domingo, 27 de março de 2016

Resenha de Filme: Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça

Batman Vs. Superman. Os Super-Heróis Surtaram!
E chegou o tão esperado “Batman Vs. Superman, A Origem Da Justiça” em nossas telonas. Essa é a cartada mais audaciosa da DC para fazer seus filmes de super-heróis decolarem e tentar ganhar algum do muito terreno perdido para a Marvel. Sejamos francos, uma das poucas coisas que a DC produziu de bom foi a trilogia do Batman estrelada por Christian Bale. Era necessário e urgente que a DC fizesse algo de impacto.
E a DC conseguiu alcançar seu objetivo? Na minha modesta opinião, creio que sim. Mesmo com o filme não sendo essa maravilha toda, ainda assim foi uma boa película que prendeu a nossa atenção do início ao fim e trouxe uma história bem escrita, salvo por uma ressalva ou outra. Para a gente analisar o filme, alguns “spoilers” são necessários. Então, se você não viu ainda esse filme, retorne a esse texto depois de fazê-lo.
A história começa no meio dos eventos da sequência final do último “Superman”, quando o homem de aço (interpretado por Henry Cavill) enfrentava o General Zod sob os céus de Metrópolis, obviamente destruindo a cidade. Bruce Wayne (interpretado por Ben Affleck) está no meio daquele bombardeio todo, revoltado com o alienígena que, apesar da fama de bom moço, destrói tudo à sua volta. Wayne acredita que seu poder ilimitado fará com que o Super Homem sempre faça o que bem entender, sem se preocupar com a opinião dos humanos. Logo, para o Homem Morcego, Super Homem é uma grande ameaça que deve ser detida. Já Clark Kent não aceita a forma como o Homem Morcego se comporta, agindo como um verdadeiro justiceiro por aí, também sem freios para seus atos. Há, ainda, um jovem e tresloucado Lex Luthor (interpretado magistralmente por Jesse Eisenberg) que aproveita a onda de insatisfação contra o Super Homem (ele fez uma incursão desastrada na África contra um grupo terrorista que provocou a morte de muitos inocentes) e convence figurões do governo a ter acesso a kriptonita, à nave que trouxe o Super Homem para a Terra e até ao corpo do General Zod. Assim, está montado o cenário de dois super heróis em conflito, e um gênio do mal com carta branca. Ainda bem que apareceu uma meta humana muito vistosa...
