sexta-feira, 31 de julho de 2015

Resenha de Filme - Divertida Mente

Divertida Mente. Deliciosa Comédia Para Psicólogos.
A Disney lança mais uma de suas boas animações. “Divertida Mente” pode ser considerada uma animação para divertir não somente as crianças como também os psicólogos. Uma historinha divertida para que a gente possa ter uma ideia do que passa em nossas cabecinhas.
Temos aqui a história da menininha Riley, que tem em sua cabeça cinco sentimentos: a alegria, a tristeza, a raiva, o nojinho e o medo. Desde criança, esses sentimentos controlam a vida da menina. Eles também têm a responsabilidade de acumular suas memórias, no formato de esferas coloridas. Algumas dessas memórias são importantes para a vida dela, sendo as básicas e que suportam quatro pequenos mundinhos: a família, a honestidade, a bobeira e a amizade. Por sempre estar muito para baixo, a tristeza é sempre impedida pela alegria de estar perto das máquinas que controlam o cérebro de Riley. Mas um acidente ocorre e as memórias básicas são sugadas por um aparelho, assim como a alegria e a tristeza, que “saem” da central de comando. Assim, elas precisam retornar a essa central para colocar as memórias básicas de volta ao seu lugar e assim restaurar os quatro mundinhos que, pouco a pouco vão se destruindo sem as memórias básicas.
Como podemos ver, é uma historinha que tenta ver o que se passa dentro do cérebro. O mais hilário é perceber como a Riley vai sofrendo transformações na sua personalidade à medida que os cinco sentimentos fazem suas peripécias dentro do cérebro da menina. É muito engraçada, ainda, as situações que os personagens sofrem ao passar por mundos como a imaginação e a abstração. O mais interessante é que, apesar da alegria ser o sentimento dominante de Riley, todos os outros sentimentos têm também seu grau de importância se usados nos momentos apropriados. Por mais que a alegria quisesse manter o tempo todo um alto astral para Riley, o medo, a tristeza, o nojinho e a raiva tinham seus momentos de destaque.

Assim, “Divertida Mente” é mais uma animação da Disney que tem boa qualidade principalmente por ser altamente original e é uma grande curiosidade perceber como um tema mais ligado a uma área de conhecimento como a psicologia pode servir de enredo a uma história infantil. Outros tempos, outros valores, outros “backgrounds”. Sem falar que a história é cativante, divertida e bem escrita. Vale a pena dar uma olhadinha, mesmo que você não tenha crianças em casa para levar ao cinema...

Cartaz do filme

Os cinco sentimentos no painel de controle

Riley nem sabe o que se passa em sua cabeça...

Uma família feliz

A alegria e a tristeza terão que salvar a psiquê de Riley

Mas não vai ser uma tarefa fácil

Um amiguinho imaginário...


Precisando salvar certos mundinhos...





