quarta-feira, 29 de julho de 2015

Resenha de Filme - Túmulo do Sol.

O Túmulo Do Sol. Questão Social Altamente Contundente.
Mais um filme de Nagisa Oshima dentro de sua mostra no CCBB. “O Túmulo do Sol” (1960) é um de seus filmes mais contundentes no que se refere a uma crítica social. E, pode-se dizer até que ele é muito chocante para nós, brasileiros, já que a miséria exposta no filme só é comparável à que vemos por aqui, principalmente nas favelas mais arrasadas pela pobreza. Ou seja, no Japão das duas primeiras décadas do pós-guerra, alguns lugares tinham um nível alto de pobreza semelhante a lugares miseráveis encontrados em nosso país, com o diferencial de que nunca passamos por uma guerra nas proporções pelas quais o Japão passou.
Já dá para perceber como a história vai ser melancólica e deprimente. O filme retrata a vida dos moradores de uma favela de Osaka, onde todos precisam se virar para arrumar dinheiro, principalmente através de atividades ilícitas. Hanako, por exemplo, é uma bela prostituta que consegue doações de sangue de marinheiros, sangue esse vendido de forma lucrativa no mercado negro para empresas de cosméticos. Além de Hanako, há gangues rivais de olho nos negócios da prostituta e que disputam o poder das ruelas da favela de forma muito violenta, onde um rígido código de honra pune com violência deserções ou traições. A situação de miséria e violência extremas desumaniza todos os personagens com tamanha intensidade, vista principalmente na sequência de suicídio de um catador de papel que descobre que é traído pela esposa. O amante descobre o corpo do homem enforcado pendurado no quintal da casa do morto e, antes de dizer a todos que o homem se matou, surrupia o dinheiro e um maço de cigarros começado do corpo. Quando todos estão em volta do corpo, a esposa não esboça nenhuma afeição pelo marido e ainda o chama de imprestável, sob os risos dos outros populares que ainda fazem a piada de que o homem se matou porque não aguentava a esposa. O único que chora é um homem de cerca de dois metros com jeito abobalhado. Outras cenas violentas provocam náuseas e indignação, como a do homem desequilibrado que pega um filhote de cachorro para cuidar e, depois que é chamado de lunático, fica com muita raiva e atira o próprio cachorrinho contra o chão, fazendo o bichinho gritar e chorar.
No meio de todo esse caos, havia um personagem interessante. Uma espécie de veterano de guerra, que toda hora fazia alusão a uma possível invasão soviética ou americana, e que todos deveriam estar de prontidão para proteger o Império Japonês em caso de ataque. Fica bem claro aqui a alusão ao orgulho imperial e imperialista japonês de tempos de outrora que, assim como o personagem, estava atirado à lama, como se os dias gloriosos do Japão estivessem terminados com a derrota na guerra. A favela era a expressão real e atual no pós-guerra do Japão derrotado.
E assim a película vai contando a sua história, na base de pequenas tragédias pessoais (uma agressão física aqui, um homicídio ali, um estupro acolá), até se chegar à grande hecatombe coletiva, onde toda a favela é incendiada pelos próprios moradores em virtude de uma briga. Ao final, o cenário extremamente desolador, com todos os barracos queimados e um dos personagens falando que “parecia com a situação do Japão logo após o final da guerra”. O mais interessante aqui são as palavras finais. O mesmo personagem que olhou para os barracos destruídos e lembrou do fim da guerra olhou para a prostituta e disse: “Sim, vamos lá que temos muito trabalho a fazer”. Aqui fica bem explícita a convicção do povo japonês em, apesar de toda a adversidade, não abaixar a cabeça e recomeçar, lição aprendida na derrota da guerra.

Assim, “O Túmulo do Sol” pode ser considerado um dos filmes mais importantes de Nagisa Oshima, pois ele mostra um Japão humilhado e favelizado, com seu orgulho atirado à lama. Um filme social de denúncia, altamente agressivo para com a sensibilidade do espectador. Uma película que provoca e mexe com você, imprimindo suas imagens na retina, tornando-as inesquecíveis. E mais um filme que convida o cinéfilo à reflexão. Definitivamente, o cinema de Nagisa Oshima é um cinema de muita força.

Cartaz do filme

Submundo das favelas do Japão

Situações de miséria extrema

Gangues agindo de forma violenta

Uma prostituta que, literalmente, vende sangue alheio...

Falta de esperança nos semblantes...

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