terça-feira, 28 de abril de 2015

Resenha de Filme - A Viagem de Yoani

A Viagem de Yoani. Discussões Sobre Autoritarismo E Democracia.
Um excelente documentário nas telas. “A Viagem de Yoani”, dirigido por Raphael Bottino e Peppe Siffredi fala sobre a viagem da blogueira cubana Yoani Sanchez ao Brasil e do que aconteceu durante sua estada por nosso país, mais especificamente na Bahia. Sanchez ficou mundialmente conhecida ao fazer o blog “Geração Y”, que denuncia a falta de liberdade de expressão em Cuba. Com muito custo, Sanchez montou um computador 286 e conseguiu acesso à internet. Seu blog hoje é visto por muitas pessoas e se tornou uma das principais vozes de oposição ao governo cubano. Com a projeção internacional, Sanchez começou a viajar ao exterior, inicialmente a muito custo, pois os cubanos não tinham autorização para sair do país. Entretanto, depois que Fidel saiu do poder por motivos de saúde, Raul Castro começou um lento e gradual processo de abertura política, onde ele deu permissão aos cubanos para viajar para o exterior. E assim, Sanchez fez uma viagem ao Brasil, país onde ela encontrou muito apoio na sua luta por viajar para outros países.
Entretanto, Sanchez não só encontrou apoio por aqui. Vários grupos de esquerda a hostilizaram na sua viagem à Bahia, comportando-se de forma muito autoritária. Foi extremamente lamentável ver Eduardo Suplicy, que ciceroneou a blogueira cubana, ter que bater boca contra uma massa que simplesmente não queria o debate e só gritava palavras de ordem. O então senador lembrava que sempre lutou pelo socialismo com democracia e que a própria Yoani Sanchez era contra o embargo econômico que Cuba sofria.
Por outro lado, ficou muito claro no filme que Sanchez foi muito bem recebida por setores extremamente conservadores, autoritários, direitistas e golpistas da sociedade, sobretudo quando da sua visita ao Congresso, quando vimos a blogueira ser muito bem recebida pela bancada ruralista e por figuras que ainda defendem a ditadura militar no Brasil. A moça, que não tem muito conhecimento da história de nosso país, optou pelo diálogo com todos os setores, da esquerda até a direita. Aliás, ela declara que não toma qualquer posicionamento político, buscando apenas exercer o direito de discordar das atitudes que o governo de seu país toma.
É um filme que trabalha as diferentes visões de democracia e autoritarismo em países como Cuba e Brasil. Se o governo cubano num primeiro momento se tornou um baluarte contra o imperialismo, ele também acabou por se fechar e não respeitar mais a liberdade de expressão, sobretudo após os ataques americanos, seja no campo militar, como a tentativa americana mal sucedida de invasão à Baía dos Porcos, seja no campo econômico, como no embargo da Lei Helms-Burton. Essa atitude de se fechar politicamente e endurecer suas posições quando sob ataque já fora vista durante a Revolução Francesa no governo dos jacobinos e no governo bolchevique da Revolução Russa. Yoani Sanchez critica as atitudes do governo cubano sob esse aspecto, segundo suas próprias palavras. Os setores da esquerda brasileira que a hostilizavam pareciam exagerar quando diziam que ela era uma “mercenária vendida aos americanos”. De qualquer forma, é inegável que a mídia americana aproveitou a situação para criticar novamente o governo cubano.
Yoani critica o governo autoritário de Cuba, a esquerda brasileira se comporta de forma autoritária com ela. Mas não podemos nos esquecer que o Brasil, apesar de se intitular uma democracia, tem também atitudes muito autoritárias e antidemocráticas. E, se em Cuba, Yoani critica uma ditadura de esquerda, aqui nós amargamos uma ditadura de direita que deixou sequelas graves em nossa suposta democracia. Uma delas é o comportamento autoritário em todos os setores. Ninguém aqui tem muito saco para escutar a opinião divergente do outro, seja nos já citados grupos de esquerda, seja na mídia de direita, que possui poder econômico suficiente para manipular as informações ao seu bel prazer aos olhos complacentes do governo que, para se dizer democrático, deixa tal mídia trabalhar livremente. Essas são realidades que Yoani Sanchez não conhece do Brasil, assim como não conhecemos a realidade de Cuba tal como Yoani conhece, como a limitação à informação.
De qualquer forma, tem havido uma abertura em Cuba, sobretudo depois do reatamento das relações com os Estados Unidos, algo que fez Yoani elogiar até os irmãos Castro. O grande desafio de Cuba é, nas próprias palavras de Suplicy, promover um socialismo democrático, ou seja, permitir a liberdade de expressão e política, além de manter as conquistas sociais do socialismo. Já nós aqui no Brasil temos o desafio de aprimorar nossa democracia, profundamente injusta, com sérios resquícios de autoritarismo, escravismo e corrupção, onde as conquistas sociais do socialismo passam muito longe. Yoani disse sabiamente que o diálogo é importante para mostrar que Cuba não necessariamente é um paraíso nem o mundo capitalista é um inferno. Pode-se complementar essa frase dizendo que o mesmo vale para o contrário.

