sábado, 30 de abril de 2016

Resenha de Filme - Guerra nas Estrelas, Episódio VII (Sexta Parte)

Continuemos nossas elucubrações sobre o Episódio VII. Uma personagem nova e interessante que surgiu nesse filme foi Phasma. Alguns fãs (leia-se os podcrastinadores do Abacaxi Voador) acharam que a personagem foi subaproveitada. Pode até ser. Entretanto, o fato de uma mulher ser stormtrooper, assim como os protagonistas principais serem uma mulher (Rey) e um negro (Finn), mostram os novos tempos de como grupos sociais outrora marginalizados agora merecem mais destaque, ao invés do óbvio WASP loirinho de olhos azuis que era Luke Skywalker lá na década de 70. Esperemos que Phasma tenha mais destaque nos próximos episódios, pois sua presença é uma ótima ideia. Há quem diga que não dá para se usar todas as ideias num só filme, já que temos uma trilogia pela frente. Vamos aguardar.
Eu disse que deixaria mais para o final uma discussão que o papel do olhar tem nesse filme. Pois bem, essa foi a melhor coisa da película em termos cinematográficos, na minha modestíssima opinião. A comunicação de alguns personagens pelo olhar, sem o uso de palavras. Um verdadeiro discurso implícito no olhar, uma herança do cinema mudo num blockbuster de 2015! Há vários tipos de olhar no filme. Temos o caso do general Hux, que discursa olhando mais para o infinito do que para seus stormtroopers subordinados, numa mostra de que está totalmente embriagado pelo poder, pelo ódio e pela autoconfiança, cujo olhar anula o indivíduo existente na massa de subordinados e transforma os soldados em meras engrenagens de uma estrutura coletiva que assegura o poder da Primeira Ordem.
Mas existem outras situações mais profundas do olhar. Podemos pensar no caso de Rey. Já vimos o passado da moça, sendo abandonada, ainda menininha, em Jakku. Quando ela está na Millenium Falcon com Solo e fica intrigada com todo o verde do planeta do sistema Illenium onde está a cantina de Mas Kanata, Solo a olha com pesar, como se ele tivesse alguma parcela de culpa no abandono da moça em Jakku. Numa outra passagem do filme, ele olha para ela com orgulho quando a vê escalando o gigantesco fosso da Starkiller. E dá olhares intrigados quando a moça dá mostras de que sabe de tudo da Millenium Falcon. O mesmo acontece com a troca de olhares afetuosos entre Rey e Leia, além do grande abraço que elas dão uma na outra. Todo aquele carinho deixa evidente que há um passado implícito entre elas. Mãe e filha? Eu acredito muito nisso. Mas...
Agora, a grande presença do olhar no filme está justamente em seu desfecho, quando Rey encontra Luke Skywalker. Eu posso ver essa sequência final mil vezes no cinema e não me cansarei! Ali, o cinema está em estado puro, somente na materialidade das imagens dizendo tudo para nós! É um momento que leva às lágrimas! Rey subindo a montanha na ilha, num cenário ancestral. O encontro com Luke. O olhar intrigado do cavaleiro jedi, que preferiu o autoexílio a levar adiante a Ordem dos Cavaleiros, em direção à moça. A menina que mostra ao mestre o sabre de luz, com um olhar que implora por sua ajuda. A constatação, por parte do velho Cavaleiro, de que a responsabilidade novamente o chama. Tudo isso sem um diálogo sequer! Um momento desse vale mais do que um milhão de CGIs!!! E eu sobrevivi para ver isso em “Guerra nas Estrelas”, concebida inicialmente como uma fantasia espacial para o público infantil. É por essas e por outras que essa história tem tantos fãs de todas as idades no mundo inteiro. A sequência final do Episódio VII é uma mostra de que há um amadurecimento, há um desenvolvimento na saga.  E aí, “Guerra nas Estrelas” passa a ser muito mais do que sua proposta inicial. É muito legal ver tudo isso acontecendo.
Só ficou uma dúvida nessa cena final. Por que o Luke tinha aquela mão mecânica horrorosa, se em “O Império Contra Ataca”, sua mão mecânica era praticamente uma réplica de uma mão original? Num filme com tantas alusões a episódios antigos, vai haver um furo logo com um personagem tão importante? Ou será que essa nova mão mecânica do Luke em estilo retrô vai ter uma explicação nos próximos episódios?

No próximo artigo (o nosso último, ufa!), falaremos das perspectivas para o Episódio VIII. Até lá!

Phasma, uma ideia subaproveitada...

Phasma foi interpretada pela atriz Gwendoline Christie

General Hux. Olhar com ódio que anula o indivíduo

Leia. Olhar afetuoso para Rey...

Grande momento do filme. Luke Skywalker e sua constatação de que a responsabilidade o chama. Cinema em estado puro!!!





terça-feira, 26 de abril de 2016

Resenha de Filme - Guerra nas Estrelas, Episódio VII (Quinta Parte)

