domingo, 19 de abril de 2015

Resenha de Filme - Falcões da Noite.

Falcões Da Noite. Visões Do Terrorismo De Décadas Atrás.
Imagine um filme com Sylvester Stallone, Rutger Hauer, Billy Dee Williams (nosso Lando Calrissian), Lindsay Wagner (a lendária Mulher Biônica da década de 1970) e Persis Khambatta (a Ilia de “Jornada nas Estrelas, o Filme”). Pois é, caro leitor, isso aconteceu! Mais especificamente, no longínquo ano de 1981, no filme “Falcões da Noite” (“Nighthawks”), um delicioso thriller de ação policial. Vamos recordar aqui essa interessante história.
A trama fala de dupla de policiais Deke DaSilva (interpretado por Stallone) e Fox (interpretado por Williams). A atividade deles consistia em fazer tocaias para bandidos na rua. O plano, por sinal muito exótico, era o seguinte: DaSilva se disfarçava de pessoas acima de qualquer suspeita: um senhor respeitável de terno e gravata, uma senhora (?!?!), etc., e se metia nos piores buracos de Nova York, atraindo os bandidos. Mas Fox estava à espreita e DaSilva, obviamente, preparado para a tocaia. No início do filme, chega a ser hilário o que DaSilva fala ao bandido depois de tirar seu disfarce de uma respeitável senhora: “Vem me atacar, He-Man!!!”. Bem antenado com o zeitgeist (“espírito da época”). E assim, entre muitas armadilhas, bocas de fumo estouradas e muita, muita porrada, nossos estimados policiais vão vivendo. Infelizmente, isso traz problemas para nosso DaSilva, pois sua antiga namorada, Irene (interpretada pela “biônica” Lindsay Wagner) quer que ele saia daquela vidinha complicada. Um belo dia, os dois são recrutados para participar de uma divisão antiterrorismo, pois um terrorista internacional muito perigoso, Heymar “Wulfgar” Reinhardt (interpretado por Hauer) chega a Nova York depois de se indispor com todos os grupos terroristas e revolucionários, já que suas técnicas eram extremamente violentas. Ou seja, nosso terrorista pirou na batatinha e decidiu agir por conta própria, de forma free-lancer. Na verdade, ele tinha a ajuda da perigosa Shakka Holand (interpretada por Khambatta). No início, DaSilva e Fox não aguentavam as exaustivas aulas. E DaSilva se desentendeu com o instrutor, pois não queria abrir fogo contra o terrorista em situações em que inocentes estivessem em perigo, já que DaSilva, assim como Fox, eram veteranos de guerra do Vietnã (um embrião do Rambo?), ficando implícitos os traumas de guerra no protagonista.
Wulfgar tinha por hábito se envolver com moças para transformar seus apartamentos em uma espécie de base para ele. Feito isso, ele as assassinava, sempre dizendo “você vai para um lugar melhor”. Assim, temos várias cenas onde Wulfgar procurava suas presas em discotecas, onde podemos atestar os ritmos musicais da época. Em alguns momentos, parece que estamos vendo “Os Embalos de Sábado à Noite” e John Travolta aparecerá do nada para dançar. Aliás, a trilha sonora do filme, composta por Keith Emerson, é show! Uma batida instrumental cheia de tensão, com o devido espírito da época! Algo que soa muito diferente do que se ouve por aí hoje em dia.
Rutger Hauer conseguiu fazer um grande vilão, o primeiro de sua carreira, estourando em “Blade Runner” pouco tempo depois. O mais irônico de tudo é que ele era considerado um terrorista internacional muito perigoso e as supostas técnicas dos policiais de rua de Nova York não seriam suficientes para capturá-lo. Entretanto, foi com tais técnicas ultrapassadas que DaSilva pegou Wulfgar. E adivinhem qual foi? Isso mesmo, caro leitor, DaSilva se vestiu de mulher!!!! Wulfgar foi à casa de Irene, o amor de DaSilva, para matá-la. Ele via a moça de costas com um vestido rosa e sua longa cabeleira loura. Quando ele se aproximou com a faca para dar cabo de Irene, ela se vira e vemos um Stallone barbado com peruca loura e vestido rosa apontando a arma para ele (aaaarrrrrgghhhhh!!!!). Wulfgar ficou tão traumatizado que demorou uns dois minutos para processar aquela grotesca informação em seu cérebro. Quando ele decidiu atacar, foi prontamente fuzilado por DeSilva.