Concluindo, podemos dizer que a blogueira cubana conhece um mundo onde suas visões de liberdade e autoritarismo são diferentes das nossas. Para ela, a falta de liberdade foi gerada por uma ditadura de esquerda. Por aqui, a falta de liberdade foi gerada por anos e anos de elites direitistas no poder. Para que um possa compreender melhor o outro, só com muito diálogo, sem visões planas e acabadas provocadas por pensamentos autoritários sejam de quaisquer tendências políticas que eles sejam.


Cartaz do filme


Yoani Sanchez, em viagem ao Brasil.


Uma agente dos Estados Unidos?


Um debate tenso.

Sangue frio nas vaias...


Suplicy e as tentativas de diálogo


Momentos extremamente tensos...


No Congresso Nacional, cercada por políticos de tendências... hummm, deixa para lá...




segunda-feira, 27 de abril de 2015

Resenha de Filme - Os Vingadores.A Era de Ultron


Os Vingadores, A Era De Ultron. Super Heróis Em Cheque.
E saiu a tão esperada sequência de “Os Vingadores”. “A Era de Ultron” é mais um filme a sofrer com a chamada “maldição das sequências”, ou seja, dificilmente uma continuação é melhor que o primeiro filme. De qualquer forma, não é um filme de se jogar fora. Ele tem tudo aquilo com que já estamos acostumados: muitas cenas de ação regadas a toneladas de efeitos especiais, cimentadas pelo bom humor visto também no primeiro filme. Mas talvez não haja grandes novidades, pois já tivemos três filmes do Homem de Ferro, dois filmes do Capitão América, dois do Thor, dois do Hulk, além do primeiro filme dos vingadores, ou seja, uma verdadeira overdose desses personagens da Marvel. Será que já deu no saco? Para os fãs de carteirinha da Marvel, provavelmente não. Mas ficou aquela impressão de que já vimos muito daquilo em outras oportunidades.
Apesar dessa impressão, o filme não é de se jogar fora. O que podemos dizer que há de original nesse filme? O questionamento da ética dos Vingadores, sobretudo pelas atitudes de Tony Stark. O grande empresário e cientista decide por conta própria e sem perguntar a nenhum de seus colegas (com exceção de Bruce Banner, que embarca na conversa de Stark) criar uma inteligência artificial que defendesse o planeta de perigosas ameaças alienígenas. Assim, Ultron é gerado. Mas um bugzinho miserável faz essa nova entidade entender que a paz mundial passa pela destruição dos vingadores, assim como passa pela extinção da própria espécie humana. O mais curioso é que essa entidade consegue viajar pelas conexões da internet e, por mais que ele seja destruído fisicamente (Ultron vai arrumar um corpo mecânico para dar suas voltinhas apocalípticas por aí), a inteligência artificial sempre volta para a rede para ressurgir em outro lugar, não sendo destruído definitivamente. Obviamente, os super heróis colegas de Stark vão ficar revoltados. Cabe dizer que Stark tomou essa atitude depois de sofrer o ataque da Feiticeira Escarlate, que provoca alucinações em suas vítimas. Stark viu todos os seus colegas mortos e acreditou que isso foi mais uma premonição do que uma alucinação. Para piorar a situação, o filme dos Vingadores ficou bem queimado quando Hulk, também tomado pelas alucinações da Feiticeira Escarlate, destruiu boa parte da cidade de Nova York, principalmente depois que ele começou uma batalha com o Homem de Ferro, armado de Verônica, uma super armadura que era páreo para o Hulk. Assim, com a autoestima lá embaixo, o grupo de heróis vai ter que lutar contra o exército de Ultron, que também desenvolve, usando tecido humano, uma nova inteligência artificial, ainda mais poderosa.