E, mais uma vez, estamos aqui para conversar sobre o Episódio VII. Uma coisa que muito incomodou no filme foi a já citada morte de Han Solo, considerada desnecessária por alguns, necessária por outros. Mais uma vez podemos fazer alusões ao Episódio IV aqui. Se no filme de 1977, Vader sentia a presença de Ben Kenobi na Estrela da Morte, o mesmo ocorreu com Kylo Ren sentindo a presença de Han Solo. A morte de Ben Kenobi foi extremamente traumática para Luke, que reagiu violentamente, metendo tiro nos stormtroopers. Já a morte de Solo foi muito sentida por Chewie, que igualmente usou sua balestra, muito citada no Universo Expandido e, agora, no Episódio VII, para detonar muitos stormtroopers (até o Solo deu seus tirinhos com a balestra de Chewie e gostou!). A morte de Solo mostra outra coisa que J. J. Abrams gosta de fazer em seus filmes: algumas inversões. Para isso, podemos mais uma vez fazer uma alusão ao seu “Jornada nas Estrelas”. Se nos longas clássicos, Spock morre ao fim de “A Ira de Khan”, é Kirk quem morre em “Além da Escuridão”, quando Khan é novamente enfrentado. No caso de “Guerra nas Estrelas”, era Chewie que morria no Universo Expandido (como é dito em “Provação”) e nosso J. J. decidiu matar Solo no Episódio VII. Mais inversões que mostram o lado iconoclasta de nosso diretor. É interessante perceber que, em alguns momentos, Abrams é iconoclasta demais e, em outros momentos, ele faz muitas referências aos episódios antigos, com o filme transitando entre esses dois pólos.
Agora, se alguns fãs não aceitaram a morte de Solo (como este escriba aqui que vos fala), ainda assim sou obrigado a admitir que a coisa foi feita com toda uma simbologia e carga dramática geniais. A gente se lembra que a arma “Starkiller” não funcionava durante o dia, pois ela captava energia da estrela vizinha. Pois bem, pouco antes de Solo morrer, cai a noite e o fluxo de plasma da estrela para a arma é interrompido, como se o ocaso da estrela simbolizasse o ocaso do próprio Solo. E, ainda, o avermelhado da face de Ren provocado pelo crepúsculo pouco antes de Solo ser golpeado com seu sabre de luz igualmente avermelhado, deixava bem claras as intenções do vilão em aniquilar seu pai. E qual foi a resposta de Solo ao filho que o matava? Acariciar-lhe o rosto! Foram bons momentos estéticos do filme que deram uma morte digna ao herói, embora inaceitável. Eu devo confessar que sou um daqueles fãs que acha que o herói é algo atemporal e imaculado. O herói pode até ter características e fraquezas humanas, não há nenhum mal nisso. Mas você não pode liquidar um herói. Ele sempre habita nossas mentes e nossos imaginários. Se o Harrison Ford já não tem idade para ser um herói, tudo bem. Ele bem poderia desaparecer de alguma forma nesse filme com um gancho para ressurgir lá no Episódio IX, por exemplo. Mas não mata o personagem, por favor...
Ainda sobre os atores da trilogia clássica. Doeu um pouco ver o velho casal Solo-Leia se relembrando dos “bons e velhos tempos”. Eu sei que o tempo é a entidade mais democrática que existe, pois cedo ou tarde ele pega todo mundo, mas presenciar Leia e Solo relembrando seus bons momentos ficou excessivamente solene, tal como se fosse um “varandão da saudade”. Confesso que me incomodou um pouco. Parecia até que, depois de todo aquele saudosismo, Han e Leia iriam para uma gafieira ou coisa parecida.
Outra coisa também tem me incomodado bastante. Cadê o Lando Calrissian? Ninguém se lembrou dele? Ou foi ele que não quis trabalhar no Episódio VII? Cartas para a redação. Esse silêncio sobre o primeiro dono da Millenium Falcon até nas redes sociais tem sido inquietante, não? Nos livros do Universo Expandido, Lando está sempre lá, como parte do elenco fixo da Trilogia Clássica. E em J. J.? Por que ele não apareceu? Será que vai aparecer depois? Espero que sim. Seria uma ótima companhia para Rey e Chewie, agora que o Solo se foi...

No próximo artigo, daremos sequência a nossa discussão sobre o Episódio VII, falando sobre Phasma e a questão do olhar no filme. Até lá!

A morte de Solo!!!

Que desnecessário, não???

Solo e Leia. Saudosismo excessivo...

Cadê o Lando???




terça-feira, 19 de abril de 2016

Resenha de Filme - "Guerra nas Estrelas", Episódio VII (Quarta Parte)

