segunda-feira, 22 de junho de 2015

Resenha de Filme - Mais Um Ano.

Mais Um Ano. Só Se Leva Dessa Vida A Vida Que Se Leva.
Um bom filme inglês em nossas telonas. Produzido lá no longínquo ano de 2010 (pois é, leitor, e só chega agora a nós), “Mais Um Ano” é um filme que tem como tema principal a reflexão que você faz das atitudes que tomou em vida, ou seja, quando você chegou â famigerada “melhor idade” (que, de melhor não tem nada) e você faz um balanço do que ficou para trás. Você aproveitou sua vida? Fez as escolhas certas? Foi feliz? E se você respondeu não para algumas dessas perguntas, o que você pode fazer no pouco tempo que ainda lhe resta? Lutar para correr atrás do prejuízo? Ou simplesmente sentar na sarjeta e chorar melancolicamente?
Vemos aqui a história de Tom e Gerry, que não são o gato e o rato do desenho animado, mas sim um casal já na terceira idade (interpretados, respectivamente, por Jim Broadbent e Ruth Sheen). Essa simpática dupla leva uma vida muito serena e centrada. Além de seus empregos (Tom é geólogo e Gerry trabalha na assistência social), eles têm uma atividade literalmente bem frutífera, que é a de cuidar de uma horta e um pomar num terreno baldio nas imediações de sua casa. Tom e Gerry têm uma série de amigos e parentes. E, ao contrário do feliz casal, todas as suas companhias vivem sérias turbulências. O filho, Joe (interpretado por Oliver Maltman) já chegou aos 30 e ainda não se casou. O irmão de Tom, Ken (interpretado por Peter Wight), é atormentado por tristezas do passado. O outro irmão de Tom, Ronnie (interpretado por David Bradley), perdeu a esposa há pouco tempo e tem uma relação conflituosa com o filho. E a amiga de Gerry, Mary (interpretada por Lesley Manville) é uma mulher solitária que não soube escolher as suas companhias masculinas, padecendo muito por causa disso. Assim, mais interessante do que Tom e Gerry, que parecem estar na calmaria do olho do furacão, são os seus amigos e parentes que passam por verdadeiros turbilhões. Todas essas crises pessoais em torno do casal protagonista nos são apresentadas ao longo de um ano, onde as estações (primavera, verão, outono e inverno) vão espelhando um rosário de melancolias e angústias.
O menos interessante dessa película é o casal principal. Eles mostram um relacionamento completamente asséptico, sem qualquer traço de crise, sendo o contraponto às histórias carregadas de tristezas e frustrações. Toda essa serenidade é amparada pela vida profissional dos dois, que ainda atuam em seus empregos e na atividade altamente produtiva que é manter a horta e o pomar, como se o fato de ter uma vida ativa e produtiva garantisse a serenidade e a sanidade do casal. O contrário ocorre justamente nos outros personagens, mergulhados na improdutividade e no conflito, sendo muito mais interessantes, sobretudo a personagem de Mary, onde tivemos uma grande atuação de Lesley Manville. Ela simplesmente arrasou! A forma como ela transpirava sua insegurança, fragilidade e sofrimento atinge profundamente em nossa alma. Surge uma correspondência imediata entre o personagem e o espectador, que se identifica com tudo aquilo, pois todos nós já experimentamos aqueles sentimentos em maior ou menor grau. E Mary faz isso de forma extremamente intensa, chegando às raias do paroxismo em alguns momentos, o que nos torna ainda mais solidários, pois compartilhamos da forma mais sincera possível sua dor. Sua postura quebradiça e indefesa nos enche de dó, sem ser pena, o que é mais curioso. E o sofrimento principal de Mary está na conclusão que todos tememos chegar a nossa velhice: não aproveitamos bem a vida e fomos extremamente infelizes, restando apenas chorar o leite derramado, pois nossa época já passou.

Dessa forma, “Mais um Ano” é mais um daqueles filmes que precisamos muito ver, pois ele nos dá muitas lições de vida e reflexões. É o tipo de filme que podemos usar como modelo na busca por atitudes que tomamos a cada momento de nossas existências. E nos dá a reflexão para decidirmos que passos devemos tomar. Vale muito a pena dar uma conferida.

Cartaz original do filme.


Tom e Gerry, Um casal excessivamente centrado.

O filho Joe precisa de companhia.

Mary é o retrato da melancolia em pessoa

Irmão mais velho de Tom. Viuvez.

Irmão mais novo de Tom. Passado de mágoas.

Às vezes, um ombro amigo é necessário




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