quinta-feira, 30 de julho de 2015

Resenha de Filme - O Regresso dos Três Bêbados

O Regresso Dos Três Bêbados. Experimentalismo E Surrealismo Contra A Coreanofobia E A Guerra Do Vietnã.
Um filme de alto conteúdo político na mostra de Nagisa Oshima no CCBB. “O Regresso dos Três Bêbados” tem várias virtudes. É um filme com um quê de experimentalismo e surrealismo, tudo isso para fazer uma forte crítica social a um preconceito latente contra imigrantes coreanos no Japão e contra a guerra do Vietnã. Realizado em 1968, o filme conta a história de três amiguinhos japoneses que, bêbados, vão nadar na praia somente de cuecas, deixando suas roupas na areia. Enquanto eles tomam o banho (e voltam da água incrivelmente secos!) uma mão sai de dentro da areia (isso mesmo!) e rouba as roupas deles, colocando em seus lugares roupas de militares coreanos com dinheiro dentro delas. Os três rapazes, então não têm escolha a não ser usar as roupas dos militares coreanos, motivo suficiente para as pessoas chamarem a polícia. Em meados da década de 60, muitos militares coreanos foram convocados para lutar no Vietnã ao lado dos Estados Unidos. Assim, eles desertavam e fugiam para o Japão, que ficou inundado de coreanos, o que provocou uma situação de xenofobia e preconceito dos japoneses para com os coreanos. Assim, o filme brincava com isso, de forma bem humorada e surreal, ou seja, o surrealismo era usado na película para expressar a situação igualmente surreal da migração de coreanos para o Japão com o objetivo de fugir da guerra do Vietnã.
Nossos três amigos ainda vão encontrar os tais soldados coreanos que os obrigam a vestir suas roupas e que querem a eliminação dos jovens japoneses para tomar seus lugares. Assim, cercados de todos os lados, não podendo confiar nem nos japoneses, muito menos nos coreanos, nossos três amigos passam por situações escabrosas.
Vale lembrar aqui que o experimentalismo também é a vedete. Num momento do filme, os amigos entrevistam populares na rua perguntando se eles são japoneses. E todos dizem que são coreanos. E por que? Porque sim, respondem eles. Mas o experimentalismo assume tons bem claros, quando num momento da história, ela simplesmente volta ao ponto de partida (o banho na praia e a troca das roupas) e nossos personagens protagonistas têm a chance de testar novos caminhos na história (como se tivessem a memória do que já tinham presenciado na história anterior) para fugir de toda a enrascada em que se meteram. Como eles acabaram se envolvendo na confusão do mesmo jeito, eles optaram por assumir sua cidadania coreana, para espanto dos verdadeiros coreanos (mais uma vez aí a crítica contra a xenofobia dos japoneses). E tome mais surrealismo e situações engraçadas, com direito até a dois desses amigos vestidos de mulher. Mas foi o desfecho do filme a coisa mais magistral. Nossos três amigos no trem viam os militares coreanos, finalmente presos e deportados para morrer no Vietnã. Eles estavam algemados e com uma arma apontada às suas cabeças. E, por trás deles, um grande mural pintado com cenas famosas da guerra do Vietnã, como a de um rapaz algemado que teve sua cabeça estourada com uma arma bem à frente das câmaras. E os soldados coreanos do filme tiveram o mesmo fim, sob os olhos atônitos dos três amigos japoneses, que novamente ressaltavam seus nomes coreanos.

Definitivamente, essa é uma das películas de Nagisa Oshima de maior conteúdo político e crítica social. Ele decidiu usar o experimentalismo, surrealismo e humor para mostrar os absurdos de duas situações extremamente sérias: a guerra do Vietnã e a xenofobia no Japão da década de 60. A ópera do absurdo que foi o filme guardava em suas entrelinhas uma séria crítica que aflorou de forma bem clara ao fim da história. Definitivamente, um produto cultural à altura daqueles turbulentos e loucos anos da década de 60. Uma obra de grande valor de Nagisa Oshima.

Cartaz do filme

Uma patota muito doida... 


Tudo começou nessa praia


Coreanos de araque...


Situações inusitadas


Uma soldadinha suspeita...


Muito surrealismo...


... não sem uma dose de sensualidade...




quarta-feira, 29 de julho de 2015

Resenha de Filme - Túmulo do Sol.

