quarta-feira, 24 de junho de 2015

Resenha de Filme - Jardins de Pedra

Jardins De Pedra. A Volta Do Que Foi.
Dentro da mostra de Francis Ford Coppola no CCBB, temos um interessante filme que revisita a questão da guerra do Vietnã, imortalizada em “ Apocalypse Now”.  Só quero dizer que, por se tratar de um filme de mostra, com difícil acesso, esse artigo terá spoilers. “Jardins de Pedra”, produzido em 1987, vê os militares americanos e o Vietnã por outro viés. Ao invés dos campos de batalha e da linha de frente em território asiático, o filme se passa nos Estados Unidos, com militares que, indiretamente participam da guerra. E como é que isso ocorre? Tais militares são os responsáveis pelas cerimônias fúnebres dos soldados mortos no Vietnã. E aí fica aquela questão: é melhor ficar por ali mesmo para preservar a sua vida ou “fazer a coisa certa” no campo de batalha? A cada enterro de soldado, fica aquela dúvida. Alguns soldados encaram tal cerimônia com escárnio, fazendo inclusive deboches durante o ritual. Outros militares, entretanto, têm uma visão diferente, com um remorso dentro de sua alma por não ter tomado uma atitude heroica como a daquele soldado morto no caixão. E assim, os dias vão passando e alguns desses militares tomarão atitudes para tentar chegar aos campos de batalha, sempre com aquele receio implícito de morte certa.
O filme conta com um bom elenco. James Caan, Anjelica Houston, James Earl Jones (a “voz” de Darth Vader) são os atores principais. É interessante notar que Coppola procura humanizar a figura do militar, tão hostilizada durante aqueles dias de guerra. Há dois meios onde os militares se relacionam: a caserna, onde há toda uma hierarquia explícita, e o meio privado, onde superiores e subalternos chegam a se comportar como membros de uma família, jantando e bebendo juntos. Há algumas insinuações sutis de mistura entre essas duas esferas, onde um soldado faz uma piada a seu superior durante uma inspeção no alojamento, ou no caso da morte do pai de um soldado, onde um superior mais rígido lhe dava alguma demonstração de carinho. Por girar muito em torno do universo militar, os pacifistas foram retratados de uma forma um pouco mais periférica e talvez até um tanto caricata, embora a personagem de Anjelica Houston seja pacifista. Ela namora o personagem de James Caan, um sargento que não concorda com os procedimentos das forças armadas com relação à guerra, embora negue sistematicamente a seu superior que seja pacifista.
O filme gira em torno de um jovem soldado dos cortejos fúnebres que fará de tudo para ir ao Vietnã. E volta morto. Assim, a cerimônia fúnebre, considerada uma tarefa menor por alguns daqueles militares, passou a ter um significado diferente quando foi de gente do próprio sangue deles. Foi uma experiência muito traumática para aqueles militares tão “família”.

Assim, “Jardins de Pedra” (uma alusão às lápides dos cemitérios militares) são um filme que, se às vezes nos mostra uma cadência um tanto lenta e entediante, ainda assim é um filme que vale a pena ser visto, pois trabalha a guerra do Vietnã de outro ponto de vista: aquele dos militares que não participam da guerra e ainda passam pela dor na consciência de enterrar seus colegas mortos. Ir e se sacrificar ou não ir e sobreviver, eis a questão...

Cartaz do filme

Casal formado por militar e pacifista

Um soldado que quer ir ao Vietnã

Militares em dois momentos: na caserna...

... e na vida mais "civil"...

Um casalzinho que será destruído pela guerra...


A morte de um amigo próximo...


Cerimônia fúnebre. Desta fez, foi o próprio sangue.

Os jardins de pedra.

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