Vamos continuar a refletir sobre o Episódio VII. Snoke... quem é esse líder supremo? Seria o Imperador ressuscitado? No Universo expandido, fala-se que o Imperador teria deixado um clone prontinho para que a sua alma pudesse ocupar esse corpo caso ele morresse. Ainda, o Imperador tem os mesmos poderes de Ben Kenobi para manter seu espírito vivo, daí a possibilidade de “reencarnar” nesse novo clone. Será que essa ideia poderia ser aproveitada? Eu acharia ótimo... E não podemos nos esquecer de que o líder supremo quer Rey, assim como o Imperador queria Luke. É muito curioso também notar que o cenário em que o líder supremo fica (ou pelo menos sua imagem holográfica) é muito parecido com o cenário do líder imperioso dos cilônios (ou “cylons” para os mais novos) da série Galáctica (não a mais recente, mas a mais antiga de fins da década de 70). A disposição é a mesma: quem vai falar com o líder fica num plano inferior, olhando-o de baixo para cima. Outra homenagem de Abrams? Ainda falando de “Galáctica” e “Guerra nas Estrelas”, é interessante notar a alusão ao Império Romano em ambos os filmes, embora em Guerra nas Estrelas haja uma referência maior a Republica e ao Império, ao passo que na série antiga de “Galáctica” haja uma alusão da perseguição dos romanos aos judeus.
Continuando a falar sobre os novos personagens, muito me incomodou o estilo excessivamente cômico dado ao personagem de John Boyega, o Finn. Vou repetir aqui: o filme tem boas ideias e sacadas, mas que cansaram por ser excessivamente usadas. E esse também foi o caso de Finn. Ele passou muito rapidamente de figura atormentada para um dos heróis principais. E, nesse meio tempo, fez uma espécie de papel de “bobo da corte” que o aproximaria mais dos eternos personagens cômicos R2D2 e C3PO. Tudo bem que a gente possa dar umas risadas com esse personagem, mas isso tem que ficar muito bem medido, pois ele será um dos protagonistas, ele será um dos heróis. Em suma: ele não pode ser tão “lerdinho” o tempo todo. Vamos ver se o personagem se desenvolve ao longo dos outros episódios. Uma curiosidade extraída do “Almanaque Jedi”: o número 2187 de Finn é o mesmo número da cela de Leia na Estrela da Morte em “Uma Nova Esperança”. Mais uma boa referência implícita ao Episódio IV. E, segundo Chris Taylor, em seu excelente livro “Como Star Wars Conquistou o Universo”, “2187” foi o título de um filme de arte que muito chamou a atenção de Lucas em sua juventude, que teria, inclusive, ajudado o diretor a cunhar o conceito de força.
Vamos falar mais um pouquinho de Rey? Essa sim é uma personagem cheia de complexidades desde o início, o que abre muitas possibilidades. Ela é que provoca o tal “Despertar da Força”, sentido por Ren e Snoke. Já ficou bem claro que ela tem os midchlorians correndo no sangue e é uma jedi em potencial, puxando essa característica da suposta mãe, a princesa (ou general) Leia. Mas a moça ainda está imersa em muito medo e ódio, características que Ren notou enquanto a aprisionava e, principalmente no duelo entre os dois, quando Rey praticamente subjugou Ren e iria destruí-lo com todo o seu ódio, o que fatalmente a levaria direto para o lado sombrio. Por isso, na minha cabeça fica bem claro que aquela enorme cratera surgida entre Rey e Ren que evitou que a moça matasse o homem da Primeira Ordem mais salvou Rey do que Ren. E aí fica a dúvida: a cratera foi obra do acaso ou alguma manifestação da Força para evitar que Rey descambasse para o lado sombrio? Prefiro a primeira opção.
Um detalhe interessante foi a forma como Rey tateou o uso da força. Enquanto ela estava prisioneira de Kylo Ren, ela tentou convencer um stormtrooper (que estão dizendo por aí que era Daniel Craig, o atual James Bond, fazendo uma ponta) a soltá-la. Mas não tinha controlado o soldado. Dava para perceber que seu tom de voz era mais alto e com raiva. E ela não conseguiu o seu objetivo. Quando ela deu a ordem novamente, só que de forma mais delicada e pausada, sem raiva, ela conseguiu dominar a mente do stormtrooper, num indício de que ela deve controlar a sua raiva. Fazendo um trocadilho infame, ela não devia usar a Força, mas sim jeito.
Mas a coisa não parou por aí. Lembrando muito “O Retorno de Jedi”, quando Vader explorava a mente de Luke enquanto eles duelavam com os sabres de luz, e o senhor sombrio descobriu a existência de Leia, Ren também fazia o mesmo e torturava psicologicamente Rey, dizendo que ela é solitária e tem medo de partir. A moça sonha com uma ilha onde tem Han como figura paterna (algo que aconteceria ao fim do filme, mas com Luke; seria o cavaleiro jedi essa nova figura paterna e mestre, com Solo sendo o pai biológico?). Rey, por sua vez, usa o mesmo poder em Ren e diz que ele tem medo de não ser como Vader. A semelhança entre os dois aí chega a ser gritante (ambos têm medo e raiva, além de explorarem a mente um do outro com o uso da força) e é um fato que ajuda na hipótese de que os dois são irmãos.

