domingo, 29 de março de 2015

Resenha de Filme - O Duplo

O Duplo. Dois Em Um.
Uma obra de Dostoievsky adaptada para as telonas. “O Duplo” conta a história de um funcionário de uma repartição pública altamente burocratizada e com um quê de organização secreta. O funcionário em questão se chama Simon (interpretado por Jesse Eisenberg). Ele é considerado um fracasso total, sendo tratado com desdém, desprezo e ignorância por todos: seus colegas de trabalho, seu chefe, a menininha por qual se apaixonou, até a sua mãe. E, para piorar, ele não toma uma atitude sequer para mudar isso. O mais intrigante é que Simon é um bom funcionário, cumprindo seus horários e obrigações, mas ninguém reconhece isso, pois ele assume uma posição altamente periférica com relação a tudo, passando despercebido por todos. Até que um dia chega um funcionário que tem uma postura completamente oposta à dele: é comunicativo, brincalhão, vaselina, enfim, muito popular com todos. Seu nome é James e sua aparência é idêntica a de Simon. Somente nosso protagonista percebe isso, ao passo que as outras pessoas não veem a semelhança, pois Simon é tão apagado que elas mal percebem sua cara. Isso irá provocar um desespero no homem tímido, que se aproxima de James para tentar aprender mais técnicas de persuasão e de como se soltar perante às pessoas. Só que o tiro sai pela culatra, pois James é um tremendo garganta e não faz nada no trabalho, se apropriando das tarefas feitas por Simon. Caberá ao nosso protagonista deter James para ele não perder o seu emprego ou, pior, não perder sua própria existência. Mas todas as investidas contra James misteriosamente recaem sobre ele também, mostrando que a ligação entre os dois é mais profunda do que parece.
Lembra quando todos nós, antigamente, tínhamos os chamados “Rádio-Gravadores”, onde podíamos escutar a rádio FM de nossa preferência e também nossas fitas cassete, se elas não estivessem mofadas ou agarrassem no cabeçote? E, ainda, lembra quando esse aparelhinho passou a ser chamado “Dois em Um”? Pois é. Essa, talvez, seja a melhor síntese de “O Duplo”. Não havia Simon e James separados. Eles eram apenas dois aspectos de uma mesma pessoa. Simon era resignado, nulo, obediente, tímido, porém dedicado e profissional. James era extrovertido, magnético, muito garganta, mas não queria nada com o trabalho. Duas facetas de um homem só, mas dominadas pela faceta de Simon. James, preso lá em seu interior, buscava aflorar, ele era a reação àquele estado letárgico de Simon que, obviamente, lutou para manter o seu controle. Simon tinha medo de James porque Simon tinha medo da mudança. Não havia uma harmonia entre os dois. O lado da timidez e do medo reprimia o lado da audácia. E esse ser humano passou a viver uma guerra interior consigo mesmo, quando todos nós sabemos que temos esses dois lados. O ideal é haver um equilíbrio e tanto “Simon” quanto “James” serem igualmente importantes. Mas não era o que acontecia no filme. Simon queria acabar com James e, com isso, sua vida implodia, afetando inclusive aqueles que estavam à sua volta, como a mocinha por quem Simon se apaixonara, Hannah (interpretada por Mia Wasikowska). As investidas de Simon contra James refletiam no próprio Simon. Um caso para psicanálise. Já imaginou você lutar contra você mesmo dentro de você? Complicado, hein?

“O Duplo” não é um filme que empolgue muito, mas, por sua natureza intrigante, merece uma visitinha sua. Só não brigue com o seu outro eu se ele não concordar com a sua opinião a respeito do filme...

Cartaz do filme


Simon, Insegurança sobre si mesmo afeta relacionamento com Hannah


James aparece para atormentar Simon ainda mais...


Apesar de suas limitações, Simon luta por seu amor


Voyeurismo também faz parte do filme..



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