Que podemos falar da história? Os super heróis piraram na batatinha??? Antigamente, nos bons tempos do Superman de Christopher Reeve, todos gostavam dele e, mesmo quando ele tomava atitudes por conta própria, a galera estava junto com ele, pois era  algo do tipo, “vou acabar com todas as armas nucleares do planeta, porque um garotinho tem medo da Guerra Fria”. E agora, o que vemos? Um Super Homem vaiado, pois toma atitudes de interesse próprio (salvar a Lois Lane dos vilões) que causam grandes desastres e mortes (um verdadeiro herói salvaria a mocinha e não machucaria ninguém, por isso que é chamado de super herói). E um homem morcego que tortura fisicamente? Mesmo que ele tenha fama de justiceiro, acho que se está pegando muito pesado. O grande paradigma de herói torturador dos últimos tempos, foi Jack Bauer, visto como ícone da era Bush e de tempos de terrorismo. Sei não, mas isso é muita inversão de valores demais para a minha cabeça. Agora, pior do que isso, foi o motivo que levou o Batman e o Super Homem fazerem as pazes. Foi piegas demais! Poderiam realmente ter achado algo melhor. Um esporro federal da Mulher Maravilha, por exemplo, abrindo os olhos dos dois “machões” para a verdadeira ameaça que era Lex Luthor, que manipulava a tudo e a todos. Aliás, que grata surpresa foi a Mulher Maravilha. A atriz israelense Gal Gadot, figurinha fácil da franquia “Velozes e Furiosos”, deu um charme todo especial à personagem, extremamente sensual e vistosa, colocando a Lois Lane (interpretada por Amy Adams) no chinelo legal.
Dois atores aqui merecem destaque. Em primeiro lugar, Ben Affleck. Quando seu nome foi divulgado como o novo Batman, houve uma espécie de desespero geral. Muita gente achava que Affleck não daria conta do recado, principalmente depois do que Christian Bale tinha conseguido fazer. Mas Affleck não decepcionou, pelo menos no meu ponto de vista. Seu ranço contra o Super Homem era muito sincero e creio que ele fez um bom personagem, sempre com a barba por fazer, dando o necessário ar pesado e soturno para o Homem Morcego, mais até do que Bale. Um verdadeiro produto da caótica e violenta Gotham City como ele recorrentemente afirmava. Agora, o grande nome do filme foi Jeremy Irons, interpretando o mordomo de Bruce Wayne, Alfred, fazendo com maestria o misto de criado prestativo e pai postiço de seu patrão, dando conselhos e criticando na hora certa. Foi Alfred que primeiro chamou a atenção para esse comportamento distópico dos super heróis, onde o ódio e a raiva transformam boas pessoas em maus indivíduos. Uma lição muito importante para ser ouvida na nossa realidade nacional atual.
Se o filme teve defeitos, as virtudes também se manifestaram. A ideia de se pensar numa Liga da Justiça em formação já foi uma coisa legal. O desfecho do filme também foi virtuoso, deixando uma questão em aberto no meio de um contexto traumático. Ou seja, não houve um “happy end”, algo que sempre deve ser mencionado, se falamos de cinema americano.

