segunda-feira, 28 de julho de 2014

Resenha de Filme - Aos Ventos Que Virão

Aos Ventos Que Virão. Cangaço, Coronelismo E Violência.
Um bom filme brasileiro com pouca divulgação. “Aos Ventos Que Virão”, uma produção de 2012, dirigida por Hermano Penna, mostra a trajetória de um ex-cangaceiro após a morte de Lampião e o fim do cangaço no sertão nordestino. José Olímpio de Brito teve que fugir de sua terra natal, pois era perseguido implacavelmente pelo sargento Isidoro, que caçava e matava todos os cangaceiros sobreviventes.  Migrando para São Paulo, trabalhará como peão de obra e sofrerá todas as discriminações do mundo por ser nordestino. Humilhado, decide voltar para sua terra natal, onde ingressará na carreira política e transitará entre a razão das instituições e a tradição de violência de sua região.  

O filme faz uma verdadeira radiografia de nossa História recente, enfocando especificamente as condições subumanas do Nordeste brasileiro, cujo ambiente seco e inóspito decorrente da exploração predatória da colonização portuguesa ajuda a gerar uma violência desenfreada promovida por coronéis que mandam e desmandam em suas regiões. A população pobre reage a essa violência, surgindo as quadrilhas de cangaceiros, se tornando aos olhos do povo uma perspectiva de futuro e um exemplo da impetuosidade e desafio às instituições do governo e aos poderosos, embora devamos nos lembrar que os cangaceiros não faziam uma resistência sistemática ao poder constituído e até se aliavam a alguns coronéis. Mesmo assim, os cangaceiros foram uma pedra no sapato do governo, sendo sistematicamente massacrados. O ambiente violento do Nordeste permaneceu após o fim do cangaço, assim como as práticas coronelistas, durante o governo JK. O uso de fraudes no sistema eleitoral como o atraso da entrega de títulos de eleitor para favorecer os candidatos dos coronéis também é denunciado. É curioso perceber, nos créditos finais, que apesar do filme ser uma história de ficção, ele é baseado em fatos reais. Dessa forma, vemos claramente as permanências de algumas instituições da República Velha no Nordeste em pleno governo populista de fins da década de 1950 e uma prática excessiva da violência por parte de elites oligárquicas que ainda mandavam em rincões do interior do sertão. É um filme que nos ajuda a lembrar que tais fatos não ocorrem de forma estanque no tempo, como alguns livros de História parecem nos ensinar. Mais uma vez o cinema cumpre sua função social, sendo uma boa peça ilustrativa do que se é ensinado nas escolas. Vale muito a pena dar uma conferida neste filme.

 Cartaz do filme


José Olímpio e sua mulher. Buscando um recomeço e fugindo da violência.


Dias de cangaço.


Sempre em fuga.


Saudades de Lampião.

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