domingo, 18 de outubro de 2015

Resenha de Filme - Festa de Despedida

Festa De Despedida. O Velho Tema Da Eutanásia.
Um curioso filme chegou discretamente às nossas telas. “Festa de Despedida” já chama a atenção pela co-produção israelense e alemã. Além disso, é uma película que aborda um velho e batido tema: a eutanásia. Só que o faz de forma diferente. E aí é que reside a curiosidade do filme.
Vemos aqui a história de Yehezkel (interpretado por Ze’ev Revach), um idoso que vive com sua esposa, Levana (interpretada por Levana Finkelstein) num asilo em Jerusalém. O casal presencia o cotidiano das pessoas já no ocaso da vida, ou seja, as limitações físicas, remédios e a fase terminal. Uma esposa amiga do casal, Yana (interpretada por Aliza Rosen) padece com a dor do marido, que tem uma doença irreversível e a medicina nada mais pode fazer senão manter o paciente em condições deploráveis. Desesperada, Yana pede a Yehezkel que a ajude a praticar eutanásia em seu marido. Eles vão procurar a ajuda de Dr. Daniel (interpretado por Ilan Dar), um veterinário que mora no asilo e que sacrifica cachorros em fase terminal, depois de todos os médicos recusarem o pedido de eutanásia de Yana. Em Israel, a prática de eutanásia é punida com a prisão perpétua. Mas ainda ficava a questão: quem aplicaria o medicamento e cometeria o ato de matar? Aí entrou a engenhosidade de Yehekzel, que gostava de construir pequenos aparelhos mecânicos e criou uma máquina onde o próprio paciente apertava o botão que injetava o cloreto de potássio para provocar a parada cardíaca. Yehezkel também usava uma câmara de vídeo para gravar o depoimento do paciente que escolhia a opção da morte. Nos funerais do marido de Yana, o pequeno grupo de idosos é surpreendido por um senhor que tem uma esposa em fase terminal e quer também fazer a eutanásia.
Apesar do filme abordar um tema forte e polêmico, tivemos breves momentos de humor negro que, se fosse mais usado, faria a história fluir com mais suavidade. Uma boa ideia que foi mal aproveitada. A película também tem uma clara inspiração na história real do  “Doutor Morte” Jack Kevorkian, um médico que criou uma máquina onde o próprio doente terminal injetava o líquido letal em seu corpo, depois de gravar um depoimento em vídeo no qual confirmava sua intenção de acabar com a própria vida.
O filme em si não parece tomar uma posição definitiva, pois apesar de aparentemente defender a eutanásia, o ato em si provocava uma enorme comoção nos protagonistas que organizavam todo o procedimento de morte. Há, ainda, uma questão central: se cometer a eutanásia em desconhecidos já é um tema altamente polêmico, o que se pode dizer de tirar a vida de um ente querido, com o qual você viveu muitos anos? Até onde vai a sua coragem nessa situação? Matar um ente querido que sofre à sua frente é mais “fácil” ou “difícil”? Independentemente da resposta que você dá a essa questão (embora pareça que não haja nenhuma específica), uma coisa é certa: você jamais fica indiferente a tudo que fica impresso em suas retinas.
O filme também tem a coragem de abordar um tema muito polêmico, mas sem aprofundá-lo: o homossexualismo na terceira idade. Um dos personagens do filme (não o direi aqui para abrir uma clareira na floresta de “spoilers” que esse artigo se tornou) tem uma relação homossexual com outro e ambos têm um casamento heterossexual. Um deles diz que esse relacionamento homossexual é uma “fase”. Há alguns breves momentos de dilema nesse casal, mas como já dito, a discussão não aprofunda e corre paralelamente à questão da eutanásia, essa sim altamente central no filme. Apesar disso, há um desfecho para a situação do homossexualismo, embora ela tenha sido um tanto simplória e insatisfatória. De qualquer forma, ficou a dica para o roteiro de um outro filme e a coragem de se tocar no assunto num país tão religioso e tradicional como Israel.

Assim, “Festa de Despedida” fala de um velho tema (a eutanásia) dentro de uma abordagem relativamente original que volta a confirmar aquela batida máxima: em assuntos altamente controversos, parece que jamais haverá uma resposta definitiva, ao menos para as mentalidades das sociedades cotidianas. E você? Qual a sua opinião sobre aliviar o sofrimento do próximo? Teria tal coragem?

Cartaz do filme

Yehezkel e Levana. Vida em asilo.

Ligações inusitadas.

Ajudando pacientes terminais a morrer

Conflitos sobre a eutanásia.

Velhinhos safados

Até onde vai a coragem desse grupo?



Nenhum comentário:

Postar um comentário