Dessa forma, “Batman Vs. Superman, A Origem da Justiça” é uma boa película no geral, com boas virtudes, alguns defeitos e bons atores em grandes atuações, que é o que mais importa além dos pirotécnicos CGIs. Um filme cercado de expectativas que prende a atenção do início ao fim e que foi bem sucedido em levantar o moral da DC perante a Marvel. Não deixem de assistir. E não deixe, também, de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme.

O Homem Morcego tá pê da vida...

O Homem de Aço tá bravo!!!

Saindo na mão

 
Que mulher é essa, meu Deus????

Ben Affleck foi bem e não comprometeu.

Henry Cavill também teve boa atuação

Jesse Eisenberg teve ótima atuação.

Jeremy Irons, um monstro!!!

Agora, a Gal Gadot... também tô babando, Ben!!!

sábado, 26 de março de 2016

Resenha de Filme - Zootopia

Zootopia. Diversidade Animal!
A Disney lança a sua mais recente animação. “Zootopia” é um daqueles filmes que não é somente uma historinha engraçadinha para arrancar risinhos dos pimpolhos, mas também é uma película com um grande conteúdo reflexivo, digna daquelas que nos fazem olhar para o interior de nós mesmos e buscarmos nossos comportamentos e pensamentos mais nefastos com o objetivo de reavaliá-los ou de até mesmo extirpá-los de nossas vidas. E, principalmente, é um filme que traz uma boa mensagem às crianças, o público-alvo, em tempos de muito ódio e intolerância.
Vemos aqui a história da coelhinha Judy Hopps, que queria desde criancinha ser policial. Ela, enquanto criança, encenou uma peça na escola, lembrando que no passado predadores e presas viviam em constante selvageria com os segundos servindo de jantar para os primeiros. Mas com o tempo, as espécies animais “evoluíram” e desenvolveram consciência, coexistindo pacificamente. Ainda assim, podíamos sentir um preconceito dos predadores para com as presas, vistas como excessivamente frágeis e ocupando cargos e posições inferiores aos cargos ocupados pelos predadores. Nesse contexto, nossa amiga coelhinha vai ter que superar vários obstáculos até chegar à sua carreira de policial. Ela consegue e, mesmo sendo escalada para apenas aplicar multas de trânsito, a coelhinha vai se envolver com um intrigante caso de sumiço de predadores voltando a se comportar de forma selvagem. Para isso, Judy vai contar com a ajuda da raposa Nick Wilde, um predador visto como uma figura altamente falsa e traiçoeira, como a maioria das raposas é.
Confesso a vocês que o que mais me convenceu a assistir ao filme foi a sequência onde a coelhinha e a raposa precisam localizar o paradeiro de um carro pela placa numa repartição pública e os funcionários são todos bichos-preguiça (apesar dos estereótipos, parece que não é apenas aqui que os funcionários públicos podem ser fontes de problemas). Eu nem sabia muito bem do que se tratava a história. Mas quando percebi que havia aí uma questão de aprender a lidar com as diferenças e de ser tolerante com o outro, senti toda a força implícita na película. Mais do que atentar para a questão da diversidade, o que ficou notório foi a questão do preconceito, que pode ser uma via de mão dupla, ou seja, os opressores de hoje podem ser os oprimidos de amanhã. E aí o filme ganha muito, pois ele deixa de forma bem clara que não há mocinhos e bandidos na questão da intolerância, mas sim grupos de pessoas que devem assumir uma postura responsável perante o outro. Mas infelizmente, sempre somos limitados a olhar nossos próprios umbigos e não pensar no próximo e, principalmente no direito que ele tem de ser o que quiser do jeito que quiser. O fato de abordar esse problema essencialmente humano com bichinhos fofinhos em computação gráfica somente nos remete àquelas melhores fábulas de Esopo, contadas de uma forma bem moderna. Já o centro da cidade de Zootopia parecia mais uma enorme Arca de Noé, com bichinhos de todos os tipos e tamanhos, inclusive com uma série de piadas como a das pequenas cidadezinhas de ratos com o prefixo de “Little” (como os bairros de imigrantes ao estilo “Little Italy” de Nova York), ou a referência ao Banco Lehmann Brothers, onde a crise imobiliária de 2008 estourou, com vários ratinhos saindo do banco citado em questão.

Dessa forma, “Zootopia” se mostra mais do que uma mera diversão infantil e aborda com maestria a questão da diversidade e da tolerância numa história ambientada com bichinhos, constituindo-se num exemplo moderno de fábula clássica que nos dá uma importante lição em tempos tão difíceis de intolerância. É um filem de dupla função: diverte as crianças e faz os adultos refletirem. Um programa imperdível. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

 
Cartaz do Filme

Judy Hopps, uma coelhinha que quer ser policial

Vista com desdém pelos predadores...

Inicialmente, uma mera guarda de trânsito

Com a ajuda do vigarista Nick Wilde, ela buscará desvendar um mistério...

Bichos preguiça como funcionários públicos???

A vice-prefeita, uma ovelhinha, vai ajudar nossa destemida policial...

O prefeito tinha que ser o rei dos animais...

