segunda-feira, 2 de junho de 2014

Resenha de Filme - O Passado

O Passado. Outra Obra Prima Do Cinema Iraniano.
Mais uma vez o criativo e excelente cinema do Irã nos brinda com um ótimo filme. Trata-se de “O Passado”, do diretor Asghar Farhadi, conhecido por seu Oscar de filme estrangeiro no filme “A Separação”, em 2012. O diretor mais uma vez investiu na temática da crise conjugal para fazer seu filme. Você, leitor, pode perguntar: “De novo? Não ficará algo repetitivo?”. Esse foi o meu temor enquanto me dirigia para a sala de cinema do Estação Rio 2, que, ainda não fechou (graças aos céus!). Mas, ao sair da sala, meus temores se desvaneceram. E por que? Vamos lá.
Em “A Separação”, o filme se passa no Irã e o casal se separa, pois há um dilema entre a mudança para o exterior para a filha ter mais chances em sua vida ou permanecer no Irã, pois o marido não pode abandonar seu pai que sofre de Alzheimer. Já em “O Passado”, como o próprio título do filme indica, a separação do casal já ocorreu há quatro anos e ele vivia no exterior, mais precisamente a França. Ahmad (interpretado por Ali Mosaffa) retorna do Irã a França a pedido da ex-esposa, Marie (interpretada por Bérénice Bejo), que quer assinar os papéis do divórcio ainda não consumado. O que Ahmad não sabe é que Marie vai se casar com Samir (interpretado por Tahar Rahim), que tem uma tinturaria e uma esposa em coma. Ahmad ainda é surpreendido pelo fato de que Marie espera um filho de Samir. Apesar de Ahmad (que é um santo no filme, por sinal) procurar manter uma postura equilibrada, sentimos toda uma mágoa profunda e uma relutância em voltar para Marie, que é recíproca, para o desespero de Samir. Ainda há uma insegurança por parte de Marie ao perceber que Samir ainda nutre esperanças de que sua esposa saia do coma. Mas os dilemas desse triângulo são apenas a ponta do iceberg, pois temos ainda três crianças envolvidas. Lucie (interpretada por Pauline Burlet), filha mais velha de Marie, Lea (interpretada por Jeanne Jestin), filha mais nova de Marie e Fouad (interpretado por Elyes Aguis), filho de Samir. Talvez uma das partes mais doloridas do filme esteja justamente aí, pois as crianças sofrem muito com as escolhas de Marie e Samir, sempre confortadas pelo paciente Ahmad. Fouad odeia ficar com Marie e apronta todas, sendo castigado por ela. Lea parece um querubim que assiste a tudo, impassiva. E Lucie, repudia totalmente Samir, pois acha que ele será só mais um homem na vida da mãe, que não fica com homem nenhum definitivamente. Os sofrimentos infantis terão desdobramentos ainda mais dolorosos. Lucie diz que o estado de coma da esposa de Samir ocorreu em virtude de uma tentativa de suicídio que ela cometeu ao saber do caso de Samir com Maria. Ahmad mencionou o fato com Marie, que contou a história para Samir e ele disse que sua esposa havia tentado o suicídio depois de discutir com uma cliente na tinturaria. Tudo levava a inocentar o casal. Só que surgiu outro problema. Lucie disse a Ahmad que havia mandado os e-mails entre Marie e Samir para a esposa de Samir na véspera de sua tentativa de suicídio. Samir descobrirá que foi uma empregada da tinturaria que tinha entregado os e-mails para Lucie, já que a empregada achava que a esposa sentia ciúmes dela, até porque Samir tratava essa empregada de uma forma diferente.

Descrevendo friamente os fatos da história, parece que presenciamos um dramalhão mexicano. Mas aí entra todo o talento de Farhadi, que conta a história de uma forma que nos cativa, de uma forma que pegamos para nós os personagens e os adotamos, sempre esperando o próximo lance. O diretor iraniano vai ao íntimo dos sentimentos e sofrimentos humanos, amolecendo nossos corações e, quando percebemos, já estamos totalmente envolvidos com tudo o que acontece na tela, passando por aquelas situações como se fôssemos nós mesmos ou nossos entes queridos. Pequenas interjeições e suspiros ecoavam pela sala a cada revelação que dava mais carga dramática a história. E, apesar de o tema da separação voltar a ser abordado por Farhadi, ele recontextualiza toda uma situação nova onde ele desfila com maestria relações e conflitos humanos. E ele faz isso com tamanha excelência que o filme não possui mocinhos ou bandidos. Vemos apenas seres humanos, com seus medos e fragilidades, machucando uns aos outros, voluntaria e involuntariamente. Essa é a maior virtude desse conceituado diretor do Irã. Não deixem de ver  “O Passado” e “A Separação”.


 Cartaz do filme. Dona Flor e seus dois maridos.



Marie e Ahmad


Marie e Samir.


Lucie. Sofrimento estampado no rosto.


Ahmad com Fouad e Lea.


O super diretor Asghar Farhadi (de cachecol) com seu elenco. 

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