terça-feira, 29 de julho de 2014

Resenha de Filme - Instinto Materno

Instinto Materno. Corujices E Tragédias.
Um filme romeno no pedaço. “Instinto Materno” (“Pozitia Copilului”, 2013), dirigido por Calin Peter Netzer, mostra a curiosa história de Cornelia (interpretada por Luminita Gheorghiou), uma mãe hipercoruja que bajula com todas as forças o seu filho Barbu (interpretado por Bogdan Dumitrache), que já está na casa dos trinta anos e não suporta essa excessiva presença materna. Podemos presenciar diálogos altamente tensos entre mãe e filho, onde Barbu lança todo o tipo de patadas contra a mãe, que não entende toda aquela agressividade e se ressente disso. A situação entre os dois se tornará bem pior quando Barbu atropela e mata um menino de quatorze anos, deixando o filho revoltado em estado de choque, o que aumenta ainda mais o “instinto materno” e protetor da mãe, que tentará todos os meios, lícitos ou não, para que o filho não seja preso.

O filme aborda com muita eficiência o conflito de gerações. Enquanto Barbu quer mais privacidade para a sua vida, Cornelia não enxerga que o filho já criou suas próprias asas e abandonou o lar. Ou talvez já tenha enxergado isso, mas se recusa a aceitar. Isso provoca conflitos com todos, seja com o marido, seja com a nora Carmen, a quem Cornelia trata mal como o fazem as sogras das piadas de salão.  O que fica muito claro é que há momentos em que a mãe não tem mais como ajudar o filho, ou seja, é impossível resolver alguns problemas que só o filho pode resolver. O filme romeno se torna monótono em alguns momentos, pesando mais em dramaticidade na sua parte final. O grande atrativo do filme é justamente a difícil situação provocada pelo atropelamento e a morte do adolescente por Barbu. As relações entre Cornelia e Barbu com a família do menino morto são carregadas de um sofrimento exacerbado, onde todos têm e não têm razão ao mesmo tempo. A dor coletiva destroça as almas humanas e fragiliza a todos e não conseguimos em nenhum momento tomar partido desta ou daquela família. Num momento, achamos que todos são vítimas de uma terrível fatalidade, noutro momento que a família do menino é muito severa com Barbu e, em um terceiro momento, que Barbu merece a prisão e Cornelia é uma tremenda duma fresca. O conflito de juízos de valores nesse tema torna um filme aparentemente sem graça em algo especial. Pena que isso se deu mais ao final e a narrativa foi meio arrastada em seu início e meio. Cansou, mas quem ficou até o fim teve uma boa experiência. O mais curioso foi escutar o idioma romeno e perceber a quantidade de palavras parecidas com as do nosso idioma, indício da herança latina no leste europeu. Por todas essas curiosidades, vale a pena dar uma chegadinha ao cinema para conferir essa película. Mas é preciso ter um pouco de paciência, devo confessar.

 Cartaz do filme.


Cornelia, mãe hipercoruja.


Barbu, retrato da melancolia.


Carmen, uma nora atormentada.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Resenha de Filme - Aos Ventos Que Virão

Aos Ventos Que Virão. Cangaço, Coronelismo E Violência.
Um bom filme brasileiro com pouca divulgação. “Aos Ventos Que Virão”, uma produção de 2012, dirigida por Hermano Penna, mostra a trajetória de um ex-cangaceiro após a morte de Lampião e o fim do cangaço no sertão nordestino. José Olímpio de Brito teve que fugir de sua terra natal, pois era perseguido implacavelmente pelo sargento Isidoro, que caçava e matava todos os cangaceiros sobreviventes.  Migrando para São Paulo, trabalhará como peão de obra e sofrerá todas as discriminações do mundo por ser nordestino. Humilhado, decide voltar para sua terra natal, onde ingressará na carreira política e transitará entre a razão das instituições e a tradição de violência de sua região.  