No próximo artigo, falaremos mais sobre a morte de Han Solo e de mais alguns personagens da trilogia clássica. Até lá!

Quem é o líder Snoke???

Finn não pode ser muito engraçado...

Rey. Muito medo...

... e muito ódio...

Guerra psicológica entre Rey e Ren. Irmãos???





segunda-feira, 18 de abril de 2016

Resenha de Filme - Guerra nas Estrelas, Episódio VII (Terceira Parte)

Vamos dar sequência a mais algumas reflexões sobre o Episódio VII. Como falamos da Starkiller, podemos também mencionar uma característica até certo ponto irritante de J. J. Abrams. O homem é um iconoclasta e não se importa muito em destruir certas referências dos filmes em que mete a mão. Em “Jornada nas Estrelas”, que, diga-se de passagem, Abrams fez um grande estrago, já presenciamos a destruição de Vulcano. Não satisfeito, Abrams agora no Episódio VII não só destrói a sede da República (talvez uma referência à destruição de Alderaan) como ainda mata Han Solo! A morte do contrabandista ainda pode ser compreensível, pois Harrison Ford já não é jovem, de repente pode ter sido um pedido do próprio ator para não se perpetuar na saga, etc. (na trilogia clássica, Ford nunca dava a certeza de que queria continuar a fazer os filmes). Mas destruir a sede da República foi um pouco demais. Me pareceu inicialmente que o planeta Coruscant havia sido destruído. Mas uma fonte altamente confiável (leia-se Henrique Granado) me disse que, na novelização do Episódio VII ficou claro que, depois da queda do Império, a sede da Nova República ficou itinerante. E, de qualquer forma, o Senado foi destruído. Confesso que não gosto muito dessa destruição de referências que o diretor de “Lost” realiza. Fazendo um trocadilho infame, Abrams deve estar meio “perdido” quando faz isso. Notemos que, tanto na destruição de Vulcano quanto na destruição da sede da República, há pessoas assistindo da superfície de outro planeta, olhando resignadas para a explosão do mundo em si.
Falemos, agora, da segunda virtude do filme, o uso de elementos do Universo Expandido. Confesso que não tenho uma carga de leitura suficiente para uma análise mais aprofundada. Eu tenho lido os lançamentos da Aleph, acima de tudo. E pude identificar no filme coisas que estavam descritas no livro “Provação”, de Troy Denning, que se passa cerca de quarenta anos depois de “O Retorno de Jedi”. A que mais chama a atenção é o fato de que Han Solo e Leia tiveram um casal de filhos gêmeos, Jacen e Jaina, sendo que Jacen se tornou um cavaleiro jedi sombrio e Jaina, uma jedi do lado da luz. Jaina, inclusive, chega a matar Jacen. Pois bem, no filme também temos Kylo Ren, filho de Solo e Leia, que passou para o lado sombrio, aliciado por Snoke. E temos Rey, que mostrou saber tudo da Millenium Falcon, a ponto de falar sobre detalhes da nave simultaneamente com Solo. Outro fato que merece destaque é que a mocinha tem certas habilidades jedi que ainda não estão bem exploradas. Rey seria filha de Leia e Solo? Rey seria irmã de Ren? A sonoridade dos nomes ajuda bastante nessa hipótese. Mas como eu tenho visto muitas especulações nas redes sociais (onde até Rey seria filha de Luke!), prefiro lançar somente essa dúvida no ar. Dando mais outro elemento: por que Leia abraçou Rey efusivamente quando a viu pela primeira vez no filme? E os olhares de Solo à moça, quando ela falava da quantidade do verde de um mundo ou quando ela escalava as paredes da Starkiller? À propósito, a questão do olhar nesse filme é algo um tanto quanto atraente e intrigante. Mas deixarei essa discussão mais para o final.
O uso da chamada hora-padrão (existem muitos planetas na galáxia e é necessário estabelecer uma contagem de tempo padrão que sirva de referência a todos) e as noções de núcleo e orla exterior, presentes no Universo Expandido, são também citados no filme e são referências muito bem vindas.
Um parágrafo rápido para citar os efeitos especiais. Nunca devemos nos esquecer de que “Guerra nas Estrelas” fundou essa nova era do cinema em que os efeitos especiais são uma atração de destaque. E, dessa vez, podemos dizer que eles também ocuparam um papel relevante, principalmente nas cenas em que as naves espaciais interagiam com a natureza dos planetas, quer dizer, os X-wings voando sobre as superfícies de lagos e levantando aquela água toda. Aquilo foi show! A mesclagem entre as batalhas aéreas de caças com os combates de solo foram igualmente originais e estimulantes. Esses foram pontos altamente positivos do filme e uma prova de, mais uma vez, “Guerra nas Estrelas” usar os efeitos especiais num tom inovador.
E o Kylo Ren? Bom vilão? Até certo ponto. Em primeiro lugar, para quê aquele capacete de Pato Donald cromado? Só para dar medo? Só para lembrar de Darth Vader? Eu sou um dos defensores da ideia de que o capacete poderia ser aposentado no Episódio VIII. Adam Driver tem um corpo elegante e esguio, não precisando daquela máscara ridícula. Que fique o rosto do ator exposto mesmo. Isso pode trabalhar mais possibilidades dramáticas. Outra coisa: o personagem dá muito piti e mostra descontrole emocional. Alguns fãs lembram da impetuosidade de Anakin nisso. Vamos ver se isso será também corrigido pelo tempo, até porque Snoke disse que seu treinamento ainda deveria ser completado. É até engraçado, mas não pega bem a um vilão sair destruindo tudo em acessos de raiva toda a hora. Passa a ficar ridículo para um personagem considerado sério. Quando me lembro na hora do combate de sabre de luz com Rey que ele ficava dando socos no próprio peito... que constrangedor!!! Entretanto, um detalhe muito legal que existe nesse personagem é que, assim como em Luke havia uma tentação para se passar para o lado sombrio, em Ren há a tentação inversa, ou seja, a de se passar para o lado “de luz” da força. E ele é submetido a essa tentação até porque não completou o seu treinamento. Ren terá outra importância básica no filme, pois ele era aprendiz de Luke Skywalker e, ao ser aliciado por Snoke e passar para o lado sombrio, o velho cavaleiro jedi desistiu de restaurar a Ordem Jedi, sentiu-se culpado por todo o desastre ocorrido e iniciou seu autoexílio, quando ele irá, nas palavras de Solo, talvez procurar o primeiro templo Jedi. Ainda, ficou uma outra questão: o que são os “Cavaleiros de Ren”, citados por Snoke?

