Yoshiwara´s World: Resenha de Filme

Dois Em Um. Mediunidade Levada A Níveis Ridículos.

Uma comédia francesa que abusa do non sense. Essa é a impressão principal de “Dois em Um”, que conta com o bom ator Daniel Autueil e Allain Chabat. Essa produção francesa de 2008 conta a história de uma antiga estrela da música, Gilles Gabriel (interpretado por Chabat), que atropela um contador, Jean Christian Ranu (interpretado por Autueil). O pobre contador voa por cima do carro e o cantor bate com a cabeça no para-brisa. Após o acidente, Ranu escuta a voz de Gabriel dentro de sua cabeça o tempo todo, dando a entender que o tal cantor morreu e se incorporou ao corpo do contador. Os dois, então, irão começar uma estranha amizade, habitando o mesmo corpo. Mas há um problema nessa história. Enquanto Gabriel é descolado e faz sucesso com as mulheres, Ranu é altamente inseguro e tem tendências bissexuais. Para piorar a situação, Ranu é perdidamente apaixonado por sua chefe na firma em que trabalha, Muriel (interpretada por Marina Foïs), uma mulher que o espezinha sem dó nem piedade. Gabriel vai ajudar Ranu a conquistar Muriel e a livrar o contador das saias justas em que se mete em virtude de suas trapalhadas. E Ranu vai ajudar Gabriel a compor, comprando um piano eletrônico.

O filme é uma comédia relativamente engraçada, com situações um tanto constrangedoras. Mas tudo pareceu um enorme besteirol sem qualquer controle, onde o personagem Ranu era o fim da picada, sendo completamente sem noção. O inusitado da “incorporação” de Gabriel em Ranu vai mais tarde ser identificado como um problema psicológico de Ranu, onde ele acha que escura vozes de outras pessoas, tendo por fim “incorporado” populações inteiras. A “explicação racional” para a situação inusitada parece inoportuna, pois depois de o filme parecer uma grande ópera do absurdo, fica muito tarde dar um status de alucinação a Ranu bem depois da metade do filme. Seria mais coerente na incoerência da história não dar qualquer explicação racional à uma situação totalmente sem sentido, ou seja, que os dois vivessem juntos no mesmo corpo e que, depois, os dois se separassem, com Gabriel indo para o céu ou os dois vivendo juntos “felizes para sempre”.

Dessa forma, “Dois em Um” é um filme que não decola, a não ser por uns poucos momentos realmente engraçados. Mas fica mais uma vez aquela impressão de que é uma boa ideia que poderia ter sido melhor aproveitada e desenvolvida. Os sorrisos de Muriel e sua paixão cega por um Ranu atormentado pelos seus problemas psicológicos chega a ser deprimente. Uma história que peca pelo excesso de non sense, ficando muito mais boba do que engraçada em alguns momentos. Só é de se lamentar o mico que o Daniel Autueil, grande ator francês, passou ao fazer essa película. Uma comédia de poucos bons momentos e um toque equivocado de besteirol.