O filme faz uma verdadeira radiografia de nossa História recente, enfocando especificamente as condições subumanas do Nordeste brasileiro, cujo ambiente seco e inóspito decorrente da exploração predatória da colonização portuguesa ajuda a gerar uma violência desenfreada promovida por coronéis que mandam e desmandam em suas regiões. A população pobre reage a essa violência, surgindo as quadrilhas de cangaceiros, se tornando aos olhos do povo uma perspectiva de futuro e um exemplo da impetuosidade e desafio às instituições do governo e aos poderosos, embora devamos nos lembrar que os cangaceiros não faziam uma resistência sistemática ao poder constituído e até se aliavam a alguns coronéis. Mesmo assim, os cangaceiros foram uma pedra no sapato do governo, sendo sistematicamente massacrados. O ambiente violento do Nordeste permaneceu após o fim do cangaço, assim como as práticas coronelistas, durante o governo JK. O uso de fraudes no sistema eleitoral como o atraso da entrega de títulos de eleitor para favorecer os candidatos dos coronéis também é denunciado. É curioso perceber, nos créditos finais, que apesar do filme ser uma história de ficção, ele é baseado em fatos reais. Dessa forma, vemos claramente as permanências de algumas instituições da República Velha no Nordeste em pleno governo populista de fins da década de 1950 e uma prática excessiva da violência por parte de elites oligárquicas que ainda mandavam em rincões do interior do sertão. É um filme que nos ajuda a lembrar que tais fatos não ocorrem de forma estanque no tempo, como alguns livros de História parecem nos ensinar. Mais uma vez o cinema cumpre sua função social, sendo uma boa peça ilustrativa do que se é ensinado nas escolas. Vale muito a pena dar uma conferida neste filme.

 Cartaz do filme


José Olímpio e sua mulher. Buscando um recomeço e fugindo da violência.


Dias de cangaço.


Sempre em fuga.


Saudades de Lampião.

domingo, 27 de julho de 2014

Resenha de Filme - Transformers, A Era da Extinção

Transformers, A Era Da Extinção. Carrões E Robobos.
Mais um filmaço na área. “Transformers, A Era da Extinção”, de Michael Bay, é um grande filme porque tem 165 minutos. Somente por isso. Pois o grosso dessa película é um emaranhado de efeitos especiais de computação gráfica, onde carros e caminhões travestidos de robôs se digladiam e demolem tudo o que veem pela frente. Tem uma hora que cansa e até irrita tantos efeitos especiais numa velocidade tão alta que é quase imperceptível aos olhos. E isso num filme de quase três horas de duração! O motivo dessa pancadaria toda é o fato de que os humanos acham que os transformers são uma ameaça ao planeta e todos devem ser atacados, inclusive os antigos aliados autobots que, obviamente, ficam contrariados com isso. Para piorar a situação, uma grande empresa americana, liderada por Joshua Joyce (interpretado por Stanley Tucci), uma espécie de arremedo de Steve Jobs (até nos trejeitos!), começa a montar transformers com material de decepticons mortos. Ou seja, esses transformers “made in Earth” são o cão chupando manga e saem do controle. O governo dos Estados Unidos também tem seus robozões, que caçam os autobots. Assim, os seguidores do líder Optimus vão ter muita dor de cabeça nesse filme. Obviamente, um punhado de humanos vai ajudar os autobots, que estão muito bolados com toda a trairagem de nossa espécie. E, desta vez, o fazendeiro texano e inventor de fundo de quintal Cade Yeager (interpretado por Mark Wahlberg) será o eleito para desenterrar o líder Optimus de um cinema abandonado e reativá-lo. Se não tem mais a Megan Fox, agora tem Nicola Peltz, que faz a filha de Cade, Tessa, seguindo a linha de adolescentes filezinho, que são uma apologia a pedofilia. Pelo menos há um paizão texano coruja na retaguarda, que estranha o namorado da moça, o piloto de corridas de rali Shane (risos). Pronto, esses são os protagonistas humanos. O resto, um emaranhado de violência gratuita e de plasticidade muito duvidosa, disponível em qualquer videogame, havendo alguns lances ridículos como os transformers dinossauros (?!?!?!?) e os robozões botarem óleo de carro pela boca, quando são golpeados mortalmente por uma lâmina cortante, uma rajada de balas, ou até, quem sabe, um míssil. Ou seja, o sangue do robô é óleo. Sei não, mas isso me lembra o Herbie dos filmezinhos da Disney lá na minha já longínqua infância, quando ele sujava a perna da calça dos humanos indesejáveis com óleo e o fusquinha número 53 ainda saía buzinando de deboche. O que o óleo seria nesse caso?

