domingo, 5 de julho de 2015

Resenha de Filme - O Gorila

O Gorila. Interessante Drama Psicológico.
O cinema brasileiro nos brinda com mais uma boa produção. “O Gorila”, produzido já há algum tempo (meados de 2011, 2012), dirigido por José Eduardo Belmonte, pode ser classificado como uma história de suspense. Mas, mais do que isso, é um excelente drama psicológico de pitadas expressionistas, que tem um roteiro de uma história bem contada, sem falar na presença de um primoroso elenco.
Temos aqui a história de Afrânio (interpretado por Otávio Müller), um dublador que empresta sua voz a um conhecido personagem policial de série de tv. Sua voz é muito conhecida por causa da série e ele é uma espécie de “celebridade sem rosto”. Mas uma doença na gengiva fez com que ele perdesse quase todos os seus dentes e o sangramento constante de sua boca o obrigou a abandonar a carreira. Solitário e depressivo, ele começa a prestar atenção às mulheres da rua e, anota o telefone delas às escondidas, sempre que tem uma oportunidade. Afrânio, então, passa a fazer ligações para essas mulheres com o pseudônimo de Gorila, onde tenta seduzi-las com sua bela voz. Várias mulheres caem na conversa do Gorila, que se recusa a conhecê-las pessoalmente, já que sua aparência física não é considerada das melhores. Apesar desse jogo com as mulheres, nem sempre o Gorila se dá bem com os trotes, chegando a sofrer ameaças de um namorado de uma das mulheres que ele assedia. A vida de Afrânio vai virar de pernas para o ar quando ele mesmo recebe uma ligação de uma mulher que ameaça se matar e o faz ir atrás dela.
Obviamente, a grande atração aqui é o comportamento complexo de Afrânio. É muito simplório dizer que o personagem é pervertido ou tarado. É claro que ele se comporta assim em algum nível, mas a complexidade da coisa é maior. Cenas de sua infância são mostradas ao longo do filme, mostrando seus fortes vínculos com a mãe e sua formação excessivamente protetora, o que deu a Afrânio sérias dificuldades de relacionamento. Sua timidez excessiva fez com que ele tomasse uma postura mais ousada atrás de um telefone e com sua bela voz de dublador. Só assim ele toma coragem para se relacionar com as mulheres. Mas sua sensibilidade faz com que ele se torne vítima dos perigos que tal atividade ao telefone traz. E aí, o personagem entra numa espiral descendente, com direito a muitas alucinações e estados exasperados da alma, como vemos nas películas expressionistas antigas da Alemanha da década de 1920. Essa influência é um grande charme que o filme tem e uma ótima lembrança.
Além dessa forte componente psicológica, o filme tem um quê de suspense muito interessante, que prende muito a nossa atenção. É um mistério até um tanto fácil de  resolver, embora tenha ficado uma ponta solta que não se fechou. Essa talvez, tenha sido a falha principal dessa película.
O elenco é uma outra virtude dessa película. Otávio Müller atuou muito bem como o atormentado Afrânio, onde a sensualidade e firmeza masculinas de sua voz nos trotes contrastava fortemente com a fragilidade emocional nos períodos de crise existencial mais profunda. O elenco ainda contou com figuras como Mariana Ximenes, Milhem Cortaz e Alessandra Negrini, uma das “vítimas” do Gorila, que depois o ajuda a desvendar o mistério das ligações telefônicas que Afrânio recebe.

Dessa forma, “O Gorila” é um curioso filme que concilia um bom suspense a um ótimo drama psicológico, com direito a cenas de alucinação inspiradas no bom e velho expressionismo alemão. Tudo isso faz desse filme mais um bom programa para os bons e velhos apreciadores da sétima arte.

Cartaz do filme

Afrânio, um homem atormentado

Gorila à espreita de mais um alvo...

Timidez o impede de agarrar novas oportunidades...

Uma das "vítimas" do Gorila o ajuda a desvendar um mistério que o atormenta.

 
Perseguindo outra de suas vítimas para desvendar o mistério

Feitiço vira contra o feiticeiro...


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