O Túmulo Do Sol. Questão Social Altamente Contundente.
Mais um filme de Nagisa Oshima dentro de sua mostra no CCBB. “O Túmulo do Sol” (1960) é um de seus filmes mais contundentes no que se refere a uma crítica social. E, pode-se dizer até que ele é muito chocante para nós, brasileiros, já que a miséria exposta no filme só é comparável à que vemos por aqui, principalmente nas favelas mais arrasadas pela pobreza. Ou seja, no Japão das duas primeiras décadas do pós-guerra, alguns lugares tinham um nível alto de pobreza semelhante a lugares miseráveis encontrados em nosso país, com o diferencial de que nunca passamos por uma guerra nas proporções pelas quais o Japão passou.
Já dá para perceber como a história vai ser melancólica e deprimente. O filme retrata a vida dos moradores de uma favela de Osaka, onde todos precisam se virar para arrumar dinheiro, principalmente através de atividades ilícitas. Hanako, por exemplo, é uma bela prostituta que consegue doações de sangue de marinheiros, sangue esse vendido de forma lucrativa no mercado negro para empresas de cosméticos. Além de Hanako, há gangues rivais de olho nos negócios da prostituta e que disputam o poder das ruelas da favela de forma muito violenta, onde um rígido código de honra pune com violência deserções ou traições. A situação de miséria e violência extremas desumaniza todos os personagens com tamanha intensidade, vista principalmente na sequência de suicídio de um catador de papel que descobre que é traído pela esposa. O amante descobre o corpo do homem enforcado pendurado no quintal da casa do morto e, antes de dizer a todos que o homem se matou, surrupia o dinheiro e um maço de cigarros começado do corpo. Quando todos estão em volta do corpo, a esposa não esboça nenhuma afeição pelo marido e ainda o chama de imprestável, sob os risos dos outros populares que ainda fazem a piada de que o homem se matou porque não aguentava a esposa. O único que chora é um homem de cerca de dois metros com jeito abobalhado. Outras cenas violentas provocam náuseas e indignação, como a do homem desequilibrado que pega um filhote de cachorro para cuidar e, depois que é chamado de lunático, fica com muita raiva e atira o próprio cachorrinho contra o chão, fazendo o bichinho gritar e chorar.
No meio de todo esse caos, havia um personagem interessante. Uma espécie de veterano de guerra, que toda hora fazia alusão a uma possível invasão soviética ou americana, e que todos deveriam estar de prontidão para proteger o Império Japonês em caso de ataque. Fica bem claro aqui a alusão ao orgulho imperial e imperialista japonês de tempos de outrora que, assim como o personagem, estava atirado à lama, como se os dias gloriosos do Japão estivessem terminados com a derrota na guerra. A favela era a expressão real e atual no pós-guerra do Japão derrotado.
E assim a película vai contando a sua história, na base de pequenas tragédias pessoais (uma agressão física aqui, um homicídio ali, um estupro acolá), até se chegar à grande hecatombe coletiva, onde toda a favela é incendiada pelos próprios moradores em virtude de uma briga. Ao final, o cenário extremamente desolador, com todos os barracos queimados e um dos personagens falando que “parecia com a situação do Japão logo após o final da guerra”. O mais interessante aqui são as palavras finais. O mesmo personagem que olhou para os barracos destruídos e lembrou do fim da guerra olhou para a prostituta e disse: “Sim, vamos lá que temos muito trabalho a fazer”. Aqui fica bem explícita a convicção do povo japonês em, apesar de toda a adversidade, não abaixar a cabeça e recomeçar, lição aprendida na derrota da guerra.

Assim, “O Túmulo do Sol” pode ser considerado um dos filmes mais importantes de Nagisa Oshima, pois ele mostra um Japão humilhado e favelizado, com seu orgulho atirado à lama. Um filme social de denúncia, altamente agressivo para com a sensibilidade do espectador. Uma película que provoca e mexe com você, imprimindo suas imagens na retina, tornando-as inesquecíveis. E mais um filme que convida o cinéfilo à reflexão. Definitivamente, o cinema de Nagisa Oshima é um cinema de muita força.

Cartaz do filme

Submundo das favelas do Japão

Situações de miséria extrema

Gangues agindo de forma violenta

Uma prostituta que, literalmente, vende sangue alheio...

Falta de esperança nos semblantes...