No próximo artigo, continuaremos nossas reflexões sobre o Episódio VII, conversando sobre o Líder Snoke, Finn e Rey. Até lá!

Um diretor que destrói planetas...

Mais uma vez os efeitos especiais surpreenderam...

Quem é Rey?

Alguém tire a máscara desse homem!!!!




domingo, 17 de abril de 2016

Resenha de Filme - Guerra nas Estrelas, Episódio VII (Segunda Parte)

Vamos continuar nossas observações sobre o Episódio VII falando agora dos  personagens e suas relações com os filmes antigos. Poe Dameron pode ser visto como uma mesclagem de Luke Skywalker piloto de X-wing com o nosso estimado Wedge Antilles. O General Hux (interpretado por Domhnall Gleeson) lembra muito o Grão Moff Tarkin, embora Hux tenha uma relação muito conflituosa com Kylo Ren, ao passo que a relação entre Tarkin e Vader fosse muito mais cavalheiresca, sendo um pouco conflituosa somente em seu início (para maiores informações, ler o excelente livro “Tarkin”, de James Luceno). E a Rey, que tem um monte de marmanjo babando em cima nas redes sociais? Impossível não se lembrar da Padmé... Ainda com relação à Rey: ela chegou a caminhar pela Estrela da Morte da mesma forma que Obi-Wan Kenobi, interpretado pelo inesquecível “Sir” Alec Guiness, inclusive com as mesmas falas dos stormtrooopers. E o R2-D2? Desligado o filme inteirinho, em modo de economia de energia (será que a conta de luz está em bandeira vermelha por lá também?), mas liga no finalzinho e salva o dia novamente, como não podia deixar de ser, juntando o seu mapa ao mapa inserido em BB-8. E não podemos nos esquecer que novamente é citado que Solo fez o percurso de Kassel em 14 parsecs (ou seriam 12???).
Após essa breve descrição, dá para perceber uma grande quantidade de referências explícitas aos antigos filmes da trilogia clássica, o que acabou ficando um pouco exagerado. Mas as referências também foram implícitas, e essas acabaram sendo mais interessantes. A principal delas ficou por conta das alucinações de Rey na cantina de Maz Kanata, ao encontrar o sabre de luz de Luke Skywalker. Apesar de ser algo muito traumático, com visões do passado (uma menininha abandonada num planeta desértico) e do futuro (uma batalha contra Kylo Ren num cenário de neve - o que ainda acontecerá neste episódio - e outra batalha num cenário chuvoso), não dá para não fazer uma pequena recordação de Dagobah, em “O Império Contra Ataca”, Episódio V, quando Luke se encontra com a visão de Vader. Assim como Luke em Dagobah, Rey também encarou os seus medos, e, lembrando a citação de Yoda, a única coisa que há lá é o que você leva. Outra referência implícita está na destruição da Starkiller, a nova Estrela da Morte. Se Luke teve que acertar um buraco de dois metros com mísseis, Dameron passou seu X-wing de asas fechadas numa pequena fenda feita deliberadamente pelos explosivos de Solo e Chewie para adentrar a arma e destruí-la. Mas como isso se dá numa cena de ação intensa, que ocorre de forma muito rápida, fica difícil associar as duas situações. Por isso, é interessante ver o filme mais de uma vez para encontrar tais referências.
Uma alusão muito interessante a outros filmes não se remete a outros episódios de “Guerra nas Estrelas”, e sim ao filme de Leni Riefenstahl, “O Triunfo da Vontade”, um exemplo marcante da propaganda nazista. Nesse filme, há uma sequência onde Adolf Hitler se vê diante milhares de soldados perfilados e ordenados em blocos retangulares rigidamente formados. Pois bem, no planeta onde está fincada a arma Starkiller, vemos um cenário que podemos dizer no mínimo igual ao do “Triunfo da Vontade”. Há até o General Hux fazendo as vezes de Hitler, discursando de forma efusiva contra a República Democrática acusando-a de divulgar mentiras, bem ao estilo do que fazia o Ministro da Propaganda Nazista, Joseph Goebbels. Os stormtroopers perfilados até fazem uma “saudação nazista”, levantando o braço esquerdo com o punho fechado, ao invés do braço direito com a mão aberta. Outra referência ao nazismo e ao “Triunfo da Vontade” já tinha aparecido ao fim de “Ataque dos Clones”, Episódio II, no momento em que os soldados embarcavam nos destroieres estelares, sendo um pouco mais implícita. Mas, desta vez, no Episódio VII, a alusão foi bem mais explícita. A própria indumentária dos oficiais da Primeira Ordem é agora bem mais “nazista” do que nas outras trilogias.
Ainda na trilha do nazismo, o clima do planeta da Starkiller também chama a atenção. Se o ambiente glacial do planeta lembra muito o mundo gelado de Hoth em “O Império Contra Ataca”, também lembra um documentário chamado “Arquitetura da Destruição”, que falava do gosto por arte dos nazistas e, sobretudo, de Hitler. O ditador queria ser artista, mas foi reprovado duas vezes num exame de admissão para a Academia de Artes de Viena. Quando se tornou líder máximo da Alemanha, Hitler surrupiou muitas obras de arte de vários países. O chanceler, inclusive, tinha uma casa de inverno nos Alpes com uma enorme janela que dava para uma linda cadeia montanhosa. Imagem semelhante é vista no “Episódio VII”, onde a estação militar que controla a grande arma tem uma grande janela panorâmica que dá para a paisagem glacial.