Bom, já deu para perceber que não dá para salvar muita coisa desse filme. E, para acabar com essa discussão, sou mais o desenho que passava na Globo em meados dos anos... 90? Acho que é isso. Se você gosta de muitos efeitos especiais, talvez goste do filme. Mas confesso que não estou muito otimista... De bom mesmo, só os autobots, quando estão travestidos de carrões e caminhões, esses sim, muito bonitos, junto com a Tessa, obviamente...

Cartaz do filme. Líder Optimus impondo respeito.


Credo!


Mark Wahlberg, o único ator top de linha.


Líder Optimus em combate.


Líder Optimus. Assim é bem melhor.


Bumble Bee em batalha.


Bumble Bee.


Bunble Bee com upgrade.


Tessa. Essa não precisa de upgrade.


Saudades da Megan...

sábado, 26 de julho de 2014

Resenha de Filme - Filha Distante

Filha Distante. Ajuste De Contas Com O Passado.

Uma produção argentina de 2012 chegando só agora por aqui. O filme “Filha Distante”, de Carlos Sorín, tem como título original “Dias de Pesca”. E o filme foi mais a pesca que a filha, que realmente estava bem distante, em todos os sentidos. Vemos aqui a história de Marco Tucci (interpretado por Alejandro Awada), um homem de meia idade que se recupera do alcoolismo e começa vida nova, onde ele precisa de um hobby para distraí-lo. Marco, então, elege a pesca como sua distração e se despenca de Buenos Aires para a Patagônia, bem ao sul da Argentina, para aproveitar a temporada de pesca do tubarão. Mas Marco também procurará sua filha Ana (interpretada por Victoria Almeida), que vive nessa região. O pai se afastou da família e agora Marco quer se redimir. Mas o encontro com a filha será cheio de percalços. Em primeiro lugar, ela não mora mais no endereço que o pai tinha. Marco então irá colocar um anúncio na rádio, que será ouvido pela vizinha de Ana, que está numa cidade a mais de cem quilômetros da cidade onde Marco está. O reencontro entre pai e filha é excessivamente frio e formal. O pai convida Ana e o marido para assistir a um show de música... brasileira. Mas Ana não quer reviver o passado e rechaça o pai que, segundo ela, destruiu a vida de sua mãe e não quer que ele destrua a vida dela. Foi uma pena ver esse tema do encontro entre pai e filha pouco aproveitado. Tinha tudo para ser o tema principal. Mas o que mais apareceu no filme foi realmente a viagem de Marco e suas experiências, com pequenas historietas paralelas: o treinador de boxe, que tem uma lutadora como pupila, o acampamento à beira mar de colombianos viciados em maconha, a sua experiência mal sucedida de pescar tubarões que o leva ao hospital com uma crise de enjoo. Apesar do filme deixar no ar uma previsão otimista sobre a aproximação do pai e da filha, ficamos com a impressão de que o filme é um grande desperdício de celuloide se ele quer se chamar de drama. Mas, se fosse um documentário sobre a Patagônia, seria um celuloide muito bem aproveitado, pois as imagens do local são belíssimas. É lamentável que o filme tenha tomado mais um tom de road movie do que de drama. A crise de relacionamento entre pai e filha tomava contornos interessantes e, quando esperávamos mais desenvolvimento nessa direção, há um corte abrupto e injustificável. Choque de crueza de realidade? É a única explicação que me vem à cabeça. Mas fica com aquele gostinho de quero mais drama. Pelo menos, quando eu for pescar tubarão, já sei qual é o tipo do molinete que devo usar. Espero, pelo menos, que Marco tenha pescado Ana (no bom sentido, é claro), nos pós-créditos...

Cartaz do filme


Marco e Ana. Pai e filha num relacionamento difícil.


Conhecendo o neto.


Experiência desastrada de pesca.


Um homem em busca de si mesmo.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Resenha de Filme - O Melhor Lance

O Melhor Lance. Falsificações De Sentimentos.