A atitude meio que megalomaníaca e inconsequente de Stark vai provocar desentendimentos entre o grupo, onde o Capitão América se mostrará o mais desapontado. De qualquer forma, Stark se redime ao se arriscar novamente e terminar a geração do “filho de Ultron” que, para a sorte dos super heróis, ficou do lado dos humanos. Mas até a gestação da nova inteligência artificial não foi feita sem um stress entre os vingadores, onde tivemos a oportunidade de vê-los saindo no braço.
Outro elemento interessante foi o “affair” entre Bruce Banner e a Viúva Negra. A personagem durona era a que acalmava o monstro verde e tinha diálogos digamos interessantes com o calmo doutor. Mas Banner jogava na defensiva, já que acreditava que não poderia dar um futuro estável para a moça.
Dessa forma, se “Vingadores, A Era de Ultron” parece reproduzir uma fórmula um tanto desgastada, o filme ainda apresenta alguns atrativos, sendo o principal a questão ética envolvida em torno das atitudes de Stark que, na sua busca pela paz mundial, acabou criando uma tremenda dor de cabeça. O mais assustador é que a inteligência artificial Ultron tinha algumas características de Stark, algo que a entidade negava categoricamente. A criatura rechaçava totalmente seu criador e queria destruí-lo, lembrando um pouco os parricídios do teatro expressionista alemão do início do século passado, guardadas, obviamente, as devidas proporções. Vale a pena dar uma conferida, pois o filme não deixa de ser uma diversão garantida.

Cartaz do filme.



Desta vez, o Homem de Ferro pisou na bola. Não sobrou muito dela...



Capitão América e Thor, desapontados com Stark...



Não façam isso!!!!



Um vilão criado pelos heróis...






 
Verônica, uma armadura iradíssima!!!


Irmãozinhos espevitados...



Calmante para Hulk...



Sem as armaduras...





sábado, 25 de abril de 2015

Resenha de Filme - Sr. Kaplan

Sr. Kaplan. Vida Alimentada Pelo Sonho.
Nós não temos muito contato com o cinema uruguaio. Poucos filmes vêm para cá, se compararmos com as películas argentinas. Desta vez, tivemos a oportunidade de presenciar uma boa história lá da Banda Oriental. “Sr. Kaplan” tem uma trama interessante. O filme fala de um senhor judeu bem idoso, o tal sr. Kaplan (interpretado por Héctor Noguera), que fugiu dos nazistas na 2ª Guerra Mundial. Os efeitos da idade fazem com que nosso protagonista seja visto com reservas por seus amigos e até por sua família, já que ele nem consegue mais dirigir o seu carro direito. Os filhos chegam a contratar um motorista para o velho, o gordinho Contreras (interpretado por Néstor Guzzini), um ex-policial que foi abandonado pela família. Obviamente, o sr. Kaplan não gostou nada da ideia. Mas logo, logo os dois formarão uma dupla, já que o velhinho, num desses acasos da vida, foi parar numa praia mais afastada e encontrou um alemão (interpretado por Rolf Becker), dono de um pequeno restaurante. Como o estabelecimento comercial se chamava “Estrela”, o sr. Kaplan fez uma associação com o navio “Stern” (“Estrela” em alemão), que trouxe uma leva de oficiais nazistas fugidos da Europa após o fim da guerra. Kaplan e Contreras, então, farão uma investigação para descobrir se o alemão suspeito é ou não um nazista. E fica em nós a expectativa de se os devaneios do velhinho têm procedência ou não.

