terça-feira, 29 de julho de 2014

Resenha de Filme - Instinto Materno

Instinto Materno. Corujices E Tragédias.
Um filme romeno no pedaço. “Instinto Materno” (“Pozitia Copilului”, 2013), dirigido por Calin Peter Netzer, mostra a curiosa história de Cornelia (interpretada por Luminita Gheorghiou), uma mãe hipercoruja que bajula com todas as forças o seu filho Barbu (interpretado por Bogdan Dumitrache), que já está na casa dos trinta anos e não suporta essa excessiva presença materna. Podemos presenciar diálogos altamente tensos entre mãe e filho, onde Barbu lança todo o tipo de patadas contra a mãe, que não entende toda aquela agressividade e se ressente disso. A situação entre os dois se tornará bem pior quando Barbu atropela e mata um menino de quatorze anos, deixando o filho revoltado em estado de choque, o que aumenta ainda mais o “instinto materno” e protetor da mãe, que tentará todos os meios, lícitos ou não, para que o filho não seja preso.

O filme aborda com muita eficiência o conflito de gerações. Enquanto Barbu quer mais privacidade para a sua vida, Cornelia não enxerga que o filho já criou suas próprias asas e abandonou o lar. Ou talvez já tenha enxergado isso, mas se recusa a aceitar. Isso provoca conflitos com todos, seja com o marido, seja com a nora Carmen, a quem Cornelia trata mal como o fazem as sogras das piadas de salão.  O que fica muito claro é que há momentos em que a mãe não tem mais como ajudar o filho, ou seja, é impossível resolver alguns problemas que só o filho pode resolver. O filme romeno se torna monótono em alguns momentos, pesando mais em dramaticidade na sua parte final. O grande atrativo do filme é justamente a difícil situação provocada pelo atropelamento e a morte do adolescente por Barbu. As relações entre Cornelia e Barbu com a família do menino morto são carregadas de um sofrimento exacerbado, onde todos têm e não têm razão ao mesmo tempo. A dor coletiva destroça as almas humanas e fragiliza a todos e não conseguimos em nenhum momento tomar partido desta ou daquela família. Num momento, achamos que todos são vítimas de uma terrível fatalidade, noutro momento que a família do menino é muito severa com Barbu e, em um terceiro momento, que Barbu merece a prisão e Cornelia é uma tremenda duma fresca. O conflito de juízos de valores nesse tema torna um filme aparentemente sem graça em algo especial. Pena que isso se deu mais ao final e a narrativa foi meio arrastada em seu início e meio. Cansou, mas quem ficou até o fim teve uma boa experiência. O mais curioso foi escutar o idioma romeno e perceber a quantidade de palavras parecidas com as do nosso idioma, indício da herança latina no leste europeu. Por todas essas curiosidades, vale a pena dar uma chegadinha ao cinema para conferir essa película. Mas é preciso ter um pouco de paciência, devo confessar.

 Cartaz do filme.


Cornelia, mãe hipercoruja.


Barbu, retrato da melancolia.


Carmen, uma nora atormentada.

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