Uma cidade cheia de bichinhos





domingo, 20 de março de 2016

Resenha de Filme - Tudo Vai Ficar Bem

Tudo Vai Ficar Bem. E O Tempo Passa, Passa...
O lendário diretor alemão Wim Wenders está de volta. E, dessa vez, lançando mão de atores do cinema americano para contar uma história com o tempero e a cadência dos filmes europeus, dando a essa película um charme todo especial. O filme em questão é “Tudo Vai Ficar Bem”, e tem como ator principal o bom James Franco, imortalizado como o Harry Osborn do “Homem Aranha” interpretado por Tobey Maguire.
No que consiste a trama do filme? Vemos aqui o escritor Tomas Eldan (interpretado por Franco), um cara que passa por um imenso bloqueio criativo, se exilando para buscar inspiração. Só que, ao fazer isso, ele também se distancia de sua namorada, Sara (interpretada por Rachel McAdams), o que provoca uma pequena crise no casal. Mas tudo ficaria muito pior quando ele, sem querer, atropela um garotinho e o mata, alterando drasticamente a vida da mãe do menino, Kate (interpretada pela eficiente Charlotte Gainsbourg). A morte da criança faz Tomas entrar em parafuso e tentar o suicídio. Mas também lhe dá uma inspiração que o tornará daí em diante um escritor de sucesso. O que vemos no filme em seguida é a trajetória de Tomas em sua vida pessoal e profissional, colecionando muitos fracassos na primeira e mais sucessos na segunda.
Esse é um interessante filme de Wenders, pois, apesar da cadência muito lenta, ele consegue prender a atenção do espectador com uma história aparentemente banal. O personagem de Tomas é uma pessoa complicada de se viver, e o acidente só piorou as coisas. Nós acompanhávamos com muita curiosidade cada lance da vida do escritor, o protagonista principal, um personagem humano com virtudes e defeitos que feria e era ferido. Um detalhe curioso é que o filme tinha saltos no tempo de dois e quatro anos, onde podíamos presenciar velhas crises sendo superadas bem ao estilo “o tempo cura tudo” (alguns dizem que se essa frase fosse verdadeira, as farmácias venderiam relógios). Esses largos saltos temporais também serviam para mostrar como a vida de uma pessoa pode sofrer radicais alterações com o tempo e tomar um rumo que em nada estava previamente planejado. Esse é também um daqueles filmes que acende a luzinha de emergência em nossas cabeças dizendo que a vida é curta demais e devemos aproveitá-la ao máximo, não a desperdiçando com atitudes e decisões erradas. Mas, ao mesmo tempo também nos mostra que somente aprendemos a aproveitar a vida com nossos erros. E, no caso de Tomas, todos os conflitos pessoais de sua vida serviam de combustível para seu êxito profissional como escritor, como se precisássemos de uma espécie de “sacode” para liberarmos nossa força criativa. Existia um raciocínio semelhante nas reflexões sobre a criatividade na cultura brasileira dizendo que elas são mais fulgurantes nos piores momentos de crise, como a censura de uma ditadura, por exemplo. O filme envereda por um caminho semelhante, pois pareceu que Tomas só conseguiu ser mais criativo depois de passar pelo trauma do atropelamento. Assim, Tomas conseguia sucesso profissional, mas não conseguia levar sua vida pessoal em águas calmas.
Ufa! Toda essa reflexão num filme praticamente paradão em termos de ação. Isso soou muito europeu. Mas o legal foi ver os atores mais presentes no cinemão americano atuando numa película reflexiva. Fiquei muito feliz pelo presente que James Franco recebeu de Wenders ao interpretar o personagem Tomas, principalmente depois daquele fiasco horroroso que ele teve que engolir no filme “Entrevista”, que foi altamente sofrível. Esse ator merece bons papéis sempre.

Assim, “Tudo Vai Ficar Bem” é um filme que, apesar do ritmo lentíssimo, merece a conferida dos cinéfilos de plantão porque, em primeiro lugar, é um Wenders; em segundo lugar, porque é mais uma película reflexiva; e, em terceiro lugar, porque podemos ver atores do naipe de um James Franco, Charlotte Gainsbourg e Rachel McAdams atuando juntos num filme de enredo muito “europeu”. Tenha paciência com a cadência e não deixe de prestigiar. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme

Tomas, um escritor em busca de inspiração

Dificuldades de relacionamento com a namorada

Uma mãe que perde um filho

Enfrentando dores de frente

Novos tempos, novas vidas

Franco com Wenders nas filmagens 

No Festival de Berlim

sexta-feira, 18 de março de 2016

Resenha de Filme - Convergente.

