segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Resenha de Filme - Jimmy's Hall

Jimmy’s Hall. Luta Pela Justiça Em Época De Depressão.
O consagrado diretor Ken Loach (de filmes como “Uma Canção Para Carla” e “Meu Nome É Joe”) traz para nós mais uma interessante e tocante película. “Jimmy’s Hall” é um filme que fala de uma Irlanda rural sacudida por um espírito de guerra civil e pela crise econômica provocada pela Grande Depressão de 1929. Um filme que fala de uma injustiça esmagadora e de um grupo que luta pela justiça. Uma história real que nos faz pensar.
Vemos aqui a história do líder comunitário James Gralton (interpretado por Barry Ward), da pequena cidade de Leitrim, que teve que se refugiar nos Estados Unidos por dez anos, depois de sofrer perseguições da elite local, liderada pelo padre católico Sheridan (interpretado por Jim Northon). Gralton mantinha um salão onde a comunidade tinha aulas de pintura, recitais de poesia, leitura de livros, etc., o que divertia a todos do pequeno povoado, mas, ao mesmo tempo, instruía a população. De claras tendências marxistas, Gralton retorna em 1932 a sua cidade natal, depois de dez anos, e quer manter apenas uma vida pacata. Mas a juventude local, que conhecia as histórias do antigo salão, mais seus velhos amigos, os convencerão de reativar o antigo espaço cultural da comunidade, para o desespero do padre Sheridan e das elites direitistas e ultranacionalistas locais.
O filme aborda vários aspectos. O mais claro deles é um claro conflito esquerda-direita, onde a elite local de grandes proprietários surrupia terras dos mais pobres, havendo uma  luta por reforma agrária na região. Mas há, também, a questão da guerra civil entre os partidários da independência da Irlanda (formados por grupos ultranacionalistas de direita de base católica, onde o IRA já era bem atuante) e os partidários da manutenção da administração da Inglaterra. Os líderes direitistas atribuíam o líder comunitário marxista Gralton ao domínio inglês e aos estrangeirismos americanos de músicas negras e pecaminosas como o Jazz, trazidas pelo líder popular quando do seu autoexílio nos Estados Unidos. Assim, a disputa entre as elites direitistas e os grupos proletários assume várias vertentes nesse microcosmos do interior da Irlanda. Curiosa é a postura do padre Sheridan, anticomunista convicto e um obsessivo opositor de Gralton mas, simultaneamente, admirador e respeitador velado do líder comunitário, reconhecendo nele sua fé cristã, e chegando ao ponto de fazer alguns devaneios em que ele ensaia algumas semelhanças entre o comunismo e o cristianismo, além de, assim como o líder esquerdista, também comprar um gramofone e escutar cantoras negras de jazz, apesar de condená-las veementemente por seu conteúdo “pecaminoso” em seus sermões. Fica claro aqui que, embora haja dureza no padre, ele a praticava como representante de uma instituição, a Igreja Católica, mas, como figura humana, ele era altamente reticente com relação a seus procedimentos, e uma mostra disso foi que ele ficou abalado quando Gralton, no confessionário, disse ao padre que ele tinha mais ódio que amor no seu coração.

Assim, “Jimmy’s Hall” é um filme que fala de luta por justiça num meio altamente complexo e turbulento, apesar de prosaico. Um filme que mistura conflitos entre esquerda e direita, reforma agrária e guerra civil numa luta por independência, gerando vários rótulos e matizes. Uma dolorosa e reflexiva história real que nos mostra que o que se aprende não é arrancado de nós, apesar de toda a repressão de elites retrógradas. Um filme indispensável.

Cartaz do filme


Gralton, um antigo líder comunitário

Padre Sheridan, um anticomunista convicto

 A juventude local não tinha onde se divertir.

Reativando o antigo salão

Trazendo um gramofone e a cultura americana do jazz

... mas não esquecia a cultura local...

Mas, como sempre, alegria de pobre dura pouco...

... e a opressão das elites é implacável...

Qual será o futuro dessa comunidade???





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