No próximo artigo, falaremos de como J. J. Abrams é um iconoclasta incorrigível e quais foram as características do Universo Expandido presentes no filme. Até lá!

Poe Dameron. Fusão de personagens da trilogia clássica...

General Hux. Alusão ao Grão Moff Tarkin

Rey. A cara de Padmé...

Soldados perfilados na Estrela da Morte lembram...

... os soldados nazistas...





terça-feira, 12 de abril de 2016

Resenha de Filme - Guerra nas Estrelas, Episódio VII (Primeira Parte)

Em dezembro, saiu o tão aguardado “Guerra Nas Estrelas, EpisódioVII, O Despertar da Força”. Quando foi noticiado que George Lucas havia vendido os direitos de “Guerra nas Estrelas” para a Disney por 4,05 bilhões de dólares e, ainda por cima, a direção ficaria a cargo de J. J. Abrams, alguns fãs simplesmente surtaram e previram uma tragédia sem precedentes. Também pudera. Abrams ficou marcado por um final um tanto tresloucado da série de TV “Lost” e foi acusado de desvirtuar totalmente “Jornada nas Estrelas”, algo em que eu concordo plenamente. Desde então, um medo pairava no ar: será que Abrams desvirtuaria também “Guerra nas Estrelas”? Muitos temiam por isso e tomavam como base a trilogia formada pelos Episódios I, II e III, criticada severamente por alguns fãs. Assim, a estreia do Episódio VII foi marcada por muita expectativa e (por que não?) até uma certa angústia.
Chega, então, o dia 17 de dezembro! O filme é exibido em pré-estreia. Não pude estar lá, mas os fãs de longa data falavam bem do filme. Outros tinham algumas críticas. Temeroso pelos “spoilers” que pudessem esvoaçar pela internet, percebi que deveria ver logo o filme. E, então, na sexta-feira, dia 18, depois de um dia cheio de trabalho, parti para o Odeon, pegar uma sessão às nove horas da noite. E quais foram as impressões sobre o filme? Parece que J. J. Abrams muito levou em consideração a apreensão dos fãs e, se não fez um excelente filme, ainda assim fez uma boa película digna para a saga. Parece que ele sentiu que, se pisasse na bola, sua vida estaria a perigo, pois os fãs não perdoariam tal sacrilégio! Já até o estavam chamando de Jar Jar Abrams, coitado... Mas o homem fez um bom trabalho. E por que o trabalho foi bom? Aí, para podermos fazer uma análise mais aprofundada do filme, os “spoilers” são inevitáveis. Portanto, esse artigo foi publicado depois de um certo tempo da estreia do filme para que todos possam lê-lo sem preocupações e tensões. Mas, se você ainda não viu o filme, saiba que as linhas abaixo estão coalhadas de “spoilers”.
Vamos lá! Em que consiste a trama do filme? Luke Skywalker, o último Jedi, está desaparecido. A descoberta de seu paradeiro é disputada por dois grupos: a Resistência, vinculada à República, que assumiu o governo da galáxia após a queda do Império, e a Primeira Ordem, formada de resquícios do que sobrou do Império. A agora General Leia Organa, uma das líderes da Resistência, enviou um piloto de X-Wing, Poe Dameron (interpretado por Oscar Isaac) ao planeta Jakku (ô nomezinho complicado para nós que falamos português!) para pegar um mapa que pode ter a localização de Skywalker e que está em poder de Lor San Tekka (interpretado pelo lendário Max Von Sydow). Mas as forças da Primeira Ordem lideradas por Kylo Ren (interpretado por Adam Driver) descobrem onde está o mapa e capturam Dameron, que antes disso esconde o mapa no seu simpático robozinho BB-8. Ele se aventura pelo deserto, é capturado por um catador de ferro-velho, mas é salvo por outra catadora de ferro-velho, Rey (interpretada por Daisy Ridley), que passa a tomar conta da maquinazinha. Parece que em Jakku, houve uma batalha espacial violenta entre as forças do Império e a Aliança Rebelde, já que vemos em todos os lugares carcaças de destroiers estelares, X-wings, andadores AT-AT, etc. E a doce Rey vive de catar peças nessas carcaças, sendo muito mal pagas. No destroier estelar onde está Dameron, Ren lhe arranca, sob tortura,  a informação de que o mapa está em BB-8. Mas há um stormtrooper atormentado com os procedimentos da Primeira Ordem, FN-2187 (interpretado por John Boyega), que decide fugir do destroier e ainda levar Dameron com ele. Assim, eles sequestram um caça TIE e, depois de abatidos, caem no planeta. A partir daí, a história continua a se desenrolar, com uma suposta morte de Dameron, um encontro entre Rey e FN-2187 (rebatizado por Dameron como Finn) e essa nova dupla se esbarrando por aí com personagens da trilogia clássica, infelizmente muito maltratados pelo tempo. Todos, vilões e mocinhos, atrás de Luke Skywalker. Esse é o objetivo do Episódio VII.
O que podemos dizer do filme em linhas gerais, antes de começar uma análise mais profunda? Em primeiro lugar, esse filme foi cercado de grandes expectativas, e assim tudo o que se fala dele acaba sendo também amplificado. Se filtrarmos toda essa ansiedade e buscar uma visão um pouco mais fria do contexto, pode-se dizer que, “O Despertar da Força” foi, no geral, um bom filme, com grandes qualidades, mas também com alguns problemas. O filme teve duas qualidades básicas: 1) não se furtou a fazer alusões a elementos presentes na saga e; 2) aproveitou elementos do chamado Universo Expandido (não vou ficar aqui me aprofundando naquela discussão sobre o que é canônico e o que é Universo Expandido; vou considerar como Universo Expandido aqui o que foi produzido fora dos seis filmes). Quanto à primeira qualidade, bom, aconteceu um pequeno problema. Os fãs mais aficionados e antigos conseguem identificar melhor o novo filme com todo o contexto da saga, quando esse novo filme tem referências aos filmes anteriores. O problema é quando você exagera nisso. E, infelizmente, foi o que J.J. Abrams acabou fazendo. Foi muito legal fazer alusões ao Episódio IV, o grande pai fundador. Mas, chegou uma hora em que isso ficou cansativo, principalmente quando apareceu aquela enorme Estrela da Morte, uma referência bem explícita, com a arma “Starkiller”, que foi o primeiro nome de Luke Skywalker no roteiro ainda geminal de Lucas. Para não ficar muito igualzinho, buscou-se introduzir alguns elementos novos como, por exemplo, o tamanho dela (o que não significa lá muita coisa, já que ela está agora embutida em um planeta) e o fato dela sugar plasma da estrela próxima para justificar o poder de destruição (essa sim, uma ideia legal, que lembra muito um objeto estudado em astrofísica chamado estrela variável cataclísmica, onde, num sistema binário, uma estrela densa, tipo anã branca, com sua grande força gravitacional, suga o plasma de outra estrela, canibalizando-a). Mas, novamente, uma Estrela da Morte tinha que ser destruída, com um ataque de caças X-wings, onde eles tinham que passar por uma vala e havia um piloto de X-wing muito parecido com o Porky´s do Episódio IV. Todas essas alusões ficam mais parecendo uma forçada de barra do que uma homenagem. E Jakku? Desértico como Tatooine. A cantina de Maz Kanata é uma reedição da cantina de Mos Eisley, com direito a bandinhas de música e todos aqueles bichinhos (tinha até uma mesa com os mosquitos da dengue). Ah, sim, a velha frase “Estou com um mau pressentimento quanto à isso”, a mais falada de toda a saga, voltou com força total, dita desta vez por Han Solo. Há, ainda, uma sala de operações estratégicas militares muito parecida com a do Episódio IV na Batalha de Yavin, assim como a presença do Almirante Ackbar, que esteve também no “Episódio VI”.  Outra comparação é a leve semelhança entre o veículo de transporte imperial da trilogia clássica e o veículo de transporte de Kylo Ren. Os monstros rathtar que Han Solo transporta em seu cargueiro são esteticamente muito parecidos com os sarlaccs de Tetooine, com a vantagem de que eles se deslocam rapidamente. Outras alusões à trilogia clássica: vemos o “joguinho de xadrez” da Millenium Falcon e as costumeiras intromissões de C3PO entre Han e Leia.

No próximo artigo, falaremos um pouco mais dos novos personagens e de mais referências existentes no Episódio VII, agora sobre o nazismo.Mas antes, não deixe de recordar o trailer do filme depois das fotos. Até lá!

Cartaz do Filme

J. J. Abrams. Será que vai dar certo???

Estrela da Morte. De novo???

Um novo robozinho e uma nova heroína...