Giuseppe Tornatore volta a atacar. E ele vem com Geoffrey Rush e Donald Sutherland na linha de frente para bancar esse excelente “O Melhor Lance”. O diretor do inesquecível “Cinema Paradiso” e “Malena” agora vem com um filme de suspense de desfecho até previsível, mas muito envolvente pela forma como a história é contada e por abordar o universo das obras de arte antigas e leilões. Rush interpretará o papel de Virgil Oldman, um refinado leiloeiro e avaliador de pinturas e antiguidades que consegue arrebatar obras muito caras a preços módicos, fazendo leilões forjados com a ajuda de seu amigo Billy (interpretado por Donald Sutherland). Um dia, Oldman receberá o telefonema de Claire Ibbetson (interpretada pela bela Sylvia Hoeks) , única herdeira de sua família e que quer colocar todas as peças de sua mansão em leilão. Oldman era um profissional muito competente no que fazia, identificando e avaliando todas as obras de arte à sua frente e, do alto de sua petulância, rechaçava fortemente Claire. Mas, aos poucos, Oldman descobre que Claire sofre de agorafobia (medo de lugares abertos) e começa a se envolver com a moça, que nunca mostra o seu rosto. A relação entre Oldman e Claire é terna em alguns momentos, conturbada em outros e Oldman tem a ajuda de Robert (interpretado por Jim Sturgess), um cara que conserta e monta qualquer máquina, desde “robôs” antigos até aparelhos eletrônicos, e que sabia de tudo sobre sedução. Robert irá ajudar Oldman a conquistar Claire. Mas há um cheiro de inquietação no ar sobre tudo o que acontece no filme quando vemos frases do tipo “os sentimentos são como obras de arte, podem ser falsificados”. Essa é a pista para um desfecho previsível. Temos a impressão de que já vimos essa história antes. Não há nada de novo na estrutura. O que há de novo é a beleza das artes plásticas, das pinturas renascentistas às modernas. A beleza mais contundente é a sala onde estão todas as obras que Oldman consegue desviar de seus leilões. Temos uma sequência do filme, que rende alguns minutos, em que ele fica simplesmente apreciando aqueles quadros, através do olhar do travelling da câmara sobre as pinturas, a esmagadora maioria retratando mulheres, algo que Oldman jamais teve na vida, apesar de toda sua posição social e admiração que conquistava das pessoas. É um filme sobre arte e lindos quadros. E temos ainda o deleite de ver atores sempre eficientes como Geoffrey Rush e Donald Sutherland. A presença de Sylvia Hoecks em toda a sua beleza, é também marcante. Essas são as grandes virtudes do filme de Tornatore. A lamentar, somente a previsibilidade do final do filme. Sua narrativa já é seu spoiler. Mas é um programão. E um Tornatore, acima de tudo, com imagens de grande plasticidade, seja nas locações, seja na beleza das obras de arte presentes no filme. Vale a pena dar uma conferida.


 Cartaz do filme.


Oldman e seu patrimônio forjado.


Billy, o comparsa e amigo nos leilões forjados.


Claire, uma mulher atormentada.


Robert, que inicia Oldman no mundo feminino.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Resenha de Filme - Anos Felizes