Convergente. Reificando O Discurso Da Eugenia.
E a saga “Divergente” continua. Chegamos, agora, ao terceiro filme, “Convergente”. E a divisão do mundo em facções controlada por um grupo central se mostrou apenas a ponta do “iceberg”. Nesse terceiro filme, o discurso mais descambou para uma visão eugênica do que qualquer coisa.
Nossa heroína Tris (interpretada por Shailene Woodley) e seu namoradinho Four (interpretado por Theo James), depois da morte de Jeanine (interpretada por Kate Winslet) e da subida ao poder da mãe de Four, Evelyn (interpretada por Naomi Watts) ficam horrorizados por presenciar uma série de execuções promovidas por Evelyn e pela sua proibição de sair dos limites de Chicago, aventurando-se pelo mundo exterior. O casal pós-adolescente protagonista organiza um plano de fuga com seus companheiros para desbravar o que tem depois do muro. Depois de muito sacrifício, eles conseguem romper a barreira e descobrem um mundo totalmente estéril com resquícios de tempos onde a radioatividade era intensa. Ainda perseguidos pelos capangas de Evelyn, são salvos por um grupo que logo se mostrará muito avançado tecnologicamente, chegando, inclusive, a levantar um muro holográfico intransponível. Tris descobrirá que esse grupo é liderado por David (interpretado por Jeff Daniels), que diz a Tris que as cinco facções são uma experiência não para encontrar divergentes, mas para separar os geneticamente puros dos degenerados, e que Tris é a única pura. David pretende seguir com os experimentos para salvar toda a raça humana e aprimorá-la geneticamente. Mas o que parecia um monte de boas intenções logo se revelará mais um grupo de pessoas que segrega outras, com o agravante de que agora esse novo grupo é muito mais forte por possuir um grande aparato tecnológico. Tris e Four então percebem que o negócio é voltar para Chicago e defender o que restou de sua cidade e suas facções dessa ameaça, que é a maior de todas que apareceu até agora nessa curiosa saga.
Devo confessar que, na minha modesta opinião, esse foi um dos filmes mais fracos da série, pois o enredo simplificou demais as coisas. Enquanto a história se concentrava mais nas facções e suas diferenças, a trama era bem mais interessante, pois havia uma diversidade maior de situações provocadas pelas interações entre as facções. Nesse último filme (que de último parece não ter nada), o discurso ficou muito mais plano. A cidade de Chicago e as facções viraram um enorme balão de ensaio de um grupo de cientistas pós-apocalípticos que busca o genoma perfeito, ou seja, o Santo Graal da Eugenia. Tris é colocada como esse paradigma e cai na conversa de David, para desespero de Four. Mas, se ela é tão perfeita assim, seria feita de trouxa tão fácil? Sei não, creio que ficou um furo nisso aí. Reduzir a história do filme para uma mera questão de eugenia me pareceu empobrecer a trama.
No mais, muitos efeitos especiais num abuso de CGIs, deixando a coisa demasiadamente artificial, o que também foi uma pena, mas já sabíamos que o filme não ia escapar muito disso mesmo. Talvez o CGI tenha sido menos artificial que a interpretação de alguns atores jovens do elenco. Pelo menos tivemos o Jeff Daniels, a Naomi Watts e a fofíssima Octavia Spencer para dar um pouco de apoio às “crianças”.

Dessa forma, “Convergente” acabou não sendo muito lá essas coisas, sendo até agora o pior dos filmes da série. Se as visões de mundo dos personagens se expandiram, ultrapassando os limites de Chicago, o enredo se empobreceu, com a rica história das facções sendo substituído por um discurso eugênico simplório. Vamos ver se vem mais alguma coisa por aí... E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartazes do Filme.

Tris e Cia., agora saindo de Chicago e vendo como é o mundo exterior.

Tris, a "perfeita"...

Jeff Daniels, o David, ainda com o cartaz do filme antigo...

Four, o namoradinho herói...

Disquinhos irados...