Resenha de Filme - Histórias de Alice

Histórias De Alice. Revivendo O Passado.
Um filme escrito e dirigido por Oswaldo Caldeira lá no longínquo ano de 2009 somente agora chega às nossas telonas (simplesmente inacreditável tamanha demora!!!). “Histórias de Alice” é um daqueles filmes em que o diretor relembra o passado de sua família e busca suas raízes em Portugal, a terra de seus antepassados.
A trama fala sobre Lucas (interpretado pelo versátil ator Leonardo Medeiros, de “Lavoura Arcaica”), um cineasta que vai a Portugal buscar as origens da família, principalmente de sua mãe Alice, depois de sua morte. Mas revirar esse passado não será uma tarefa fácil, pois ele terá que enfrentar um clima de desconfiança dos portugueses, que acham que o diretor de cinema busca compreender as suas raízes com o intuito de pedir algum tipo de herança a que ele tenha direito. Com a ajuda de Teresa (interpretada pela deslumbrante Diana da Costa e Silva), e de Miguel (interpretado por Ivo Canelas), Lucas vai dobrar o povo local e consegue fazê-lo falar. Mas a coisa não seria tão simples e muitas tramoias aconteceriam contra nosso protagonista, cujo processo de reconstrução do passado dos pais foi altamente tortuoso.
O filme é um verdadeiro exercício de História Oral, onde cada depoimento mostra uma visão do passado que, às vezes, pode ser totalmente conflitante com a outra. Quando entrevistamos pessoas para coletar fontes orais, sabemos que a versão do entrevistado é apenas uma leitura das muitas leituras do passado que podemos coletar. Mas Lucas era um homem de cinema e nem sempre a veracidade dos fatos era o que mais importava para o diretor, dentro daquela visão de que o cinema e a vida podem ser conceitos que se confundem. De qualquer forma, nem sempre revirar o passado pode ser uma experiência lúdica e Lucas vai se deparar com uma história que pode manchar o passado de sua família.
A história dos pais de Alice também trouxe outra interessante componente: a relação entre as classes sociais em Portugal. Alice pertencia a um estrato social mais baixo, sendo vista com preconceito pela família de Olavo, seu futuro marido. E tal situação era vista com a maior naturalidade do mundo, chegando ao ponto do pai de Alice negar a mão da sua filha a Olavo, pelo fato do moço pertencer a uma família rica. Pudemos atestar isso, pois o filme é repleto de “flashbacks” que nos ajudam a entender a vida pregressa de Olavo e Alice no norte de Portugal, nos anos anteriores a Segunda Guerra Mundial.
Os atores estavam muito bem. Leonardo Medeiros é muito eficaz, fazendo um personagem muito maravilhado e deslumbrado com a história dos pais, o que às vezes o deixava vulnerável. Diana da Costa e Silva, além de ser um deleite para os olhos, tinha uma personalidade altamente magnética e deu uma leveza e tanto para a película. Ivo Canelas, que havia interpretado o sóbrio Apeles, o irmão de Florbela Espanca no filme “Florbela”, estava odioso no papel de Miguel, nos convencendo da vigarice do personagem. Já a esguia Ana Moreira interpretou a jovem Alice, uma mulher que enfrentou de cabeça erguida todas as provações da vida. O filme ainda teve breves, mas marcantes participações de Maria Padilha e Tonico Pereira, que dispensam apresentações.

Dessa forma, “Histórias de Alice” é um filme autoral que nos mostra a história de vida da família de Oswaldo Caldeira, e que deu a nós o privilégio de ver as suas fotos de família nos créditos finais. Uma película com enorme conteúdo afetivo. Um filme que mostra como estudar o passado coletando fontes orais pode ser uma experiência muito complicada se você quer fazer uma reconstituição histórica e uma experiência deliciosa se você quer ouvir boas histórias, verídicas ou não. E não deixe de ver o trailer acima.

Cartaz do Filme

Lucas busca o passado dos pais...

Resgatando a história de um casal...

Teresa vai ajudar Lucas a encontrar seu passado em Portugal.

Um episódio nebuloso...

Rápida participação de Tonico Pereira...

Oswaldo Caldeira...

sábado, 9 de abril de 2016

Resenha de Filme - Zoom

Zoom. Erotismo E Intertextualidade.
Uma curiosa co-produção brasileira e canadense chega a nossas telas. “Zoom” é um filme que pode ser definido como uma verdadeira porra-louquice que deu certo. Dirigido por Pedro Morelli e escrito por Matt Hansen, tendo Fernando Meireles como um dos produtores, essa comédia escrachadinha é mais um daqueles filmes que tem um roteiro muito bem escrito e que se correu um grande risco, pois se fica alguma ponta solta, tudo vai por água abaixo.
Vemos aqui a história, ou melhor, as histórias no plural de três personagens básicos. A primeira é a de Emma (interpretada pela angelical Alison Pill), que trabalha numa pequena fábrica de manequins eróticos. Um belo dia, durante uma rapidinha com o seu colega, ele mencionou que seus seios eram muito pequenininhos, e ela decidiu colocar implantes de silicone. E, meio que para se vingar do colega, a moça começou a fazer uma história em quadrinhos, cujo personagem principal era um diretor de cinema de nome Edward (interpretado pelo eficiente Gael Garcia Bernal), a idealização perfeita de homem ideal. Edward quer fazer um filme, mas encontra obstáculos para desenvolver sua ideia, considerada não comercial. Ele quer fazer uma história sobre uma modelo brasileira, Michelle (interpretada pela nossa Mariana Ximenes), que recebe um convite para escrever o livro e, desacreditada pelo marido, se refugia no interior do Brasil para escrever uma história sobre uma moça que fez um implante de silicone e se decepcionou com o resultado, ou seja, Emma, fechando o ciclo entre os três personagens que, à medida em que iam desenvolvendo suas histórias, interferiam nas vidas uns dos outros, o que requeria atenção do espectador e uns exercícios de vai e vem na narrativa que tornaram a coisa muito mais interessante.
Na verdade, a gente percebe que as histórias estão interligadas aos poucos, principalmente quando o que um autor escreve influencia a história ao lado. Apesar do conteúdo erótico do filme, que chama muito a atenção, o que mais impressiona é esse grande exercício intertextual, feito com muita maestria. Esse filme acaba sendo um prato cheio para quem gosta de escrever histórias, pois vemos cada uma das três narrativas se imbricando e uma influenciando a outra. Cada história tem ainda um tom peculiar. Emma brinca de Deus com Edward; já Edward, por sua vez, não tem liberdade para desenvolver sua história. E Michelle carrega nas tintas em cima de uma narrativa que era altamente banal. Essas tramas também tinham, volta e meia, um quê onírico, principalmente quando o escritor de cada história provocava uma reviravolta, algo que deixava os protagonistas sem entender as situações inusitadas que simplesmente brotavam do nada. Um detalhe interessante aqui foi o tom de animação que a película tinha, com as imagens reais sendo tratadas para parecer que víamos a história em quadrinhos de Emma em movimento. É como se estivéssemos vendo aquele vídeo clip do A-ha “Take on me” numa versão bem mais turbinada, com o detalhe que Gael Garcia Bernal apareceu somente nos quadrinhos como um desenho, o que não diminuiu em nada sua participação na película, muito boa por sinal. Mariana Ximenes também teve boa atuação, embora na minha modesta opinião a melhor atriz desse filme tenha sido Alison Pill, que fez uma personagem cômica, mas cheia de sensualidade. Uma grata surpresa foi rever Claudia Ohana, que teve um “affair” com Ximenes no filme. E a boa notícia é que ela ainda está linda, apesar da certa idade.