Anos Felizes. Você Era Feliz E Não Sabia.
Bom filme italiano nas telas. “Os Anos Felizes”, de 2013, dirigido por Daniele Luchetti conta uma história narrada em primeira pessoa que lembra de seus dias de infância e o relacionamento com os pais. Seu pai, Guido (interpretado pelo belo Kim Rossi Stuart), é um artista que busca espaço para sua carreira e tem uma vida financeira completamente instável. O problema é que Guido precisa sustentar esposa e dois meninos. A mulher de Guido, Serena (interpretada por Micaela Ramazzotti) tem que encarar os problemas de falta de grana e, ao mesmo tempo, o relacionamento de Guido com modelos nuas e suas consequentes puladas de cerca. Serena também quer participar de forma mais atuante na vida do marido, que rechaça isso totalmente, pois ele acha que a presença de sua mulher e filhos no meio de trabalho atrapalha sua carreira (e, obviamente, suas aventuras extraconjugais). Guido fará uma performance onde ele aposta o destino de sua carreira. Serena aparecerá de surpresa com os filhos, o que vai atrapalhar a apresentação de Guido e provocará críticas negativas, algo que ele vai esconder da esposa. Os ciúmes de Serena mais os chiliques de Guido irão, pouco a pouco minando o relacionamento, até que Serena irá fazer uma viagem de verão com os filhos e sem o marido para a França, onde ela contará com a companhia de Helke (interpretada por Martina Gedeck), que Serena conheceu no dia da performance de Guido e é amiga do artista. Os dias na praia trarão novas experiências para Serena e os dois filhos, o que vai perturbar ainda mais a já atormentada cabeça de Guido, que busca inspiração para suas criações. O mais curioso é que, enquanto Guido tinha uma relação aparentemente estável, sua veia criativa era medíocre. Mas bastou vir a crise no casamento que sua criatividade explodiu e ele floresceu como artista. Tal ideia é bem parecida com aquele mito de que a criatividade artística aflora em momentos de crise profunda, bem ao estilo do que é dito, para o nosso caso brasileiro, de que as melhores ideias culturais surgiram no período da ditadura militar, por exemplo. Mas aqui o caso é de uma crise de relacionamento no meio privado.
Outra virtude do filme é o seu tom em formato de relato autobiográfico. A narração em primeira pessoa do filho mais velho da família, que lembra como os pais se relacionavam, assim de como o próprio filho mais velho se relacionava com os pais, irmão, avós e familiares, além das experiências emocionais e sensoriais de férias inesquecíveis, nos remetem a uma carga afetiva intensa, onde nós, espectadores, assumimos uma cumplicidade com o narrador. O clímax dessa experiência é a tentativa de suicídio do menino, que não aceita a forma passiva que a mãe escuta os relacionamentos extraconjugais do pai, para aparentar maturidade. As cenas do pai e da mãe tentando salvar o garoto com dificuldade debaixo d’água é acompanhada da hilária cena do menino tomando uma surra dos pais dentro do carro, aos gritos de um italianíssimo “Cretino!” dados por Guido.

Dessa forma, se você quer ver um filme com lembranças carinhosas sobre o passado cheio de mulheres nuas, “Anos Felizes” é um prato cheio. O filme também nos ajuda a raciocinar como as pessoas metem os pés pelas mãos em seus relacionamentos em virtude de seus medos e fraquezas, e de como isso afeta as outras pessoas em volta. Dê uma conferida, que vale a pena. 

Cartaz do filme. Simpática família italiana em crise.


Guido. Artista preocupado com sua carreira e em crise com a família.


Muito contato com mulheres nuas


Relacionamento com Serena conturbado


Na performance. Constrangimentos.


Serena e Helke. Férias inesquecíveis.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Resenha de Filme - Jornada nas Estrelas 2, A Ira de Khan (Parte 2)