terça-feira, 15 de março de 2016

Resenha de Filme - Fique Comigo

Fique Comigo. Visões Do Humano No Condomínio.
Um filme francês muito fofinho em nossas telonas. “Fique Comigo” traz a superdiva Isabelle Huppert de volta. Só isso já era mais do que um motivo para a gente prestigiar esse filme. Mas a película tem muito mais do que isso. É um filme cheio de ternura e que celebra as relações humanas, por mais inusitadas que elas apareçam aqui.
A história se passa num condomínio de periferia, muito maltratado. Na reunião de moradores, é decidido que todos pagarão uma taxa para trocar o elevador, que vive dando defeito. Mas Sterkowitz (interpretado por Gustave Kervern), um morador do primeiro andar se nega a pagar, pois não o usa. Os condôminos, então, decidem que ele não pagará a obra, mas também não pode usar o elevador. O problema é que o homem comprou uma bicicleta ergométrica e, ao se exercitar, teve uma espécie de AVC, ficando preso a uma cadeira de rodas e dependente do elevador. Para que ninguém o veja usando o transporte, Sterkowitz sai à noite e vai a um hospital próximo pegar batatas fritas na máquina de guloseimas. Lá, ele conhece uma enfermeira (interpretada por Valeria Bruni Tedeschi) por quem se apaixona e decide visitá-la todas as noites, quando ela faz uma pausa em seu serviço para fumar. Paralelamente a essa história, temos Jeanne Meyer (interpretada por Huppert), uma atriz fracassada e abandonada pelo namorado, que faz amizade com Charly (interpretado por Jules Benchetrit), um jovem que mora no prédio, criando um lindo laço de amizade. Agora, a terceira história é a mais inusitada, a da argelina Hamida (interpretada por Tassadit Mandi), que tem o filho na prisão e acaba acolhendo o astronauta americano John Mckenzie (interpretado por Michael Pitt), que desce da Estação Espacial Internacional numa cápsula, que mais parecia aquelas do Projeto Gemini, na cobertura do edifício por engano, e tem que passar dois dias na casa da senhora até que a Nasa o busque, criando uma relação filial entre um americano e uma muçulmana.
São três histórias ternas e divertidas. A do senhor Sterkowitz é a mais dramática, onde o cadeirante é um personagem extremamente frágil, assim como a enfermeira pela qual ele se apaixona, uma mulher solitária e muito insegura. Dava dó de ver os dois tentando se aproximar, assim como os esforços de Sterkowitz para vê-la todas as noites, superando todas as barreiras impostas a um deficiente físico. Já a história de Jeanne Meyer teve um grande trunfo, pois a atriz mostrou para Charly seus filmes antigos e pudemos ver filmes verdadeiros de Huppert quando ela era muito jovem, com uma cara fofinha de garotinha. Um deleite para os olhos! Meyer também era uma personagem bem frágil e encontrou no frescor da juventude de Charly um estímulo para levar sua vida adiante e sua carreira de atriz. Agora, a história da afeição entre mãe e filho da senhora argelina com o astronauta americano foi a grande atração. Com o filho na prisão, Hamida literalmente recebeu um filho do céu quando o astronauta cai no prédio. Ao criar uma amizade entre os dois, faz-se uma graça com o estado de constante beligerância e animosidade entre americanos e muçulmanos hoje em dia, o que resultou nos momentos mais emocionantes da película.

Três histórias, três emoções diferentes. Muito carinho entre os personagens. É o tipo do filme que você sai levinho do cinema, configurando-se, por isso, num programa imperdível. Não deixe de ir ao cinema para ver esse ótimo filme. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme

Uma tensa reunião de condomínio

Jeanne Meyer, uma atriz em busca de um novo rumo

Charlie será um estímulo para Jeanne

Um cadeirante e uma enfermeira

Fazendo fotografias para impressionar sua amada

Fragilidade dos personagens é evidente

Um "filho"que cai do céu.

O astronauta americano vai ficar com saudades da senhora argelina...





