quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Resenha de Filme - O Senhor do Labirinto

O Senhor Do Labirinto. Loucura Como Combustível da Genialidade.
Mais um bom filme brasileiro nas telas. “O Senhor do Labirinto” fala da vida do artista sergipano Arthur Bispo do Rosário, um interno da Colônia psiquiátrica Juliano Moreira, no Rio de Janeiro que, dentro de seus tormentos provocados pela insanidade, produziu verdadeiras obras-primas, em suas próprias palavras, “representações” das coisas que ele via em sua mente perturbada por uma religiosidade exacerbada, onde ele acreditava ser Jesus Cristo em pessoa. Vemos toda a loucura do artista colocada de forma nua e crua, o que provocou o seu internamento por praticamente toda a vida. Por ter sido pugilista na marinha e ter separado uma briga com seus potentes golpes, ele caiu nas graças dos seguranças da colônia, especificamente de Wanderley, que acabou promovendo-o a uma espécie de ajudante dos seguranças, onde ele tinha uma espécie de imunidade (nenhum interno podia sequer tocar nele). Essa condição o tornou sujeito a uma série de regalias que depois seriam decisivas para ele poder fazer sua arte, já que ele precisava de objetos cortantes como agulhas e tesouras para fazer suas mantas e panos cheios de inscrições. Ter tais instrumentos cortantes dentro da cela de um hospício era, obviamente, terminantemente proibido. Mas o jeitinho e jogo de cintura de Wanderley fez com que o interno tivesse todos os seus materiais à disposição.
O filme, baseado no livro homônimo de Luciana Hidalgo, conta com um bom elenco, com presenças como a da fofíssima atriz Maria Flor, que faz Rosângela, uma estagiária de psicologia. O segurança Wanderley, amigo de Arthur por toda a sua vida, é interpretado por Irandhir Santos. Eriberto Leão faz uma ponta como um interno superdoido e, para o papel de Arthur Bispo do Rosário, foi chamado o excelente ator Flávio Bauraqui, que já fez bons filmes como “Quase Dois Irmãos” e “Madame Satã”, onde ele simplesmente colocou Lázaro Ramos no bolso. É extremamente lamentável que esse ator não tenha mais espaço para nos brindar com tamanho talento. Outra virtude do filme é a caracterização dos personagens na velhice, embora tenha ficado a impressão de que o tempo passou rápido demais, quer dizer, a fase da juventude de Arthur e Wanderley poderia ter sido mais bem aproveitada e destrinchada.

De qualquer forma, “O Senhor do Labirinto” é um filme brasileiro que merece uma visita do cinéfilo mais convicto, pois é um bom produto cultural brasileiro sobre um dos expoentes da cultura de nosso país, que poderia ter ficado esquecido dentro de um manicômio não fosse o reconhecimento de algumas pessoas, principalmente de Wanderley, que guardou suas obras quando elas foram proibidas de ficar na cela. É um filme onde temos novamente a oportunidade de ver Bauraqui atuar, algo obrigatório para quem gosta de ver um bom artista trabalhando. E um filme que mostra a realidade dos manicômios do Brasil, que é de dar náuseas. Por tudo isso, vale a pena dar uma conferida nesse bom filme pátrio...

Cartaz do filme


Flávio Bauraqui. Sensacional, como sempre.


Irandhir Santos como Wanderley, o segurança, e um amigo para toda a vida...


A fofíssima Maria Flor trabalha no filme


Tormentos de origem religiosa


"Negociando" a exibição de seu documentário

Boa maquiagem para representar a passagem do tempo


Arthur Bispo do Rosário, o verdadeiro "Senhor do Labirinto"

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