segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Resenha de Filme - Esse Viver Ninguém Me Tira

Esse Viver Ninguém Me Tira. Uma Heroína Oculta Vem À Tona.
Um excelente documentário brasileiro está na tela, mas infelizmente um tanto escondido do grande público. “Esse Viver Ninguém Me Tira”, do ator Caco Ciocler, mostra a trajetória de uma tal Aracy Moebius de Carvalho, uma mãe desquitada (algo escandaloso para a época em que vivia) que vai com a cara, a coragem e o filho pequeno para a Alemanha em 1930, onde irá conhecer as agruras do nazismo. Lá, ela vai precisar de um emprego e assumirá a difícil tarefa de ser chefe do setor de passaportes do consulado brasileiro em Hamburgo. Ela também vai se apaixonar pelo cônsul adjunto, um tal de João Guimarães Rosa. Seu trabalho era considerado muito difícil e arriscado, pois o governo nazista determinava que as emissões de passaportes aos judeus fossem dificultadas ao máximo para mantê-los na Alemanha, com a intenção de enviá-los para os campos de concentração e extermínio. Mas Aracy, muito avançada e corajosa para a sua época, fez o caminho inverso, ou seja, ela não mediu esforços para facilitar a saída de judeus da Alemanha Nazista em direção ao Brasil, colocando em risco a sua própria vida ao tomar tal atitude. Com empolgante história nas mãos, Ciocler irá recuperar a história dessa brasileira muito corajosa e desconhecida, entrevistando seus familiares e pessoas que tiveram contato com Aracy, além do uso de muitas fotografias e de viagens aos locais onde Aracy viveu na Alemanha e a Israel, onde seu nome está num memorial em homenagem a aqueles que ajudaram a salvar os judeus do holocausto.

O documentário de Ciocler é muito bom, pois pudemos sentir duas qualidades essenciais. A boa pesquisa histórica, com a busca de várias fontes em instituições como o Instituto de Estudos Brasileiros, em São Paulo, e uma muito bem trabalhada memória afetiva na reconstituição da trajetória de Aracy. A gente quando assiste a um documentário histórico desse naipe sempre fica com aquela vontade de quero mais e deu a impressão de que o material pesquisado poderia ter sido mais aprofundado, mas também sabemos que, num trabalho de pesquisa histórica e em documentários, chega um momento em que temos que fazer escolhas, priorizando certos materiais e leituras e suprimindo outros materiais e leituras, obviamente com grande dor no coração. De qualquer maneira, os pós-créditos foram uma síntese entre a pesquisa e afetividade presentes no filme, quando Ciocler entrevista o avô, que conheceu Aracy e o ator não sabia disso. Ele disse ao avô que estava fazendo um documentário sobre Aracy há quase um ano, o avô conhecia a protagonista e não tinha dito isso a Ciocler. O avô retrucou meio que dizendo algo do tipo “nunca tivemos a oportunidade de conversar sobre isso”. Só é de se lamentar que ele passe em tão poucas salas e não seja tão divulgado quanto um blockbuster da vida. De qualquer forma, procurem o DVD depois, pois é mais um filme brasileiro de boa qualidade que vale a pena, que deve ser prestigiado. Tivemos aplausos ao final da sessão. Isso sempre é um bom sinal da qualidade da película.

Cartaz do filme


Aracy. Uma heroína brasileira


Caco Ciocler. Reconstituindo a trajetória de Aracy.


Fotos e locais. Boa pesquisa histórica


De Hamburgo a Israel


Grande memória afetiva


Pesquisando em arquivos documentos pessoais de Aracy.


Amor por imagens esquecidas


Uma grande figura humana...

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