segunda-feira, 14 de março de 2016

Resenha de Filme - Varieté

Varieté. Uma Obra-Prima Do Cinema Alemão.
O Instituto Goethe do Rio de Janeiro, em parceria com o cine Odeon e o CCBB, fez uma mostra de filmes intitulada “Asas do Tempo: Imagens de Berlim”, onde vários filmes que têm a capital alemã como pano de fundo foram exibidos. Essa mostra ocorreu paralelamente à exposição “Zeitgeist”, no CCBB sobre arte alemã berlinense contemporânea. Para inaugurar a mostra cinematográfica, foi exibida uma versão restaurada do célebre filme alemão “Varieté”, de 1925, estrelada por Emil Jannings e Lya De Putti. Por se tratar de um filme mudo, a sonorização dele se deu em plena sala do Odeon e por um DJ berlinense, Jan Bauer, que gosta de fundir instrumentos clássicos com música eletrônica. Uma das habilidades de Bauer é justamente fazer improvisações sonoras para filmes mudos. E, apesar de haver algumas falhas em sua aparelhagem durante a execução do filme, pode-se de dizer que seu trabalho ficou muito bom, onde os sons eletrônicos retratavam bem o ambiente que o antigo filme mostrava na tela. Eu até digo que seu trabalho lembrou muito alguns trechos musicados por Giorgio Moroder para a sua versão de “Metrópolis” de 1984.
Mas, no que consiste a história de “Varieté”? Vemos aqui a vida de Boss Huller (interpretado por Jannings), o dono de um pequeno circo de variedades, que por uma dessas peças que a vida nos prega, é obrigado a acolher a pequena órfã Berta-Marie (interpretada por De Putti) . A menininha, aparentemente muito inocente, de bobinha não tinha nada e começa a flertar com Boss. Logo, ela arruma um posto de dançarina, onde a moça é muito cobiçada pelos homens, o que desperta a ira de Boss. O dono do pequeno circo havia sido acrobata mas abandonou a carreira depois de um acidente. Cheio daquela vida, ele decide abandonar seu pequeno negócio de entretenimento, sua esposa e parte com Berta-Marie para uma nova vida de acrobacias. Suas apresentações irão despertar o interesse de Artinelli, um acrobata que precisa de um novo parceiro, já que seu colega de apresentações faleceu. Ao conhecer Boss e Berta-Marie, Artinelli logo se apaixona pela moça e inicia um caso com ela.  Boss descobre, mata Artinelli a facadas e se entrega. Fica dez anos preso sem dizer uma palavra sequer em sua defesa. Com o pedido de clemência feito por sua esposa, é chamado a contar a sua história e recebe o perdão da justiça.
“Varieté” é um típico produto cultural da época da Repúbica de Weimar, nome dado à Alemanha do período entreguerras. Dirigido por Ewald André Dupont e escrito pelo mesmo Dupont a partir de um romance de Felix Hollander, não podemos classificar esse filme como especificamente expressionista, mas existem vários elementos expressionistas nele, como a interpretação antinatural dos atores, com o objetivo de externar ao máximo as emoções e os sentimentos, onde o olhar tem uma importância fundamental, assim como nuances de claro e escuro (a roupa dos acrobatas era bem branquinha, tendo um crânio humano negro em destaque, assim como o voo dos acrobatas claros, sob o teto negro do picadeiro).  No tocante à interpretação dos atores, Emil Jannings foi um dos mestres de sua época e podemos ver todo o seu talento nesse filme, ainda quando comparamos com suas atuações em outros filmes da mesma época. Lya de Putti estava lindíssima, com a proporção dois para um entre olhos e boca e o batom pintando os lábios em formato de coração, bem ao estilo da época. Não podemos nos esquecer de que este é um filme datado, com atuações um tanto específicas para seus dias, que hoje podem parecer engraçadas. Outro fator de estranhamento é a velocidade das imagens, já que as câmaras em 1925 filmavam a apenas 16 quadros por segundo, e a sensação de rapidez é muito grande, principalmente quando víamos a plateia aplaudindo os acrobatas. Ainda assim, “Varieté” é um grande filme, onde é mostrado que um crime passional podia muito bem ser passível de absolvição. Outras épocas, outras mentalidades. Mas não deixa de ser um clássico do cinema que aconselho muito você procurar nos dvds, blu rays ou internets da vida. E não deixe de ver um pequeno fragmento do filme após as fotos.

Cartaz do Filme

Boss e Berta-Marie. Amantes

Mas o amor pode se tornar doentio

Festas típicas dos anos loucos

Aventuras no trapézio

Voos sob uma lona negra

Triângulo amoroso

Muitas dúvidas...