É uma história um tanto divertida, mas arrastada. O que salva é justamente a curiosidade de se o alemão é nazista ou não. O desfecho não chega a ser óbvio, havendo uns meandros que nos ajudam a enxergar a complexidade da guerra. Um elemento a mais está no personagem de Contreras, onde vemos em flashback o seu passado de policial e o porquê dele ter sido abandonado pela família. É uma história de derrotados que buscam dar a volta por cima. O inconformismo de Kaplan com a velhice e as limitações que ela traz levam o velhinho a encarar a louca missão de sequestrar o suposto nazista para submetê-lo a julgamento e terminar os seus dias como herói de seu povo. Seu motorista Contreras, um desempregado beberrão que passa madrugadas em bares preso à máquinas de flippers, mira-se no exemplo de seu idoso patrão e se encoraja a tomar um novo rumo na vida, recuperando o coração de sua família. Essa dupla de excluídos irá justamente dar força um para o outro para novamente fazer a diferença. Dessa forma, a camaradagem entre os dois é a tônica dessa interessante película uruguaia. É só uma pena que o final do filme fique um pouco solto, uma espécie de anticlímax. A coisa poderia ser um pouco mais fantasiosa, o que cairia bem num filme de pequena ópera do absurdo. Mas parece que o roteirista e diretor Álvaro Brechner preferiu um maior choque de realidade, o que tornou a trama um tanto chocha em sua conclusão. Lamentável para nossos dois personagens, principalmente para o sr. Kaplan. Ele merecia um final mais à altura de seu espírito de luta. De qualquer forma, ainda vale dar uma olhadinha no filme pela boa ideia e pelos laços de afetividade dos protagonistas principais.

Cartaz do filme


Sr. Kaplan. Um idoso em busca de reconhecimento.


Com Contreras, de motorista a fiel escudeiro...


Buscando pistas nos locais mais exóticos...


Kaplan e Contreras em missão. 


Um alemão suspeito.


Contato inevitável.


Será esse alemão um nazista???


O diretor Álvaro Brechner dirigindo seus atores...





