segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Resenha de Filme - Democracia em Preto e Branco

Democracia Em Preto E Branco. Futebol E Rock Na Luta Pela Liberdade.
Um bom documentário brasileiro sobre os chamados “anos de chumbo” e da “abertura política”. “Democracia em Preto e Branco” se situa no fim da década de 1970 e início da década de 1980, quando a ditadura militar no Brasil já mostrava estar cambaleando. Isso porque vários movimentos sociais surgiam nessa época para questionar o poder dos grandes empresários e generais. As greves no ABC paulista encabeçadas por lideranças como Lula, por exemplo. O surgimento do rock nacional, cujas letras em português de um alto tom crítico e questionadoras do regime, constituía outro núcleo de resistência. E o foco principal do documentário: um time de futebol de São Paulo, que se uniu e conseguiu estabelecer uma ilha de resistência no clube que defendiam e no país em que viviam. Um clube de futebol cujo líder do time era um tal de Sócrates Brasileiro... quem tem conhecimento ou vivenciou aquela época já sabe que falo da “democracia corinthiana”, surgida num momento em que o Corínthians era presidido por Vicente Matheus, fortemente antenado com os militares. Mas a vida política do clube possibilitou num determinado instante a abertura de um processo democrático onde os jogadores tomaram as decisões por votação e os bichos das vitórias eram divididos entre todos, inclusive roupeiros, motoristas de ônibus e as lavadeiras dos uniformes. O processo da democracia corinthiana não teve apenas a autoria de Sócrates, o seu principal ícone. Wladimir, que tinha contato com os movimentos de trabalhadores na luta pela democracia contra o regime militar, também foi de suma importância. Outro jogador que se tornou um símbolo do movimento democrático do clube foi um jovem de dezenove anos grande, desengonçado, de espírito rebelde e roqueiro: um tal de Walter Casagrande  Júnior. Esses três jogadores eram o símbolo de um time que tinha ainda figuras como Zenon, Biro-Biro (aquele mesmo) e Juninho. Apesar de Sócrates, Wladimir e Casagrande possuírem o status de ídolos e líderes do time, isso não significava que eles exercessem uma autoridade sobre os demais colegas. Pelo contrário. Todos primavam pela importância das decisões tomadas coletivamente. A figura principal não era um ou outro jogador. O grande astro era o grupo em si.
Mas o filme também lembra a gênese do rock nacional, recordando grupos que começaram apenas querendo fazer música, quando mal sabiam tocar instrumentos musicais e faziam tudo no improviso, como os Titãs, que, por possuírem uma quantidade enorme de integrantes, podiam improvisar mais que nos outros grupos. Foi lembrada, ainda, a importância do surgimento de um rock em português, que abordava os problemas do Brasil daquela época, algo mencionado por Casagrande, que tinha a mesma idade daqueles roqueiros, se identificando totalmente com eles. Grupos como Ultraje a Rigor, Titãs, Paralamas do Sucesso, Ira, Barão Vermelho e Plebe Rude faziam letras de músicas de protesto muito críticas, sendo fortemente reprimidas pela censura, inclusive em tempos de democracia pós-ditadura.

“Democracia em Preto e Branco” é um filme fundamental, principalmente para as novas gerações que nada sabem sobre a ditadura militar, não entendem a importância de participar de um pleito eleitoral e que não sabem o que é um bom futebol ou uma boa música. Em dias que “Senta, senta, senta” é um hit, “Até Quando Esperar”, da Plebe Rude, soa como um bálsamo doce de tempos muito amargos que não acabaram de todo (quem sabe não se tornaram ainda mais amargos, travestidos numa falsa democracia?). Certeza, só uma: como Sócrates, Casagrande, Wladimir, Zenon e cia. jogavam! Como jogavam! Pinturas de gols transbordando nas telonas! Um prato cheio para os amantes da política, liberdade, democracia, rock e bom futebol. Mesmo quem não é corinthiano deve ir ver. Quem é então...

Cartaz do filme


Sócrates, o grande ícone...


Um movimento revolucionário...


Casagrande, ídolo de uma juventude que aspirava ´por liberdade.


Os três mais...


Gênese do rock nacional...


Futebol e rock num encontro de corinthianos legítimos...


No movimento Diretas Já...


Mas, em seguida, a decepção...

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