terça-feira, 28 de julho de 2015

Resenha de Filme - Prazeres da Carne

Prazeres Da Carne. Dinheiro Não Traz Felicidade.
Dando sequência às resenhas de alguns filmes de Nagisa Oshima que foram exibidos numa mostra no CCBB, vamos falar hoje de “Prazeres da Carne”. Essa é uma curiosa história que vai confirmar outra máxima popular, a de que “Dinheiro não traz felicidade”. Vamos ver aqui a história de um professor que se apaixona por uma de suas alunas. Ele soube que ela sofreu um abuso sexual e é induzido a matar o culpado pelo crime, atirando-o de um trem. Mas um funcionário público corrupto viu o assassinato e passou a chantagear o tal professor. De que forma ele fez isso? O tal funcionário havia desviado 30 milhões de ienes de dinheiro público e sabia que seria processado e condenado a cinco anos de prisão. Assim, ele deixou o dinheiro sob a responsabilidade do professor, que deveria guardá-lo e jamais gastá-lo. Após os cinco anos de prisão, o funcionário voltaria e pegaria o dinheiro de volta. Caso o professor gastasse, o funcionário o denunciaria à polícia. O professor acreditava piamente que casaria com sua amada aluninha, mas ela lhe deu o cano e casou com um rico empresário. Apesar da enorme decepção, o professor não ficou chorando na cama e decidiu gastar todo o dinheiro em seu poder até a libertação do funcionário público, quando o professor se suicidaria. Assim, o professor sai pelas ruas em busca de sexo com as mulheres que lhe atraíssem, convencendo-as com os milhões de ienes em seu poder. Sua ideia era gastar todo o dinheiro no espaço de um ano.
Dá para imaginar que o professor meteu os pés pelas mãos nessas aventuras sexuais que lhe trouxeram mais desgosto e dor de cabeça do que satisfação. Na verdade, a cada mulher que ele encontrava, sua vida enrolava mais e mais. Até que, ao fim do filme, sua aluninha volta para ferrar a sua vida de vez. A película também traz um monte de situações inusitadas que dão mais vivacidade à história, principalmente porque nosso amigo professor é muito trouxa e não sabe como lidar com as surpresas que aparecem ao longo do filme, o que tornam os problemas de sua vida cada vez mais insolúveis. Pode-se dizer, também, que o filme se aproxima muito do drama psicológico, com direito a situações de semi-consciência e até alucinações. A grande lição do filme é a de que gastos desenfreados sem qualquer senso de responsabilidade ou cautela podem detonar a vida de um cidadão. Os gestos impensados de nosso professor provocados pelas decepções pelas quais passou levam a uma situação de beco sem saída, como se esse impulso por prazeres carnais tivesse como consequência algum tipo de castigo, ratificando uma visão um tanto moralista e até conservadora. Conceito de honra japonesa muito forte, devemos sempre nos lembrar disso. O folder da mostra também fala de um materialismo do Japão pós-guerra. Pode até ser. Mas creio que os conceitos de honra levada a um moralismo conservador e drama psicológico se encaixam melhor aqui.

De qualquer forma, é mais um filme de Nagisa Oshima que levanta questões e reflexões sobre a sociedade japonesa do pós-guerra. Mais um filme de boa relevância que essa mostra nos traz. E mais um alvo para garimpeiros de Youtube de plantão. 

Cartaz do filme

O professor e a aluninha...

Doce perigo...

O professor se lança numa vida de sexo inconsequente...

Situações inusitadas...

Quebrando a cara no final...




segunda-feira, 27 de julho de 2015

Resenha de Filme - Phoenix

Phoenix. Loops De Duas Caras.
Mais um bom filme alemão que aborda os temas do nazismo, da Segunda Guerra Mundial e do massacre de judeus em campos de concentração. E aí o leitor pode se perguntar: mas esses temas já não estão muito batidos? Dá para tirar algo novo deles? Dá para criar reflexões inéditas? A película “Phoenix”, produzida em 2014 e dirigida por Christian Petzold, o mesmo do bom filme “Barbara”, diz que sim. E cabe dizer aqui que revisitar esses temas tão caros ao cinema nunca é demais, já que eles comportam várias matizes.
Vemos aqui a história da cantora judia Nelly Lenz (interpretada por Nina Hoss), que foi prisioneira de um campo de concentração e teve seu rosto desfigurado pelos nazistas. De volta à sua cidade após o fim da guerra, ela fez uma cirurgia plástica para reconstituir seu rosto. Só que era impossível tornar o rosto ao que era antes. E Nelly, que também teve sua casa bombardeada, se sentia uma espécie de pessoa que tinha sido “apagada” da face da Terra. A única identificação com sua antiga vida era o marido Johnny (interpretado por Ronald Zehrfeld), quem ela começou a procurar obsessivamente para reconstruir sua vida. Mas, ao encontrá-lo na casa de espetáculos Phoenix, ela descobre que seu marido não vale nada. Como a moça havia feito a operação plástica e tinha um novo rosto, Johnny não a reconheceu, mas achou que ela era muito parecida com sua esposa Nelly, a ponto de fazê-la se passar por Nelly para pegar a herança dela. Num primeiro momento, Nelly, muito carente emocionalmente e fragilizada, ainda queria acreditar que o marido era uma boa pessoa. Mas, com o tempo... E assim, ficamos na expectativa de se Nelly vai cair como uma patinha nas artimanhas de Johnny ou se ela dará uma rasteira no marido.
O que esse filme tem a ver com a guerra além do fato de Nelly ser uma sobrevivente de um campo de concentração? As picaretagens de Johnny, querendo se aproveitar da suposta morte de Nelly e abocanhar a sua herança, são comparadas com os verdadeiros saques que os nazistas faziam dos bens dos judeus aprisionados. Ou seja, houve a matança dos judeus, o roubo de seus bens, tudo isso feito pelos nazistas e, depois da guerra, essas práticas nazistas de surrupiar o bem alheio não foram de todo extintas, com o marido ainda querendo pegar a herança da esposa morta. Com isso, vemos que as práticas nazistas tiveram uma origem social, quer dizer, nada da ideologia nazista foi resultado de uma só pessoa (Adolf Hitler), mas sim das vontades de uma sociedade que permitiu tal monstruosidade.
O filme também mostra “loops” de dissimulações. Se Johnny, num primeiro momento, fingia ser um bom marido para Nelly sendo, na verdade, um verdadeiro canalha, Nelly, num segundo momento, vai esconder sua verdadeira identidade e também enganar Johnny fingindo ser outra mulher em virtude de uma operação plástica imperfeita. A dissimulação, tão presente nesses dois personagens, pode ser um espelho da própria dissimulação nazista, já que o termo nacional-socialismo representa uma ideologia que de socialista não tem nada, muito pelo contrário até.