terça-feira, 21 de abril de 2015

Resenha de Filme - Timbuktu

Timbuktu. Violência Em Nome De Deus.
Um interessante filme vindo da África, mais especificamente da Mauritânia, dirigido por Abderrahmane Sissako, passou por nossas telas. “Timbuktu” concorreu esse ano ao Oscar de melhor filme estrangeiro e trata de uma cidadezinha no interior da Mauritânia onde um grupo radical islâmico governa com mão de ferro. Os integrantes desse grupo baixam várias leis baseadas em suas interpretações do Alcorão. Assim, mulheres são obrigadas a usar luvas para não deixar suas mãos expostas, homens precisam usar as calças com tamanho mais reduzido para as pernas ficarem expostas, ninguém pode se aglomerar às portas de suas casas para ficar à toa conversando, meninas não podem falar ao celular, etc., sob a pena de serem levados presos, irem a julgamento e serem punidos com chibatadas. Músicas, inclusive religiosas, são também proibidas. É muito difícil se rebelar contra tal grupo, pois seus integrantes estão fortemente armados. O único homem que fala de igual para igual com o grupo é o líder religioso local, que questiona abertamente as leituras que os radicais fazem das escrituras sagradas, dando um significado mais harmônico e pacífico para as interpretações do Alcorão. Sua serenidade é um contraponto às visões radicais e é a grande virtude do filme, onde fica bem claro que o fundamentalismo não é a caraterística preponderante no islamismo. Os atos radicais são contestados, usando como argumentos as próprias palavras de Alá. Quando os radicais invadem o templo religioso, onde todos rezam, para divulgar as novas leis, o líder os expulsa, pois eles cometem a enorme blasfêmia de terem entrado armados lá. O líder religioso questiona o grupo inclusive usando a argumentação de onde está a compaixão e o perdão presentes nas palavras de Alá. Tais características tornam essa película mais reflexiva, relativizando os valores da cultura islâmica e não caindo na fácil armadilha da demonização dos muçulmanos, criando estereótipos baseados na pura e simples exposição de um fundamentalismo.
Além dessa virtude, o filme tem mais ainda a nos oferecer. Temos aqui também um drama familiar, onde um criador de vacas que mora longe do povoado tem uma vida pacata com sua esposa, filha e um menino pastor das vaquinhas. A mais valiosa delas é chamada de GPS e o menino pastor as leva para o rio próximo para beber água. Deve ser dito aqui que a região onde está a cidade de Timbuktu é de desertos e o rio, apesar de muito raso, é a mais importante fonte de água da região. Mas um pescador coloca lá suas redes, achando-se o dono do local. Na hora de beber água, GPS se enrola nas redes e é morta pelo pescador. O criador de vacas vai, então, tomar satisfações com o pescador e acaba matando o dono das redes depois de uma briga. Obviamente, será preso pelos fundamentalistas e condenado à morte. O ato de atacar o pescador foi uma espécie de reação por parte do criador de vacas às humilhações impostas pelos radicais. Alguns deles, inclusive, rodeavam sua tenda no deserto quando a esposa estava sozinha, chegando a cortejá-la. O criador de vacas sabia que ia morrer, mas a única coisa que realmente lhe causava dor era o fato de que não ia mais ver a sua filhinha.
O filme também tem a virtude de criar um diálogo entre a tradição e a modernidade. Todos se comunicam por celular, até o criador de gado com a sua esposa. Sua melhor vaca se chama GPS. Os rapazes de Timbuktu discutem sobre futebol e sobre até uma suposta venda da Copa do Mundo para a França em 1998 por parte do Brasil em troca de um contêiner de arroz para o nosso país, já que para o povo de Timbuktu, o Brasil é um país muito pobre (risos de ironia e de fundo de verdade, já que realmente ainda temos muita gente abaixo da linha de pobreza). A proibição da bola de futebol por parte dos fundamentalistas criou uma linda sequência onde os rapazes da cidadezinha jogavam futebol com uma bola imaginária, num balé que é uma verdadeira declaração de amor ao esporte. Mesmo nos confins da África, a camisa de Messi, do Barcelona, estava lá.
O filme também enfoca o aspecto da loucura como ato libertador. A única mulher do povoado que não sofria qualquer represália dos fundamentalistas, não usava burka ou luvas e se vestia de forma multicolorida, era uma idosa dada como louca. Andando com um galo (???) debaixo do braço, a mulher cantarolava e dançava livremente pela cidade, sob os olhares indiferentes dos radicais, que acharam que ela tinha simplesmente pirado na batatinha. Mas aí fica a pergunta: será que a mulher pirou mesmo? Ou era uma estratégia para fugir de uma loucura bem maior? Até porque, em contrapartida, as moças bonitas muito sofriam, pois eram simplesmente obrigadas a casar com os fundamentalistas, sob as mais diversas ameaças de violência.

Por essas e por outras, “Timbuktu” é um excelente filme, pois relativiza nossa visão plana do islamismo, tem um interessante drama e faz um bom diálogo entre a tradição e a modernidade.


Cartaz do filme



Uma cidadezinha governada por radicais.



Repressão às mulheres da cidade.



Mulher enfrentando o autoritarismo...



Futebol sem bola...


Um líder religioso que peita os radicais.



Uma família feliz, longe de tudo..


Uma briga que terminará em morte. 



Resignação com a morte iminente e a dor de não poder mais ver a filha.



Uma esposa desolada com a perda do marido.



África em Cannes!!!!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Resenha de Filme - Não Olhe Para Trás.