Jornada Nas Estrelas. Radiografando Um Longa. A Ira De Khan (Parte 2).
Como Khan voltou nesse longa? A U.S.S. Reliant fazia uma expedição para encontrar um planeta totalmente sem vida para lançar o torpedo Gênese, um dispositivo criado pela Dra. Carol Marcus (interpretada por Bibi Besch), um antigo caso de Kirk, que conseguia fazer a terraformação num planeta sem vida. Chekov estava na missão da Reliant. Ao chegar a Ceti Alfa 5, Chekov se depara com Khan, que estava muito revoltado com Kirk, já que o então capitão (e agora almirante) não havia voltado para verificar os progressos de Khan e seus comandados. Seis meses depois de Khan ser deixado lá, o planeta vizinho Ceti Alfa 6 explodiu e transformou Ceti Alfa 5 num lugar totalmente inóspito, onde a companheira de Khan acabou morrendo. Khan, em sua sede de vingança, rapta a Reliant e toma o torpedo Gênese. Como Chekov, sob o efeito de um verme instalado em seu córtex cerebral por Khan, disse a Dra. Marcus que Kirk confiscaria o torpedo, a Dra. entra em contato com o almirante para tomar satisfações. Mas o mal sinal da transmissão e a consequente má comunicação fazem com que Kirk vá para Regula 1 (o planeta em que a Dra. Marcus faz as experiências com Gênese). Lá, a Enterprise encontrará a Reliant, onde haverá uma batalha entre o almirante e o produto desenvolvido por engenharia genética do fim do século XX.
Quais são os destaques desse longa? Em primeiro lugar, algumas discussões sobre as implicações morais de certos avanços tecnológicos. Ao saber do projeto Gênese, o Dr. McCoy o vê mais como uma “arma do fim do mundo”, pois se o torpedo Gênese é utilizado num planeta com vida, ele “apaga” a vida existente para colocar uma nova vida em seu lugar. Já Spock vê Gênese como uma ferramenta que pode criar novos locais habitáveis, a menos que caia “em mãos erradas”. Ao que McCoy retruca: “o que são exatamente mãos erradas?”. Outro avanço tecnológico posto em questionamento é justamente a engenharia genética, que cria espécies consideradas “superiores” a outras, podendo levar a guerras e destruições. A discussão das implicações morais da engenharia genética é um tema bem atual, principalmente quando nos lembramos dos questionamentos envolvidos em clonagens e usos de células-tronco. É notável perceber como uma série de ficção científica da década de 1960 já abordava esses temas, trazendo-os de volta à tona em 1982, quando o longa foi realizado.
Em segundo lugar, o filme faz um debate filosófico sobre a vida e a morte. A trapaça que Kirk fez no teste da nave Kobayashi Maru, onde os futuros capitães lidarão com a situação de morte de forma inevitável, mostra a não aceitação do almirante em encarar situações de morte e derrota, que inevitavelmente acontecem. Daí o seu dilema com a passagem do tempo e o grande trauma com a morte de Spock, onde o próprio Kirk reconhece que foi uma lição à sua presunção de sempre enganar a morte. Mas a necessidade de se fazer uma sequência de “Jornada nas Estrelas” acaba redimindo Kirk, pois ele fica ungido de novas esperanças, manifestas na explosão de vida de Gênese e nas palavras otimistas de Spock quanto ao futuro (“sempre existem possibilidades”) nas quais Kirk se agarra. Outro destaque que redime Kirk é a reconciliação com seu filho David (interpretado por Merritt Butrick).
A presença de Ricardo Montalban no longa também é digna de destaque. Ele chega aos Estados Unidos como um dos ícones latinos da “política de boa vizinhança” promovida pelos americanos durante a Segunda Guerra Mundial, onde astros da América Latina como Cesar Romero e a nossa Carmen Miranda também fizeram parte. Os números de dança de Montalban de sombrero mexicano numa justa roupa verde escura são antológicos! E a sua grande presença como Khan no episódio “Semente do Espaço”, como um inimigo à altura de Kirk também chama muito a atenção. O mais curioso é que, na época, Montalban era o senhor Rourke da série “Ilha da Fantasia”, onde ele usava um terno branco, juntamente com o anão Tatu, e sua postura era muito solene e discreta para com os visitantes da ilha. Para ele retomar Khan, interpretado por ele mais de dez anos antes, foi necessário rever o episódio da série clássica várias vezes para recuperar o espírito selvagem do personagem. Outro detalhe que marcou foram os peitões de Fafá de Belém de Montalban no filme, que segundo Nicholas Meyer, o diretor, eram de verdade. Me lembro na época que a transformação de Montalban de senhor Rourke para Khan (água para vinho) chegaram a chocar. Os diálogos entre Khan e Kirk, onde um procura atingir e magoar o outro (nas palavras do próprio Khan) também são memoráveis. Um personagem realmente consegue tirar o outro do sério. O berro que Kirk dá no rádio (“KHAN!!!!!!”) cheio de fúria nem precisava daquele rádio, Khan já poderia escutá-lo do outro lado do planetóide. Só pareceu um pouco incoerente Khan, que era um sujeito tão inteligente, cair nas pilhas de Kirk de forma tão fácil e previsível. O mais interessante é que os dois personagens não se encontram pessoalmente e o duelo da astúcia dos dois se dá no interior da nebulosa Mutara, onde as duas naves fazem um voo cego e sem escudos, dada a interferência da nuvem nos equipamentos das naves.
Por fim, a morte de Spock. As cenas dos últimos momentos do vulcano com Kirk são bem convincentes e emocionantes, assim como a cerimônia fúnebre, com Spock sendo lançado ao espaço num torpedo fotônico. Kirk e Shatner pareceram realmente ser uma pessoa só naquele momento de muita dor com a morte de um ente querido. Mas Spock foi lógico até o fim, pois “a carência da maioria sobrepuja a carência da minoria... ou a de um só”.

