, parece que o pessoal carrega demais nas tintas. Foram dadas algumas explicações para a forma como Watney produziria oxigênio, alimento e água para se manter no planeta vermelho por meses a fio. Mas sempre fica aquela questão na cabeça: mesmo que fosse possível, daria para produzir em pouco tempo recursos suficientes para viver? Parece que não. Outro ponto que incomodou bastante foi a excessiva lucidez de Watney em condições tão adversas. Ou seja, não vimos Watney pirando sério na batatinha em nenhum momento. Esse lado psicológico poderia ter sido muito bem explorado. Não vimos crises de desespero, de choro, vontade de cometer suicídio para escapar de uma morte horrível, etc. Todos esses elementos dariam muito mais graça à trama. Ainda, Watney parece um homem sem passado. Ele só faz referência uma vez à sua esposa no filme e em nenhum momento a dor da saudade o assola. Ele parece um ser mecânico, biônico, metódico, ao buscar alternativas de sobrevivência. E o faz de forma descontraída, brincalhona até em alguns momentos, principalmente quando ele reclama do estoque de música “disco” da década de 70 que seus colegas deixaram, como se ele não estivesse nem aí para o fato de que qualquer coisa que desse errado pudesse custar sua vida. Forçada foi também a forma como ele contactou o controle da missão na Terra, praticamente depois de “topar” no deserto marciano com a solução. Todas as situações absurdas e altamente implausíveis do filme nos remetem a algo semelhante que aconteceu com o filme “Gravidade”, estrelado por Sandra Bullock, há algum tempo atrás, onde situações excessivamente inusitadas também permeavam o roteiro.
Mas, e o contexto cinematográfico? Tivemos algumas coisas interessantes, a começar pelo elenco. Além dos já citados medalhões acima, tivemos uma boa presença de Jeff Daniels como diretor da NASA e Chiwetel Ejiofor (de “Doze Anos de Escravidão") como chefe da missão a Marte. A curiosidade foi a presença de Kate Mara, a mulher invisível do novo Quarteto Fantástico, mas ela, coitadinha, continuou com aquela carinha de empada. Um leve toque de “2001, Uma Odisseia no Espaço” é notado no filme, pois a nave que leva a tripulação a Marte tem também as mesmas centrífugas do filme de 1968 que simulavam gravidade. As cenas de gravidade zero ficaram interessantes, embora Chastain parecesse circular na nave flutuando com uma desenvoltura muito excessiva.

Assim, “Perdido em Marte” vale pela diversão e pelo entretenimento, mas peca por uma forçação de barra sem limites. Não tente encaixar qualquer compromisso com a lógica e o bom senso nessa película. Pegue a carona nesse filme e viaje. Pelo menos não há o menor risco de você ficar preso num deserto marciano coberto de ferrugem.

Cartaz do filme

Que fria!!!

A imponente nave espacial da missão

Uma equipe enfrentando adversidades

Curtindo a paisagem. Tá de brincadeira!!!

Mas ele não ficou só parado...

Guardando energias. 

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Um colonizador

Ele parecia não levar muito a sério a enrascada em que estava metido...

domingo, 18 de outubro de 2015

Resenha de Filme - Festa de Despedida

Festa De Despedida. O Velho Tema Da Eutanásia.
Um curioso filme chegou discretamente às nossas telas. “Festa de Despedida” já chama a atenção pela co-produção israelense e alemã. Além disso, é uma película que aborda um velho e batido tema: a eutanásia. Só que o faz de forma diferente. E aí é que reside a curiosidade do filme.
Vemos aqui a história de Yehezkel (interpretado por Ze’ev Revach), um idoso que vive com sua esposa, Levana (interpretada por Levana Finkelstein) num asilo em Jerusalém. O casal presencia o cotidiano das pessoas já no ocaso da vida, ou seja, as limitações físicas, remédios e a fase terminal. Uma esposa amiga do casal, Yana (interpretada por Aliza Rosen) padece com a dor do marido, que tem uma doença irreversível e a medicina nada mais pode fazer senão manter o paciente em condições deploráveis. Desesperada, Yana pede a Yehezkel que a ajude a praticar eutanásia em seu marido. Eles vão procurar a ajuda de Dr. Daniel (interpretado por Ilan Dar), um veterinário que mora no asilo e que sacrifica cachorros em fase terminal, depois de todos os médicos recusarem o pedido de eutanásia de Yana. Em Israel, a prática de eutanásia é punida com a prisão perpétua. Mas ainda ficava a questão: quem aplicaria o medicamento e cometeria o ato de matar? Aí entrou a engenhosidade de Yehekzel, que gostava de construir pequenos aparelhos mecânicos e criou uma máquina onde o próprio paciente apertava o botão que injetava o cloreto de potássio para provocar a parada cardíaca. Yehezkel também usava uma câmara de vídeo para gravar o depoimento do paciente que escolhia a opção da morte. Nos funerais do marido de Yana, o pequeno grupo de idosos é surpreendido por um senhor que tem uma esposa em fase terminal e quer também fazer a eutanásia.
Apesar do filme abordar um tema forte e polêmico, tivemos breves momentos de humor negro que, se fosse mais usado, faria a história fluir com mais suavidade. Uma boa ideia que foi mal aproveitada. A película também tem uma clara inspiração na história real do  “Doutor Morte” Jack Kevorkian, um médico que criou uma máquina onde o próprio doente terminal injetava o líquido letal em seu corpo, depois de gravar um depoimento em vídeo no qual confirmava sua intenção de acabar com a própria vida.
O filme em si não parece tomar uma posição definitiva, pois apesar de aparentemente defender a eutanásia, o ato em si provocava uma enorme comoção nos protagonistas que organizavam todo o procedimento de morte. Há, ainda, uma questão central: se cometer a eutanásia em desconhecidos já é um tema altamente polêmico, o que se pode dizer de tirar a vida de um ente querido, com o qual você viveu muitos anos? Até onde vai a sua coragem nessa situação? Matar um ente querido que sofre à sua frente é mais “fácil” ou “difícil”? Independentemente da resposta que você dá a essa questão (embora pareça que não haja nenhuma específica), uma coisa é certa: você jamais fica indiferente a tudo que fica impresso em suas retinas.
O filme também tem a coragem de abordar um tema muito polêmico, mas sem aprofundá-lo: o homossexualismo na terceira idade. Um dos personagens do filme (não o direi aqui para abrir uma clareira na floresta de “spoilers” que esse artigo se tornou) tem uma relação homossexual com outro e ambos têm um casamento heterossexual. Um deles diz que esse relacionamento homossexual é uma “fase”. Há alguns breves momentos de dilema nesse casal, mas como já dito, a discussão não aprofunda e corre paralelamente à questão da eutanásia, essa sim altamente central no filme. Apesar disso, há um desfecho para a situação do homossexualismo, embora ela tenha sido um tanto simplória e insatisfatória. De qualquer forma, ficou a dica para o roteiro de um outro filme e a coragem de se tocar no assunto num país tão religioso e tradicional como Israel.