Não Olhe Para Trás. Um Al Pacino Light.
E não é que Al Pacino voltou com força total? Depois de “O Último Ato”, o bom ator ítalo-americano nos brinda com mais uma produção e seu bom talento, no excelente filme “Não Olhe Para Trás”. E ele vem amparado por um elenco de respeito: Annette Bening, Jennifer Garner e o sempre bom Christopher Plummer. É mais um filme baseado numa história real, que anuncia tal detalhe em seu início talvez da forma mais apropriada possível para um cinema que fala da realidade, mas carregado de licenças poéticas: “Este filme é baseado um pouquinho numa história real”. Formidável. É a estreia na direção do roteirista Dan Fogelman. E que estreia.
Mas que história real é essa? É a história de Steve Tilson, um cantor inglês que, em 1971 disse numa entrevista que tinha medo que a fama alterasse seu estilo de vida e sua veia criativa. O detalhe é que John Lennon leu a entrevista e lhe escreveu uma carta dizendo que a fama jamais deveria desvirtuá-lo e que ele deveria continuar como sempre foi, além de manter sua criatividade intacta. O problema é que a carta jamais chegou a Tilson, já que ela parou nas mãos da revista e vendida posteriormente para um colecionador. Somente trinta e cinco anos depois, Tilson teve acesso à carta. Pois bem. No filme, Tilson é o personagem Danny Collins (interpretado por Pacino), um famoso pop star que vivia de fazer apresentações para os seus devotados fãs de longa data e tocar seus antigos hits, algo que muito o incomodava, pois ele queria fazer novas composições. O velho cantor tinha uma vida regada a vícios como álcool e cocaína, além de colecionar amantes mais novas que ele. Seu empresário, Frank (interpretado por Plummer) lhe deu a tal carta de Lennon de presente. E aí, rolou um insight em nosso protagonista. Se ele tivesse lido a carta de Lennon trinta e cinco anos antes, onde o ex-beatle tinha inclusive lhe deixado seu número de telefone, talvez Collins não teria tido uma vida cheia de extravagâncias e ela teria sido construída com um pouco mais de sentido. Foi aí que Collins tenta dar uma guinada em sua vida, abandonando as drogas e se hospedando no hotel Hilton de Nova Jersey, onde conhece a funcionária Mary (interpretada por Bening), tentando começar um affair com ela. Mas, ao mesmo tempo, Collins tenta se aproximar com seu filho Tom (interpretado por Bobby Canavale), que teve com uma fã e que já está na idade adulta. Mas essa aproximação será muito difícil.
O filme é uma boa comédia dramática com “C” maiúsculo. Al Pacino, não precisamos nem dizer que sempre dá um show. Vale ressaltar aqui que, em comparação com seu outro filme, “O Último Ato”, temos em “Não Olhe Para Trás” um personagem mais leve, mais bem humorado, sorridente e divertido, que se afasta um pouco daqueles personagens mais conflituosos que Pacino interpreta, embora Danny Collins também traga em si o conflito. Nós temos também a chance de ver Pacino cantando, a título de curiosidade. O bom elenco do filme ajuda Pacino. Ver a dupla Pacino-Plummer e Pacino-Bening interpretando é um verdadeiro colírio para os olhos. Somente isso já vale o ingresso. Mas a história tem uma boa química. A gente ri muito e se emociona nos momentos certos. Logo, a comédia e o drama estão bem equilibrados, não se tornando nem um filme engraçado demais, nem pesado demais. E a trama flui sem cansar, onde nossa atenção fica presa totalmente na tela até o fim. É o tipo do filme em que não consultamos o relógio durante a sessão e quando acaba, nem percebemos. Mas ficamos satisfeitos com o resultado que vimos.

Dessa forma, “Não Olhe Para Trás” é um excelente filme, mais uma boa produção que conta com Al Pacino e um elenco com ótimos atores, e vê-los contracenando com o grande ator ítalo-americano é um deleite, além de mostrar um equilíbrio muito acurado entre comédia e drama. Não deixem de assistir.

Cartaz do filme


Danny. Um pop star cansado dos próprios sucessos.


Frank e Danny. Amigos inseparáveis.