Assim, “Phoenix” nos traz o mérito de discutir e refletir sobre a sociedade alemã do imediato pós guerra, onde podemos perceber que algumas práticas do nazismo ainda não tinham desaparecido de todo daquela sociedade. Mais um filme que reflete sobre um importante período de nossa História que jamais deve ser esquecido para que não mais se repita. Um bom programa.

Cartaz do filme

Cartaz do filme

Nelly. Rosto desfigurado pelos nazistas.

A plástica surtiu efeito.

Decepção ao reencontrar o marido.


domingo, 26 de julho de 2015

Resenha de Filme - Sentimentos Que Curam

Sentimentos que Curam. Hulk Maníaco-Depressivo.
Um interessante filme chega até nós. A película “Sentimentos que Curam” (“Infinitely Polar Bear”), de 2014, dirigido e escrito por Maya Forbes, é estrelada pelo “Hulk” Mark Ruffalo e pela “Uhura” Zoe Saldana. Esse filme, de apenas noventa minutos, é um divertido drama, um pouco pesado em alguns momentos, mas engraçadíssimo em outros. Uma história família que não é piegas, pois propõe uma coisa um pouco diferente.
Temos aqui a história de Cameron (interpretado por Ruffalo) e Maggie (interpretada por Saldana), um casal que se conheceu em plena década de 60. Cameron tinha um pequeno problema: ele é um psicótico maníaco-depressivo. Mas tal característica não afastou Maggie, pois, segundo ela, todos eram loucos naquela época. Os anos 60 passaram e a doença de Cameron, não. Eles se casaram e tiveram duas filhas. Chega o ano de 1978 e o relacionamento está à beira do colapso em virtude dos problemas psicológicos de Cameron, que muito atrapalham. O marido não consegue ficar em nenhum emprego e Maggie precisa bancar a casa. Depois de uma internação de Cameron, o casal decide ainda viver junto para ver se dá para salvar o relacionamento ou não. Mas Maggie vai precisar viajar para Nova York com o objetivo de fazer uma pós-graduação. E, assim, por dezoito meses, Cameron terá que executar a tarefa de criar as duas filhas.
O filme tem como foco principal o relacionamento de Cameron com as filhas. Seu comportamento totalmente errático e absurdo levava as meninas ao desespero, provocando situações engraçadíssimas. Pode-se dizer que Mark Ruffalo arrasou nesse filme, pois seu personagem exigia alterações súbitas de comportamento e sempre de forma muito intensa. Num momento, ele poderia estar em depressão. Daí a um segundo, estar violento. Mais um momento e ele tentava ser excessivamente prestativo. E as filhas dando um esporro atrás do outro nele, que retrucava como uma criança. Esses pequenos conflitos familiares valem o ingresso.
O filme também mostra a mentalidade da década de 70, onde a mulher bancar a casa trabalhando fora e o marido fazer as vezes de dono de casa era considerado uma aberração. Se até hoje, há um preconceito com relação a isso, imagine há 37 anos. E isso fica marcado no filme, despertando mais angústias em nosso papai tresloucado.
O único desconforto na história foi o seu repentino desfecho. Ficou um gosto de quero mais, dando a impressão de que a película acabou antes da hora, sinal de que o filme estava muito bom. Ou então a impressão de que o final deveria estar ali mesmo, já que buscar um desfecho mais elaborado para o personagem de Ruffalo poderia parecer algo mais falso.

