segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Resenha de Filme - Boyhood, da Infância à Juventude

Boyhood, Da Infância À Juventude. Tempo Real Virtual.
Um filmão americano no pedaço. Filmão porque é muito bom e tem quase três horas de duração. “Boyhood, da Infância à Juventude” é uma experiência nova em cinema. Um filme rodado por vários anos. E por que isso?
Temos aqui a história do menininho Mason (interpretado por Ellar Coltrane), que tem uma irmãzinha chamada Samantha (interpretada por Lorelei Linklater), a mãe (interpretada por Patricia Arquette) e o pai (interpretado por Ethan Hawke). Vamos ver a trajetória de vida dessa família desde a infância do menino, passando pela “High School” (ensino médio), chegando até a “College” (universidade). Geralmente, quando temos um filme em que há um personagem criança que vai crescendo ao longo do tempo, diferentes atores interpretam as diferentes idades do personagem, certo? Entretanto, em “Boyhood”, há um detalhe especial. Os atores são os mesmos ao longo de toda a história, ou seja, nós vemos mesmo o menino crescendo, assim como sua irmãzinha e os pais envelhecendo. Assim, o filme foi rodado em mais de uma década. Para o grande público, o filme feito dessa maneira é, em si só, uma experiência muito curiosa, pois vemos as pessoas se transformando aos poucos. Para esse humilde articulista que vos fala, que é professor, a experiência de ver esse filme assemelha-se um pouco à experiência de um professor em sala de aula, que pega uma turma de ensino fundamental do 6º ao 9º ano e vemos os alunos crescendo e amadurecendo (ou não...).
O personagem do menininho protagonista tem um comportamento um tanto introspectivo, ao contrário da irmã, uma verdadeira espoleta. Essa família passará por turbulências, pois os pais vão se separar e a mãe irá juntar seus trapinhos com companhias nem sempre recomendáveis. Por outro lado, o pai, crianção e irresponsável, é uma boa referência para os filhos. Um aspecto curioso no filme é presenciarmos nos personagens algumas componentes ideológicas que formam a sociedade americana como, por exemplo, o pai ser um crítico ávido de Bush no ataque ao Iraque, assim como vemos os dois filhos e o pai fazendo campanha para Obama anos mais tarde (inclusive tirando placas do concorrente republicano McCain nas ruas!) e o fato de depois o pai ter se casado com uma moça cujos pais são de uma família extremamente conservadora que tem, ao mesmo tempo, bíblias e armas em sua casa.
O filme desperta em nós várias reflexões. Em primeiro lugar, como é importante o papel de um pai e de uma mãe. Às vezes, um passo em falso, como a escolha de um cônjuge inadequado, pode afetar demais a vida dos filhos e provocar até alguns traumas, embora o filme não tenha ido longe demais nisso. Outro fator interessante é como a prática do divórcio no fim das contas agrega famílias, como podemos ver na festa de formatura da  “high school” do nosso protagonista, onde mãe, pai e agregados comemoram todos juntos. A impressão que se dá é a de que todos formam uma única e imensa família, baseada em relacionamentos monogâmicos interligados. Dessa forma, “Boyhood” acaba fazendo uma intrigante e curiosa radiografia dos caminhos que a sociedade americana pode tomar no âmbito privado.
O filme também é um comovente relato das superficialidades e profundezas das relações humanas. Para o introspectivo menino, vemos que suas relações são bem mais íntimas com pai, mãe e irmã (como não podia deixar de ser) e mais distantes com padrastos, amigos dos pais, parentes dos amigos, etc. Nessa imensa família que imbrica relações conjugais, ainda há níveis mais e menos íntimos de relacionamento.

Se o filme tem, por um lado, uma longa duração e trata basicamente de relacionamentos humanos, possuindo um ritmo arrastado em alguns momentos, por outro lado é uma interessante análise da família na sociedade americana contemporânea. E aí nos perguntamos onde a família brasileira de hoje é se aproxima e se afasta do modelo apresentado no filme. O filme “Boyhood”, portanto, pode ser considerado uma interessante história por suscitar todas essas questões.


 
Cartaz do filme. 

Mason em diferentes idades...


Uma família em diferentes fases....

Irmãos fofos...

Mamãe mais madura...


e papai, o porralouca de sempre...

E o tempo não para...

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