domingo, 1 de junho de 2014

Resenha de Filme - Entre Vales

Entre Vales. Vida Jogada À Montanha De Lixo.
Lixo e decadência são duas palavras que podem andar de mãos dadas. E elas nunca estiveram tão unidas quanto no filme brasileiro “Entre Vales”, que tem o ator Ângelo Antônio como estrela principal e é dirigido por Philippe Barcinski. Vemos aqui a ruína de um homem no campo profissional e pessoal até o seu nível mais degradante, quando parece que toda a esperança já se foi.
Nossa história é focada no personagem de nome Vicente (interpretado por Ângelo Antônio), que aparece ao início do filme dirigindo seu carro, proferindo pequenas palavras de indignação a esmo. Logo depois, nosso personagem aparece como catador de lixo num gigantesco aterro sanitário, junto com outros miseráveis como ele, urubus, garças e tratores, cujas pás mecânicas empurram montanhas e mais montanhas de lixo contra os pobres diabos que vivem dos restos das pessoas. Nosso personagem, então, aparece depois como um rico empresário, dono de uma casa confortável e de um filho adorável, Caio. Assim, o filme faz idas e vindas ao longo do tempo, do presente ao passado, para que possamos entender o que aconteceu para que aquele homem aparentemente rico mergulhasse naquela miséria total. E logo aparecem os sinais disso. Sua esposa é uma dentista e o casamento dos dois está em crise. Ironicamente, ele é um empresário que monta usinas de reciclagem de lixo que extingue os aterros sanitários e retira a pouca fonte de renda de uma legião de miseráveis, da qual ele futuramente fará parte. Mas o seu sócio uruguaio retornará ao seu país de origem e venderá a empresa a homens de negócio espanhóis, destruindo os planos de Vicente de fazer as usinas de reciclagem. Para piorar a situação, o casal se separa e Caio, o filho tão apegado ao pai, não aguenta o afastamento e se suicida, mergulhando Vicente no desespero e no álcool. A mãe ainda irá, num acesso de ciúmes, destruir uma maquete que pai e filho haviam construído com tanto amor e dedicação. Isso leva o pai ao desespero total e ao aterro sanitário, na busca pela maquete. E aí finalmente compreendemos por que Vicente foi tão fundo na pobreza total. Como não aparece mais lixo novo no aterro sanitário, Vicente sai de lá com outro catador chamado Calixto e vai para as ruas disputar o lixo com os caminhões da limpeza pública. Nas suas andanças, ele consegue um emprego numa cooperativa de reciclagem, onde faz amizade com uma das trabalhadoras de lá e consegue abrigo em sua casa. Fim.
Parece que a história acabou no meio, leitor? Pois é, esta também foi a minha impressão. Não sabemos se o homem se recuperou de seus traumas e tragédias, se ele construiu uma nova vida, etc. Mas o indício de que há um recomeço aparece no banho revigorante que ele toma na casa de sua amiga, depois de dias mergulhado no lixo. Talvez o corte tão abrupto na história tenha sido feito para assinalar a grande ruptura na vida de Vicente, onde o seu fracasso profissional, associado à tragédia familiar mudou drasticamente a sua vida. Não soaria coerente ou real Vicente se recuperar plenamente de choques tão violentos. E o fim da história num ponto onde Vicente apenas começara a sair do fundo do poço nos serve justamente para mostrar que a vida não é um mar de rosas e que Vicente ainda teria muito caminho pela frente para se recuperar por tudo o que ele passou, se é que ele vai se recuperar totalmente. De qualquer forma, ficou um desejo de um pouco mais de alegria para o nosso tão sofrido personagem.

O filme, portanto, é muito interessante, por abordar um tema de nossa realidade (a vida miserável e insalubre dos catadores de lixo dos aterros sanitários), aliado a uma história de drama e tragédia pessoal. Vale a pena dar uma conferida em mais esse produto de nosso cinema, que foi bem premiado.

 Cartaz do filme


Vicente e Caio. Vida de luxo...


contrastando com a miséria do aterro sanitário.


Catando lixo...


O diretor Philippe Barcinski

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