Dessa forma, “Zoom” é uma película que prima por seu roteiro bem escrito, sendo uma aula de eficaz intertexualidade, apimentada por uma animação que deu todo um colorido ao filme. Uma boa pedida. E não deixe de ver o trailer após as fotos.  

Cartaz do Filme

Emma. Seios e quadrinhos...

Edward. Restrições a sua liberdade criativa

Michelle. Uma modelo que não sabe escrever???

A animação deu um colorido todo especial à película...

O que está acontecendo aí em cima???

O diretor Pedro Morelli e a atriz Maria Flor. Ela não faz parte do filme...

Gael Garcia Bernal nas filmagens...

terça-feira, 5 de abril de 2016

Resenha de Filme - White God

White God. Solidariedade Com Os Cachorrinhos.
Um filme muito inusitado estreou em nossas telonas. “White God” é uma co-produção Hungria, Alemanha e Suécia, tendo como tema um assunto muito caro a várias pessoas: os cachorros e o seu relacionamento com os humanos. É mais um daqueles filmes que mistura gêneros, sendo que agora a coisa fica muito bem delineada, ou seja, percebemos claramente quando se passa de um gênero para outro. É um corte muito abrupto e, confesso, achei que houve uma certa descontinuidade no roteiro.
Mas, no que consiste a trama? Vemos aqui a história de Lili (interpretada por Zsófia Psotta), uma menininha pré-adolescente que tem como animal de estimação o simpático cachorro Hagen (interpretado pelo cão Body). Lili vive com a mãe e seu padrasto. Só que a mãe terá que fazer uma viagem a trabalho de três meses junto com o marido e Lili terá que ficar com seu pai, que odeia cachorros. Hagen ainda tem um agravante: ele é resultado de um cruzamento entre um labrador e um shar pei sendo, por isso, considerado um vira-lata e visto com mais preconceito ainda não só pelo pai de Lili como por todas as pessoas em geral. Aliás, o filme dá a impressão de que todo o povo da Hungria não presta e é canalha com os cachorros, o que sabemos que não é bem assim, já que não se pode generalizar. Mas sentíamos uma grande mágoa em quem escreveu o roteiro. Pois bem. Hagen foi desde o início rejeitado por todos: a vizinha velha do prédio que não gosta de cachorros (como eu as odeio profundamente!!!) , os funcionários da “Suípa” de lá, o açougueiro que quer matar os cachorros que reviram restos de carne, etc. E por que Hagen é perseguido por esse povo todo? Porque o pai de Lili, num momento de fúria, larga o cachorro na rua e ele passa a viver como um vira-lata. E aí, todo o tipo de maldades acontece com o nosso pobre bichinho, num momento em que a película incomoda demais. Mas Hagen não deixaria essa situação passar barato. E nisso, o filme tem uma violenta reviravolta. Chega de spoilers!
Qual é a grande importância dessa história? Temos aqui uma película que denuncia da forma mais contundente possível os maus tratos contra animais. E o diretor Kornél Mundruczó, que também assina o roteiro junto com Viktória Petrányi e Kata Wéber, faz isso de forma muito eficiente. O cachorrinho Hagen é doce, meigo, sem um pingo sequer de maldade no coração. Dessa forma, ele se tornou uma presa fácil para a toda a maldade e canalhice humanas. Não é à toa que muito procede aquela frase “quanto mais eu conheço os humanos, mais eu gosto dos cachorros”, uma verdade cósmica universal! Todas as coisas ruins que o cachorro sofria nas mãos das pessoas nos chocavam, nos incomodavam, despertavam toda a nossa indignação e sentimento de raiva contra a nossa própria espécie. Nesse ponto, o diretor e os roteiristas atingiram os seus objetivos em cheio. Só que o filme não foi apenas isso. De uma forma excessivamente abrupta e inesperada, a história, que parecia ser apenas uma denúncia a maus tratos contra animais, se transformou em algo totalmente diferente, num gênero totalmente novo. Não quero estragar a surpresa aqui. Só quero dizer que foi muito hilário! Mas, mesmo assim, foi uma descontinuidade violenta no roteiro. Se essa foi a intenção dos roteiristas, com o objetivo de provocar um novo choque, mais um ponto para eles. E acho que foi muito provável essa intenção, transformando um suposto vacilo em mais uma virtude para a película.
Os atores foram relativamente bem, lembrando sempre das dificuldades de se contornar toda uma situação de estranhamento quando nos deparamos com estilos de atuação tão diferentes quanto os da Hungria, um país cuja cultura difere muito da nossa. Mas a maioria dos atores conseguiu fazer com que sentíssemos raiva deles, tornando-se verdadeiramente odiosos, bem na medida do que o roteiro e a direção exigiam, para tornar mais contundente ainda a questão dos maus tratos aos animais. Até Lili, a protagonista, nos incomoda, quando, a uma certa altura do filme, ela simplesmente esquece Hagen e toca a sua vida.

Assim, “White God” é um excelente filme de denúncia contra os maus tratos aos cachorrinhos, que se transforma em algo muito diferente ao final. Ah, e aqui a legenda (em inglês) “Nenhum cachorro foi maltratado nesse filme” nunca apareceu em letras tão garrafais! Programa imperdível! E não deixe de ver o trailer após as fotos. 

Cartaz do Filme.

Lili e Hagen. Uma relação afetuosa

Quem é o verdadeiro monstro??? O cachorrinho ou o humano que fez isto com ele???

Barbaridade...

Dá muito dó!!!

Tadinhos!!!

Hagen em Cannes, com o diretor Kornél Mundruczó e a atriz Zsófia Psotta que interpretou o papel de Lili.

Muito fofo, o poião!!!!