Uma família da qual Danny tenta se aproximar


O relacionamento com o filho não será fácil


Relacionamento com Mary. Um dos bons pontos do filme.


Belo ônibus, não???

domingo, 19 de abril de 2015

Resenha de Filme - Falcões da Noite.

Falcões Da Noite. Visões Do Terrorismo De Décadas Atrás.
Imagine um filme com Sylvester Stallone, Rutger Hauer, Billy Dee Williams (nosso Lando Calrissian), Lindsay Wagner (a lendária Mulher Biônica da década de 1970) e Persis Khambatta (a Ilia de “Jornada nas Estrelas, o Filme”). Pois é, caro leitor, isso aconteceu! Mais especificamente, no longínquo ano de 1981, no filme “Falcões da Noite” (“Nighthawks”), um delicioso thriller de ação policial. Vamos recordar aqui essa interessante história.
A trama fala de dupla de policiais Deke DaSilva (interpretado por Stallone) e Fox (interpretado por Williams). A atividade deles consistia em fazer tocaias para bandidos na rua. O plano, por sinal muito exótico, era o seguinte: DaSilva se disfarçava de pessoas acima de qualquer suspeita: um senhor respeitável de terno e gravata, uma senhora (?!?!), etc., e se metia nos piores buracos de Nova York, atraindo os bandidos. Mas Fox estava à espreita e DaSilva, obviamente, preparado para a tocaia. No início do filme, chega a ser hilário o que DaSilva fala ao bandido depois de tirar seu disfarce de uma respeitável senhora: “Vem me atacar, He-Man!!!”. Bem antenado com o zeitgeist (“espírito da época”). E assim, entre muitas armadilhas, bocas de fumo estouradas e muita, muita porrada, nossos estimados policiais vão vivendo. Infelizmente, isso traz problemas para nosso DaSilva, pois sua antiga namorada, Irene (interpretada pela “biônica” Lindsay Wagner) quer que ele saia daquela vidinha complicada. Um belo dia, os dois são recrutados para participar de uma divisão antiterrorismo, pois um terrorista internacional muito perigoso, Heymar “Wulfgar” Reinhardt (interpretado por Hauer) chega a Nova York depois de se indispor com todos os grupos terroristas e revolucionários, já que suas técnicas eram extremamente violentas. Ou seja, nosso terrorista pirou na batatinha e decidiu agir por conta própria, de forma free-lancer. Na verdade, ele tinha a ajuda da perigosa Shakka Holand (interpretada por Khambatta). No início, DaSilva e Fox não aguentavam as exaustivas aulas. E DaSilva se desentendeu com o instrutor, pois não queria abrir fogo contra o terrorista em situações em que inocentes estivessem em perigo, já que DaSilva, assim como Fox, eram veteranos de guerra do Vietnã (um embrião do Rambo?), ficando implícitos os traumas de guerra no protagonista.
Wulfgar tinha por hábito se envolver com moças para transformar seus apartamentos em uma espécie de base para ele. Feito isso, ele as assassinava, sempre dizendo “você vai para um lugar melhor”. Assim, temos várias cenas onde Wulfgar procurava suas presas em discotecas, onde podemos atestar os ritmos musicais da época. Em alguns momentos, parece que estamos vendo “Os Embalos de Sábado à Noite” e John Travolta aparecerá do nada para dançar. Aliás, a trilha sonora do filme, composta por Keith Emerson, é show! Uma batida instrumental cheia de tensão, com o devido espírito da época! Algo que soa muito diferente do que se ouve por aí hoje em dia.
Rutger Hauer conseguiu fazer um grande vilão, o primeiro de sua carreira, estourando em “Blade Runner” pouco tempo depois. O mais irônico de tudo é que ele era considerado um terrorista internacional muito perigoso e as supostas técnicas dos policiais de rua de Nova York não seriam suficientes para capturá-lo. Entretanto, foi com tais técnicas ultrapassadas que DaSilva pegou Wulfgar. E adivinhem qual foi? Isso mesmo, caro leitor, DaSilva se vestiu de mulher!!!! Wulfgar foi à casa de Irene, o amor de DaSilva, para matá-la. Ele via a moça de costas com um vestido rosa e sua longa cabeleira loura. Quando ele se aproximou com a faca para dar cabo de Irene, ela se vira e vemos um Stallone barbado com peruca loura e vestido rosa apontando a arma para ele (aaaarrrrrgghhhhh!!!!). Wulfgar ficou tão traumatizado que demorou uns dois minutos para processar aquela grotesca informação em seu cérebro. Quando ele decidiu atacar, foi prontamente fuzilado por DeSilva.
