sábado, 21 de março de 2015

Resenha de Filme - Duas Irmãs, Uma Paixão

Duas Irmãs, Uma Paixão. Dividindo Um Poeta Da Literatura Universal.
Um bom filme alemão na área. “Duas Irmãs, Uma Paixão” conta a história de um triângulo amoroso, onde um dos vértices é ninguém mais, ninguém menos que Friedrich Schiller (interpretado por Florian Stetter), um dos grandes escritores da literatura alemã e mundial. Veremos aqui como o poeta e escritor, um zé ninguém em termos de cabedal aristocrático, mas já valorizado por suas letras, irá conquistar duas irmãs, Caroline (interpretada por Hannah Herzsprung) e Charlotte (interpretada por Henriette Confurius), sendo que os três aceitam a condição de se amarem mutuamente, numa espécie de amizade colorida da “aufklärung” (Iluminismo). Caroline era casada, pois seu pai morreu cedo e a família ficou sem dinheiro. Por uma questão de conveniência, ou seja, para salvar a saúde financeira da mãe e da irmã, Caroline aceitou tal sacrifício. Já Charlotte sofria por não conseguir um verdadeiro amor, assim como nosso Schiller, romântico e galinha como ele só. As irmãs se amavam profundamente e fizeram um pacto em dividir Schiller entre elas, e o escritor obviamente não se opôs. Mas, apesar de ele ser considerado um gênio de sua época, chegando a se encontrar com o próprio Goethe para uma conversa (devidamente observada à distância por membros da aristocracia), nosso escritor não tinha nem profissão nem grana, sendo visto com reservas pela elite aristocrática quando o assunto era casamento. Assim, o triângulo amoroso do filme teve que passar por todos os crivos impostos pela sociedade de Antigo Regime. O mais curioso é que tal história, que tem um suposto fundo de verdade graças a um pequeno fragmento na correspondência de Schiller escrito para Caroline, se passa ao fim do século XVIII, quando a mais importante das revoluções liberais, a francesa, aniquilava a aristocracia feudal e tingia de sangue a Europa, para desgosto de nosso escritor, que havia conseguido uma vaga de professor de História na Universidade e cuja aula inaugural falava de um otimismo com relação ao futuro, inspirado por uma sociedade letrada amante da arte e da sabedoria. O desgosto de Schiller se baseou justamente no fato de que as execuções na guilhotina inspiravam o mesmo terror que as torturas dos interrogatórios impostos pela Santa Inquisição Espanhola.
O filme é regado a muitas correspondências, viagens, pequenas intrigas, jogos de esconde-esconde para encobrir adultérios. Mas é notório perceber que, com o tempo, a divisão de Schiller feita pelas irmãs desgasta a relação das duas. Novas famílias foram criadas, muito mais pobres pelo contexto histórico da época revolucionária, e com crises internas entre as irmãs e a mãe que, acometida de uma doença grave, não queria morrer com as filhas em guerra. Lamentavelmente, nosso escritor e poeta tinha uma doença respiratória grave e faleceu com apenas 45 anos. Apesar de tudo, sua vida amorosa parece ter sido muito rica e provavelmente tais querelas amorosas podem ter acontecido em maior ou menor intensidade. O filme foi um exercício de imaginação nesse sentido e deve ter tido uma pesquisa admirável.
A trama também mostra uma Alemanha mais romântica, aristocrática e fofa, pouco rude. Temos uma certa visão estereotipada dos alemães como um povo ríspido e rude, que só abrem um sorriso de orelha a orelha quando vencem a gente por 7 a 1. Mas a Alemanha do filme era mais suave, com personagens mais sensíveis, dentro de um espírito nascente e otimista de “aufklärung”, envolta numa visão mais romântica. Obviamente, há um momento mais ríspido ou outro como o tapa na cara que Caroline dá em seu companheiro ou no soco na mesa que a mãe dá quando exige que as filhas irmãs não briguem depois de sua morte. Mas dá para passar. Um filme com alemães mergulhados em florzinhas e delicadezas o tempo todo realmente me parece impossível. Visão estereotipada? Talvez...

De qualquer forma, “Duas Irmãs, Uma Paixão” é uma boa experiência cinematográfica. Um filme que caprichou na fotografia, no figurino e nas locações, sendo provavelmente bem caro por causa disso. Um filme feito com capricho e cuidado, que enche os olhos pela beleza de suas imagens. Uma história talvez um pouco longa e cansativa. Mas ainda assim, a película vale a pena.

Cartaz do filme no Brasil


Cartaz internacional, muito mais bonito... um Schiller nu, aquecido pelas irmãs...


Friedrich Schiller, um dos maiores escritores da literatura universal...


Triângulo amoroso peculiar...


Charlotte e Caroline. Na juventude, tudo são flores...


Irmãs muito unidas


Schiller em sua aula inaugural de História...


... e as mocinhas disfarçadas assistindo.


Marido de Caroline. Casamento por conveniência


Uma mãe temerosa com o futuro das filhas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário