sábado, 29 de novembro de 2014

Resenha de Filme - Santa

Santa. O Primeiro Filme Falado Do México.
O filme mexicano “Santa”, realizado em 1931, foi o primeiro filme falado desse país. Tive a oportunidade de conferir essa pequena preciosidade no Festival Recine, o Festival Internacional de Cinema de Arquivo deste ano que, diga-se de passagem, é realizado todo ano no Arquivo Nacional, sempre com entrada franca. Numa sessão em que eu era o único espectador da sala, num miniauditório improvisado, pude me deleitar com a beleza da estonteante Lupita Tovar, uma atriz mexicana de prestígio da época e viva até hoje (está com 104 anos!!!!).
Vemos aqui a história de uma moça do interior de nome Santa (Tovar), que se apaixona por um militar de nome Marcelino (interpretado por Donald Reed). Após semanas de namoro, Santa é execrada de sua casa por sua família, principalmente pelos seus dois irmãos. Para piorar a situação, Marcelino vai embora e deixa a menina desamparada, que será obrigada a se prostituir. No prostíbulo onde vive, conhece o toureiro Jarameño (interpretado por Juan José Martinez Casado), que se apaixona loucamente por ela, e o pianista cego Hipólito (interpretado por Carlos Orellana), igualmente apaixonado. Santa irá se casar com Jarameño por simples conveniência, para se livrar daquela vida, e confidencia tudo isso para o doce Hipólito, partindo-lhe o coração. Mas Marcelino retornará e tentará reconquistar a moça, que cede aos encantos do ex-militar (foi expulso do exército por covardia). Jarameño flagrará Santa e Marcelino juntos e expulsará a moça de sua casa. De volta ao prostíbulo, adoece e é expulsa pela cafetona. Sem rumo, doente e decadente, encontrará abrigo na casa de Hipólito, que tomará conta dela e descobrirá, depois de uma consulta médica, que seu amor está com câncer e terá que fazer uma operação cara e de alto risco. E Santa não resistirá, falecendo na mesa de cirurgia. O filme termina com Hipólito fazendo uma oração junto ao túmulo de Santa, acariciando seu nome na lápide. Fim (graças a Deus!).
Ufa! Uma história muito triste para o primeiro filme mexicano falado! Como é um filme bem antigo (tem oitenta e três anos), há elementos muito datados. Em primeiro lugar, um preconceito latente contra a mulher que busca a felicidade no amor, quando se exige um comportamento muito mais recatado. Esse preconceito que faz a menina ser expulsa de casa só a joga de vez na prostituição, onde o preconceito se alimenta ainda mais. A menina doce e ingênua se torna dura e com um certo grau de perversidade por força das circunstâncias. Mas o filme também mostra que as escolhas de Santa são erradas ao aceitar um casamento com Jarameño por conveniência e ceder às tentações de Marcelino. O câncer que se abate sobre a moça parece até um castigo divino que a pune por suas escolhas erradas. De se lamentar mesmo é todo o sofrimento de Hipólito, um pianista cego que ama a menina incondicionalmente, nem quando a doença faz com que ela não seja mais “a mulher mais bonita de todo o México”. Falando em beleza, vemos aqui toda uma estética do star system do cinema mudo, como a famosa proporção dois para um entre os olhos e a boca, além de lábios em formato de coração. O penteado de Santa também é digno de nota. Na vida prosaica do campo e de sua pequena cidade, ela tem duas longas tranças. Na vida urbana do prostíbulo, o penteado curto típico dos anos 1920 lhe dá um tom mais “vamp”.

Apesar dos preconceitos latentes da época, para o cinéfilo sempre é um grande prazer ver uma joia desse quilate. Algo somente disponível em festivais como esse, que merecem mais divulgação e público. Fiquem sempre de olho no mês de novembro no Arquivo Nacional...


Cartaz do filme


Marcelino, o militar, seduz a jovem Santa.


O lindo affair não terminará bem...

e Santa se tornará uma prostituta dura e levemente perversa.


Decadente, Santa tem o apoio do pianista cego Hipólito

Seu final será trágico (os pecadores não tinham perdão naquela época)


 
Lupita Tovar, belíssima...


E numa foto mais recente...

Nenhum comentário:

Postar um comentário