Apesar de ser um filme de ação trivial, não podemos deixar de perceber alguns lances interessantes. Os personagens de Stallone e de Fox conseguiam ser duas vacas bravas, mas, ao mesmo tempo, ter alguma serenidade, não sendo tão caricatos. Foi legal ver Stallone numa interpretação não tão exótica assim, como o foi em muitos de seus filmes. Ou seja, sua paralisia facial ainda não era a estética dominante de sua interpretação. E ele deu conta do recado. Billy Dee Williams mostrou que não é somente Lando Calrissian, fazendo o fiel escudeiro Fox, que se indignava profundamente com o traficante da boca de fumo que lhe oferecia dinheiro, mas ao mesmo tempo era uma voz de temperança para DaSilva, ao convencê-lo a não abandonar a unidade antiterrorista. Persis Khambatta poderia ter sido mais aproveitada, mas ainda sim sua participação foi maior que a de Lindsay Wagner. Essa sim apareceu muito pouco no filme, o que é de se lamentar bastante.
Outra virtude da película é atestarmos as visões de terrorismo da época, ainda muito vinculadas a movimentos revolucionários. Wulfgar se vangloriava de defender uma causa. Ele se acreditava um defensor e libertador dos oprimidos, numa visão um tanto romântica da coisa. Ao escutar isso, DaSilva só falava, em tom de questionamento e com sarcasmo: “Você acha, é?”, ao que Wulfgar retrucava: “Isso te fascina”. Se o policial questionava o terrorista em tom de pouco caso, até porque, na visão do policial, Wulfgar era um louco e era bom não contrariar, vemos um traço de romantismo e ideologia no terrorista, até porque, naquela época, os Estados Unidos ainda patrocinavam muitas ditaduras no mundo ocidental, sobretudo na América Latina. É inclusive citado que a América do Sul estava cheia de revolucionários. Logo, a existência de muitos grupos revolucionários no mundo ocidental era algo que fazia parte da realidade daquele tempo. Hoje em dia, os terroristas não têm rosto e vêm de mais longe, mais especificamente do Oriente Médio, não havendo nacionalidades definidas e sim grupos armados que são extremamente demonizados pela mídia. É um terrorismo mais violento, cruel e aparentemente sem romantismos, embora as ideologias ainda estejam lá escondidas. E o cinema, geralmente, auxilia no processo de demonização. Wulfgar tinha rosto, se reportava à mídia em telefones públicos próximos ao local dos atentados, ou seja, cometia erros que os terroristas de hoje jamais cometeriam. Podemos atestar, então, nas produções cinematográficas ao longo do tempo, um processo que vai de um terrorismo mais “romântico” e menos planejado no passado para um terrorismo de hoje mais frio e calculista.

Assim, “Falcões da Noite” é um interessante filme das antigas por mostrar a nós como determinados conceitos e formas de comportamento se alteram ao longo do tempo. E é um filme muito fácil de se obter em DVD. Dê uma garimpadinha por aí, que vale a pena.


Cartaz do filme


Dois policiais duros na queda


Wulfgar, o terrorista que pirou na batatinha


Relacionamento tenso com DaSilva.


Aulas antiterrorismo chatas


DaSilva tentando levar um bom relacionamento com Irene


Wulfgar sempre seduzia mulheres para tomar seus apartamentos e matá-las


A perigosa Shakka, desta vez com cabelo


aaaaaaarrrrrrrrgggggghhhhhhhhh!!!!!!