terça-feira, 23 de junho de 2015

Resenha de Filme - Francis Ford Coppola, O Apocalipse De Um Cineasta

Francis Ford Coppola, O Apocalipse De Um Cineasta. Surtando No Sudeste Asiático.
Um grande documentário passou em nossas telonas em mostra do CCBB. “Francis Ford Coppola, O Apocalipse de um Cineasta”, nos mostra o processo de filmagens de “Apocalypse Now”, uma das grandes obras do famoso diretor ítalo-americano. As imagens do documentário foram tomadas pela esposa de Coppola, Eleanor, muitas vezes sem o conhecimento do cineasta, e podemos ver que a produção de “Apocalypse Now” foi um parto muito difícil, dada a grandiosidade do projeto e de todas as dificuldades nele envolvidas. Pode ser dito que o diretor teve momentos de surto e quase pirou, nas palavras da própria esposa.
E por que todo esse processo foi tão tenso? Em primeiro lugar, o filme foi rodado nas Filipinas, cuja paisagem tinha uma semelhança muito grande com a do Vietnã. Ele não teve qualquer ajuda do governo americano para as cenas de guerra onde havia tiroteios, helicópteros, aviões, etc. Assim, Coppola fez acordos com o ditador das Filipinas, Ferdinando Marcos, para usar esse aparato militar filipino que era desviado durante as filmagens, já que o país vivia uma guerra civil com a guerrilha comunista, e aí em alguns momentos as filmagens tiveram que esperar. Isso provocou uma lentidão que era muito criticada nos Estados Unidos, mesmo que Coppola tenha usado recursos próprios para o filme, se bem que chegou uma hora em que a United Artists colocou dinheiro e exigiria esse retorno. Um outro fator que auxiliou no atraso das filmagens foram as tempestades tropicais e tufões, que destruíram cenários. Se bem que, em algumas  oportunidades,  tomadas foram feitas sob uma chuva muito torrencial, já que, nas palavras de Coppola, a guerra acontecia também nessas condições.
Outro momento um tanto chocante foi o que aconteceu com o ator Martin Sheen. Para quem não conhece a história, seu personagem era um militar escalado para matar outro americano, interpretado por Marlon Brando, que havia criado uma espécie de pequeno reino onde ele governava autoritariamente, com execuções à torto e direito. Só que, para Sheen, foi muito difícil encarar a maldade de um personagem que teria que matar de forma fria e calculista. Coppola, após um pesadelo com Sheen, decidiu filmar com ele uma cena que era a reprodução de seu pesadelo, onde Sheen, seminu e bêbado, se encarava perante um espelho se admirando, como todo belo ator do “star system” faria, mas que depois encararia de frente o personagem do filme, “demonizado” pelo ator em sua cabeça. Sheen, completamente bêbado, atuou de forma muito violenta e estressada, cortando a mão após quebrar o espelho e praticamente surtando. A cena exigiu tanto de Sheen que, no dia seguinte, ele estava com fortes dores no peito. Encaminhado ao hospital, descobriu-se que ele tinha sofrido um forte ataque cardíaco. O ator quase morreu por causa disso. E Coppola, surtadaço, estava mais preocupado em encobrir o caso da mídia americana.
As trocas e choques culturais também se fazem muito presentes no filme, onde uma tribo nativa foi usada nas sequências quando Sheen chega ao “reino” de Brando. Eleanor Coppola ficou muito interessada nos rituais dessa tribo nativa, com direito à rituais de dança e sacrifícios de animais. Aqui temos uma curiosidade. Eleanor pareceu muito mais interessada nos rituais do que o marido. Mas, mesmo assim, ela o chamou para assisti-los, o que o diretor, aparentemente, fez muito a contragosto.
Talvez o momento em que Coppola chega à sua crise mais profunda é o do final do filme. Ele queria dar uma mensagem sobre a guerra, um tema considerado muito espinhoso para a época, pois a opinião publica estava dividida quanto à presença dos americanos no Vietnã. Sabemos que o filme tem uma crítica muito ácida a esse militarismo americano, comparando a um show pirotécnico que só os americanos sabem fazer. Mas o fim não estava legal para Coppola. E, em sua crise criativa, ele falava que até o suicídio seria uma saída interessante para livrá-lo daquele sério problema.
O documentário conta com depoimentos de membros do elenco (Dennis Hooper, Lawrence Fishburne, Martin Sheen, Robert Duvall e outros) e da produção de “Apocalypse Now”, o que incrementa bem a coisa, além das excelentes cenas de “making of” filmadas por Eleanor, que mostra seu marido trabalhando e os bastidores.

Hoje sabemos que o filme foi um sucesso total de crítica, prêmios e bilheteria. Mas, naqueles dias de incerteza, com filmagens arrastadas em condições inóspitas, podemos dizer que o processo de produção de “Apocalypse Now” foi algo de enlouquecedor. Um enlouquecimento comparável ao que acontecia com os soldados na guerra, nas palavras de Eleanor. Será? De qualquer forma, esse excelente documentário de 1991 vale muito a pena ser visto, pois aqui podemos ver todas as agruras e dificuldades que são encontradas quando se faz um filme. Só é de se lamentar que a sequência da fazenda francesa tenha sido cortada em “Apocalypse Now”, embora haja uma versão com ela, que é altamente recomendável de se ver.  

Cartaz do filme

Coppola. Produção de "Apocalypse Now" turbulenta.

Dirigindo sequência de "Apocalypse Now"

Cenas de combate feitas com a ajuda do governo das Filipinas.

Esta sequência quase custou a vida de Martin Sheen...

Alguns problemas com Marlon Brando

Em determinada hora, o suicídio parecia a única saída...

Eleanor Coppola, que filmou as cenas do "making of".

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