Apesar de ser um filme de ação trivial, não podemos deixar de perceber alguns lances interessantes. Os personagens de Stallone e de Fox conseguiam ser duas vacas bravas, mas, ao mesmo tempo, ter alguma serenidade, não sendo tão caricatos. Foi legal ver Stallone numa interpretação não tão exótica assim, como o foi em muitos de seus filmes. Ou seja, sua paralisia facial ainda não era a estética dominante de sua interpretação. E ele deu conta do recado. Billy Dee Williams mostrou que não é somente Lando Calrissian, fazendo o fiel escudeiro Fox, que se indignava profundamente com o traficante da boca de fumo que lhe oferecia dinheiro, mas ao mesmo tempo era uma voz de temperança para DaSilva, ao convencê-lo a não abandonar a unidade antiterrorista. Persis Khambatta poderia ter sido mais aproveitada, mas ainda sim sua participação foi maior que a de Lindsay Wagner. Essa sim apareceu muito pouco no filme, o que é de se lamentar bastante.
Outra virtude da película é atestarmos as visões de terrorismo da época, ainda muito vinculadas a movimentos revolucionários. Wulfgar se vangloriava de defender uma causa. Ele se acreditava um defensor e libertador dos oprimidos, numa visão um tanto romântica da coisa. Ao escutar isso, DaSilva só falava, em tom de questionamento e com sarcasmo: “Você acha, é?”, ao que Wulfgar retrucava: “Isso te fascina”. Se o policial questionava o terrorista em tom de pouco caso, até porque, na visão do policial, Wulfgar era um louco e era bom não contrariar, vemos um traço de romantismo e ideologia no terrorista, até porque, naquela época, os Estados Unidos ainda patrocinavam muitas ditaduras no mundo ocidental, sobretudo na América Latina. É inclusive citado que a América do Sul estava cheia de revolucionários. Logo, a existência de muitos grupos revolucionários no mundo ocidental era algo que fazia parte da realidade daquele tempo. Hoje em dia, os terroristas não têm rosto e vêm de mais longe, mais especificamente do Oriente Médio, não havendo nacionalidades definidas e sim grupos armados que são extremamente demonizados pela mídia. É um terrorismo mais violento, cruel e aparentemente sem romantismos, embora as ideologias ainda estejam lá escondidas. E o cinema, geralmente, auxilia no processo de demonização. Wulfgar tinha rosto, se reportava à mídia em telefones públicos próximos ao local dos atentados, ou seja, cometia erros que os terroristas de hoje jamais cometeriam. Podemos atestar, então, nas produções cinematográficas ao longo do tempo, um processo que vai de um terrorismo mais “romântico” e menos planejado no passado para um terrorismo de hoje mais frio e calculista.

Assim, “Falcões da Noite” é um interessante filme das antigas por mostrar a nós como determinados conceitos e formas de comportamento se alteram ao longo do tempo. E é um filme muito fácil de se obter em DVD. Dê uma garimpadinha por aí, que vale a pena.


Cartaz do filme


Dois policiais duros na queda


Wulfgar, o terrorista que pirou na batatinha


Relacionamento tenso com DaSilva.


Aulas antiterrorismo chatas


DaSilva tentando levar um bom relacionamento com Irene


Wulfgar sempre seduzia mulheres para tomar seus apartamentos e matá-las


A perigosa Shakka, desta vez com cabelo


aaaaaaarrrrrrrrgggggghhhhhhhhh!!!!!!







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