Muitos fãs adoram esse longa que, como pudemos ver, é cheio de elementos que já o diferenciam do primeiro longa, “Jornada nas Estrelas, O Filme”. Questões morais e filosóficas, um bom vilão, um desfecho de morte para um dos principais protagonistas (senão o principal), tornam “A Ira de Khan” uma referência no universo de “Jornada nas Estrelas”.

 Filme com perdas, até para o Sr. Scott


Com esse berro, nem precisa de rádio!


 Bom duelo de naves na Nebulosa Mutara


Morte de Spock. Cena Emocionante 


Funeral de Spock 

domingo, 20 de julho de 2014

Resenha de Filme - Jornada nas Estrelas 2, A Ira de Khan (Parte 1)

Jornada Nas Estrelas. Radiografando Um Longa. A Ira De Khan (Parte 1)
O segundo longa-metragem da tripulação da série clássica trouxe novos e curiosos elementos para a saga de “Jornada nas Estrelas”. Mas, inicialmente, vamos falar como se deu a produção desse filme. Harve Bennett, responsável por escrever a história do longa, viu toda a série clássica em películas de 16 mm num intervalo de três meses. O que lhe chamou mais a atenção foi o episódio “Semente do Espaço”, onde a tripulação da Enterprise encontra uma antiga nave da Terra, de nome Botany Bay.
O que sucede em seguida? Nessa nave, encontram-se, em estado criogênico, seres humanos produzidos por engenharia genética na segunda metade do século XX, que são uma espécie de “super-homens”, altamente fortes e inteligentes, que passaram a dominar o mundo e entraram em guerra (as guerras eugênicas). Alguns deles, liderados por Khan, fugiram e se colocaram em estado criogênico, sendo descobertos pela Enterprise em pleno século XXIII. Inicialmente, Khan irá se mostrar um cordial hóspede, mas com o tempo, ele tentará dominar a Enterprise. Obviamente, a tripulação não permitirá que isso aconteça, mas também não acabará com o inimigo, que será enviado para o planeta Ceti Alfa 5 para viver num mundo selvagem que será ideal para sua sede de conquista de Khan. E assim, se plantou a semente do espaço, com um inimigo que não foi derrotado de todo pela Enterprise. Ao fim, Kirk e Spock especulam sobre qual seria o resultado daquela semente plantada. Assim, Harve Bennett teve a ideia de desenvolver essa história no segundo longa. Leonard Nimoy, nosso Spock, foi chamado mais uma vez para fazer o filme e novamente ele negou, havendo especulações de que ele fazia esse charme todo para obter uma vantagem financeira a mais. Foi passado a ele que Spock morreria no filme, o que daria um desfecho glorioso para o personagem, o que chamou sua atenção. Mas inicialmente ele não gostou do roteiro, pois Spock morreria no início do filme. Coube a Nicholas Meyer, o diretor, reescrever todo o roteiro em doze dias, para espanto de todos, pois além de fazer isso em tempo recorde (segundo William Shatner, o capitão Kirk, ninguém reescreve um roteiro em doze dias), a história ficou boa. Mas, à medida que as filmagens caminhavam para seu desfecho, havia um ar de arrependimento com relação à morte de Spock, principalmente pelo fato de que se extinguiria uma franquia que dava tão certo financeiramente. A exibição para o público teste foi um desastre, pois o filme terminava com o corpo de Spock sendo lançado no espaço, o que provocou um tom fúnebre na plateia, uma noção arrasadora de que “Jornada nas Estrelas” havia chegado ao fim. Decidiu-se, então, dar um novo desfecho (a contragosto de Meyer) em que houvesse mais esperança de uma continuação. Foi pedido a Nimoy que, na cena de sua morte, ele colocasse um gancho que poderia levar a uma sequência. Foi aí que Nimoy inventou o elo mental com o Dr. McCoy inconsciente, falando a palavra “Lembre-se”. Essa cena era vaga o suficiente para se criar qualquer argumento que justificasse um novo filme. Outros elementos interessantes surgiram ao final, como um Kirk mais esperançoso no futuro (seu desânimo com a passagem do tempo e a velhice foi notório ao longo da trama) e a frase de Spock citada por Kirk: “Sempre existem possibilidades”. O epíteto “Espaço, a fronteira final, etc., narrado por Spock ao fim do filme, nos dá a certeza de que haverá uma continuação e, apesar de ter sido “cafona” (nas palavras do próprio Harve Bennett), tinha que ser daquele jeito, onde até a crítica especializada da época acabou concordando que era a coisa certa a fazer.