Assim, “Festa de Despedida” fala de um velho tema (a eutanásia) dentro de uma abordagem relativamente original que volta a confirmar aquela batida máxima: em assuntos altamente controversos, parece que jamais haverá uma resposta definitiva, ao menos para as mentalidades das sociedades cotidianas. E você? Qual a sua opinião sobre aliviar o sofrimento do próximo? Teria tal coragem?

Cartaz do filme

Yehezkel e Levana. Vida em asilo.

Ligações inusitadas.

Ajudando pacientes terminais a morrer

Conflitos sobre a eutanásia.

Velhinhos safados

Até onde vai a coragem desse grupo?



sábado, 17 de outubro de 2015

Resenha de Filme - A Pele de Vênus

A Pele De Vênus. Uma Audição Masoquista.
Roman Polanski está de volta. “A Pele de Vênus” fala de um dramaturgo chamado Thomas (interpretado por Mathieu Almaric) que faz testes para escolher uma atriz para sua peça, que é uma adaptação de um texto de Leopold von Sacher-Masoch, cujo nome deu origem ao termo “masoquismo”. Thomas já tomava o caminho de casa naquele fim de tarde chuvoso, quando uma loura estonteante de nome Wanda (interpretada por Emmanuelle Seigner) chega para fazer o teste. A mulher, inicialmente muito vulgar, provoca desdém em Thomas que acaba, com muita relutância, lhe dando uma chance. Quando Wanda (que tem o nome da mesma personagem que interpreta) começa sua atuação, os olhos de Thomas voltam-se completamente para ela. A partir daí, a leitura do texto se confunde com a realidade e não sabemos mais quando eles interpretam ou falam abertamente de suas vidas e desejos. Há cortes abruptos nas falas, marcando quando se é um ensaio, quando se é uma conversa entre diretor e atriz. Mas essa fronteira se torna cada vez mais nebulosa e as intenções masoquistas do diretor sobem à tona, enquanto que Wanda o desmascara. A forma como o roteiro foi escrito merece um destaque especial, em virtude dessas situações híbridas que presenciamos. Devemos frisar aqui que Emmanuelle Seigner deu um show de sensualidade e, acima de tudo, de interpretação. De aspirante a atriz atrapalhada, passando por mulherzinha vulgar, uma boa atriz e chegando até a dominatrix perversa, Seigner desenrolou todo o repertório de seu talento com altíssima maestria e foi o que fez valer o ingresso. Polanski também fez mais uma vez um filme inspirado no teatro, só que, dessa vez, com o próprio teatro como pano de fundo. O filme praticamente todo foi em cima do trabalho dos dois atores no palco, com um cenário que não tinha nada a ver com o ensaio, já que ele pertencia a outra peça, somente para tornar a situação mais estranha ainda e valorizar o texto, muito bem escrito, podendo ser interpretado em qualquer outro lugar.

Por essas e por outras, “A Pele de Vênus” é mais um interessante filme desse importante diretor que é Roman Polanski.


Cartaz do filme

Um diretor em busca de uma atriz

Atuação memorável de Emmanuelle Seigner 

Aos poucos, a dominação se inverte

MULHERÃO!!!!

Um diretor que dirige outro

Polanski reverencia sua atriz

Polanski na direção