terça-feira, 13 de maio de 2014

Resenha de Filme - O Grande Mestre

O Grande Mestre. Todas As Artes, Inclusive As Marciais.
Uma pequena caixinha de joias perambula pelos nossos cinemas. É o filme “O Grande Mestre”, escrito e dirigido por Kar Wai Wong. Baseado numa história real, vemos aqui a vida do mestre chinês das artes marciais Ip Man (interpretado por Tony Chiu Wai Leung), que passou por vários momentos atribulados da China do século XX e foi mestre de Bruce Lee!
A juventude do personagem principal da trama vai mostrar uma China da década de 1930 anterior à invasão japonesa. Uma China dividida entre o norte e o sul, inclusive nas escolas de artes marciais. O mestre do norte, Gong Yutian (interpretado por Qingxiang Wang), conseguiu unificar as artes marciais de sua região e propôs um desafio ao sul. É curioso verificar no filme que os encontros entre praticantes de artes marciais ocorriam em bordéis e prostíbulos, onde os desafios e lutas eram coisas consideradas bem mais interessantes que os caros serviços prestados pelas recatadas moças do local. Ip Man foi convocado para enfrentar o desafio pelo sul e recebeu todas as dicas possíveis de outros mestres de como vencer as escolas do norte. Mas, na famosa hora do “vamos ver”, o mestre oponente do norte faz a Ip Man um desafio de inteligência onde nosso protagonista deve quebrar um biscoito que está na mão do líder. Ip Man vence o desafio, além de filosofar, bem â moda oriental, sobre como aquela disputa entre norte e sul era estéril e que o mundo era muito mais do que aquela rixa, o que provocou muita admiração em seu oponente, que se considerou derrotado, mas com muita honra, em virtude da grandeza de seu adversário do sul (outras culturas, outras mentalidades). Mas a filha do patriarca do norte, Gong Er (interpretada por Ziyi Zhang) não se conforma com a derrota de seu pai e desafia Ip Man para uma luta, surgindo um rápido “affair” entre os dois enquanto o pau quebrava. Haverá, ainda, um terceiro personagem, um discípulo do mestre do norte extremamente violento e ambicioso, que se aliará com os japoneses, os comunistas e matará o seu mestre, despertando um sentimento de vingança em Gong Er, que o caça ao longo dos anos. Toda essa trama passará pela invasão japonesa, pela revolução de Mao Tsé-Tung e para uma fuga a Hong Kong por parte de nossos personagens, que procuravam se desvencilhar da ditadura comunista. Tudo isso com direitos a muitos golpes e pezadas na cara. Mas também uma história de progressos, contratempos, vinganças e, sobretudo, resignações e aceitações de destinos.
E os elementos cinematográficos? O filme é uma obra de arte em muitos sentidos. O uso do “slow motion” não só nas cenas de ação, mas em outros momentos do filme, nos dá uma sensação de delicadeza. A fotografia e os figurinos são belíssimos! As prostitutas do bordel refinadamente vestidas e maquiadas. As cenas a céu aberto, com neve caindo, cerejeiras e o treinamento das artes marciais, assim como as cenas de luta, muito bem coreografadas, enchiam o filme com imagens de linda plasticidade. O uso de closes, lembrando muito o estilo de filmagem de Walter Hugo Khouri, foi um outro elemento que muito auxiliou na estética do filme, humanizando-o profundamente. Toda a delicadeza no trato da fotografia, do figurino e das locações contrasta com as cenas altamente violentas de lutas, guerras e sangue derramado. Tal paradoxo torna o filme ainda mais curioso e atraente aos nossos olhos e nos dá a plena consciência de que estamos diante de um produto artístico com a preocupação de ser muito bem planejado e acabado.

Cabe ressaltar aqui que, após todos os elementos citados, não podemos rotular “o Grande Mestre” como um filme de ação convencional. Apesar das boas cenas de combate, o andamento da história é mais lento, se aproximando muito mais de um filme de arte, rótulo esse mais adequado, embora o ato de rotular sempre banalize e minimize a discussão. De qualquer forma, “O Grande Mestre” merece muito ser visto, principalmente em virtude da plasticidade da fotografia, da preocupação com o figurino e da inter-relação entre delicadeza e violência, talvez mais bem expressa na luta entre Ip Man e Gong Er onde seus rostos se aproximem de uma forma muito suave, justamente no momento mais violento da luta entre os dois. Momento sublime de arte cinematográfica.

 Cartaz do filme


Ip Man em ação! (os sujeitos aí de trás vão todos tomar pezada na cara!!!)


O mestre e seus pupilos.


Gong Er e as prostitutas. Linda fotografia e figurino!


Mais uma, agora com Ip Man junto.


Neve, cerejeiras e luta. Locação esplendorosa!


A vingança de Gong Er. Delicadeza e violência que se completam numa explosão de plasticidade!!!



Chuva também usada no contraste claro-escuro.



Outro momento de delicadeza e violência.Show de imagens!!!!


Ip Man e Gong Er. Violência e ternura. 

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