No próximo artigo, vamos destrinchar as principais qualidades desse filme para o universo de “Jornada nas Estrelas”. Até lá!

Cartaz do Filme


 Tripulação da Enterprise de volta
 

Khan, um vilão à altura de Kirk


 Em “A Semente do Espaço”
 

sábado, 19 de julho de 2014

Resenha de Filme - A Montanha Matterhorn

A Montanha Matterhorn. Um Estranho Casal.
Mais um filme belga digno de atenção. “A Montanha Matterborn”, escrito e dirigido por Diederick Ebbinge, conta uma história muito estranha, mostrando até onde pode ir a imprevisibilidade das relações humanas, com lances para lá de surpreendentes e que muito nos fazem refletir. Vamos falar um pouquinho sobre esse curioso filme.
Vemos aqui a história de Fred (interpretado por Ton Kas), um homem que vive numa pequena comunidade extremamente religiosa. Um dia, um estranho homem aparece, Theo (interpretado por René Van’t Hof) e Fred acaba o acolhendo, ao perceber que o pobre homem tem problemas mentais. Isso desperta a revolta da comunidade, principalmente de Kamps (interpretado por Porgy Franssen), que tem como hobby a fotografia e é um dos membros mais religiosos. As pessoas no vilarejo começam a desconfiar da sexualidade de Fred. Mas ele banca a convivência com Theo, que adora carneiros e imitá-los. Ao fazer isso num supermercado, ele provoca risos num casal, que quer contratá-lo para animar a festa de aniversário da filhinha. Assim, Fred e Theo levam à frente esse negócio, o que provoca o afastamento de Fred da comunidade e seus rituais religiosos, para o desespero de Kamps. Os passados de Fred, Kamps e Theo estão envolvidos em várias querelas pessoais e emocionais que são altamente inusitadas e imprevisíveis, onde a afetuosidade reprimida pela religião e por lances absolutamente casuais acabam justificando relacionamentos homossexuais inesperados. Há, também, a história da esposa de Fred, Trudy (interpretada por Elise Schaap, que é a cara da Lorena Calábria, apresentadora do “Cine Conhecimento”, da TV Futura), que morreu num acidente. Esse fato também está ligado aos problemas mentais de Theo. Há uma história mal resolvida entre Fred e seu filho, que só será citada mais ao final do filme. Fred também tem como objetivo ir à Montanha Matterhorn, na Suíça, local onde ele pediu sua esposa em casamento. Fred quer fazer isso com Theo ao seu lado, de quem ele está cada vez mais íntimo.

A grande lição que o filme nos dá é a de que sentimentos de ausência e falta de afetividade fragilizam o ser humano a um tal ponto que, quando ele encontra um apoio, um anteparo, se agarra totalmente a ele, não importa quem seja e como seja. Fred e Kamps tinham carências afetivas extremas e a figura de Theo surgiu como a tábua de salvação dos dois, por mais estranho que isso possa nos parecer. Assim, o tema principal da trama não é um homossexualismo latente, mas sim um estudo sobre a vulnerabilidade humana em momentos de crise. O mais interessante é que, apesar do tema complexo e sério, a história ainda é uma excelente comédia, que amarra e interliga bem as trajetórias de cada personagem, provocando grandes surpresas e levando a bizarros momentos de ternura. Um filme que prende a sua atenção do início ao fim e que arrancou aplausos da plateia ao fim da exibição por sua originalidade e pela forma envolvente que a trama foi contada. Vale a epígrafe de Johann Sebastian Bach ao início da história: “Fazer a música é fácil. O negócio é apertar as teclas certas na hora certa”.  Ou seja, por mais inusitadas que tais situações possam aparentar, as oportunidades aparecem no momento oportuno e devem ser aproveitadas. Esse filme merece uma boa conferida. 

Cartaz do filme.


Fred e Theo. Um estranho casal.


Jogando bola.


A paixão de Theo pelos carneiros.


O transforma em animador de festas.


Indo na contramão da religião.


 Kamps (de óculos). Triângulo amoroso?



Elise Schaap, a Trudy. É ou não é a cara da Lorena Calábria?


A dita cuja.