Dessa forma, “Sentimentos que Curam” é um filme muito intenso em suas emoções. Ele pode despertar sonoras gargalhadas, indo até às lágrimas ou à perplexidade total. Os problemas psicológicos de Cameron dão um tom de tragicomédia à história sem esquecer que o inusitado nos pega de surpresa quase que a toda hora. E Mark Ruffalo provou que não é somente um monstro verde ou o carinha de comédias românticas. Aliás, Ruffalo já tinha provado seu talento em “Foxcatcher”. Mas aqui em “Sentimentos que Curam” ele pôde mostrar mais de seu talento, já que foi o protagonista e seu personagem é carregado do inusitado. Vale a pena dar uma conferida.

Cartaz do filme.

Cameron, superzureta...

Com a esposa, Maggie. Um casal de altos e baixos...

Relacionamento inusitado com as filhas...

Comprando novo carro velho...

Tomando esporro das filhas...

Qual será o destino dessa família???

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Resenha de Filme - Império da Paixão

Império Da Paixão. O Crime Jamais Compensa.
Dentro da mostra de Nagisa Oshima no CCBB, temos o ótimo filme “Império da Paixão”, um drama psicológico muito forte e pesado, que vai ratificar a máxima de que o crime não compensa, ainda mais quando esse crime é cometido estimulado por um adultério. A falta da honra (tão valorizada pelos japoneses) nesses atos é latente e deve ser severamente castigada. Um filme impiedoso para quem não tem caráter, bem ao estilo “aqui se faz, aqui se paga”. Vale dizer que esse filme ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes de 1978, ano em que a película foi realizada.
Vemos aqui a história de um casal de camponeses no Japão rural do século XIX. O marido puxa riquixás, aqueles veículos de transporte movidos por tração humana. A esposa é uma dona de casa devotada. Mas chegará ao vilarejo um militar que seduzirá a esposa e começará um caso com ela. O amante não vai mais aceitar que o marido toque a esposa adúltera e eles tramam a morte do cônjuge, embebedando-o com aguardente e saquê para depois enforcá-lo e jogar seu corpo num poço desativado muito fundo. Três anos se passam e o casal de amantes precisa ter uma vida discreta para não levantar suspeitas, o que deixa a viúva cheia de angústias, pois acha que seu amante não a quer mais. Para piorar a situação, o fantasma de seu marido começa a aparecer diante de seus olhos, atormentando-a muito, que vai pedir ajuda ao amante, mas ele não parece estar muito aí para todas as aflições da viúva.
A partir daí, o filme torna-se uma espiral descendente para os dois personagens assassinos. Quem mais sofre em tudo isso é a esposa adúltera, muito mais até do que o amante que arquitetou o assassinato. Aqui pareceu que houve um comportamento excessivamente machista, como se a culpa de todo o imbróglio fosse mais da esposa, que já começou a sofrer desesperadamente no momento da morte do marido. Sentimos na película que o amante passou a ter um abalo psicológico bem maior mais para a segunda metade do filme, enquanto que a esposa sofria aguda e intensamente pela maior parte da história. O fantasma do marido a atormentava intensamente, sua filha vai embora de casa, ela tenta se matar botando fogo na casa, dado o pavor que tem de ser pega pela polícia e o medo de ser interrogada a pauladas (algo que acontecerá ao casal depois), sem falar que eles tentarão tirar o corpo do marido do poço e ela ainda ficará cega num acidente lá mesmo, no fundo do próprio poço. Toda essa desgraça vai ser coroada com a execução dos dois por enforcamento.

