terça-feira, 18 de agosto de 2015

Resenha de Filme - Tudo Por Amor Ao Cinema

Tudo Por Amor Ao Cinema. Uma Bonita Homenagem.
Um bom documentário brasileiro passa quase que despercebido em nossas telonas. E um documentário que fala justamente do Cinema Brasileiro e um de seus maiores expoentes: Cosme Alves Netto. Mas, por que essa personalidade foi tão importante para o nosso cinema? Por pertencer àquele grupo que não exatamente gosta de cinema, mas sim ama  a sétima arte, Cosme, de uma rica família de Manaus, renuncia à riqueza para se dedicar à busca das películas que o haviam impressionado tanto. Se deslocando para o Rio de Janeiro, ele vai participar de cineclubes e, logo, logo, será curador da Cinemateca do MAM, fazendo um esforço hercúleo para montar seu acervo cinematográfico. Cosme por vezes era criticado por não preservar o acervo, e sim exibi-lo para muitas pessoas o que, segundo alguns, deteriorava as cópias. Reza a lenda que ele exibiu no Paissandu uma cópia em nitrato de prata de “Alô, Alô Carnaval”, depois de décadas de ostracismo e a cópia teria ficado destruída, embora amigos próximos de Cosme digam veementemente que isso não aconteceu. Para conseguir muitos filmes para o acervo da Cinemateca do MAM, Cosme tinha amigos nos escritórios das grandes produtoras americanas no Rio de Janeiro, como a Fox e a Warner, e quando as cópias iam ser destruídas, já que o contrato de exibição exigia que após seu término as cópias não podiam mais ser exibidas, os amigos de Cosme nas grandes produtoras sempre entregavam uma cópia para ele na surdina.
O documentário também registra o período da ditadura militar e as duas prisões de Cosme, que quase lhe custaram a vida, pois na primeira vez, ele ficou com os pés submersos por muito tempo (seis meses) e na segunda prisão, ele foi mantido nu e incomunicável numa cela escura por muitos dias, sem as mínimas condições de higiene, e ele quase veio a falecer. Mas nem tudo foram espinhos da vida de Cosme. Um incêndio destruiu o MAM em 1978, com a suspeita de ser criminoso, pois o espaço do MAM era usado em manifestações artísticas contra a ditadura. Como se temia que a Cinemateca poderia ser o lugar de um incêndio, já que abrigava material altamente inflamável (os antigos filmes à base de nitrato de prata davam um lindo brilho prateado à tela, mas podiam pegar fogo facilmente em contato com o ar), a Cinemateca foi construída em separado do Museu e com paredes muito grossas para um suposto incêndio da Cinemateca não se alastrar para o Museu. Mas aconteceu justamente o contrário e o acervo de filmes ficou salvo do incêndio do Museu.
O filme ainda conta com importantes depoimentos de figuras como o crítico José Carlos Avellar, os cineastas Eduardo Coutinho, Cacá Diegues, Sílvio Tendler e Walter Carvalho e o pesquisador Jurandyr Noronha, dentre outros, que muito enriqueceram a película. Trechos de entrevistas do próprio Cosme são exibidas, inclusive uma entrevista que ele deu a Antônio Abujamra quatro dias antes de falecer, em fevereiro de 1996. É interessante perceber que a trajetória de Cosme é ilustrada com cenas dos próprios filmes que ele ajudou a preservar, como “Limite”, de Mário Peixoto, sem falar de obras de Glauber Rocha e até filmes estrangeiros como “Jules e Jim”, de Truffaut, ou “Cantando na Chuva”, um de seus favoritos.

É uma pena que Cosme Alves Netto tenha ido tão cedo. O cinéfilo católico que conseguiu convencer o Festival de Havana a ter católicos em seu júri em plenos anos 1980 era, nas palavras de seus amigos, uma pessoa aglutinadora e um profundo conhecedor da sétima arte. Esse documentário é de suma importância para resgatar a memória desse brasileiro que se importava com a memória cinematográfica de seu país, a ponto de resgatar um documentário sobre o Rio de Janeiro da década de 1920 realizado pelos irmãos Botelho e que estava na Cinemateca da... Finlândia!!! Seu amor pelas películas, sobretudo as brasileiras, o fazem ser alvo de nossa eterna gratidão por ele ter salvo algo de nossos filmes e nossa história. O documentário também é uma linda e merecida homenagem, sendo uma referência obrigatória para ser obtida e guardada, assim como ele fazia ao achar latas de películas de sua infância, que ele guardava com todo o carinho no precioso acervo da Cinemateca do MAM. Para os cinéfilos com C maiúsculo, esse é um programa imperdível.

Cartaz do Filme. Cosme com seu inseparável charuto...


Cosme Alves Netto, um grande nome de nosso cinema...


Cercado por sua paixão, as latas com filmes dentro.

Com Humberto Mauro e Alex Viany. 

José Carlos Avellar, um amigo muito próximo que o ajudava na Cinemateca do MAM.


Com Nelson Pereira dos Santos.

Com Gabriel Garcia Márquez. Cosme era muito respeitado no exterior. 


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