sexta-feira, 24 de julho de 2015

Resenha de Filme - Império da Paixão

Império Da Paixão. O Crime Jamais Compensa.
Dentro da mostra de Nagisa Oshima no CCBB, temos o ótimo filme “Império da Paixão”, um drama psicológico muito forte e pesado, que vai ratificar a máxima de que o crime não compensa, ainda mais quando esse crime é cometido estimulado por um adultério. A falta da honra (tão valorizada pelos japoneses) nesses atos é latente e deve ser severamente castigada. Um filme impiedoso para quem não tem caráter, bem ao estilo “aqui se faz, aqui se paga”. Vale dizer que esse filme ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes de 1978, ano em que a película foi realizada.
Vemos aqui a história de um casal de camponeses no Japão rural do século XIX. O marido puxa riquixás, aqueles veículos de transporte movidos por tração humana. A esposa é uma dona de casa devotada. Mas chegará ao vilarejo um militar que seduzirá a esposa e começará um caso com ela. O amante não vai mais aceitar que o marido toque a esposa adúltera e eles tramam a morte do cônjuge, embebedando-o com aguardente e saquê para depois enforcá-lo e jogar seu corpo num poço desativado muito fundo. Três anos se passam e o casal de amantes precisa ter uma vida discreta para não levantar suspeitas, o que deixa a viúva cheia de angústias, pois acha que seu amante não a quer mais. Para piorar a situação, o fantasma de seu marido começa a aparecer diante de seus olhos, atormentando-a muito, que vai pedir ajuda ao amante, mas ele não parece estar muito aí para todas as aflições da viúva.
A partir daí, o filme torna-se uma espiral descendente para os dois personagens assassinos. Quem mais sofre em tudo isso é a esposa adúltera, muito mais até do que o amante que arquitetou o assassinato. Aqui pareceu que houve um comportamento excessivamente machista, como se a culpa de todo o imbróglio fosse mais da esposa, que já começou a sofrer desesperadamente no momento da morte do marido. Sentimos na película que o amante passou a ter um abalo psicológico bem maior mais para a segunda metade do filme, enquanto que a esposa sofria aguda e intensamente pela maior parte da história. O fantasma do marido a atormentava intensamente, sua filha vai embora de casa, ela tenta se matar botando fogo na casa, dado o pavor que tem de ser pega pela polícia e o medo de ser interrogada a pauladas (algo que acontecerá ao casal depois), sem falar que eles tentarão tirar o corpo do marido do poço e ela ainda ficará cega num acidente lá mesmo, no fundo do próprio poço. Toda essa desgraça vai ser coroada com a execução dos dois por enforcamento.

Assim, se o casal adúltero cometeu um crime hediondo, mais hediondo ainda foi o destino desse casal que comeu o pão que o diabo amassou. Só que a esposa adúltera sofreu muito mais. E aí, a coisa ficou desproporcional. Ecos de um filme datado. Um filme agônico e angustiante, do qual você não sai indiferente da sala. Mais uma joia do cinema japonês que merece uma garimpada no Youtube, pois não vai ser fácil achar por aí. Vale a pena a busca, principalmente se você gosta de uma película reflexiva como todo bom cinéfilo.

Cartaz do filme

Um casal de amantes...

... que comete um crime...

Adultério levará à decadência do casal...

O castigo final dos amantes...

Nagisa Oshima, falecido em 2013 aos 80 anos...

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