Assim, se o casal adúltero cometeu um crime hediondo, mais hediondo ainda foi o destino desse casal que comeu o pão que o diabo amassou. Só que a esposa adúltera sofreu muito mais. E aí, a coisa ficou desproporcional. Ecos de um filme datado. Um filme agônico e angustiante, do qual você não sai indiferente da sala. Mais uma joia do cinema japonês que merece uma garimpada no Youtube, pois não vai ser fácil achar por aí. Vale a pena a busca, principalmente se você gosta de uma película reflexiva como todo bom cinéfilo.

Cartaz do filme

Um casal de amantes...

... que comete um crime...

Adultério levará à decadência do casal...

O castigo final dos amantes...

Nagisa Oshima, falecido em 2013 aos 80 anos...

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Resenha de Filme - Império dos Sentidos.

Império Dos Sentidos. Sexo Explícito Como Arte Proibida.
O CCBB faz uma retrospectiva sobre o importante cineasta japonês Nagisa Oshima. Suas películas sempre foram marcadas por um comprometimento político e social, falando em algumas delas sobre a geração japonesa do pós-guerra. Por aqui pelo Brasil, seu filme mais famoso foi “Império dos Sentidos”, que foi muito exibido durante o período da ditadura militar. Por mais estranho que isso possa parecer, a produção de filmes brasileiros era muito marcada por filmes eróticos e pornochanchadas na época dos militares que, com sua censura ferrenha, impediam a produção de filmes mais reflexivos. O tema do sexo, apesar de ser condenável para algumas mentes mais conservadoras, pelo menos não era algo considerado perigoso ou subversivo pela ditadura, ou seja, não eram filmes questionadores que faziam as pessoas pensarem e se posicionarem contra o regime. E, no meio de toda uma avalanche de filmes eróticos brasileiros, “Império dos Sentidos” veio a reboque, ficando muito famoso na época pelas suas cenas de sexo explícito, com sua versão integral proibida até hoje no Japão.
O filme fala da história real da ex-prostituta Sada Abe, que passa a trabalhar como empregada numa casa de família. Logo era irá se envolver com seu patrão, em muitas cenas quentíssimas com direito a bastante sexo oral e sadomasoquismo. Se num primeiro momento, o sexo explícito com muitas variações era a única coisa do filme que “chocava” mais (devemos nos lembrar que essa película foi rodada em 1976), com o desenrolar da história, o comportamento violento e obsessivo de Sada para com o seu patrão assume um tom doentio. Só para se ter uma ideia, ela ameaça matar o seu patrão e arrancar seu pênis e testículos caso ele tenha relações com sua esposa novamente. E, ainda, ela usa uma técnica de estrangulamento para fazer com que seu patrão e amante tenha uma ereção mais vigorosa. Nem precisa se dizer que isso vai acabar muito mal, ou seja, ela por fim mata seu patrão estrangulado e cumpre a promessa de arrancar os órgãos sexuais dele com uma faca.
Pesado, não? Apesar de tudo, é muito simplório dizer que “Império dos Sentidos” é um filme pornográfico ou de sacanagem. Vale lembrar que a história é inspirada em fatos reais ocorridos no Japão em 1936 e, por mais estranho que isso possa parecer, a opinião pública da época exibiu uma simpatia para com a assassina, como se esse comportamento obsessivo e violento com o ato sexual fosse uma coisa digna de pena. As fortes cenas de sexo, portanto, são uma espécie de suporte para exibir a vertente psicológica da personagem Sada, que recorrentemente transava com seu patrão, já mostrando desde o início sua forma obsessiva de encarar o amor. É uma pena que esse filme tenha ficado famoso e “caído na boca do povo” só pela questão do sexo explícito. É um filme muito mais “cabeça” (as duas, talvez) do que um filme besta de sacanagem. Não é à toa que uma mostra dessas ajuda a nos ver esse filme marginalizado com outros olhos.

Portanto, ainda que a película tenha cenas um tanto escatológicas, vale a pena dar uma conferida, talvez procurando lá no Youtube, já que não é mais tão fácil achar essa película por aí. A questão psicológica se manifesta mais fortemente que a questão sexual, embora o filme pareça mostrar justamente o contrário...

Cartaz do filme


Sada. Comportamento violento e doentio...

... com direito a cenas de estrangulamento...

... e mutilações...

Muitas cenas fortes de sexo...

... com direito a surubas...

... e até música ao vivo...